... A década de 60 foi, na minha vida, a época da diferença...
(poste de 11/11/2014)
...ouvia-se o fado puro, num sentido quase religioso, onde não faltava o caldo verde e presenças como Ary dos Santos, David Mourão-Ferreira e Maluda, entre muitos outros.
O Fado é “mais do que um património, é o corpo, a alma e a história
de um Povo”, terá afirmado Natália Correia.
E IA-SE À MODISTA...
No inicio da década de 60 avançava, em todo o mundo, a reconstrução do pós guerra na economia, na música, no
cinema, no aparecimento dos primeiros electrodomésticos e também na moda.
Porém, em Portugal, esses efeitos aconteciam a um ritmo
muito menos acelerado.
As importações eram condicionadas pelo regime e pelo desequilíbrio dos sistemas de produção da maioria dos países europeus que viviam em estado de guerra. Aos portugueses restava a “paixão” pelas modas estrangeiras.
O Estado Novo insistia num sucesso nacional baseado na simplicidade e tradição, muito útil para a economia mas não para a moda.
Salazar trespassava o seu patriotismo, simplicidade, perspicácia e elegância através do vestuário, de acordo com descrição, em 1948, do jornalista Charles d´Ydewalle, :
“Diviso somente um gentleman de mãos aristocráticas que veste uma finíssima camisa creme e um casaco assertoado, muito Sackville Row. Dir-se-ia um anúncio apostólico vestido por Londres,talvez um latino habituado a manipular dollars, com facílima facilidade de trato, uma educação requintada, parecendo ter todo o tempo para me receber, um homem mundano,sem gestos, sem nunca descruzar as pernas”
As saias rodadas em godé, plissadas ou de pregas e os vestidos volumosos de cintura bem marcada, de comprimento abaixo dos joelhos (tendências da década de 50 !) continuavam a ser moda em Lisboa.
O rabo-de-cavalo e a franja perpetuavam-se nos penteados, assim como a maquiagem dos olhos com muito delineador e rímel, os lábios vermelhos, o uso de sapatos sabrinas, meias de vidro, luvas e o famoso perfume Chanel Nº 5.
Havia a preocupação de não dar nas vistas.
As importações eram condicionadas pelo regime e pelo desequilíbrio dos sistemas de produção da maioria dos países europeus que viviam em estado de guerra. Aos portugueses restava a “paixão” pelas modas estrangeiras.
O Estado Novo insistia num sucesso nacional baseado na simplicidade e tradição, muito útil para a economia mas não para a moda.
A mulher, com algumas excepções (no exercício do
ensino, por ex.), deveria ser apenas o “chefe moral‟ da família.
Salazar trespassava o seu patriotismo, simplicidade, perspicácia e elegância através do vestuário, de acordo com descrição, em 1948, do jornalista Charles d´Ydewalle, :
“Diviso somente um gentleman de mãos aristocráticas que veste uma finíssima camisa creme e um casaco assertoado, muito Sackville Row. Dir-se-ia um anúncio apostólico vestido por Londres,talvez um latino habituado a manipular dollars, com facílima facilidade de trato, uma educação requintada, parecendo ter todo o tempo para me receber, um homem mundano,sem gestos, sem nunca descruzar as pernas”
Numa esfera mais abrangente, Peter York (1994) define sucintamente a moda ocidental: “tinha o seu establishment, uma espécie de Vaticano”, com “ditadores que estabeleciam as regras para serem seguidas por toda a gente".
As saias rodadas em godé, plissadas ou de pregas e os vestidos volumosos de cintura bem marcada, de comprimento abaixo dos joelhos (tendências da década de 50 !) continuavam a ser moda em Lisboa.
O rabo-de-cavalo e a franja perpetuavam-se nos penteados, assim como a maquiagem dos olhos com muito delineador e rímel, os lábios vermelhos, o uso de sapatos sabrinas, meias de vidro, luvas e o famoso perfume Chanel Nº 5.
Havia a preocupação de não dar nas vistas.
E foi assim, de vestidos rodados, sabrinas de cor amarela e tranças
transformadas em rabo-de-cabelo, que me mudei para a capital.
As saias de pregas eram de "Terylene", eternas e muito práticas. Não precisavam de ser engomadas e secavam rapidamente.
Em muitos colégios faziam parte dos uniformes.
Ainda sem muitas lojas de Prêt-à-porter por cá (com destaque para o Grandella, Lanalgo, Loja das Meias e Loja das Malhas), eu tinha uma costureira para as
roupas do dia-a-dia, transformações e arranjos e uma modista que fazia o desfile dos seus próprios modelos, decalcados
de revistas estrangeiras - os “figurinos” - para vestidos de festa e de cerimónia, casacos compridos, tailleurs e chapéus. Também eram meus favoritos os fatos tricotados à máquina, por medida.
Porém, este período de transição durou pouco.
