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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

BONECAS


Quando eu fazia as minhas bonecas de trapos, pouco sabia sobre outros tipos de bonecas. Todas as minhas pequenas amigas também só tinham bonecas de pano.
E eu até não gostava muito delas porque nunca tive paciência nem perícia para usar tesoura, agulha e linhas, apesar de hoje ser uma apreciadora de lojas, montras e roupas.
Mas com a ida para a escola, arranjei novas amigas e entre elas a Jeta, a quem já me referi neste espaço. Olhou para as minhas monas e disse: “ eu vou cortar os retalhos e tu coses. Tenho uma casinha muito grande onde cabe o meu Pai, eu, tu e as bonecas. Só tens que pedir para te deixarem ir brincar comigo e vamos as duas no comboio; como somos amigas, não pagas bilhete”.
A casinha era mesmo ”casinha grande” porque o Pai, agulheiro num apeadeiro entre a estação da minha aldeia e Vilar Formoso, guardava o material para desviar a rota das máquinas numa espécie de guarita de madeira.

Tinha-me saído a sorte grande! Nunca mais nos separámos. Depois de fazermos as cópias e as contas num ápice, espalhávamos os nossos trapos pelo chão, sentávamos as bonecas encostadas à parede de tábuas e íamos costurando os fatinhos “por medida” a todas as nossas filhotas, batizadas com nomes inventados.
Quando estava quase a ficar perita, uma outra colega recebeu como prenda de Natal uma boneca de “papelão” pintado da cor da pele e com traços bem definidos; articulava os braços e as pernas mas desfazia-se com o banho. Depois, outras foram aparecendo e então passámos a fazer as fatiotas para elas.


bonecas de massa

Mais tarde, penso, surgiram as de composição mais resistente - talvez plástico duro. Ainda em idade de brincar com bonecas, a minha tia Glória ofereceu-me uma dama tipo época medieval, de celuloide, em tamanho pequeno, vestida de organza verde com chapéu a condizer. Era a coqueluche das rivais!
Gostava tanto dela! Mas alguém lhe deu sumiço porque nunca mais vi a preciosidade da altura ou a relíquia que seria agora.

Olhando para trás, chego a ficar pasmada com tanto desconhecimento, pois não foi a boneca um dos brinquedos mais antigos e populares em todo o mundo?
As primeiras representações de forma humana em miniatura de barro, podiam ter sido feitas pelo Homo sapiens há 40.000 anos, em África e na Ásia.
No Museu de História Natural de Viena, encontra-se uma réplica da Vénus de Willendorf, uma estatueta de forma arredondada, similar a uma boneca, provavelmente não usada como brinquedo e que data de há 25.000 a 20.000 a.C.

 No Egito Antigo, foram encontradas bonecas feitas em madeira banhadas em argila, em túmulos de crianças, no período entre 3.000 e 2.000 a.C.

Na Grécia (e Roma?) Antigas, as noivas que iam casar entregavam as bonecas à Deusa Artemisa, simbolizando o fim da infância.


A Casa da Boneca surgiu na Alemanha por volta de 1558 (embora os seus 4 andares levassem 2 anos a construir!) - há uma casa análoga no Museu de Nuremberg, na Alemanha.
E foi também na Alemanha que, em 1413, surgiu a primeira fábrica de bonecas.
As bonecas europeias saíram da rústica idade da madeira para a delicadeza da loiça, por segredo roubado à China.


A partir do séc. XVIII, relojoeiros alemães e suíços, deram-lhes vida fazendo-as andar, falar e movimentar-se sozinhas, através de cordas, passando a ser símbolo de status para as classes mais altas.
Em 1796, Antoine Favre, relojoeiro suíço inventa a caixinha de música e rapidamente os pequenos bonecos mecânicos que se moviam conforme a melodia, se espalharam pela Europa.



De 1830 a 1930, a evolução das bonecas europeias seguiu uma ordem inversa à natural - 1º foram fabricadas as madamas, depois as meninas e por fim os bebés.


Na atualidade, as bonecas podem ser confecionadas em diferentes materiais acompanhando a evolução dos mesmos e as novas tecnologias. Em muitas culturas continua a ser um brinquedo associado às meninas.

