Tenho reparado que, num curto espaço de tempo, muitas das pessoas com que me vou cruzando no hall de entrada/ saída do prédio onde moro há umas
boas dezenas de anos, vão deixando de ter aspecto “familiar”
E como não chovia nem estava
frio, sentei-me num dos bancos do jardim ali em frente para retroceder no tempo dos primeiros moradores / vizinhos, distribuídos por 12 andares, 2 condóminos por piso ( direito e esquerdo). Eram maioritariamente recém-casados ou com filhos bastante
novos mais 2 ou 3 solteiros.
Todos em idade de trabalho
intenso, saindo de manhã e voltando ao fim da tarde, além do bom dia/ boa
tarde/ boa noite em encontros na garagem, no elevador, nos colégios/ escolas dos
filhos ou reuniões de condomínio, não
sobrava tempo para um melhor conhecimento.
No entanto, este tipo hábitos
quotidianos foram suficientes para criar sorrisos de empatia, praticar regras
de convivência, resolver problemas de forma amigável, evitar intrigas
e construir uma relação saudável, com características de “família”
alargada.
A necessidade de conviver e de relacionamento não se modifica com o envelhecimento; pode até
aumentar ( faz parte da natureza do ser humano).
Com a reforma permanece-se mais
tempo em casa, há mais deslocações a pé, tempo para “tomar um café" ou prolongar
o simples “bom-dia” com um pouco mais de conversa nos, agora, muitos encontros ocasionais ou seja, existe uma maior possibilidade de usufruir o espaço de partilha em que se está integrado - o prédio. Logo, a questão da vizinhança na
cidade é importante pelo que convém que seja bem alicerçada.
Porém, como disse, os agora esperados bate-papos mais frequentes e agradáveis, parecem ser cada vez menos abrangentes no número de participantes "gente boa" , conhecida. Ao olhar, aqui do banco do jardim para as janelas da fachada principal, que vejo eu?
Apenas 8 condóminos de origem, 3 de filhos de pais já falecidos , 2 de filhos de pais que foram morar para outras casas e 11 novos proprietários, o que faz toda a diferença.
E a evasão parece continuar a ameaçar
Há mais de um mês que deixei
de ouvir a minha vizinha de baixo. Viúva, com acentuada e progressiva lordose da
coluna cervical, tinha como companhia uma gata amarela (já por mim descrita
neste blog) e também, ultimamente, uma
prestadora interna de cuidados. Porem, o relacionamento entre as duas parecia
deteriorar-se de dia para dia e agora, as janelas que estavam sempre cheias de claridade, revestiram-se
de aconchegadas tabuinhas horizontais…Onde estará a ML?
O vizinho de cima, também viúvo há mais de uma dezena de anos, cansado de viver sozinho, tomou a iniciativa de
se transferir para uma Casa de Repouso. Soube disso porque o encontrei, por
acaso, no dia em que saía de casa com uma almofada debaixo do braço. Surpreendida, perguntei se nos ia deixar. Sim, disse ele, não me tenho sentido muito bem. Gosto de não causar problemas … mas não dispenso a minha almofada.
E assim vai a minha vizinhança…
“Não tente viver para sempre, você não terá êxito” –
George Bernard Shaw, dramaturgo, Nobel da Literatura, 1925.
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