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quarta-feira, 19 de novembro de 2014

POLTUGAL / CHINA OU VICE-VERSA


Hoje fui almoçar com as minhas amigas Ana e Zinha a um restaurante tipicamente chinês.

- Wǒ zhēn de bù míngbái zhèyàng de cài, dàn wǒ zhīdào, zhè liǎng gè hěn xǐhuān...
(Eu não aprecio muito este tipo de pratos, mas sei que as duas gostam bastante...)
Yīncǐ, rúhé shìyìng dì 23 jiè zhōngguó shěng?
(Então como se estão a adaptar à 23ª província chinesa?)

- Mas que é isso? Parece que estás a falar chinês!
- Adivinharam!



Conversando sobre a influência chinesa em Portugal: 

- Então fui ao BCP para saber como iam as minhas poupanças e disseram-me que os chineses estavam interessados em comprar lá participações e que talvez um dia venha a ser atendida por um chinês...
Já abriram dois bancos em Portugal - o Industrial and Commercial Bank of China (ICBC) junto ao Marquês de Pombal e o Bank of China com sede num balcão comercial na Rua Braancamp, em Lisboa!

- E daí?
- Depois, se olharmos para os passeios da Avenida da Liberdade, espreitem a Boutique dos Relógios, a Louis Vuitton, a Gucci e outras. Têm funcionários de nacionalidade chinesa que falam mandarim e com os horários de abertura em chinês.


- Bem se os chineses são, actualmente, os principais compradores de marcas de luxo no mundo, porque não também em Portugal?
- Claro!
Mas depois existem milhentas lojas de pequena dimensão porta-sim, porta-sim. Só numa rua do meu Bairro, há três bem próximas que nem provadores têm.
A propósito, ou talvez não, cito uma frase excelente: "lembro-vos que nunca, mas mesmo nunca, virem o cu para um chinês, porque eles abrem uma loja em qualquer buraco !"
Um jeito manso,blog

- Ah! Ah!

- Lembram-se do Cinema Londres, na Avenida de Roma?
Durante muitos anos foi considerada a “mais luxuosa sala-estúdio de Lisboa”, com as famosas cadeiras que deslizavam para baixo. 
O último filme que lá vi foi o Titanic.
Pois aqui há uns meses, fui visitar a M. L. que tem estado doente e que vive no prédio ao lado.
Parecia ter por lá passado um terremoto - cadeiras arrancadas, soalho descolado, cablagens eléctricas puxadas, tudo espalhado no meio do chão.
Também vai ser mais uma loja chinesa.


- Mais ou menos há 15 dias, houve um Leilão imobiliário promovido pela Câmara de Lisboa, onde dizem ter havido um significativo número de chineses.
- Sim, havia candidatos com outras origens - Angola, Rússia, França, Irão, Áustria, mas a maior parte estava ligada a empresas chinesas.
Um dos edifícios situados frente ao Oceanário, não muito longe das torres de São Rafael e São Gabriel, onde se encontram  instalados a Havas Worldwide, a Cambridge School, o restaurante Arigato Sushi House e a hamburgueria gourmet Honorato, foi vendido a um investidor privado chinês.


Mário Feliciano, da agência Era Expo, disse que entre Março e Junho não houve uma única semana em que não tivessem fechado um negócio com milionários chineses e que estão a acorrer em grande número às agências imobiliárias que vendem casas de luxo no Parque das Nações.



Da lista fazem parte muitos outros como uma moradia na Quinta da Marinha, três apartamentos de luxo no Estoril, vários escritórios, o restaurante Belcanto do chefe José Avillez, o nº 61 da Rua do Ouro onde funcionou a sede do Banco Santander e o edifício dos bombeiros do Rossio.
As mediadoras estão a contratar agentes chineses ou fluentes em mandarim. Porem, já vai havendo agências próprias de empresários chineses como a Noble Fortune.