Mas olhando para trás novamente, não terá sido a definição de oposições bem determinadas entre as diferentes áreas territoriais da sociedade portuguesa que contribuiu para que o mundo rural português evidenciasse roturas e desnivelamentos inter-regionais, além de muitos outros fatores?

Só por curiosidade, a minha amiga Jeta tinha tanta habilidade para a costura, que nem hesitou em escolher ser costureira profissional de fatos de homem.

Bonecas de várias épocas e materiais: 



-Boneca de plástico duro, 1950´s
-Poupeés de Mode, início do séc. XIX (vestidas por grandes costureiros parisienses e eram usadas principalmente para divulgar a moda da época)


 -Pupi, 1ª boneca de poliester, década de 50, que dormia e chorava. Antes disso as bonecas eram feitas com uma massa inquebrável.
-Boneca de biscuit, 1886-1932

Boneca de madeira, 1700's (onde o corpo e  cabeça se soltavam)

-Boneca articulada 1855  (a primeira boneca a ter membros articulados, apesar de usar ainda a porcelana da china na cabeça e de ter o corpo moldado em couro).
-Boneca de cera, 1800's (Eram relativamente baratas, muito populares na Bretanha e depois em todo do continente; duraram pouco tempo)

 -Boneca de metal,1800's (interamente de metal , prata, estanho e bronze ou só com cabeça de metal)
 -Boneca de clulóide,1869 (Tornou-se possível o fabrico de bonecas em grande escala, graças ao aparecimento do celuloide, o primeiro material termoplástico). 

-Boneca que canta...,1878 ( As gravações (wax-like) eram colocadas debaixo de um instrumento muito parecido com um fonógrafo, na boca das meninas que falavam as palavras que eram repetidas pela boneca)
-Boneca de papel maché,1840 a 1874; 


Imagens Google

sábado, 25 de fevereiro de 2012

JARDINS

                                                                 Jardim rupestre
Adoro jardins pequenos junto às casas quase desde a minha era paleolítica.
Ainda não andava na escola e já “cultivava” umas plantas que davam flores minúsculas brancas, ao lado dum banco de pedra que havia no exterior do muro da minha casa.
 Além do prazer que tinha em trata-las e vê-las crescer, havia outro objetivo - conversar com a minha futura professora Dona Virgínia que todos os dias por ali passava a caminho da Escola.
Gostava de a ouvir dizer: ”já falta pouco para seres minha aluna. E ainda quero ver-te um dia professora como eu”.
Por motivos de burocracia, não cheguei a ser a professora que ela profetizou mas fui-o noutra carreira diferente. Porem, também aí não teve a satisfação de valorar essa realidade porque uma doença cruel nos separou para sempre.
Depois desse meu primeiro “jardim”, arranjei outro mais diverso e expressivo junto a um poço e a um marmeleiro. Lá cresceram flores perenes e da época, durante muitos anos, dadas pela minha Mãe. Havia margaridas brancas, violetas azuis, sardinheiras, malmequeres, açucenas, cravos, rosas, crisântemos, malvas e sécias. E as flores do marmeleiro, que poucas se transformavam em fruto por eu as saborear como se de rebuçados se tratassem.

Este jardim existiu durante os meus anos da primária e do liceu - cuidava dele no intervalo das aulas, à hora do almoço.
Depois passei a viver distante e quando o fui procurar, tinha sido soterrado com terra tirada ao poço para, com mais profundidade, melhor captar a água.
Será que as poucas flores existentes não quiseram cativar a enchada?
"Os homens do planeta, disse o Pricipezinho, cultivam 5 mil rosas num mesmo jardim... E não encontram o que procuram..."

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

DIA DO CORPO DE DEUS




Na minha aldeia era dia de festa
Com missa solene abrilhantada.
E como alegria ninguém detesta
Talvez seja ainda celebrizada

Mas alegria só era notada
Com o início da Procissão
Ruidosamente anunciada
Pelo pequeno carrilhão.

Sob o dourado pálio abrigando,
O Santíssimo, erguia o prior.
Opas vermelhas os pendões pegando
E o povo atrás, a rezar com fervor.

