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sábado, 17 de outubro de 2015

"AS VENDEDEIRAS DE QUEIJOS"





Quando a gravura "As Vendedeiras de Queijos? ou Figuras Saloias e Burro? " me foi oferecida, juntamente com outra figura (inacabada) da autoria de um familiar, “A Lavradeira Minhota”, fiquei com a ideia de que teriam sido todas desenhadas pela mesma pessoa.
E, como tal, a tenho conservado desde há décadas.

Porém, ao debruçar-me uma vez mais sobre o grande ilustrador Roque Gameiro, deparei com um dos seus colaboradores na publicação “Ilustração Portuguesa”, Jorge Barradas, pintor, ceramista, caricaturista, escultor e ilustrador. E, para meu espanto, lá estava também a referida gravura… entre uma série de outras com o mesmo traço.

Desfez-se o mal-entendido com a descoberta do “O Barradinhas”, humorista comentador dos ridículos.


Jorge Nicholson Moore Barradas nasceu em Lisboa, em 1894, e faleceu em 1971.
Frequentou a Escola de Belas-Artes mas não concluiu o curso.
Em 1911, Joaquim Guerreiro, director da publicação A Sátira, introduziu-o no meio artístico lisboeta e em 1912, com 17 anos, estreou-se na primeira exposição do Grupo dos Humoristas Portugueses, com oito desenhos.
Nuno Simões, o crítico da exposição, viu no seu trabalho “um futuro artista da elegância e do romance, com alguma ingenuidade e uma clara tendência para a observação da vida.”
Fez ilustração, desenho humorístico e publicidade até 1924.
  


Fundou, com Henrique Roldão, o quinzenário "O Riso da Vitória", uma brilhante publicação humorística.
Foi responsável pela direcção artística do semanário "ABC a Rir".

Expôs em Lisboa, Porto, Vigo, Brasil, S. Tomé, Sevilha e Paris (onde recebeu uma medalha de ouro). 
A partir dos anos 30 destacou-se em pintura pela facilidade decorativa e obteve o título de “Malhoa 1930”.   


Nas décadas de 40 e 50, dedicou-se à cerâmica e à azulejaria; em 1949 foi-lhe atribuído o “Prémio Sebastião de Almeida”, do SNI.


Juntamente com Leitão de Barros renovou o gosto nos cenários de espectáculos populares.  
Tinha um “traço original e moderno, cheio de qualidades” patente no Diário de Lisboa, no jornal Sempre Fixe e no quinzenário humorístico O Riso da Vitória, com os tipos alfacinhas como protagonistas - a varina e o casario, vendedeira de fruta, saloios, o ardina, as lavadeiras, a leiteira e o marujo, o novo-rico, a burguesinha ou o rosto feminino em capas de revista.


Decorou, entre outros, o café Portugal (ao Rossio) e A Brasileira (ao Chiado). Deixou ainda uma enorme colecção de litografias sobre temas populares.

Escultura em cerâmica, 1959, átrio de entrada, Museu da Cidade, Lisboa



Fontes:
Artigos de Carla Mendes e de Álvaro Costa de Matos, coordenador da Hemeroteca Municipal de Lisboa e comissário da exposição Jorge Barradas na Colecção da Hemeroteca – Obra Gráfica                            

terça-feira, 13 de outubro de 2015

UM SUFOCO!




Aquele arrastar dos chinelos repercutindo o ruído pelo soalho, ininterruptamente…
Aquele “eu não posso mais, isto não vai melhorar nunca ” repetido sem cessar…
Aquele desassossego espavorido…
Aquele total desinteresse por TUDO o que se passa à sua volta…
Aquele mundo irreal feito “realidade”…
Aquele egocentrismo "manipulador", devastador, incapaz de perceber o que os outros sentem, encurralando-lhes a mente e os espaços, a liberdade TOTAL…
É desesperante.
É esgotante.
É sufocante


quinta-feira, 8 de outubro de 2015

A JOANINHA E A "JOANINHA"


