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quarta-feira, 1 de agosto de 2012

LISBOA





Os meus principais "enses" biográficos:
Inevitavelmente Cerdeirense
Ocasionalmente Lisbonense
Seletivamente Cascalense
Fortuitamente Lacobrigense
Fatalmente Químico-"crustense”?





Lisboa/Tejo e Cascais/Mar são a minha empolgante e dinâmica envolvência desde há longos anos.
Falar da grandeza destes espaços numa única trajetória é difícil, falta de senso, impossível, absurdo.
Tagarelar um pouco de cada um, talvez. Hoje Lisboa, amanhã Cascais


Considerada a “Capital do Mundo Lusófono”, Lisboa é uma cidade rodeada pelas suas sete colinas, cheia de história e tradições culturais, romântica, autêntica, sem pretensões, repleta de espaços verdes - foi em Lisboa que surgiu o primeiro jardim botânico português- Jardim Botânico da Ajuda
Tem bairros antigos de esquinas, ruas e escadarias estreitíssimas, flores, roupa estendida nas janelas e recantos escondidos que vale a pena descobrir. Ao passear de tarde por entre cafés, restaurantes, miradoiros ou comércio local é quase sempre possível ouvir uns fados com letras sobre o mar, a saudade, o quotidiano, a melancolia - um pote de cultura.


Bairro de Alfama e Casa de Fado

A cidade estende-se ao longo do estuário do Tejo cujas águas lhe dão uma luminosidade ímpar. 
Quando o cruzeiro inicia um passeio, faz uma curva larga e ao afastar-se da margem, abrange-a toda e a largura do rio. O ritmo lento do barco de convés aberto, convidam a saborear a brisa e o sol, abrindo ângulos da cidade que só do rio se obtêm. Ao ultrapassar de novo a Praça do Comércio e a Sé, surge o colossal Mosteiro de São Vicente de Fora. Terminado o passeio e subindo ao topo das colinas, pode descobrir-se os recantos ou monumentos que mais curiosidades nos despertaram.

Cruzeiros no Tejo
Um dos tajectos feito por cruzeiro


Casario visto do Tejo
Terreiro do Paço, Lisboa 1970 (Verde-Bic Laranja)

Mas quem melhor do que escritores, prosadores ou não , fotógrafos e pintores sabe descrever uma Lisboa/lenda/poética/namorada/presépio/ “barca com ruas e jardins por dentro”?


«Logo a abrir, apareces-me pousada sobre o Tejo como uma cidade de navegar. Não me admiro: sempre que me sinto em alturas de abranger o mundo, no pico dum miradouro ou sentado numa nuvem, vejo-te em cidade-nave, barca com ruas e jardins por dentro, e até a brisa que corre me sabe a sal. Há ondas de mar aberto desenhadas nas tuas calçadas; há âncoras, há sereias. O convés, em praça larga com uma rosa-dos-ventos bordada no empedrado, tem a comandá-lo duas colunas saídas das águas que fazem guarda de honra à partida para os oceanos» José Cardoso Pires, "Lisboa. Livro de Bordo"


Lisboa e o rio

Lisboa fica, às vezes, amuada
Se o seu amor, amor, não lhe oferecer.
Chama-lhe marinheiro,
Fala dele na rua
E sente ciúmes dos olhos da Lua.
Chama-lhe marinheiro,
Sem rumo nem rota,
Sempre atrás das asas dalguma gaivota …
Ele, numa onda, atira-lhe um beijo.
E assim namoram, Lisboa e o Tejo....
Lisboa, quando desce uma colina,
Para namorar com ele, toda se enfeita…
Lisboa, veste saia de varina
Para ouvir os piropos que ele lhe deita.»
Mário Rainho
                          

«Presépio, anfiteatro, cais dum destino, plano inclinado por onde há séculos um povo e uma alma parecem escoar-se a caminho de outros mundos e paisagens, do pão amargo sobretudo – Lisboa é este rio imenso, este horizonte de apelos sem fim, e não se pode ter nascido aqui, vivido aqui, ou ser-lhe assimilado, sem lhe sofrer o influxo, sem ficar para sempre, marcado duma vocação, dum desgarramento e fatalismo, dum anseio de partir e tornar, duma sensual melancolia» 

José Rodrigues Miguéis, em "Saudades Para Dona Genciana"


Musa
«Aqui me sentei quieta
Com as mãos sobre os joelhos
Quieta muda secreta
Passiva como os espelhos
Musa ensina-me o canto
Imanente e latente
Eu quero ouvir devagar
O teu súbito falar
Que me foge de repente.»

