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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

VEM AÍ MAIS CARNAVAL


- Gostavas de ser palhaço? – Perguntou a Maria, de 6 anos. 
No Carnaval vou vestir-me de palhaço rico, mas a Carlota diz que o palhaço pobre tem cores mais giras. Achas?
- Talvez. E tem, sobretudo, melhores piadas!
- Se fosses tu, de qual ias?
- De qualquer um, Maria. Ambos são palhaços. Todos somos palhaços; uns são fingidores ricos, outros, pobres.
- Então, eu vou de palhaço rico com as cores do palhaço pobre...



É. A Maria ainda não depreendeu que o palhaço é um farsante, o farsante é um simulador, o simulador é um fingido, o fingido é dissimulado e o dissimulado é um palhaço.

Somos todos palhaços, porque o dia-a-dia da “nossa vida é uma farsa contínua que toda a gente se vê obrigada a representar". Arthur Rimbaud

Todos os dias somos obrigados a equilibrar a realidade que vivemos com a verdade que gostaríamos de ter.

“A vida é um palco, onde somos palhaços, trapezistas e malabaristas; fazemos rir, encantamos, e damos exemplos, depois passamos para o outro lado, onde precisamos assistir ao que acontece nos palcos para rir, encantar e ter exemplos, e podermos seguir em frente no palco do destino.” Eliane Rosa


Os deuses vão-se como forasteiros. Como uma feira acaba a tradição. Somos todos palhaços estrangeiros. A nossa vida é palco e confusão (...). Pessoa, 1965.
Para criar, destruí-me; tanto me exteriorizei dentro de mim, que dentro de mim não existo senão exteriormente. Sou a cena viva onde passam vários actores representando várias peças. Pessoa/Soares, 1989.

Autor -Lélia Parreira

“Por favor - A vida é um palco”. “A arte de fingir é a arte de todos nós”. “Somos parceiros num grande globo de actores. Globo da morte ou vida”. “Adoro imitar o que de alguma forma, sentimos todos. Sou um fingidor? No palco. Trapezista de terceiro sinal e palhaço que adora um aplauso. ( Levanta a mão aí quem não gosta! ) Curtain call. Fecha o pano rápido e vai chorar no camarim, como todo bom palhaço”. Mário Filho





Expliquem lá isso (*)

MJ – Ele está a dizer que eu gosto de quem sou e que queria ser ainda mais eu. Também não temos muita escolha, não é? Temos de ser nós.
MEC – Eu não era eu. Ela ensinou-me isso. Ensinou-me muito bem a estar à vontade. Eu estava sempre a fingir que era outra coisa que não era. Estava sempre muito ansioso. Muito show off. A tentar disfarçar. Sempre muito mal alaise [pouco à vontade, inadequado].  Sempre a querer fazer graças ou  a ser o palhaço da turma. Divertir as pessoas à força. Uma coisa desesperada para que gostassem de mim. Era um trabalho. Detestava.

O trabalho era...?

MEC – O trabalho de ser simpático, de divertir as pessoas. Tenho isso desde pequenino. É uma insegurança: não pensar que as pessoas podem gostar de mim só por eu ser eu. Que posso estar calado. Ela disse-me. “Podes estar calado. Não precisas de estar sempre a não sei quantos.”
MJ – Disse-lhe: “Podes descansar”.
MEC – Descansei muito. Descansei. E as pessoas não deixaram de gostar de mim. Grande lição.



Quando falou do percurso da Maria João, falou do sentido da liberdade. Que nela pareceu fácil. Mas que não é fácil.

MEC – Pois não.
O Miguel, parecendo ter todas as condições para ter essa liberdade, não a tinha.
MEC – Era totalmente reprimido. Muito reprimido. Muito inseguro. E muito falso. É a palavra.

Estava sempre a ser “o MEC”? A ser o boneco.

MJ – Ele exige muito dele próprio. [Divertir os outros], fá-lo mais por bondade, até.
MEC – Agora não faço. Agora é muito melhor. A minha mãe sempre me disse que não me importasse com o que os outros pensavam. “Who cares?” [Que importa?] Mas nunca aprendi o que a minha mãe dizia.

O que é que dizia o seu pai, que era português?

MEC – O meu pai dizia a mesma coisa. Que não éramos obrigados a gostar uns dos outros. Nem dos irmãos nem dos pais. Tínhamos o direito de formar uma opinião, ou de gostar, ou de não gostar. (...). O meu pai fugia das pessoas de quem não gostava. Fugia mesmo, fisicamente. Saía da sala.


