Depus a máscara e vi-me ao espelho. —
Era a criança de há quantos anos.
Não tinha mudado nada...
É essa a vantagem de saber tirar a máscara.
É-se sempre a criança,
O passado que foi
A criança.
Depus a máscara e tornei a pô-la.
Assim é melhor,
Assim SOU a máscara.
E volto à personalidade como a um terminus de linha.
18-8-1934
Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa
A MÁSCARA tem origem religiosa e data de 9.000 a.C.
A palavra vem, provavelmente, do latim mascus ou
masca ("fantasma") ou do árabe maskharah ("palhaço")
-"homem disfarçado".
Era usada pelo homem primitivo durante celebrações,
cultos e rituais para reivindicar, através dela, algum tipo de autoridade.
Ornamentadas em diversos materiais (madeira, metal,
conchas, fibra, marfim, argila, chifre, pedra, penas, couro, pele, papel,
tecido, palha de milho), as máscaras têm representado, ao longo dos séculos, os
seres sobrenaturais, as divindades e os antepassados.
Dançarinos de Chhau, dança marcial indiana (Foto: Pallab
Seth)
Máscara do Antigo Egito, cerca de 664-535 a.C.
Máscara mortuária do faraó Tutancamon, de 1350 a.C.
Em África, nalgumas tribos indígenas, ainda há quem conserve
o seu sentido primário, ou seja, o homem é o espírito (divindade para curar
doentes, espantar maus espíritos ou celebrar casamentos e ritos de passagem da
infância para a idade adulta).
O teatro grego e romano explorou a magia das máscaras. Porém, nesta época, o sagrado já tinha desaparecido
e a identificação passou a fazer-se entre actor e personagem ou entre máscara e personagem (persona).
No Japão continuam a marcar, em palco, as
características dos personagens.
A máscara
associada ao CARNAVAL surgiu no
século XV, com a commedia dell’arte ou comédia
das máscaras, no teatro italiano, criador dos famosos personagens Arlequim, Pierrot e Colombina (inspirados nos
anteriores “bobos da corte”, artistas do riso).
Era uma espécie de apresentação popular improvisada, feita por artistas viajantes que chegavam às cidades, em pequenos palcos nas praças públicas.
Era uma espécie de apresentação popular improvisada, feita por artistas viajantes que chegavam às cidades, em pequenos palcos nas praças públicas.
O Pierrot é uma personagem tipo de mimo e da Commedia
dell'Arte, uma variação francesa do Pedrolino Italiano. Tem o caráter de um
palhaço triste, apaixonado pela Colombina, que lhe parte o coração e o deixa
pelo Arlequim.
Foi também nessa época que aconteceu
o primeiro baile de máscaras onde, para além de serem obrigatórias, serviam para
desculpar os permanentes conflitos políticos. Confiantes no anonimato, os cortesãos
mascarados libertavam-se de impulsos reprimidos pelas normas sociais, através das várias brincadeiras.
Os bailes ainda hoje se mantêm.
Os bailes ainda hoje se mantêm.
Máscaras do
Carnaval de Veneza
Em Veneza, as máscaras tornaram-se peças decorativas e são a principal
atividade económica da região.
O
carnaval quase não tem mímica e o andamento é estático e
silencioso. Os
grupos param para serem fotografados na rua, como apelo ao turismo.
Mas as máscaras mais famosas de Veneza não estavam
associadas ao Carnaval. Tal como as luvas, usavam-se em saídas nocturnas, para
um jantar elegante ou para encontros galantes nas gôndolas e nos palacetes dos
canais.
As FESTAS DE CARNAVAL desempenham uma função catártica.
Nas
saturnais, festa da Roma antiga em honra de Saturno, tudo era permitido - invertiam-se os valores; os senhores serviam os criados
e os criados injuriavam os senhores, como forma de libertação.
A MÁSCARA IBÉRICA é a máscara típica de Portugal e Espanha.