- E a culpa é do agora tão badalado mecanismo "visto gold", não?
Embora o interesse chinês em imobiliário venha do tempo de Stanley Ho, o dono dos casinos portugueses. Talvez tenha sido ele a dar o primeiro passo ao criar o complexo residencial em desenvolvimento há cerca de 20 anos na Alta de Lisboa. 
A rua do Casino do Estoril tem o nome dele!


- Eles têm vindo a investir mais desde que Paulo Portas lançou, no início de 2013 o contestado "gold visa", sim, que atribui vistos de residência em Portugal a quem investir 500 mil euros ou mais em imobiliário.
- Acho muito mal estender a "passadeira vermelha" aos turistas estrangeiros multimilionários e descriminar pessoas menos abastadas.

 Restaurante Santa Maria/vista de surf
Canal Caveira (Grândula), melhor cozido
Hotel Villa Itália, Cascais
Restaurante Zé do Peixe Assado (Albufeira), com16 variedades
Alguns locais onde costumam instalar e receber os compradores

Por meio milhão de euros compram casas em edifícios ou condomínios de luxo em Lisboa e Cascais e, ao mesmo tempo, adquirem o livre acesso dos seus negócios de importação e exportação ao Espaço Schengen. 
A China detém milhões de euros em títulos de dívidas de Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha (escolhe os países mais endividados e onde há mais oportunidades de negócio e a bons preços) para reforçar a sua presença na Europa.
Os chineses só investem em sectores com rendimento garantido. Nunca compram uma empresa em grandes dificuldades, a menos que sejam dificuldades conjunturais.
Vêem sempre "oportunidades em alturas de crise".
Eles foram responsáveis por mais de metade das receitas de privatização realizadas pelo Governo de Passos Coelho. Venceram a privatização da EDP, da REN e da água que abastece vários municípios (em Valongo, Paredes, Mafra e Ourém já bebem" água chinesa")

Daqui a uns anos os habitantes vão passar a ficar com o rosto mais arredondado, olhos mais fechados, sobrancelhas em arco, boca carnuda e pele amarela...

- Ah! Ah! Ah!
E também já são os donos da Caixa Seguros (CGD) que reúne três seguradoras (Fidelidade, Multicare e Cares), considerada líder do sector em Portugal
Com esta decisão o grupo chinês passa a controlar cerca de 30% do mercado segurador português.


- O responsável pela Fosun na Europa disse:"Vemos Portugal como uma plataforma para a Fosun se expandir para outras áreas". E que essa expansão passa precisamente por explorar o ramo segurador em mercados como Angola, Brasil ou Moçambique.
- Querem investir na Ásia e em África e compram seguradoras portuguesas?
- Até há pouco tempo, parecia que Lisboa já era uma extensão de Luanda com Isabel dos Santos como "Presidenta"...
- E a disputa continua mas está a ser ultrapassada pela China.
A aquisição mais recente (através da Fidelidade) foi a compra da Espírito Santo Saúde agora denominada Luz Saúde. 
Referem-se a ela como "O novo membro da nossa família, do qual estamos muito orgulhosos".
O Grupo chinês Fosun passou a ser o único candidato à compra da ES Saúde com uma rede de 18 unidades, onde se incluem oito hospitais privados, um hospital gerido pelo Serviço Nacional de Saúde em regime de parceira público-privada, etc., etc., etc.

Há empresas que estão a olhar para algumas pedreiras de mármores no Alentejo
No turismo, se os investidores pensarem trazer grupos de chineses para a Europa, irão comprar hotéis porque sabem que os vão encher.
E como segunda maior economia do mundo, a indústria agro-alimentar pode vir a ter potencial com o nosso azeite e a compra de algumas quintas de vinhos.
- Em pouco mais de três anos, foram-se praticamente todos os anéis...
Estão a colocar muito dinheiro neste país. Mas onde e para quê?

- Bem, o que eu pergunto, depois disto tudo, é se tenho ou não razão em dizer que falar mandarim vai ser essencial num futuro muito próximo!

