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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

O OMNIPRESENTE



"Narrativa" na primeira pessoa

A ALDEIA

- Nasci na Soalheira, uma terra pobre da Beira Baixa, na encosta sul da serra da Gardunha, há 73 anos. Como filho ilustre, foi atribuído o meu nome à rua da escola Primária onde a minha mãe Maria Irene ensinou o ABC.
No dia 13 de Maio a minha tia abria as portas da casa a todas as beatas que a quisessem acompanhar na missa, pela rádio, directamente de Fátima.
Quando jogava o Sporting - Benfica, eu colocava o meu rádio Telefunken na varanda para deliciar os muitos adeptos que se juntavam no Largo a ouvir o relato.
O meu avô tinha uma quinta donde provinham todos os bens essenciais, durante o racionamento alimentar, no pós II Guerra Mundial. E, como também era caçador, havia ainda as perdizes e as lebres. O gosto pela caça, um dos meus hobbies favoritos, vem dessa época.
Na Soalheira só havia dois ou três carros que funcionavam a gasogénio porque a gasolina era escassa. O meu pai, um pequeno comerciante, sempre teve carro - um Citröen velho - que nos dava uma situação de privilégio.

Quem sou?

A VILA (cidade desde 1971)

Após a primária na aldeia, fui para um liceu de Castelo Branco e fiquei na casa de uma tia que era telefonista.

Terá sido neste?

A LICENCIATURA

Os meus pais gostavam que eu tirasse uma licenciatura
A minha mãe tinha uma imagem negativa dos advogados.
O meu tio, que “no fundo era um funcionário público, achava que o sobrinho, em quem depositava esperança, devia ir para direito”.

DIREITO

Foi a opção.
O meu tio seduzia-me pela cultura e pelo conhecimento; era amigo de António José Saraiva, Óscar Lopes e Ferreira de Castro, entre outros.
Tinha uma actividade clandestina - militava no Partido Comunista. Eu só soube quando já estava na Universidade e todos, só depois do 25 de Abril; no funeral, a bandeira do P.C. cobria a urna.
Toda a minha família, que era profundamente católica, ficou chocada.
“Salazar era uma pessoa respeitada, fiável, quer pelo meu avô paterno quer pelo meu pai.
”Fui sempre muito crítico com eles."
“Quando deixar de trabalhar volto para o campo”.  

COIMBRA

Os repúblicos abrantinos!
Muitos dos políticos e famosos até noutras profissões estiveram em Repúblicas de Estudantes.
A “Real República Palácio da Loucura” teve papel relevante nos movimentos académicos na década de 60 - no que se refere às questões académicas da época. Só lá vivi um ano, entre 1959 e 1960, mas nem por isso tenho menos recordações. O próprio ambiente de uma casa gerida só por estudantes era muito aliciante.



Fiz parte da Orquestra Ligeira do Orfeão Académico de Coimbra, fundada pelo Zé Nisa, em 61, como contrabaixista. 
Era um quinteto (Zé Niza, eu, Rui Ressurreição, Zé Cid e Joaquim Caixeirocom o instrumental e o repertório típico da transição da década de 50 para a de 60. Interpretávamos música brasileira, italiana, francesa, americana…

O ADVOGADO


"Na minha profissão há mais esforço e disciplina do que talento. Nada está adquirido." 
Tenho um lema: "Os fins justificam os meios" 

A “relação com a minha mãe era cúmplice, muito próxima”; compreendeu o meu divórcio e a minha intervenção política. “Dizia muitas vezes que tinha sido uma surpresa ver que eu tinha atingido lugares de destaque na vida pública. Sentia-se orgulhosa. Mas era uma coisa inesperada. Nunca pensou que pudesse acontecer.”
Se não tivesse seguido os conselhos do meu tio, talvez agora fosse apenas mais um professor reformado…

Acabei o meu curso e como não tinha nenhuns recursos e já tinha uma família para sustentar… Casei aos 20 anos… 
Fui para o primeiro emprego possível - Delegado do Procurador da República interino, colocado em Santiago do Cacém. 
Publicado originalmente no Jornal de Negócios em 2011

Dúvidas?
Sim, é ele, já designado como "O novo dono disto tudo".


DANIEL PROENÇA DE CARVALHO, ADVOGADO


Passando da narrativa na primeira pessoa para os muitos factos que comprovam ser "um dos conhecedores por dentro de tudo o que se passou à vista de todos e ainda conhece o que ocorreu nos bastidores, à vista de poucos"...

Atravessou os regimes de ditadura (como polícia e agente do MP) e passou para este regime democrático sempre em lugar de relevo social e político.

É o início da trama de acontecimentos que, de tantos e tão complexos, eu classifico de exponenciação  an

E vou citar apenas a excelente descrição (os sublinhados são meus) feita em:

"Em 1974, com 33 anos,  era um modesto advogado, depois de ter sido delegado de procurador da República e inspector de polícia, no Estado Novo de Salazar. Segundo um biógrafo improvável (Afonso Praça de O Jornal) Proença tinha um lema: "os fins justificam os meios". Maquiavel no seu melhor, portanto. Proença vinha da Soalheira, no Fundão, pobre como se era na época. 


