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sexta-feira, 2 de junho de 2017

PARADIGMA DOS TEMPOS


- Sabes quem morreu?
- ?
- Foi a ME. Também já não andava por cá a fazer nada Era velha.
- Teve uma vida longa, sim. Mas “vejo-a” a pensar que ainda não esperaria que fosse a “hora” dela...

Amanhã ?  Amanhã apenas terá deixado de ser. “Apagou-se”. Pronto.
É o paradigma dos tempos.



Sou aquela que passa e ninguém vê ...
Sou a que chamam triste sem o ser ...
Sou a que chora sem saber porquê ...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!”
Florbela Espanca




Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.
Mário de Sá Carneiro





Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples
Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra cousa todos os dias são meus. 
Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"  
Heterónimo de Fernando Pessoa


Morto. Fica o que pensam de mim.
Minha essência tornou-se finita.
Exauriu-se chegando ao fim,

Só deixando aqui esta escrita
Levi Bronzeado Santos




Se eu morrer amanhã
Não me deem elogios que não mereço
Nem flores que nunca recebi
Tampouco lembranças que não tenham

Não me tragam lágrimas que não sintam
Mensagens que nunca me enviaram
Cartas de amor que não me deram
Vera Pinheiro



Não!
Não quero velório.
Fato velho e caixão pobre.
Onde tudo é amarelo, algodão e morte.
A lágrima que não me lembro de ter chorado.
TDM


"Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar. Hoje, não. A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis, e um exército de professores, explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição
...
A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade..."
João Pereira Coutinho, jornalista



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