Os mascarados têm diversos nomes consoante
a região de onde são naturais. Está em preparação a sua candidatura como Património Imaterial da Humanidade.
Saturnais ou Saturnália
E nas festas da Epifania, em que também se usavam máscaras, os membros do clero e a própria liturgia eram parodiados nas missas
do burro zurradas, em vez de rezadas.
Burro a ler no facistol – misericórdia do cadeiral da Sé
do Funchal (c. 1514 /15)
A MÁSCARA IBÉRICA é a máscara típica de Portugal e Espanha.
"Muitas estão
ligadas a cultos celtas, ao solstício de inverno e, mesmo as do Entrudo, estão ligadas a
cultos deste tipo como também pode ser o da fertilidade".
Hélder Ferreira
Portugal:
Careto de Aveleda, Careto de Lazarim, Máscaro de Ousilhão,
Careto de Podence, Cardador de Vale de Ílhavo, Caretos da Lagoa
– Mira, Carocho de Constantim, Chocalheiro de Bemposta Chocalheiro de Bruçó
(extinto), Chocalheiro de Val de Porco Gualdrapa, Velho, Diabo, Sécia.
Farandolo de Tó, Mogadouro, Marafona, Filandorra,
Zangarrão, São João de Sobrado- Bugios e, Mourisqueiros, Cachera
Espanha:
Boteiros, Pantallas, Peliqueiro, Cigarróns, Vergalleiros, Felos
Boteiros, Pantallas, Peliqueiro, Cigarróns, Vergalleiros, Felos
Carnaval BRASILEIRO
O entrudo foi introduzido no século XV pelos portugueses na então colónia do Brasil.
Jogos durante o entrudo no Rio de Janeiro
Aquarela de Augustus Earle, c.1822
Aquarela de Augustus Earle, c.1822
Ao longo dos séculos sofreu várias metamorfoses.
Em 1984 foi criada no
Rio de Janeiro a Passarela
do Samba ou Sambódromo, que se tornou num dos principais símbolos do carnaval
brasileiro e um negócio altamente lucrativo do ramo turístico.
Carnaval no Rio de Janeiro
“As escolas de samba movimentam uma indústria
gigantesca e são uma verdadeira máquina de ganhar dinheiro “ou “O carnaval do Rio é um
dos melhores e maiores carnavais do mundo, cidade conhecida mundialmente por
essa festa grandiosa que movimenta milhões de dólares”, na expressão de uma
agente de viagens brasileira.
As máscaras são tão diversas quanto as ocasiões e os destinos, quer nos grupos humanos, quer entre os animais:
Máscara antigás, do apicultor, da fotografia, de simples adorno, de oxigénio, de beleza, do soldado, funerária, imagem de marca, de um político, de um artista, de esgrima, heteronímia pessoana, etc., dos animais predadores, do camaleão.
A máscara é a comédia da vida; todo o desenvolvimento humano se faz na tentativa de esconder o verdadeiro ego.
Enquanto tivermos um ego inconsciente que nos usa para satisfazer as suas vontades, vamos usando e trocando as nossas máscaras de acordo com o ambiente em que nos encontramos.
Mascararmo-nos é, afinal, um processo que fazemos desde o principio dos tempos, que começa na nossa própria personalidade e com o qual actuamos consciente ou inconscientemente.
"A
máscara é uma arma que pode ser usada para defesa ou ataque, e por isso, no
Carnaval, nem sempre tem sido permitida na via pública. Mas essa é a máscara de
veludo ou papelão. A outra, a máscara da nossa própria cara, é a que a vida em
sociedade exige
Se nos
descuidamos, de repente pode cair, e com ela, sabe-se lá? - pode cair o Iraque,
a torre de Londres ou tudo o que em nós não passa de fragilidade, pânico,
impotência e presunção"
In: Ramón Margalef, "Ecología".
Imagens Google