Em 1968 passou a funcionário de Champallimaud, no contencioso da empresa Cimentos de Leiria.
Foi nesse tempo que começou o julgamento da herança Sommer de que Champallimaud era interessado. Proença, segundo Praça, teria participado, enquanto inspector da Judiciária na instrução de um processo-crime relacionado mas tal não o impediu de tomar a defesa da causa do patrão. Eticamente, estava bem preparado...e quando aparece o 25 de Abril, sendo amigo de José Niza, inscreve-se no...PS, pois claro. Partido que abandonou logo que os ventos começaram a mudar, ou seja por altura da primeira bancarrota (1976-77) Proença já era de "direita", no Jornal Novo que então dirigia. Uma direita sui generis, entenda-se.

A história conta-se melhor no “O Jornal” de 7-2-1986:

Proença foi então ministro da propaganda (Sá Carneiro dixit) do VI governo de bloco central, de Mota Pinto, em 1978, quando se preparava já a segunda bancarrota, dali a uns anos. Sá Carneiro no entanto, nomeou-o presidente da propaganda na RTP, em 1980. Em 1983, Vítor Cunha Rego terá mesmo escrito no jornal A Tarde, que " há muito que o sistema político deste País teria desabado se Proença de Carvalho não estivesse onde estava." Em 1983 estávamos noutra bancarrota...
Dali em diante foi sempre somar e encher o bolso, para Proença. Vejam-se os recortes que nos contam tudo ou quase...a partir de 1981 e depois da AD de Sá Carneiro.

Expresso de 3 Janeiro de 1981:

O Jornal de 5 de Junho de 1981:

O Jornal de 11 de Abril de 1986 em que Fernando Dacosta escrevia sobre a "direita" portuguesa a propósito de Freitas do Amaral (!) e de Proença de Carvalho (!!!) supostos representantes da dita cuja...
Em 1986 Proença, foi, naturalmente, mandatário de Freitas do Amaral na corrida presidencial que este perdeu para Mário Soares. Como o Expresso escreveu na época...ficou às portas da terra prometida...
Em 1991, o governador de Macau, Carlos Melancia, indicado pelo vencedor das presidenciais, teve problemas com a Justiça. Corrupção. Quem foi o advogado? O representante da "direita", voilà!
Em 1995 a antiga ministra do PSD, Leonor Beleza, designada futura líder sabe-se lá de quê, foi pronunciada por um juiz de instrução da prática de crimes de homicídio doloso. Quem foi o advogado de defesa da dita? O nosso homem do trio de los dos, voilà!  

Expresso revista de 1 de Novembro de 1996:
Aproveitou entretanto todas as entrevistas generosamente concedidas pelos média do sistema da bancarrota, para destilar o ódio particular às instituições judiciárias, particularmente ao MP. Proença, nunca o escondeu que preferia um MP à maneira do Estado Novo. Era bem mais seguro para os interesses que representa, como se vê agora no caso de Angola...

E por isso mesmo, em 1999 já destilava as habituais catilinárias, desta vez contra o então
PGR Cunha Rodrigues (houve apenas um PGR que agradou a Proença: o seu amigo Pinto Monteiro...).

Expresso de 27 Março 1999:
E actualmente, por onde anda Proença? Ora, ora. Depois de defender José Sócrates dos ataques soezes que lhe fizeram, a esse paladino da transparência pessoal e governativa, anda agora a acompanhar o presidente do BES, Salgado de sua graça, nas deambulações angolanas por causa da maldita Escom que ainda os vai desgraçar...


Como já se escreveu por aqui, citando o abruti:
Proença de Carvalho é um exemplo típico: advogado de José Sócrates, presidente do Conselho de Curadores da Fundação Champalimaud, presidente do Conselho de Administração da Zon Multimédia, membro da Comissão de Vencimentos do BES – um interessante cargo -, “chairman” da Cimpor, ao todo, só no mundo empresarial, 27 cargos. Proença de Carvalho, como muitos outros neste universo de “sempre os mesmos”, não é “dono”, mas amigo dos “donos”. 






















Competência? Nalguns casos sim, noutros não. Mas não é a competência o critério fundamental. É a confiança. Estes são confiáveis, são dos “nossos”, são dos “mesmos”. Já foram testados mil e uma vezes, no governo, na banca, na advocacia de negócios, no comentário político nos media, e mostraram que estão lá para defender sem hesitações, os “nossos” interesses. Confiança é a palavra-chave nos “sempre os mesmos”.

Proença de Carvalho pode dizer-se que será um dos indivíduos mais qualificados em Portugal para explicar como é que sofremos três bancarrota em menos de 40 anos. Por uma razão simples: esteve em todas elas, como figura proeminente, parda por vezes, mas sempre presente. E aproveitou bem o regime que as produziu. 

Seria interessante que alguém revelasse o seu património... 

CODA: Este indivíduo mai-lo seu apoderado da época, candidato a presidente da República,  seriam os putativos representantes da "direita". Havia outro, ainda. Um certo José Miguel Júdice que até teria sido de extrema-direita, cultor de um tal Primo de Rivera.  Veja-se bem a pinderiquice intelectual desta gente. Bastou que os ventos de mudança de regime passassem a soprar um pouco mais a levante, para se postarem a jeito de aproveitarem a maré.
Cedo mudaram para o centro e daí para a esquerda e até se aproximaram do PS, o tal que se diz de esquerda e que teve um esquerdista notório como Sócrates, que todos aqueles louvaram como um grande estadista português.
Lembrar isto é tão deprimente quanto lembrar as bancarrota que nos provocaram. 
Até quando esta gente mandará em Portugal?"


01/05/2009 - Dias Loureiro e Proença de Carvalho cantam "Pomba Branca, Alma Negra"

Jesus, fitando neles o olhar, disse-lhes: Isto é impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível. (Mt 19. 26).

Será?


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