As voltas que o mundo dá! 
Na Língua (e só, porque agora são eles os "invasores"), vamos regressar ao séc. XVII 
Nessa época, os mandarins eram os conselheiros de estado do governo chinês, encarregados de estabelecer os contactos comerciais entre a China e Portugal. A língua que eles falavam passou a ser chamada de "mandarim" pelos portugueses. E, com o tempo, espalhou-se pelo mundo.

Mas o ensino do mandarim já se faz nalgumas escolas - há os filhos de mais de 18 mil chineses que entraram nos últimos anos e os cada vez mais portugueses que vêem na aprendizagem uma porta aberta para oportunidades de emprego. 
Na escola básica nº 26, em Lisboa, perto de 700 crianças enchem as salas de aula nas manhãs de sábado para aprender chinês, conforme se poderá ver:
video do site:
http://vmais.rr.sapo.pt/default.aspx?fil=807935

Sem dispensar a deliciosa ajuda da Primeira-Dama, Maria Cavaco Silva
Video do site:
http://vmais.rr.sapo.pt/default.aspx?fil=680425

Quanto a manjares, acho que fiz uma boa experiência comendo com pauzinhos e em conjunto (não em pratos separados) sopa, carne, peixe fumado, vegetais, ovos, arroz e pato seco, em pequenas porções. 
Faltou a bebida nacional chinesa, o vinho branco Moutai
E arrotar durante a refeição para demonstrar que se aprovou a comida.
Mas não aprecio mesmo nada disto.


Vamos ter que nos adaptar a roupas brilhantes, bolsas de strass, fivelas e tiaras cheias de rendas e lacinhos, flores aplicadas sem qualquer critério, ganchos, ilhós, sapatos com saltos de acrílico, vestidos drapeados colados ao corpo, boleros de renda preta cheios de babados, uma flor enorme no cabelo, meias pretas ou coloridas, rendadas, rasgadas, bordadas com  lantejolas ou sandálias e soquetes de seda ou por aí...


E assim se vendem alegremente todos os anéis, muitas vezes por valores de saldo. 
Ficarão as mãos para mendigar.


Imagens Google

terça-feira, 11 de novembro de 2014

A DÉCADA DA DIFERENÇA - 1


A década de 60 foi, na minha vida, a época da diferença; abandonei o berço/terra natal e troquei-os por Lisboa, a capital. Perdi amigas que, como eu, também deram o salto. Umas, para muito longe porque emigraram com os pais, outras nem tanto, mas para localidades distantes do postigo da sala de estar dos meus dias. De início houve alguns encontros quer pela coincidência das férias, quer pela proximidade das Escolas.
Depois, nunca mais...
A minha idade foi rodando no BI. Com alguma petulância, passei a considerar-me adulta. 
Conheci outras/outros amigos que, ao contrário das amizades anteriores, ainda hoje se mantêm. Os relacionamentos, ditados pelo excesso de preconceitos, eram feitos em pequenos grupos.

                               Diagrama do metropolitano de Lisboa em 1963                     B. B.

Por outo lado, a própria década de 60 foi, ela também, um período de intensa mudança. Lisboa teve o "maior crescimento económico de sempre” com as primeiras carruagens de metro a circular e o primeiro de muitos supermercados (Modelo) a desviar clientes dos “lugares ”estabelecidos.O Saldanha simbolizava a vida nocturna, a boémia jovem e o café Vá-Vá da Avenida de Roma era um dos pontos de encontro obrigatórios.Parecia metamorfosear-se em modernidade com Johnny Hallyday, Ella Fitzgerald, as mini-saias, os jeans justos, uma geração de jovens idealistas, a Ponte Salazar, a nova “cidade dos Olivais”, Brigitte Bardot pelo Bairro Alto, Amália a cantar Camões, o tupperware ou os móveis Olaio.




Entretanto, o assalto ao Santa Maria já tinha feito história e Kennedy pressionava o regime para a independência de Angola/Guerra Colonial.


