Partir de Lisboa em
Agosto, fazer 350 Km pela autoestrada da Beira Interior e chegar à Cerdeira (Beira Alta), pode dizer-se que é uma viagem rápida (+/- 3,00 horas) dispendiosa (€ 45,60 de ida-volta) e “colorida”.
A paisagem parece
um palco onde se vão desenrolando vários cenários de vistas verdes, florestas
devastadas pelo fogo ou noites feitas de cinzas e fumo recortadas pelas chamas,
sob um céu ora azul, ora escurecido, ora vermelho.
Sente-se o cheiro a
queimado, ouve-se ao longe o som estridente das sirenes, o silêncio sofrido dos
“violentados”, as rinchavelhadas dos possíveis malfeitores, o movimento do ar
que se desloca ou o chilrar isolado de alguma ave desenrascada.
Há os que parecem seguir o mesmo roteiro e os que se cruzam connosco. Uns que fazem pausas em áreas de serviço e outros que optam pela
regularidade.
Em Coutada, concelho da Covilhã, o fogo desfrutava em duas frentes activas e um
bombeiro viria a morrer no combate às chamas.
Em Aldeia Viçosa,
concelho e distrito da Guarda, um incêndio com três extensões estava a
ser combatido por dezenas de bombeiros, dois helicópteros e 26 veículos.
Mas o Alto do
Leomil aproximava-se com outra paisagem.
O horizonte é longo
de pedras, giestas, pinheiros novos e restolho que se prolonga para lá de Espanha. Vazio de pessoas,
o silêncio adverte para os baixos níveis de poluição atmosférica, o
encanto genuíno da natureza e a memória histórica das aldeias em redor.
Penedo com vestígios rupestres
Penedo com vestígios rupestres
Já na direcção do Sabugal e a descer até ao rio Noémi, dum lado e doutro dele, fica a terra onde nasci.
Sabe sempre bem voltar
mais uma vez para reviver momentos, lugares, pessoas (poucas), convívios.
Agosto é o mês das festas
mas a mais importante celebra-se todos os anos no dia 15 em honra de Nossa
Senhora do Monte, concorrida também pelos habitantes das povoações
vizinhas.
A Ermida, muito
antiga, semelhante à Capela do Mileu da Guarda, fica a 2 Km da aldeia, num monte
donde se avista um deslumbrante panorama de todos os cumes situados à volta da
bacia do Côa - Marofa, Malcata, Estrela, Gardunha, Caramulo, Montemuro, Gata,
Leomil e Lapa.
Permanecendo por
aqui uns dias, faz sempre parte do programa revisitar lugares vizinhos como por
ex. Castelo Bom, freguesia do Concelho de Almeida ou as Termas do Cró situadas
entre as freguesias da Rapoula do Côa e do Seixo do Côa, a 15 km do Sabugal ou ainda dar um salto a Ciudad Rodrigo, para lá de Vilar Formoso.
CASTELO BOM, aquando da Guerra da Restauração
(1640-1668), desempenhou um papel importante na defesa do território nacional. Na
fase mais crítica foi refúgio para os Governadores da Beira, devido
à sua localização estratégica e aos melhoramentos efectuados no castelo (construção
de estruturas de apoio aos civis em caso de cerco). Também foram construídos os
Poços da Escada e d'El-Rei para garantirem o fornecimento de água à população da
vila em caso de necessidade, durante a assinatura do tratado de paz Alcañizes,
com Leão e Castela, em 12 de Setembro de 1297, que definiu as fronteiras de
Portugal.
Brasão de armas da Vila e Porta da Vila
Tal como a maioria das aldeias do Interior de Portugal, é afectada por um dramático envelhecimento da população e pela fuga dos mais jovens para outros destinos.
A densidade populacional é de 8,6 hab/km² e os idosos,
hospitaleiros, permanecem sentados junto das portas de casa a fim de avistarem algum forasteiro como eu.
Indiferentes, passeiam-se muitos gatos pelas ruas.
Indiferentes, passeiam-se muitos gatos pelas ruas.
Na minha caminhada lenta, contagiada pelo sossego reinante
e sob um sol ardente, ao esquadrinhar alguns recantos descobri, com surpresa,
uma seta onde se lia “Fonte da Cerdeira” (e dezenas de outras fontes e chafarizes históricos).
Não consegui encontrar qualquer descrição sobre as origens da dita Fonte
de mergulho dos séculos XVII e XVIII, mas constatei que era igual a uma das que há na minha
aldeia.
É um monumento não classificado, de arquitectura civil.
A Arquitectura civil surge no Reinado de Dom Dinis.
Filho de D. Afonso III de Portugal e da infanta Beatriz
de Castela foi aclamado em 1279 e subiu ao trono com 17 anos. Em 1282 desposou
Isabel de Aragão, conhecida como Rainha Santa.
O Rei mandou construir e remodelar inúmeras fortificações,
castelos, residências senhoriais e reais. Ao longo de 46 anos a
governar os Reinos Portugal e dos Algarves foi um dos principais responsáveis
pela criação da identidade nacional e pelo início da consciência de Portugal.
Gato, Calvário, Casa alpendrada e Solar do Largo da Igreja
Nas
TERMAS DO CRÓ existem indícios de utilização das águas medicinais que apontam
para uma possível presença romana no local mas a referência mais antiga é de 1726, da autoria de Francisco F. Henrique que já falava dos
extraordinários efeitos curativos dos banhos.
Os primeiros testes químicos da água foram feitos em 1891.
Em 1909, Ivens
Ferrás, tentou implementar o primeiro projecto sério de reestruturação e
exploração e em 1935, construiu-se o balneário, marcante durante várias décadas.
Posteriormente, devido a vários factores, foi totalmente vandalizado.
O Município do Sabugal
adquiriu o local em 1980 e iniciou uma nova era de reabilitação e dinamização, com a abertura de um moderno Balneário em 2011
Agora, um novo complexo spa nas Termas do Cró oferece aos visitantes procedimentos curativos e preventivos. A água, pela sua
composição química, é utilizada no tratamento de doenças do sistema locomotor e respiratórias.
Novo balneário e espaço exterior
O
espaço exterior é agradável, está bem cuidado, tem bons acessos e muitos
lugares para estacionamento. Várias pessoas, só ou pequenos grupos, visitam as
ruínas dos velhos edifícios das termas, separadas por um pontão que liga as duas
margens do rio "vestidas" de juncos e amieiros, mesmo com a pouca água que actualmente
ali corre.
As
termas do Cró, além de serem com certeza um bom local para tratar a saúde são
também, pelo
património que conservam, um excelente pretexto para uma visita ou passar uma tarde de domingo.