Sophia M. B. Andresen in: Obra poética III.


«…Lisboa é cor-de-rosa e branco, o céu azul ferrete é tridimensional,
podes subir sozinho, há muito espaço experimental.
noutros elevadores há sempre alguém que barafusta,
mas não aqui: não fica muito longe a rua Augusta,
e em Lisboa é o único a subir na vertical.
no tejo há a barcaça, a caravela, a nau, o cacilheiro, a fusta,
luzindo à noite numa memória intensa e desigual.
com o cesáreo dorme a última varina, a mais robusta.
não é para desoras o elevador de santa justa,
arrefece-lhe o esqueleto de metal.
mas tens o dia todo à luz do dia. não faz mal»

Peter Hanenberg/Vasco da Graça Moura

Elevador de Sta. justa  -  Fotos:  Carris e Mário Marzagão


Balada de Lisboa
Em cada esquina te vais
Em cada esquina te vejo
Esta é a cidade que tem
Teu nome escrito no cais
A cidade onde desenho
Teu rosto com sol e Tejo

Caravelas te levaram
Caravelas te perderam
Esta é a cidade onde chegas
Nas manhãs de tua ausência
Tão perto de mim tão longe
Tão fora de seres presente

Esta e a cidade onde estás
Como quem não volta mais
Tão dentro de mim tão que
Nunca ninguém por ninguém
Em cada dia regressas
Em cada dia te vais

Em cada rua me foges
Em cada rua te vejo
Tão doente da viagem
Teu rosto de sol e Tejo
Esta é a cidade onde moras
Como quem está de passagem

Às vezes pergunto se
Às vezes pergunto quem
Esta é a cidade onde estás
Com quem nunca mais vem
Tão longe de mim tão perto
Ninguém assim por ninguém

Manuel Alegre, in "Babilónia"

Telas de lisboa


"Lisboa e rio" - Manuel Faia
 Luiza Caetano - “Lisboa é uma Festa” de J. Calvário em “Lisboa e poesia
Eximut - Bom Dia Lisboa
Tom - Lisboa
Roque Gameiro - Lisboa
Francisco Smith - A Costa do Castelo

Lisboa

« Cidade da Luz! Perpétua fonte
De tão nítida e virgem claridade,
Que parece ilusão, sendo verdade,
Que o sol aqui feneça e não desponte

Embandeira-se em chamas o horizonte:
Um fulgor áureo e róseo, tudo invade:
São mil os panoramas da Cidade,
Surge um novo mirante em cada monte.

Ó Luz ocidental, mais que a do Oriente
Leve, esmaltada, pura e transparente,
Claro azulejo, madrugada infinda!

E és, ao sol que te exalta e te coroa,
— Loira, morena, multicor Lisboa! —
Tão pagã, tão cristã, tão moira ainda… »

Alberto de Oliveira, in "Poemas de Itália e Outros Poemas"


Excerto
« obra monumental que hoje se publica é, por ventura, de todo o amplo campo editorial coberto por Lisboa 94, a mais complexa, a mais profunda, a de maior alcance. Com este trabalho paciente e apaixonado (…) preenche-se um vazio no conhecimento, até agora disperso, que fomos ganhando, ao longo dos anos, pelo trabalho sectorial de investigadores, arqueólogos e historiadores, em relação à cidade, ao seu povo, à sua cultura.
O Livro de Lisboa é a obra que faltava a Lisboa, não para que Lisboa nela se reveja, mas para que através dela se identifique, na plasticidade do seu passado, na inevitável flexibilização do seu futuro. Como capital do País, a cidade escreve-se naturalmente na cultura nacional; e, por isso, esta obra transcende largamente as fronteiras (esbatidas, é certo) da urbe que é seu objecto, para se projectar no quadro mais vasto de uma rei dentificação de Portugal, neste final do século XX.»
António Mega Ferreira



Imagens Google

quarta-feira, 25 de julho de 2012

JANELA SEM FRONTEIRAS


Sempre me deitei tarde e também sempre me levantei cedo, dormindo menos de 5 horas/ noite. Pertenço ao grupo dos chamados “dormidores curtos com tendência para redução do desempenho cognitivo… além de outras coisas.

