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terça-feira, 19 de julho de 2016

DE "ARION" POR "JÓIAS" DO ADRIÁTICO - 3



Montenegro (talvez a terceira nação mais jovem do mundo...), para mim um país desconhecido como destino turístico, revelou-se um deslumbrante roteiro de viagem com os parques naturais, as vilas protegidas pela UNESCO, os mosteiros ortodoxos, as praias de água tépida e areia grossa, a riviera do Adriático, a belíssima povoação piscatória em Boka Kotorska, que se retem na memória sem qualquer esforço. 
Praia privativa                                   Praia comum de areia grossa

Todos a bordo!


O 6º dia de cruzeiro está a findar. São 20,30 horas e o Arion, sulcando de novo as águas do Adriático, parte durante a noite com destino a Ploče.

O Porto marítimo de Ploče, perto da foz do rio Neretva é, desde 2010, o segundo maior porto de carga na Croácia. Representa uma extensão marítima de rotas ferroviárias e rodoviárias modernas ligadas a autoestradas que fazem parte da rota Europeia (Zagreb, Budapeste e Viena), à Bósnia /Herzegovina e outras.Todos os cais do porto estão ligados por trilhas a uma linha caminho de ferro para Mostar, Sarajevo, Osijek e Budapeste.

Porto de Ploče

 E Mostar,capital do cantão de Herzegovina-Neretva, é onde o autocarro de transfere nos leva, com passaporte na mão para atravessar a fronteira, acompanhados por uma pessoa do staff do Rivage Du Monde do Arion primeiro, e por um guia local na cidade,depois.
No trajecto do percurso foi referenciada a vila de Medugorje um grande centro de peregrinação católica da Europa devido às supostas aparições da Virgem a seis crianças (1981?) numa montanha dos arredores,ainda que nunca tenham sido reconhecidas pelo Vaticano.


 Igreja de Santiago
Quando o autocarro se aproxima da fronteira entre os dois países, o condutor, com todos os passaportes recolhidos, desaparece durante alguns minutos
(uma fila de carros aguarda a vez para que os guardas verifiquem os documentos e façam a vistoria detalhada a alguns carros).
Cerca de 30 minutos depois, com boas estradas e bem sinalizadas, a grande atracção do dia, lá estava.
Porem, as primeiras imagens são chocantes... 
Um pouco por todo o lado há ainda edifícios destruídos, em ruínas ou com marcas de balas bem visíveis.


Mostar foi a cidade mais bombardeada de toda a Bósnia devido à importância estratégica da via férrea Sarajevo - Mostar - Ploce que liga a capital ao mar, durante o qual se perderam muitos edifícios históricos e religiosos em duas guerras distintas – a de 1992 e 1993 que uniu croatas e bósnios partidários da independência recém-declarada contra o exército sérvio contrário à segregação, e a do pós expulsão dos sérvios, quando os croatas se voltaram contra os bósnios, dividindo a cidade ao meio (croatas na parte ocidental e muçulmanos no lado oriental) - os croatas com o intuito de manter uma república bósnia própria, para mais tarde se poderem unir à Croácia, destruíram a zona muçulmana bósnia, incluindo a Ponte Velha do século XVI, a única que tinha resistido incólume ao cerco sérvio.

 Foto da ponte original, década de 1970 - Wikipédia
 Sobre o rio Neretva, uma belíssima construção curvada cuja estrutura em pedra foi erguida em 1566

DESTRUCTION OF THE OLD BRIDGE IN MOSTAR .wmv

Após a destruição, foi assinado o acordo de Dayton em 1995 que pôs fim às hostilidades e permitiu que a cidade fosse sendo reconstruída nos anos seguintes.

Ponte velha ("Stari Most"), reconstruída. Elegante e simples.

A demolição da Ponte foi símbolo de guerra por um lado e a sua reconstrução (praticamente idêntica à original) concluída no início de 2004, um sinal de esperança para a paz, por outro. 
Em 2005, a UNESCO declarou a ponte e a antiga cidade de Mostar , Património Mundial.
Mas as feridas parecem continuar abertas porque as diferentes etnias levam vidas paralelas - dois hospitais, escolas diferentes, redes telefónicas separadas, duas estações de autocarros, marcas da guerra por toda a parte (casas ainda em ruínas, elevadíssimo número de sepulturas nos cemitérios feitos em parques, praças e campos de futebol), divisão da cidade entre croatas e bósnios...