(*) Excerto da entrevista a Miguel Esteves Cardoso (MEC) com a Maria João Pinheiro (MJ), por Anabela Mota Ribeiro, publicado originalmente no Público em 2013



l


«No Oceanário o Carnaval dura todo o ano. Os palhaços são peixes, o Picasso pinta com as barbatanas, o Unicórnio nada em vez de correr, o Napoleão nunca tira o “chapéu”, os pinguins estarão vestidos de gala e até o tubarão se mascara de touro. Mergulha no Oceanário, escolhe o teu animal favorito, cria a tua máscara e desfila nas ondas de um fantástico jardim. Vem fazer parte desta grande folia que são as “Férias debaixo de água”.»

Oceanário de Lisboa

No oceanário e na vida.
O mundo é um circo, a vida um espectáculo e o palhaço o personagem.

Imagens Google

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

O PINHEIRINHO - 2


No dia 21 de Maço de 1983, porque era o dia da árvore, distribuíam-se pinheirinhos (e outras pequenas plantas) por vários locais de trabalho. É também o dia de nascimento do meu filho L.

Sobre isso, escrevi eu, então, no poste de 20 de Fevereiro de 2012:
(…)
Ao associar as datas, escolhi um pinheirinho para, juntos, se acompanharem nos aniversários e crescimento.
Era um pinheiro de viveiro, enraizado num pequeno torrão envolto num saco de plástico, pronto para plantar.
E assim, colocando a pequena árvore num vaso de terracota (para melhor respirar) e perfurado (para não acumular água) a que juntei mais terra, dei as boas vindas às duas primaveras. Com regas e alguns fertilizantes, foi crescendo rapidamente nos primeiros anos. 
Depois, um pouco menos, até deixar mesmo de aumentar.
Por fim, dava sinais de que estaria a secar ou a ficar doente; perdia folhas em grande número, mesmo antes de ficarem secas. Devia ser a lagarta do pinheiro que, agrupada em grande quantidade se alimentava delas.
O vaso, com o tempo, começava também a ficar com um visual verde - esbranquiçado.
(…)
Como estávamos decididos a não abdicar do nosso objectivo, estudámos então uma área que abrangesse o horizonte visual a partir da varanda.
- Ali do outro lado da rua, há um cantinho que pertence ao Centro de Dia da Paróquia e que se vê daqui; vou lá falar com o zelador…
(…)
Tornou-se num lindo pinheiro manso de copa densa e arredondada, pernadas grossas viradas para cima, raminhos curvos e folhas persistentes. 
Tem resina, pinhas, flores e parece feliz.

E assim, ao longo dos anos o L., quando passava junto dele, fazia sempre uma pequena pausa como que para “conversar”.
Por vezes também fazia comentários:
-  O meu pinheiro está mesmo grande!
- É pena o sr. H. não estar cá; precisava que lhe cortassem os ramos laterais. Ele sabia fazer o corte rente ao tronco e nunca ficavam tocas.
- Parece que a terra está muito seca. Vou lá deitar-lhe uns baldes de água.
- As pinhas que caíram são boas para a lareira.

Pois hoje, alguém pensou que o pinheiro estava a mais. E mandou abatê-lo. Trucidados cruelmente, alvos de escárnio, os ramos iam caindo desamparados no solo e aconchegavam-se, inaptos, ao som do ruído da torturadora.

Parecia um cenário de crime.  Não consegui ver mais.

Mas sei que até esventraram a terra para arrancar a raiz.

O L., quando soube, depois de uns momentos de tristeza/revolta, apanhou algumas pinhas, procurou sementes e colocou-as em terra para germinarem.


Será? 





O pinheirinho foi crescendo, crescendo... até ser abatido e expirar, desmantelado, no chão.


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

SER NINGUÉM



Ser ninguém”. Proscrito. Banido. Excluído.

Deixa a inveja sem dor de cotovelo; afasta os ruídos do silêncio invejoso.

Fica-se mais só. De facto. E sem história.






"Il Mio Nome È Nessuno"

Jack Beauregard (Henry Fonda), que já foi o maior pistoleiro do Velho Oeste, quer mudar-se para a Europa para se aposentar em paz, mas um jovem pistoleiro, conhecido apenas como "Ninguém", idolatra-o e quer que ele saia em glória. Então organiza uma gang de 150 homens (The Wild Bunch) para que Jack os enfrente e conquiste assim o seu lugar na história.



Imagens Google