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quinta-feira, 30 de junho de 2022

O SILÊNCIO PERDIDO


Que saudade do silêncio… Há tanto tempo que não o encontro!
Não o da ausência dos carros que circulam, o das pessoas que se cruzam, das crianças que brincam, do moço a cantarolar no andaime, do sistema de irrigação do jardim ou do tic-tac do relógio de parede.

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Mas aquele arrastar dos chinelos de um compartimento para o outro para contar os comprimidos, aquele frenético abrir e fechar da mesma gaveta para tirar/guardar a máscara, aquele bater e bater com a porta pra ir “ver o correio”, aquele permanente gotejar de água para lavar as mãos a cada instante, aquele interpelar repetitivo sobre o mesmo assunto, aquele espreitar de vigilância constante, aquele plagiar de movimentos autómatos como se fosse uma espécie de “sombra” que nos segue, são ruídos que, captados pelo sistema nervoso, se transformam em sensações desagradáveis de stress. As ondas cerebrais de baixa frequência, em conjunto com as de frequência mais elevada, não conseguem harmonizar os pensamentos, as emoções e as sensações de modo a que se possa sentir o necessário equilíbrio e receptividade ao que nos rodeia.

Segundo um estudo feito em ratos e publicado na revista Brain Structure and Function, os pesquisadores descobriram que os ratos expostos a duas horas de silêncio diário, desenvolveram novas células numa região do cérebro associada à memória, emoção e aprendizagem.

Também o italiano Luciano Bernardi, em 2006, aquando do seu estudo sobre "O efeito fisiológico do silêncio" -  pois os processos neurais que a música desperta são incríveis -  acabou por descobrir que os períodos de silêncio entre uma música e outra deixavam o cérebro mais relaxado do que qualquer tipo de música, incluindo as  mais calmas e tranquilas.

Florence Nightingale acreditava que "O barulho desnecessário é a falta de cuidados mais cruel que podemos infligir aos doentes e aos saudáveis.

falta de som ajuda o cérebro a descansar, o que contribui para assimilar melhor as questões internas e externas. 


Contemporânea - João Queiroz


Ouvir o silêncio. Ele tem muito a dizer.


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