Os meus principais "enses" biográficos:
Inevitavelmente
Cerdeirense
Ocasionalmente
Lisbonense
Seletivamente
Cascalense
Fortuitamente Lacobrigense
Fatalmente Químico-"crustense”?
Lisboa/Tejo
e Cascais/Mar são a minha empolgante e dinâmica envolvência desde há longos
anos.
Falar da
grandeza destes espaços numa única trajetória é difícil, falta de senso,
impossível, absurdo.
Tagarelar um
pouco de cada um, talvez. Hoje Lisboa, amanhã Cascais
Considerada
a “Capital do Mundo Lusófono”, Lisboa é uma cidade rodeada pelas suas sete
colinas, cheia de história e tradições culturais, romântica, autêntica, sem
pretensões, repleta de espaços verdes - foi em Lisboa que surgiu o primeiro
jardim botânico português- Jardim Botânico da Ajuda.
Tem bairros antigos de esquinas, ruas e escadarias estreitíssimas, flores, roupa
estendida nas janelas e recantos escondidos que vale a pena descobrir. Ao
passear de tarde por entre cafés, restaurantes, miradoiros ou comércio local é
quase sempre possível ouvir uns fados com letras sobre o mar, a saudade, o
quotidiano, a melancolia - um pote de cultura.
A cidade
estende-se ao longo do estuário do Tejo cujas águas lhe dão uma luminosidade ímpar.
Quando o cruzeiro inicia um passeio, faz uma curva larga e ao afastar-se da
margem, abrange-a toda e a largura do rio. O ritmo lento do barco de convés
aberto, convidam a saborear a brisa e o sol, abrindo ângulos da cidade que só do
rio se obtêm. Ao ultrapassar de novo a Praça do Comércio e a Sé, surge o
colossal Mosteiro de São Vicente de Fora. Terminado o passeio e subindo ao topo
das colinas, pode descobrir-se os recantos ou monumentos que mais curiosidades
nos despertaram.
Um dos tajectos feito por cruzeiro
Casario visto do Tejo
Terreiro do Paço, Lisboa 1970 (Verde-Bic Laranja)
Mas quem
melhor do que escritores, prosadores ou não , fotógrafos e pintores sabe descrever uma Lisboa/lenda/poética/namorada/presépio/
“barca com ruas e jardins por dentro”?
«Logo a abrir, apareces-me pousada sobre
o Tejo como uma cidade de navegar. Não me admiro: sempre que me sinto em
alturas de abranger o mundo, no pico dum miradouro ou sentado numa nuvem,
vejo-te em cidade-nave, barca com ruas e jardins por dentro, e até a brisa que
corre me sabe a sal. Há ondas de mar aberto desenhadas nas tuas calçadas; há
âncoras, há sereias. O convés, em praça larga com uma rosa-dos-ventos bordada
no empedrado, tem a comandá-lo duas colunas saídas das águas que fazem guarda
de honra à partida para os oceanos» José Cardoso Pires, "Lisboa. Livro de
Bordo"
Lisboa e o rio
Lisboa fica, às vezes, amuada
Se o seu amor, amor, não lhe oferecer.
Chama-lhe marinheiro,
Fala dele na rua
E sente ciúmes dos olhos da Lua.
Chama-lhe marinheiro,
Sem rumo nem rota,
Sempre atrás das asas dalguma gaivota …
Ele, numa onda, atira-lhe um beijo.
E assim namoram, Lisboa e o Tejo....
Lisboa, quando desce uma colina,
Para namorar com ele, toda se enfeita…
Lisboa, veste saia de varina
Para ouvir os piropos que ele lhe deita.»
Mário Rainho
«Presépio,
anfiteatro, cais dum destino, plano inclinado por onde há séculos um povo e uma
alma parecem escoar-se a caminho de outros mundos e paisagens, do pão amargo
sobretudo – Lisboa é este rio imenso, este horizonte de apelos sem fim, e não
se pode ter nascido aqui, vivido aqui, ou ser-lhe assimilado, sem lhe sofrer o
influxo, sem ficar para sempre, marcado duma vocação, dum desgarramento e
fatalismo, dum anseio de partir e tornar, duma sensual melancolia»
José Rodrigues Miguéis, em "Saudades Para Dona Genciana"
Musa
«Aqui me sentei quieta
Com as mãos sobre os joelhos
Quieta muda secreta
Passiva como os espelhos
Musa ensina-me o canto
Imanente e latente
Eu quero ouvir
devagar
O teu súbito falar
Que me foge de repente.»
