Fez 80 anos no passado
dia 5 de Agosto, um ano depois de ter sido nomeado Cidadão de Lisboa em 1934,
que Alfredo Roque Gameiro morreu.
Relembrar o universo de uma
pintura de delicada sensibilidade e intenso poder evocativo, captada
directamente da natureza, é homenagear “solidez na arte e na vida”,
características cada vez mais raras no mundo actual.
Como pintor
aguarelista, desenhador litográfico e ilustrador de publicações que foi,
com uma panóplia tão vasta de temas sobre espaço urbano, mundo rural, orla
marítima, inserção da figura humana na paisagem, gentes e costumes, evocação
histórica, diário gráfico, que “toques de pincel” escolher?
Talvez a
Ilustração, onde foi uma figura relevante da época
romântica-naturalista, mas cuja arte se encontra ainda numa listagem menos elaborada...
Em todo o seu trabalho, sobretudo nas obras de ficção, o artista procura localizar e estudar as características reais do espaço onde decorre a acção para melhor adaptar a imagem às descrições paisagísticas e dar às personagens o dinamismo e vida própria, através da exteriorização dos sentimentos e das emoções que o escritor concebeu.
Em todo o seu trabalho, sobretudo nas obras de ficção, o artista procura localizar e estudar as características reais do espaço onde decorre a acção para melhor adaptar a imagem às descrições paisagísticas e dar às personagens o dinamismo e vida própria, através da exteriorização dos sentimentos e das emoções que o escritor concebeu.
Não sendo possível abranger os longos anos que dedicou à actividade de ilustrador de
publicações em programas, capas de livros, livrinhos e edições especiais de
Natal dos jornais O Século, Diário de Notícias e Comércio do Porto, desde os
finais do século XIX, referirei apenas algumas das numerosas, variadíssimas e deliciosas ilustrações.
- Reconstituição de tipos
populares ancestrais (Álbum de Costumes Portuguezes,1888), juntamente com Columbano, Malhoa, Rafael Bordalo Pinheiro e outros.
Roque Gameiro - Ilustração Portuguesa, 1909
- Coordenação de todo o trabalho ilustrativo da 3.ª edição
da História de Portugal, em conjunto com Manuel de Macedo e Alfredo Morais, editada no final do séc. XIX
Quadros da História de Portugal - 1932
«a obra de Pinheiro Chagas, apesar de brilhante, era de uma "apparencia tão mesquinha para assumpto de tamanha magnitude e para labor de tanto fôlego e de tão alto merito, que não podiam attrahir grandemente a attenção do público", pelo que era necessária a "historia commentada com a illustração; o episodio explicado pela aguarella reproduzindo a scena palpitante de vida". Para esse trabalho foi então convidado "um dos mais intelligentes e talentosos illustradores portuguezes, Roque Gameiro, que tão brilhantemente tem sabido desempenhar-se do commettimento que lhe foi confiado."»
Quadros da História de Portugal - 1932
«a obra de Pinheiro Chagas, apesar de brilhante, era de uma "apparencia tão mesquinha para assumpto de tamanha magnitude e para labor de tanto fôlego e de tão alto merito, que não podiam attrahir grandemente a attenção do público", pelo que era necessária a "historia commentada com a illustração; o episodio explicado pela aguarella reproduzindo a scena palpitante de vida". Para esse trabalho foi então convidado "um dos mais intelligentes e talentosos illustradores portuguezes, Roque Gameiro, que tão brilhantemente tem sabido desempenhar-se do commettimento que lhe foi confiado."»
- Direcção artística da extraordinária obra História da Colonização Portuguesa do Brasil de 1917 e 1924, respectivamente.
Deslocou-se ao Brasil
para, in loco, estudar o ambiente e recolher dados.
Os precursores de Cabral
Retrato de Dom Manuel A Rua Nova dos Mercadores; Reconstituição, segundo o «Livro das horas», de D. Manuel
Nau Portuguesa do fim do séc. XV - Caravela Portuguesa do séc. XV (Reconstituição feita segundo documentos
coevos)
Estaleiro da Ribeira das Naus
Ermida
do Restelo ; A Frota de Cbral ao sair do Tejo
Imagem de Nossa
Senhora da Esperança que acompanhou Pedro Álvares Cabral na viagem de
descobrimento do Brasil; Interior de uma nau
portuguesa - a parte da ré
A partida do «Lusitânia», do Tejo, na manhã de 30 de
Março de 1922
A torre de menagem e residência dos governadores da Praça
de Arzila; O Mosteiro de S. Pedro de Rates
Caravelas passando o Bojador; Nau S. Gabriel, em que Vasco da Gama descobriu o caminho
marítimo para a Índia
A
véspera da partida; «... Assim que eles viram o esquife de Bartolomeu Dias
chegaram-se logo todos à água... e viemos... tangendo trombetas e gaitas...»
- Ilustração da Grande edição ilustrada de Os Lusíadas (1839-1915), publicada pela "Empreza da História de Portugal, em
1900".
- Execução artística de outros livros de menor projecção:
Portugal de Algum Dia (1933) com colaboração
literária de Gustavo Matos Sequeira, em que são reproduzidas cenas, costumes e
usos de outros tempos.
Condução de um doente
A Traquitana A Cadeirinha
História das Toiradas (1900), de Eduardo Noronha
- Ilustração dos romances de Júlio Dinis - As Pupilas do Senhor Reitor e A Morgadinha dos Canaviais - e de outros, como A Sereia de Camilo Castelo Branco ou O Romance das Ilhas Encantadas de Jaime Cortesão, sempre resultante de uma pesquisa demorada e conscienciosa
Em As
Pupilas do Senhor Reitor, a aldeia idealizada pelo escritor foi recreada
através de pesquisas rurais nos locais em que acredita ter decorrido a acção do
romance - Minho e Douro. Utilizou mesmo modelos e trajes para melhor descrever os personagens
Gostaria de incluir ainda Lisboa Velha, História Geral
dos Jesuítas, A Ambição d’um Rei, História do Palácio Nacional de Queluz e uma
série de imagens inspiradas em costumes antigos do século XVIII e inícios do
século XIX - reconstituição de trajes e de modos de vida desse período, sobre
festividades populares, formas de convívio, trabalhos campestres.
E a minha Beira-Serra, sobre a qual nada encontrei.
Para preencher a lacuna (imagine-se o pedantismo!) dessa decepção, a imagem do meu "nó" na histórica e linda Ermida do Restelo, acima referida.
Interior da Ermida do Restelo - altar