Porém, os meus dias eram bastante tranquilos.
Depois das aulas ou nos Fins-de-semana (vivia num Lar-Escola), havia sempre a possibilidade de fazer parte de um qualquer modo de convívio (A conhecia B que apresentava a C, etc.) para ir à praia, ao cinema, ao teatro, à Baixa, ao café, lanchar,à modista, dançar, ao réveillon, ao Carnaval, exposições, festas dos Santos Populares, concertos, casas de Fado.

Hei-de querer falar um pouco de todos estes banais mas saudáveis entretenimentos, mais de ontem que de hoje.

“Morte ao Fado! Partam as guitarras!”

Foi uma das expressões proferidas por Vasco Santana na comédia portuguesa "A Canção de Lisboa”, realizada em 1933, primeiro filme sonoro feito em Portugal, um dos melhores de sempre!

Os azares de Vasco sucedem-se…

Geneticamente triste, o Fado está, entre outras coisas, relacionado com a falta de sorte…

Mas «Chapéus há muitos, seu palerma!»

E ir ouvir cantar o Fado, era um dos meus (nossos) programas preferidos. Naquela época havia fadistas muito sui generis, únicos,"vitalícios".
Como há agora muitos outros de que também gosto. Mas as circunstâncias determinaram um novo modo de viver - sem programas como "vamos ouvir a bela voz de Ana Moura ou de Mariza à Casa de Linhares / ao Senhor Vinho?". 

Fernando Farinha 


“A  Voz Mais Portuguesa de Portugal”, cantou essencialmente para emigrantes espalhados pelo mundo. Depois do filme “O Miúdo da Bica” sobre a história da sua vida, actuou em várias casas típicas. Recordo-o, nostálgico, no “Café Luso” em  “A Canção de Lisboa”:

Hoje o fado já não tem 
a rufiagem por tema. 
Poliu-se, já é alguém 
e até já vai ao cinema.
Carlos Ramos 

Na esquina da Travessa da Queimada e da Rua dos Cafajeste - hoje Rua do Diário de Notícias - ficava “A Toca”

"A Toca" era a sua própria casa de fados, onde cantava apenas o Fado-canção, acompanhando-se à guitarra a si próprio. 
Recordo dois grandes êxitos trauteados por imensa gente - "Canto o Fado" e "Não venhas tarde"

"Não venhas tarde!",
Dizes-me tu com carinho,
Sem nunca fazer alarde
Do que me pedes, baixinho
"Não venhas tarde!",
E eu peço a Deus que no fim
Teu coração ainda guarde
Um pouco de amor por mim
Tony de Matos


Imortalizado pelo sucesso, em 1964 vi-o encher o Pavilhão dos Desportos cantando "Só Nós Dois", "Procuro e Não Te Encontro", " Lisboa Casta Princesa", "Vendaval",  "Lado a Lado"... e tantos outros que,segundo ele, já não sabia contabilizar.
Cartas de amor
Quem as não tem
Cartas de amor
Pedaços de dor
Sentidas de alguém
Cartas de amor, andorinhas
Que num vai e vem, levam bem
Saudades minhas
Cartas de amor, quem as não tem

Lucília do Carmo 


O  Faia foi a Casa de Fados  que mais vezes  frequentei, quer  pela  fadista, quer pelas condições do meio envolvente, quer  pela diversidade de outras presenças notáveis do Fado.

Ali ouvi cantar Carlos Ramos (a que já me referi), Alfredo Marceneiro, Maria Teresa de Noronha,  Tristão da Silva e o filho de Lucília, Carlos do Carmo, entre outros.
Local de tertúlias com a participação de personalidades como José Cardoso Pires, Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Frederico de Brito, Alexandre O’Neill ou Ary dos Santos, era um espaço muito acolhedor e interessante

Carlos do Carmo

Carlos do Carmo com a Mãe à porta do Faia e com a mulher, actualmente

Começou a cantar um pouco depois da morte do pai e ainda no tempo da mãe-fadista profissional.
Quanto à mulher, Judite, lembro-me de a ver (já casada ou talvez não) na entrada da casa Faia a receber as pessoas .