É vaidosa, a joaninha
Veste-se de cores viçosas
Gosta do laranja, do verde
Do vermelho, do amarelo
Ou de outras bem vistosas
E de pintas que não perde
Para desenhar o modelo
Que só dela faz rainha


Não é bem redondinha
O corpo é mais comprido
Tem duas boas antenas
Ao cheiro e gosto sensíveis
Enxerga em qualquer sentido
O predador vence, sem cenas
Com resultados plausíveis
Tão úteis à alfacinha


Ela tem asas! E voa...
Entre flores, plantas, jardim.
Por metamorfoses passa
Sem fazer mal a ninguém.
Cresce e passeia sem fim.
Mas a JOANINHA, de Graça!
Consegue ir mais além:  
Corre de pés no chão, na boa!

i



Dia 7 de  Outubro
 Para ti Joana, um abraço enorme

domingo, 4 de outubro de 2015

A DEPRESSÃO MORA AO LADO



Por sintomas severos dominada,
O mundo vê de cor “acinzentada”.

Emocionalmente fragmentada,
Diz-se incompreendida, frustrada.

Física e socialmente distanciada,
Procura o dormir, desesperada.

Com falta de energia, cansada,
A iniciativa torna impraticada.

De forma catastrófica avaliada,
A culpa do passado é pesada.

Dor intensa não identificada,
Vira ansiedade incontrolada.

Angustiada, triste, desanimada,
Come sem apetite, desmotivada.

“Não, não posso fazer nada”…
“Ai! Isto é o fim da caminhada”.

Por um futuro atemorizada,
Não gasta nem decide. Faz toada.

Crente numa “realidade “agitada,
Parece “birra” infantilizada.

Quase enlouquecendo, descontrolada,
Apenas quer morrer, desesperada.

Genética endógena constatada,
Ou psicológica jamais acabada?





terça-feira, 29 de setembro de 2015

A CAMINHO DE BRAGANÇA - 3


"Desde a infância e a adolescência que guardo comigo essas paisagens, (...) e sobretudo “aquele céu”. Sobre “aquele céu”, nunca encontrei palavras para o descrever: azul intenso, quente e doce, rasgado sobre horizontes que não terminam e que escondem aldeias misteriosas (...)"
Francisco José Viegas
(Natural do Pocinho)

E “aquele céu” vai dando lugar a outro um pouco menos doce à medida que nos vamos aproximando da altitude de 700 metros acima do nível do mar - Bragança (fundada no século II a. C, com o nome de Brigância dado pelos Celtas), a cidade mais setentrional de Portugal Continental.

Depois de termos passado por Macedo de Cavaleiros, entrámos na autoestrada em Samil para “descobrir” a cidade pelo sul.

- Que modernismo!
 Onde vamos almoçar?
- Um Shopping seria o ideal. As montras regalam os olhos enquanto o estômago se distrai a impregnar os alimentos de suco gástrico!
- Boa ideia. Há o Bragança Shopping aqui mesmo, na rua principal, a avenida Sá Carneiro

- E que tal o Centro Comercial?
- Além de simpatia, uma decepção. Tem muitos espaços de lojas vagos, os preços são relativamente elevados, a restauração é pouco variada e a estrutura arquitectónica, além de “desenquadrada” na cidade que eu imaginava, não facilita a orientação no interior.
- O estacionamento pago também não é convidativo.


Aqui em redor só o edifício da estação me merece alguma referência.
Era uma antiga infraestrutura  de linha do Tua  que serve a cidade de Bragança; entre 2001 e 2004 passou por importantes obras de alteração. Apresenta manifestações arquitectónicas vernáculas – as paredes de grande espessura transmitem estabilidade ao edifício e contribuem para o equilíbrio das temperaturas no interior do seu espaço e o acabamento das fachadas com cal branca permite, também, melhores características de protecção contra a chuva e o vento.
- Parece que ainda está a decorrer no Castelo a Feira Medieval. A entrada é gratuita. Vamos até lá?
- É. Aproveitamos para ver a Cidadela