"Esse hábito de dormir tarde e acordar cedo é uma verdadeira bomba-relógio para a saúde". Francesco Cappuccio, pesquisador, da Universidade de Warwick

Apesar dos muitos estudos que tem havido sobre qual o número ideal de horas de sono que são necessárias para que uma pessoa sinta que dormiu o suficiente, penso que ainda não se sabe exactamente. No entanto, existe um senso comum de que 7/8 horas por noite serão a média considerada normal para que a grande maioria tenha uma relação noite/dia equilibrada.

Aí pelos 11 anos, antes de ir para as aulas das 8.00 horas, era “obrigatório” ir à missa das sete porque fazia parte da disciplina de Moral - quem não fosse tinha uma nota a menos, mesmo sabendo todo o Novo Testamento de cor… Mas antes, ainda me debruçava na varanda do meu quarto para ver passar os pastores com uns enormes rebanhos (agora não há uma ovelha) e os quase sempre dois enormes serra-da-estrela, um à frente e outro atrás.
Ou então, nos dias em que se acordava com as ruas brancas de neve, punha-me mais cedo a caminho da Capela para ser a primeira a marcá-la com as minhas pegadas.


Neve (pouco frequente desde há muitos anos) na minha aldeia

Passadas décadas, o ritmo é o mesmo.


Divagando sobre as estrelas...

Acho cativante olhar o céu à noite, embora a minha sabedoria em Física não tenha sido muito aprofundada. E em Astronomia apenas me limitei a espreitar algumas constelações e um ou dois planetas através de um par de binóculos sem que nunca tenha contribuído, como simples amadora que gostaria de ser, para qualquer  descoberta ou observação de fenómenos transitórios.  
Todavia, quando estava de férias, antes de me deitar e quando todos já dormiam, ficava à janela tranquila e atenta a espreitar as estrelas e a vê-las cintilar bem pequeninas, umas mais próximas e outras mais distantes, algumas a deixarem-se descobrir e outras a esgueirarem-se durante um olhar mais rápido, umas mais fraquinhas e outras mais brilhantes.
Nas cidades, as luzes não as deixam aproximar tanto; é na escuridão que melhor se enxergam

Céu estrelado numa noite em que se apagaram as luzes na cidade ("catadora de versos")

Nas noites sem nuvens há milhares a fazer parte desta galáxia em que o sistema solar está localizado; observando mais atentamente, é mesmo possível distinguir uma forma de organização em “disco “ galáctico - faixa luminosa de um conjunto muito denso de estrelas distantes que os nossos olhos não conseguem separar, a Via Láctea - na periferia do qual nos encontramos a olhar para ele nessa direcção.

Via Láctea (Xapa Kôko- Fonte UEBA)

O coração da Via Láctea – em torno do qual giram cerca de 200 bilhões de estrelas, inclusive o Sol – é um lugar turbulento porque, dizem os cientistas da NASA, existe nela um buraco negro super massivo, recheado de nuvens moleculares gigantescas, vestígios de estrelas que explodiram, filamentos de matéria com centenas de anos-luz de comprimento (Cerca de 2,6 milhões de massas solares)."Astronovas-Buracos Negros"


Buraco negro ("Coisas da Alma")

«Desde sempre que o Homem se sente fascinado pelos planetas,  tendo-os venerado como deuses na antiguidade.
A teoria atualmente mais aceite sobre a formação do Sistema Solar é a de que o Sol e os planetas se formaram a partir de uma nuvem de gases e poeiras, designada por nebulosa. Devido a fenómenos de condensação da matéria, o núcleo desta nuvem foi aquecido gradualmente e a nuvem começou a rodar. No núcleo a temperatura terá aumentado milhões de graus. Desta forma ter-se-iam desencadeado reações termo nucleares, por fusão de hidrogénio. Após milhares de anos em rotação, a velocidade da nuvem foi sendo cada vez mais rápida e começou a achatar-se. Muitas das partículas da nebulosa aglutinaram-se no centro, formando uma estrela, o SolEm busca de Vida para além da Terra- Ana Suzett Hipólito, Diana Filipa Martins, João Paulo Pimentel

Imagem obtida da estação espacial Skylab da NASA em 19 de Dezembro de 1973.

As estrelas, além de estarem na origem de mitos e lendas, eram pontos de referência no calendário para as chuvas, na procriação, etc. Sempre, independentemente do desenvolvimento da Astrofísica e da resolução da questão fundamental da origem dos elementos pelos cientistas, as estrelas significarão saudade, sonhos, romance, simbolismos, olhares, paz, 
segredos, amizade, noite, tristeza, abandono, solidão, inspiração para todas as fantasias...