Sophia M. B. Andresen
in: Obra poética III.
«…Lisboa é cor-de-rosa e branco, o céu azul ferrete é tridimensional,
podes subir sozinho, há muito espaço experimental.
noutros elevadores há sempre alguém que barafusta,
mas não aqui: não fica muito longe a rua Augusta,
e em Lisboa é o único a subir na vertical.
no tejo há a barcaça, a caravela, a nau, o cacilheiro, a fusta,
luzindo à noite numa memória intensa e desigual.
com o cesáreo dorme a última varina, a mais robusta.
não é para desoras o elevador de santa justa,
arrefece-lhe o esqueleto de metal.
mas tens o dia todo à luz do dia. não faz mal»
Peter Hanenberg/Vasco da Graça Moura
Balada de Lisboa
Em cada esquina te vais
Em cada esquina te vejo
Esta é a cidade que tem
Teu nome escrito no cais
A cidade onde desenho
Teu rosto com sol e Tejo
Caravelas te levaram
Caravelas te perderam
Esta é a cidade onde chegas
Nas manhãs de tua ausência
Tão perto de mim tão longe
Tão fora de seres presente
Esta e a cidade onde estás
Como quem não volta mais
Tão dentro de mim tão que
Nunca ninguém por ninguém
Em cada dia regressas
Em cada dia te vais
Em cada rua me foges
Em cada rua te vejo
Tão doente da viagem
Teu rosto de sol e Tejo
Esta é a cidade onde moras
Como quem está de passagem
Às vezes pergunto se
Às vezes pergunto quem
Esta é a cidade onde estás
Com quem nunca mais vem
Tão longe de mim tão perto
Ninguém assim por ninguém
Manuel Alegre, in "Babilónia"
Telas de lisboa
"Lisboa e rio" - Manuel Faia
Luiza Caetano - “Lisboa é uma Festa” de J. Calvário em “Lisboa e poesia”
Eximut - Bom Dia Lisboa
Tom - Lisboa
Roque Gameiro - Lisboa
Francisco Smith - A Costa do Castelo
Lisboa
« Cidade da Luz! Perpétua fonte
De tão nítida e virgem claridade,
Que parece ilusão, sendo verdade,
Que o sol aqui feneça e não desponte…
Embandeira-se em chamas o horizonte:
Um fulgor áureo e róseo, tudo invade:
São mil os panoramas da Cidade,
Surge um novo mirante em cada monte.
Ó Luz ocidental, mais que a do Oriente
Leve, esmaltada, pura e transparente,
Claro azulejo, madrugada infinda!
E és, ao sol que te exalta e te coroa,
— Loira, morena, multicor Lisboa! —
Tão pagã, tão cristã, tão moira ainda… »
Alberto de Oliveira, in "Poemas de Itália e Outros Poemas"
Excerto
« obra monumental que hoje se publica é, por ventura, de todo o amplo
campo editorial coberto por Lisboa 94, a mais complexa, a mais profunda, a de
maior alcance. Com este trabalho paciente e apaixonado (…) preenche-se um
vazio no conhecimento, até agora disperso, que fomos ganhando, ao longo dos
anos, pelo trabalho sectorial de investigadores, arqueólogos e historiadores,
em relação à cidade, ao seu povo, à sua cultura.
O Livro de Lisboa é a obra
que faltava a Lisboa, não para que Lisboa nela se reveja, mas para que
através dela se identifique, na plasticidade do seu passado, na inevitável
flexibilização do seu futuro. Como capital do País, a cidade escreve-se
naturalmente na cultura nacional; e, por isso, esta obra transcende largamente
as fronteiras (esbatidas, é certo) da urbe que é seu objecto, para se projectar
no quadro mais vasto de uma rei dentificação de Portugal, neste final do século
XX.»
António Mega FerreiraImagens Google