A antiga Mostar, com os minaretes das mesquitas desenhados no céu, já teve muralhas que a cercavam durante a idade média com portões de entrada para a cidade.  
    
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Um dos poucos portões que sobraram
By MoserB - (Original text: 'selbst fotografiert = Own work (photo)), Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=12539216 - Wikipédia


E a Ponte Velha (Stari Most) sobre o rio Neretva, seria a principal atracção, da programada visita turística pela Cidade Antiga limitada, na realidade, a uma rua que passa por ela.
Para a transpor, é necessário algum cuidado devido ao seu formato convexo que a torna íngreme. Para apoiar os pés, em vez de degraus, existem barras transversais ao longo da calçada de mármore claro. A paisagem linda presta-se a belas fotos dos dois lados da cidade, das águas verdes do rio e das mesquitas. 
Quem tiver disponibilidade pode assistir à abordagem dos turistas por jovens saltadores que, a  troco de umas moedas, atiram-se da ponte a 22 metros para as águas gélidas do rio - tradição muito antiga desde (?).
Apesar das cores da pedra denunciarem a reconstrução recente, continuam a chamar-lhe orgulhosamente a “ponte velha”. Junto dela existe uma pedra com dois morteiros cravados e a inscrição a negro, apelando aos visitantes: “Don’t forget ’93“.

 Ponte e périplo balcânico 

Ultrapassando a ponte, a rua tem sucessivas lojas e tendas com todo o tipo de artigos típicos e artesanato.
Um video fará melhor a descrição.




Outros lugares visitados

Interior da Old Town, donde se podem registar belíssimas fotos

 Uma típica casa otomana antiga em estilo Turco dos habitantes de Mostar,
 aberta ao público.

Os tapetes cobrem todo o chão, cadeiras, sofás e outros móveis.Há mais compartimentos da casa, a cozinha e um pequeno museu no anexo, além de fotos e lembranças na saída. 





Houve quem preferisse passar a manhã na praia de Gradac, a 10 km de Ploce. A meio caminho entre Split e Dubrovnik, é uma das áreas mais turísticas conhecida como "Makarska Riviera" (Pebble Beach), muito comprida e de água tão limpa e transparente que se podem ver as mil cores das pedras do fundo do mar.


Com esta significativa "decoração" da porta de casa...Até sempre, Mostar!


Koper espera por nós;o Arion vai partir.

E como é a última noite a bordo,  jantar de Gala de despedida servido no Restaurante, digestivo musical e show no Salão de Festas, dança e snacks distribuídos pelos pelos salões do navio.
Apesar do ambiente de "Festa", sente-se o vazio da despedida - separação de lugares e rostos com que foram estabelecidos laços talvez efémeros, mais ou menos fortes, mas laços.

"Pedimos gentilmente aos nossos Passageiros que se dirijam, antes do jantar à Recepção onde vos serão entregues tiquets de várias cores para colocarem nas bagagens a fim de estarem devidamente identificadas de acordo com o vosso destino"

Logo pela manhã, transfere de autocarro para o porto de Piran, considerado a jóia da Riviera Eslovena, também conhecido por ser o local de nascimento do famoso compositor italiano Giuseppe Tartini. A cidade foi renovada quase no seu todo e manteve o estilo italiano, proveniente do domínio pelo império Venetian do final do século XIII até ao fim do século XVIII e depois pela Itália, de 1918 até 1947.


Marina de Piran

Piran é provavelmente a mais bela das cidades costeiras da Eslovénia, no alto de um pequeno pedaço de terra que se projecta para o mar.
Dado que não havia programas pré estabelecidos (não me recordo de nenhum...) penso que o tempo ficou livre para opções individuais.



Regresso em transporte privativo ao ponto de partida - Veneza - para uma noite antes de embarcar no avião para Lisboa.
Como se pode verificar, há enormes semelhanças entre os dois lugares...

Vasco Calixtto e sua mulher, Dona Maria Luisa (fazendo o trasfere no porto de Piran e entrando no Hotel do alojamento em Veneza, nas fotos acima), são dois companheiros de viagem que, pelas suas características, não podem deixar de ser destacados. 