BB foi a imagem entre os dois ideais de beleza bem diferentes - o da mulher conservadora ‘New Look’ de Dior e o do advento ‘anti-moda’ irreverente, rebelde e informal da segunda metade da década dos 60’s.
Com o sucesso de Elvis Presley, dos Beatles, do rock’n'roll, a juventude da década de 60 influenciou a moda, trocando o estilo clássico pelas mini-saias de Mary Quant e blusões mais curtinhos. As meias e cintos de ligas foram substituídos por collants finos, coloridos e com padrões.As saias de pregas eram de "Terylene", eternas e muito práticas. Não precisavam de ser engomadas e secavam rapidamente.
Em muitos colégios faziam parte dos uniformes.
Se o biquíni ainda era proibido, não sei; mas recordo-me
de não ter tido qualquer problema de escolha
entre dois tipos de fatos de banho...
O tecido de fantasia na parte da frente era duplo.
Na praia das Maçãs
Porém, este período de transição durou pouco.
BB foi a imagem entre os dois ideais de beleza bem diferentes - o da mulher conservadora ‘New Look’ de Dior e o do advento ‘anti-moda’ irreverente, rebelde e informal da segunda metade da década dos 60’s.
A mulher passou a valorizar mais o corpo tendo como referência Brigitte Bardot (de linha mais sexy) e o modelo Twiggy (super-magra, de visual andrógino, a apostar em peças de linhas geométricas).
A luta entre duas forças - dos Beatles e de Bob Dylan - deu origem a uma enorme variedade de estilos.
Em 1965 Yves Saint Laurent cria o Vestido Mondrian.
As roupas de Bonnie, especialmente as boinas e as saias compridas, do filme Bonnie e Clyde de 1967, fizeram furor.
Com a preparação da ida de Neil Armstrong à Lua (em 1969, de acordo com a versão oficial...), surge o visual inspirado na era espacial, caracterizado por linhas direitas, assimetria, padrões geométricos, botões de grandes dimensões, tecidos plásticos e metalizados.
Era o fim da moda única e a forma de vestir tornava-se cada vez mais adaptada ao comportamento.
Sem ser super-magra, mas magra, só poderia ter aderido ao estilo adolescente do modelo Twiggy – olhos bem marcados (havia estojos tipo lápis com diversas cores em degradé, para as pálpebras), cabelo curto, meias-calças coloridas, alguns vestidos de linha trapézio e saias bastante acima do joelho, de cintura baixa.
Alguns modelos e padrões que na época fizeram parte do meu pronto-a-vestir.
Porém, apesar de ter sido novidade
naquela altura, só era acessível a clientela com maior poder de compra.
Felizmente, em 1965 abriu uma loja especializada em
vestuário jovem, “Os Porfírios”, copiado
de tendências importadas mas de fabrico nacional.
Os têxteis nacionais usavam-se nas etiquetas Sidney e Almagre.
Os têxteis nacionais usavam-se nas etiquetas Sidney e Almagre.
Lembro-me
de ter experimentado uma espécie de ruptura com um passado monótono e rançoso,
dependente de provas e mais provas em costureiras e modistas.
Como refere
Manuel Alves: «a única ligação com o mundo, num Portugal pautado por uma
mentalidade um bocado tacanha e provinciana, a loja remava contra a maré e o obscurantismo
do país»
Agora já
podia obter os jeans à
"saint-tropez", as camisas coloridas e às flores, as famosas mini-saias e toda a variedade de acessórios -
anéis, pulseiras, colares, lenços, boinas, cintos e carteiras, por preços acessíveis.
Nos
primeiros anos, as pessoas faziam bicha no balcão e até na rua, embora os preconceitos dos anos 60 a apelidassem de "Loja dos 300".
E outras lojas se foram juntando ao espírito do "pronto-a-vestir"; umas mais clássicas (Loja das Meias e Ayer), outras igualmente arrojadas (A Outra Face da Lua, Migacho, Delfieu e Tara), assim como 007 e a mítica “Maçã”, minhas preferidas.
A alta-costura perdia cada vez mais terreno .
Nesse contexto, Jean Shrimpton, Catherine Deneuve, a irmã Françoise Dorléac e outras, eram a personificação das chamadas “chelsea girls”.
E outras lojas se foram juntando ao espírito do "pronto-a-vestir"; umas mais clássicas (Loja das Meias e Ayer), outras igualmente arrojadas (A Outra Face da Lua, Migacho, Delfieu e Tara), assim como 007 e a mítica “Maçã”, minhas preferidas.
A alta-costura perdia cada vez mais terreno .
O primeiro a tomar consciência dessa realidade foi Yves Saint Laurent que inaugurou uma nova estrutura com as boutiques de prêt-à-porter de luxo, multiplicadas pelo mundo através das franquias.
E hoje, ir à modista voltou a estar na moda!
Caprichos das novas elites...