Alfredo Marceneiro


Era inconfundível e único. 
De cigarro pendurado na boca, tinha um discurso e um ar muito castiços - cantava sempre de boina e lenço de seda ao pescoço, a balancear os ombros e o tronco, com  as mãos nos bolsos. 
Para Marceneiro, o fado era quase uma religião que se cantava de noite e com público,” onde o guitarrista se devia cingir a servir a voz e o contador era também um contador da história contida na letra.

É numa rua bizarra
A casa da mariquinhas
Tem na sala uma guitarra
E janelas com tabuinhas



Tristão da Silva 


Quando regressa do Brasil a convite de Vasco Morgado para actuar na revista "Férias em Lisboa", retoma, no seu estilo romântico muito pessoal, o circuito casas de Fado mais populares de Lisboa , como o Lisboa À Noite, O Faia, A Tipóia, A Parreirinha de Alfama, o Forcado ou O Luso mas morre ainda cedo, num acidente de automóvel

Ai, se os meus olhos falassem, amor
Sabias quem te quer bem
Ai se os meus olhos falassem
Talvez a ti se contassem
O que eu não conto a ninguém

António Mourão


Em 1965 estreou-se como fadista na revista “ E Viva o Velho”, no Teatro Maria Vitória, a cantar Ó Tempo Volta pra Trás. A canção teve tanto sucesso que percorreu todo o País e foi número um de vendas. O refrão ainda hoje é facilmente cantarolado mesmo por gerações mais novas.
Muitos temas populares tornaram-se êxitos nacionais -"Os Teus Olhos Negros, Negros", "Chiquita Morena", "Oh Vida dá-me outra vida", "Fado do Cacilheiro", "Varina da Madragoa".

Tive o prazer de ter aceitado fazer um show de Natal num dos Hospitais de Lisboa, integrado no Estágio de um grupo de alunas minhas.
Entretanto, deixei de ouvir falar dele. E agora, quando o procurava na Net, fui surpreendida com a notícia triste já de 21 de Outubro de 2013:“O fadista António Mourão, de 78 anos, faleceu esta noite na Casa do Artista, em Lisboa". 

Ó tempo volta para trás 
Dá-me tudo o que eu perdi 
Tem pena e dá-me a vida 
A vida que eu já vivi 
Ò tempo volta p'ra trás
Mata as minhas esperanças vãs 
Vê que até o próprio sol 
Volta todas as manhãs 

Mas o tempo não volta pra trás...

No Tabuínhas

Faltam AmáliaZéca Afonso, Hermímia, Maria Armanda, Max, Vicente da Câmara, Francisco José e todos os que nunca ouvi ao vivo...


terça-feira, 4 de novembro de 2014

OS "GENIAIS" CONTRATOS À PORTUGUESA



Penso que encontrei hoje a explicação mais abrangente para casos como PPP, EDP, Lusoponte, Grupo BES e Submarinos, Bairro do Aleixo, Barragem do Tua, Fundação do Magalhães, Grupo GPS, Estaleiros de Viana do Castelo, Swaps, Scuts, poder das “elites” - banca, grandes grupos económicos, bilderberg, maçons - currículos imponentes, subida imparável dos impostos, taxas moderadoras, corte de reformas, etc., etc. 
E o porquê de os verdadeiros responsáveis acabarem sempre por ser considerados... não culpados

Para quem não teve acesso às declarações do Professor Klause e esteja interessado, aqui ficam.








 



O PROFESSOR EMMERICH KRAUSE E OS CONTRATOS EM PORTUGAL



Emmerich Krause é um Professor emérito de diversas Universidades do Estado de Turíngia, na Alemanha
A sua tese de doutoramento é uma grossa reflexão de 4 volumes e meio, intitulada "Ensaio sobre a Dinâmica Contratual Consoante o Credor - Contributo para uma Teoria Dinâmica do Dinamismo Contratual". O meio volume é apenas a bibliografia consultada. 
A interessante obra, que está a marcar a ciência jurídica contemporânea, procura explicar a razão de haver contratos com destinos muito diferentes consoante as partes envolvidas. 