"Pálida estrela, casto olhar da noite
diamante luminoso na fronte azul do crepúsculo
o que vês na planície?"- Ossien

“(…)Sou guiada pelas estrelas e sigo o exemplo delas, que mesmo em dias conflituosos não deixam de brilhar. Sou assim, serei sempre estrela durante a minha passagem por este plano, iluminarei..." - (Entre...Estrelas...e...Borboletas)


sempre estrela durante a 
« A observação do céu estrelado  é um costume que se perde na imemorial noite dos tempos! Civilização após civilização tem olhado para o céu, tanto pelo prazer da investigação científica, como pela admiração contemplativa. A época do Natal, por exemplo, tem sua decoração específica e as estrelas fazem parte dela, tamanha é a influência que exercem sobre o psiquismo humano. Douradas, prateadas, na forma de um pentágono, cintilam sobre o pinheiro natalício.» (Alzira Cristina de Melo Stein-Barana)

Que faria "O Principezinho" (Antoine de Saint-Exupéry) sem estrelas?


"As pessoas têm estrelas que não são as mesmas. Para os viajantes, as estrelas são guias. Para outros, não passam de luzinhas. Ainda para outros, os cientistas, são problemas. Para o meu Homem de negócios, eram ouro. Mas todas as estrelas estão caladas."


 «- É como com a flor. Quando se é uma flor que está plantada numa estrela, é bom olhar para o céu, à noite. É que todas as estrelas ficam floridas...»


«- Depois, à noite, pões-te a olhar para as estrelas. A minha é pequenina demais para se ver daqui. Mas, é melhor assim; para ti, a minha estrela vai ser uma qualquer. Assim, gostarás de olhar para as estrelas todas...Todas elas serão tuas amigas.»


- As estrelas são todas iluminadas... Não será para que cada um possa um dia encontrar a sua? Olha o meu planeta: está justamente em cima de nós... Mas como está longe!
- Teu planeta é belo, disse a serpente. Que vens fazer aqui?
- Tive dificuldades com uma flor, disse o príncipe.
- Ah! Exclamou a serpente.
E calaram -se
...As estrelas são bonitas por causa de uma flor que não se vê...
...- Aquele que eu toco, eu o devolvo à terra de onde veio, continuou a serpente. Mas tu és puro. Tu vens de uma estrela..


Como não havia mais ninguém no planeta, o principezinho perguntou sobre o que o rei reinava. Ele respondeu que sobre tudo, o seu planeta, as estrelas, tudo.
E as estrelas vos obedecem? – Indagou o principezinho - Sem dúvida. Obedecem prontamente. Eu não tolero indisciplina


Também Vincent Van Gogh encontrava nas estrelas uma grande motivação para as suas pinturas:
 "Quero expressar a esperança por meio de alguma estrela" ; 
"Quando sinto uma necessidade de religião, saio à noite para pintar as estrelas"; 
" A noite é mais rica em cor do que o dia"

E pinta estrelas em cinco quadros:




Vincent van Gogh, Noite Estrelada sobre o Ródano -  óleo sobre tela (28-1/2 x 36-1/4 polegadas 1888), Museu d'Orsay em Paris.


 
Imagens do Espaço


Um ano antes de acabar com a vida, Van Gogh pintou " A Noite Estrelada", de 1889, um dos quadros mais famosos e jamais criados de uma visão do céu nocturno, a respeito daquelas horas, entre o crepúsculo e a madrugada.
… o próprio redemoinho no céu revela-se uma agonia, um desespero, um grito refreado, um turbilhão de coisas a serem ditas sem palavras.”

À pergunta:” Será que Van Gogh cortaria a outra orelha se visse essa paisagem enquanto flutuava em órbita?” A pesquisadora da NASA acredita que sim. (Wikipédia)

"Estrada com um Cipreste e uma Estrela" é uma pintura de 1890 onde Van Gogh retrata uma estrada campestre em Provença, França

Exterior do " Café Terrace à Noite, na Place du Forum"em Arles, 1888.

O amarelo avermelhado faz contraste com o azul escuro da noite. A luz e a cor amarelo e o brilho das estrelas fazem a atmosfera emocionante do quadro.


" Casa branca à noite", 1890.

Quem diria que as estrelas também morrem...



Imagens Google