Deixámos o nosso meio de transporte num largo, frente ao Convento e Igreja de S. Francisco, de origem românica, reedificado no século XVII (Protegido pela Rainha Santa Isabel por ter sido o primeiro convento que visitou ao entrar em Portugal quando veio do Reino de Aragão ao encontro de D. Dinis) e subimos a Rua fonte da rainha.
Hoje é a sede do Arquivo Distrital - Biblioteca Pública de Bragança


A Fonte, do século XVIII, de espaldar, constituída por um tanque de planta rectangular, com remate em empena e cornija, é no topo da rua.
E, ao longo de todo o percurso, do lado esquerdo, há uma série de cruzes em pedra cujo significado desconheço mas que faz lembrar um dos pontos de passagem das vias romanas para criar rotas de viagem


A cidadela, construída no século XII por monges beneditinos numa colina é amuralhada, com 15 torres e três portas de acesso - Porta da Vila, por onde entrámos, feita na própria muralha da fortaleza; Porta de Santo António, um pouco mais interior, entre dois torreões e Porta do Sol, no lado oposto. Em redor, destacam-se jardins bem cuidados.


Dentro, há um conjunto de ruas estreitas, íngremes e empedradas, perpendiculares à rua principal, com início nas Portas do Sol, e alguns largos.

Entre os edifícios históricos, ergue-se o Castelo com uma imponente Torre de Menagem onde agora está o Museu Militar que documenta o armamento usado desde o início da nacionalidade até ao século passado; o Pelourinho, constituído por dois elementos bem separados no tempo - o Pelourinho propriamente dito, do "tipo bragançano" e uma figura zoomórfica proto-histórica, popularmente designada por "porca da vila"; a Domus Municipalis, edifício pentagonal, único da arquitectura civil medieval em Portugal, onde se reuniam os "homens bons" e se recolhia água para a cisterna da Cidadela; a Igreja de Santa Maria, de origem românica que adquiriu um estilo barroco quando foi restaurada no século XVIII e tem o Portal principal ladeado de colunas salomónicas decoradas.

Há também dezenas de casas caiadas de branco e alguns edifícios de um ou dois andares que parecem ter sido remodelados, embora alguns dos materiais utilizados, como o alumínio, não se “ajustem” com a imagem deste espaço.
Museu Ibérico da Máscara e do Traje, dedicado à celebração de trajes dos rituais carnavalescos típicos da região de Trás-os-Montes e das zonas vizinhas de Espanha, está instalado num destes prédios. 
Nos dias 15, 16 e 17 de Agosto, a cidade de Bragança revive a época medieval dentro da cidadela, à volta do castelo, através da reconstituição  de eventos históricos. A encenação pode focar acontecimentos históricos relevantes de uma determinada época ou recriar apenas uma época de forma geral.
Há demonstração de ofícios antigos e espectáculos relacionados com costumes, vestuários, damas da Corte e cavaleiros, malabaristas e trovadores, magia e fogo

Programa:
Momentos de Recriação Histórica
14/08 - Anúncio da Carta de Feira            15/08 - Reforço da Segurança
16/08 – Chegada dos Mercadores             17/08 – Festim
Áreas Temáticas
Posto de Controlo            Rua dos Larápios
Largo Escuro                   Encruzilhada
Praça de Ofícios               Área Militar
Jogos e Brincadeiras         Feira
Praça de Sustento

Porém, como chegámos só na tarde do dia 17, já havia pouca animação
Foi na Idade Média, a partir dos séculos XI e XII, que surgiram as feiras em volta dos castelos e abadias (burgo), onde se compravam e vendiam mercadorias.
Criadas pelos mercadores, que se deslocavam de uma região para outra, destacaram-se como importantes entrepostos comerciais e como centro do desenvolvimento urbano. Foram eles que exerceram as primeiras actividades bancárias, transformando-se em pessoas ricas e poderosas. 

Fragmentos de Bragança - vista da muralha da cidadela

O fim do dia estava a aproximar-se. Um último olhar e o regresso à Cerdeira com o propósito de encontrar a oportunidade para poder admirar as belas encostas vinhateiras do Douro a bordo de uma embarcação, navegando calmamente nas suas águas...