Vasco (Amadora, 12 de Janeiro de 1925), contador de histórias (jornalista, escritor, viajante), simpático e jovial,sempre activo e bom conversador, espírito 
de aventura, homem sem fronteiras, um  verdadeiro humanista é, na sua aparente simplicidade,“pacatez de hábitos e costumes, cativante graciosidade e discreta classe, um grande senhor - um bom condutor do passado ao presente", como dizem alguns dos autores de textos introdutórios aos seus cerca de 50 livros publicados. É colaborador da imprensa portuguesa desde a década de 1940. . 
Em 1964 realizou a primeira grande viagem pelas estradas da Europa guiando o primeiro automóvel de matricula portuguesa montado em Portugal,(o 0pel Kadett cl-74-03) ao ponto mais setentrional do continente europeu (13.512 km em 44 dias).

Em 1964 o nosso sócio Vasco Callixto fez a ligação Lisboa-Cabo Norte, por estrada. Uma aventura que partilhou com a sua família e que foi relatada no livro “Viagem às Terras do Sol da Meia-Noite”. O autor reeditou a obra para celebrar a efeméride, cuja apresentação decorreu na sede do ACP, em Lisboa. “Ao longo da leitura deste livro percebemos o quanto esta família viveu uma epopeia de 44 dias até chegar ao ponto mais setentrional da Europa, o Cabo Norte” 
Miguel Horta e Costa, vice-presidente do clube, que fez a apresentação do livro, juntamente com Gonçalo Cadilhe, escritor de viagens.

Todas as viagens foram feitas sempre na companhia um do outro (casal). E muitas vezes,também na dos dois filhos, segundo afirmação do próprio.

Vasco (91 anos) e Maria Luísa (93 anos) inseparáveis,simpáticos e joviais

"Memórias de uma vida" a comemorar os 85 anos de idade (2009), foi o livro publicado para cujo lançamento teve a amabilidade de me convidar.

Prá Ana, a fomentadora do relato deste cruzeiro, um abraço. 

4 comentários:

  1. Por Gmail:
    Comovida e agradecida, um beijo grande, grande!
    Ana
    Teresa,
    Fiquei a pensar ...... É o guia sonolento que conseguiu perder uma passageira no aeroporto de Lisboa - lembra-se da fraulein de chapéu de palha que se juntou a nós uns dias depois?
    E a mulher de um ex-pm?
    Já para não falar num comandante do navio, um português, com apenas 12 ou 13 portugueses a bordo e a forma como os tratou....

    Não me diga que não tem matéria para um .... Quem sabe livro?
    Bj de boa noite

    Ps: ainda falta a mulher das camisas brancas, que apesar de descendente de um dos grandes escritores portugueses (julgo que isto é novidade para si) infelizmente não tem engenho nem arte para pegar nestes Cromos.
    O dito escritor e o Camilo

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  2. Bela narrativa!
    Pois foi das viagens que mais me encantaram.Sobretudo pelas maravilhas da natureza.
    Enquanto tu fizeste a abordagem pelo mar, nos percorremo-la por terra!
    Sabe bem recordar.
    Bjinhos

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  3. Pura fantasia sua, Ana!
    Apenas gosto de escrever e até de poetizar mas sem quaisquer regras.Sai o que sai e não saberia repetir.
    Do comandante e da fraulein, tenho uma ideia ténue, mas da Maria de Lourdes lembro-me perfeitamente. O marido, Alfredo Nobre da Costa, foi o primeiro a chefiar um governo de iniciativa presidencial com Ramalho Eanes. Morreu de repente. Em Veneza como estava sozinha para jantar, acabou por ir connosco (marido e eu) a um restaurante. Disse que a filha Vera pouco se incomodava com o isolamento dela e que ia passar todos os Invernos ao Brasil com uma amiga. Era uma mulher muito decidida. E a “mulher das camisas brancas”, descendente do grande Camilo, anda sempre por aqui...
    Os postes sobre o cruzeiro podiam ter dois desenvolvimentos - descritivo ou feito de "instantes", episódios, momentos. Doutra maneira nunca mais teriam fim...
    Jinho

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  4. Se sabe!
    Sobretudo quando o espaço que a vista abrange é cada vez menos um vasto horizonte. Reproduzir na imaginação o passado de momentos bons como estes, é uma maneira de continuar a ter a mesma perspectiva de horizonte...
    Mas aqueles lugares são, sem rodeios, porque não foram ainda exaustivamente explorados, verdadeiros jardins de delícias, de ilhas encantadas, mais rivieras do que as que lhe servem de referência...
    Foram em que ano?
    Jinho

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