Nós, as crianças, vestidas a rigor
D´anjinhos e santos, desde o amanhecer
Enfatuadas íamos, à frente do andor
As flores calcando, prás desfazer.




Das janelas pendiam lindas mantas
Rendadas, estampadas, com lavores
Envolvendo-se na música das bandas
A tocar, ritmadas, hinos de louvores.



Cansadas de tanto andar 
De Santa Teresinha, eu
E as irmãs, d’anjinho
Já dizíamos baixinho:
Onde está o fariseu
Que nos tire este fatinho
E pró ano continuar?


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O PINHEIRINHO


O Luís tinha nascido há um ano, a 21 de Maço, dia da Primavera.
A árvore, em virtude da sua importância para a vida humana, adquiriu um dia especial; e como é com a chegada da Primavera que ganha nova existência, abrindo flores lindas que dão origem a outras árvores, o dia que lhe atribuíram foi exactamente o do início da bela estação do ano - 21!


Distribuíam-se na altura (não me recordo qual a Entidade) pequenos pinheiros e cedros por vários locais de trabalho, incluindo o meu.
Ao associar as datas, escolhi um pinheirinho para, juntos, se acompanharem nos aniversários e crescimento.
Era um pinheiro de viveiro, enraizado num pequeno torrão envolto num saco de plástico, pronto para plantar.
E assim, colocando a pequena árvore num vaso de terracota (para melhor respirar) e perfurado (para não acumular água) a que juntei mais terra, dei as boas vindas às duas primaveras.Com regas e alguns fertilizantes, foi crescendo rapidamente nos primeiros anos. 
Depois, um pouco menos, até deixar mesmo de aumentar.
Por fim, dava sinais de que estaria a secar ou a ficar doente; perdia folhas em grande número, mesmo antes de ficarem secas.     Devia ser a lagarta do pinheiro que, agrupada em grande quantidade se alimentava das folhas.

O vaso, com o tempo, começava também a ficar com um visual verde esbranquiçado.

Disse então o Luís: “não podemos deixá-lo morrer; temos que o plantar noutro local onde as raízes possam crescer porque este vaso já é muito pequeno “.

E eu, olhando para um jardim da Câmara que fica em frente da nossa casa, disse: “pois vai ser ali. Vou telefonar para a engenheira do ambiente a pedir autorização, porque queremos continuar a vê-lo crescer ”.

Telefonei, expondo os motivos da transferência e da razão da escolha, mas a resposta foi negativa: “ não pode ser nesse jardim porque já lá tem muitas árvores e não são pinheiros; poderei mandá-lo colocar num dos jardins dos largos da rua do lado”.
Como estávamos decididos a não abdicar do nosso objectivo, estudámos então uma área que abrangesse o horizonte visual a partir da varanda.
Há ali do outro lado da rua um cantinho que pertence ao Centro de Dia da Paróquia e que se vê daqui; vou lá falar com o zelador, o Sr. Hernâni, que é muito simpático”, disse eu.

E assim foi.

Como estava muito raquítico e doente, ele ofereceu-se para o cuidar - passou a regá-lo, a tirar as ervas daninhas e a podar os ”ladrões” que iam aparecendo no tronco.
Hoje o Sr. Hernâni já não vive lá; mas deixou-o “com pernas para andar”.
Tornou-se num lindo pinheiro manso de copa densa e arredondada, pernadas grossas viradas para cima, raminhos curvos e folhas persistentes. 
Tem resina, pinhas, flores e parece feliz.



sábado, 18 de fevereiro de 2012

CRUZEIRO E AMIZADES



E se agora, aposentados,
A opção fosse um cruzeiro?
De acordo e informados,
Escolhemos um estrangeiro.

