Número total de visualizações de páginas

domingo, 17 de dezembro de 2017

AS AMIGAS DE LONGA DATA


As amigas de longa data que tivemos a sorte de escolher através da vida, são os melhores presentes que poderíamos ter recebido - há um mútuo conhecimento participativo, desinteressado e sempre presente.

E velhas amigas só existem entre as que conseguiram envelhecer, como eu. Algumas encontram-se frequentemente, outras de vez em quando e outras ainda, só passados anos. Todavia, nada tem mudado; elas estão sempre lá e eu estarei sempre cá.

O telefone e o email, quando a presença se torna inviável, são o grande elo de ligação.

Mas ultimamente, se por qualquer motivo os espaços se protelam, quando se “chega”, é surpresa. 
As coisas, porque a juventude ficou para trás há muitos anos, acontecem com demasiada rapidez.




- Olá L., estamos vivas, que bom!
- Sim, quem fala?
- Ora, ora.
- É a Leninha?
- Não, é outra “inha”!
- Ah! É a Trezinha…
- Pois hoje também não parece a mesma L. de sempre. Que se passa?
- Sim, estou com uma enorme ciática. Deixei de poder viajar e vivo muito sozinha.

Mas conversa puxa conversa e no final lá tinha regressado a antiga L.


Como a época convida aproximação, resolvi telefonar também à M.C. que tem estado “incomunicável “ desde há algum tempo.

- Olá M., afinal o telemóvel tem feedback!
- É a Tijuca?
- Por onde tem andado, que ninguém a vê?
- Sabe lá… estou na Casa de Saúde de … Sentia-me muito cansada e fui ao dr…que me operou à aorta
- ?
- !
- Tem sabido da M. M.?
- Veio ver-me com o filho, o meu afilhado. Mas está a ficar muito “taralhoca”. A nora diz que o médico lhes disse que tem um envelhecimento precoce das células cerebrais (Alzheimer).


Já agora vou também telefonar à A. (amizade menos longínqua) que me pareceu estar a olhar para as montras "sem as ver" quando, há dias, a encontrei num intervalo de almoço.

- Olá, A. Já é tarde, mas como estou aqui a ver entrar emails seus, só quero perguntar pela sua I.
- Linda e com sono
- Está tudo bem consigo?
- Havemos de encontrar-nos e depois falamos. Isto não vai nada bem e não sei mesmo quanto tempo vai durar... Viver ao lado da sogra é muito negativo. 


Céus! Como é que em tão pouco tempo tanta coisa mudou?

Claro! Mudou porque no final da caminhada, embora o envelhecimento não seja uma doença, é um factor de risco para muitas condições diferentes. Não há nenhuma garantia de que se vai sofrer de uma doença relacionada com a idade, mas as hipóteses são maiores. O tempo passa para todos, embora não seja igual para ninguém. A lógica nem sempre explica tudo...

Sinto que ainda devia animar a voz quase inaudível da I.M. que se enclausurou numa casa de repouso com o marido (alzheimer) porque não quer "deixá-lo sozinho" e à R.M. que, num ápice, ficou viúva muito recentemente. Mas, perante os desagradáveis imprevistos (que panorama!), resolvi ficar por aqui.  

A melhor maneira de começar uma amizade é com uma boa gargalhada. De terminar com ela, também.
Óscar Wilde

Não direi que hoje dei gargalhadas mas deixei as minhas interlocutoras bastante mais bem-dispostas. Valeu a pena.



Sem comentários:

Enviar um comentário