O Professor Krause deslocou-se a Portugal na semana passada, pois parece que somos o país mais avançado do mundo nesta matéria, e realizou trabalho de campo valioso. 

Em rigoroso exclusivoas notas do Professor Krause na sua viagem a Portugal:

«Portugal, que já deu novos mundos ao mundo, surpreendeu-me.

Afinal, Portugal também está a dar novos contratos ao mundo. Procurei por tantos países experiências que comprovassem as minhas teses, mas nunca tinha encontrado nada assim. 

Para simplificar, fiz uma categorização dos tipos raros de contratos que descobri e que nunca tinham sido observados a olho nu:


1 - Contratos-FINGIMENTO

Esta curiosa categoria de contratos é muito surpreendente. Trata-se de contratos em que uma das partes assume plenamente que as suas obrigações não são para cumprir, sabendo, de antemão, que a outra parte não irá exigir o seu cumprimento, nem se preocupar muito com o assunto. 
São muito utilizados quando há compras a empresas alemãs de material militar ou quando se vendem empresas à China. 
Determina-se que as empresas estrangeiras têm que construir fábricas ou fazer outros investimentos, mas, passado uns tempos, o dinamismo contratual inerente faz com que essas obrigações desapareçam e fiquem adiadas até ver. 
É um extraordinário exemplo de obrigações contratuais descartáveis, uma brilhante inovação portuguesa.


2 - Contratos-de-PEDRA

Dei este nome imortal a esta categoria de contratos. São contratos que vivem, sobrevivem e tornarão a viver para todo o sempre. Trata-se mesmo de uma situação de imobilismo contratual que daria para criar toda uma nova tese da ciência dos contratos. São contratos tão inalteráveis e rigídos que até dão para partir a cabeça de arremesso, se for necessário. Quando se discute a sua alteração, decide-se sempre que não podem ser alterados sob pena de o Estado de Direito acabar já amanhã. Exemplos destes contratos envolvem sempre investimentos avultados em contratações público-privadas e pagamentos ao Estado relacionados com energia
Admirável mundo novo contratual português.

3 - Contratos de REQUALIFICAÇÃO

Esta espécie exótica de contratos é uma originalidade portuguesa. Diria mesmo que no glorioso firmamento contratual, esta é a espécie que cintila destacada de todas as outras. Trata-se de contratos de trabalho que contêm em si os germes da sua própria destruição. Eu explico. Através da celebração de um contrato de trabalho, poderá haver lugar à requalificação. Só que não é a requalificação do trabalhador. É mesmo a requalificação do contrato, que passa a ser requalificado na sua não existência. Ou seja, através da requalificação, faz-se desaparecer o contrato num golpe de magia. O contrato e o trabalhador. 
De génio. Estes portugueses sabem o que fazem. 

4 - Contratos-NÃO CONTRATOS

Foi este o contrato pelo qual me apaixonei e ao qual gostava de dedicar a minha obra final. Um contrato que se nega a si próprio. Um contrato que é em si um não contrato. Um contrato que nega a sua própria existência numa vertigem demente. Um contrato que se contorce e desaparece. O exemplo mais típico e acabado deste contrato são os contratos envolvem pensões de reforma do Estado. Num momento, existem. No outro, não. Num momento, pode haver pensão. Passado uns meses, pode haver outra pensão bem mais baixa. E tudo com o mesmo contrato. No fundo, não existe contrato nenhum. 
Desde o astrolábio náutico que os portugueses não inventavam algo tão genial.»

O Professor Krause não é apenas um cientista contratual. É mesmo o melhor cientista contratual do mundo.





Mira Amaral:
 «O melhor que os portugueses competentes têm para fazer é emigrar"