Fred Olsen Cruise Lines
Noruega, beleza de terra e mar
Fiordes, quedas d’água sem parar
Ihotas, cascatas, montanhas e vales



Braemar: ambiência norueguesa
Hospitalidade familiar e cordial
Viadores; língua inglesa e portuguesa.
Tripulação latina e oriental
A bordo do navio, circulando
- Barco de muita qualidade,
Com varandas pelas suites entrando -
As pessoas desfrutam novidade

Aos poucos escolhe-se um lugar
Piscina prós que apreciam lavagens
Os sociáveis encalham no Bar
No convés admiram-se paisagens



Há que destacar as refeições
Com lugares marcados pró jantar
Lá estão as mesmas feições
Nos dias todos a repastar

Assim, sempre na mesma mesa
O João, a Isaura e o André
A Casimira, o João e a Tresa
A Lurdes, o Amável e o Zé




E passeios, tantos, a escolher
Mercado de peixe e souvenirs
Bergen, atração histórica pra ver
Máquina caseira de café a servir



É fácil neste convívio aprazível
Entre whiskies, discotecas, galeria,
Descobrir uma amizade elegível
Num qualquer sorriso d’alegria

Terminado o cruzeiro,
O belo recreio acabou.
Uns ficaram no estrangeiro

Outros, o navio cá deixou.





Trocam-se telefones, moradas
Esboçam-se futuros encontros
Mas olhos nos olhos das interessadas
Também se ditam “desencontros”

Estreitar ligações, pensaram
A Maglô, a Isaura e a Teresa
Chantagista, a Maglô deixaram
Prá Lurdes entrar em beleza

Passados os anos que vão
A Isaura está sempre “lá”
Amiga mesmo, do coração
Mais a Lurdes dizendo “olá”

E a amizade assim nasceu…
Da simples presença a surgir.
Admirando qualidades, cresceu
Condenada a não fugir.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

VIAJAR


Estou convencida de que todas as pessoas precisam de viajar.
Algumas talvez prefiram fazê-lo através de livros, histórias, imagens, TV, filmes, mas eu gosto de viajar por mim mesma, com os meus olhos e os meus pés; só assim poderei entender o que é conhecer o frio para desfrutar o calor e o contrário, sentir a distância para apreciar o que é nosso, conhecer o mundo como é, e não como o imaginamos.
Somos simplesmente alunos.
Quem se transforma em escravo do hábito, quem não contacta com novas pessoas, quem não arrisca ir atrás dum sonho, acaba lentamente por morrer.Pior do que não terminar uma viagem, é nunca partir”- Amyr Klink.

Já na Idade Antiga se faziam peregrinações religiosas aos oráculos (Grécia) e deslocamentos para vilas de férias na costa (Império romano). 
As viagens realizadas nesse período estavam relacionadas também com a participação nas olimpíadas (uma mistura de religião e desporto) em que milhares de pessoas se dirigiam à cidade de Olympa de 4 em 4 anos.


Civilização fenícia
Olympa e Delphos

Depois, na Idade Média, eram as peregrinações pelo caminho de Santiago e as expedições desde Veneza à Terra Santa ou a ida a Meca.



E, prosseguindo no tempo, as expedições marítimas de portugueses, espanhóis e ingleses despertaram o interesse pelas grandes viagens na Idade Moderna.



A Revolução Industrial leva a Inglaterra a favorecer correntes migratórias europeias para a América, a Europa desperta para o turismo de montanha ou saúde e épocas de praias frias, na Idade Contemporânea.



Com o boom turismo surge o desejo de evasão da rotina das cidades; a produção de carros em série e a construção de boas estradas já não é suficiente para a recreação que, entretanto, toma o lugar da evasão e as companhias navais veem-se obrigadas a dar outros destinos aos navios - cruzeiros.



E os cruzeiros são para mim, presentemente, a forma mais agradável e confortável de viajar. Evitam deslocações de avião, comboio e automóvel; não é necessário fazer e desfazer malas, entrar e sair de hotéis. Proporcionam esse transporte, alojamento, entretinimento, refeições - prazer e tranquilidade.

Cada um tem o seu itinerário, com paragens em vários portos de cidades que poderão ser visitadas enquanto o navio está atracado. E os que optarem por não descer para tomar banho de mar ou conhecer outros lugares, têm sempre atividades a bordo como palestras para temas específicos, nadar, jogar no casino, usar o computador, apanhar sol ou descansar simplesmente.

São uma forma única de viajar, de sentir a experiência do alto mar atravessando, por exemplo, o Atlântico e gozar uma beleza inesquecível.

Porem, enquanto a saúde ou a idade o permitir, a minha convicção é a de que só se deverá optar por este modo de viajar depois de ter experimentado todos os outros.

Imagens google