Hoje, inadvertidamente,
dei com o layout do site da Carris e resolvi sondar, pois é um tema que domino cada vez menos
E encontrei esta (para mim) curiosidade:
“Organização do mapa da cidade de Lisboa
com zonas de cores diferentes. As carreiras de autocarros, eléctricos,
ascensores e elevador assumem a cor da zona em que actuam".
Reportando-me à minha época preferida dos anos 60, a Baixa fazia parte da minha rotina quase diária – havia que ver as montras
das lojas/fazer compras, lanchar, jantar de vez em quando, ir à revista, ao teatro, ao cinema, passear simplesmente ou
até registar encomendas e cartas nos correios dos Restauradores.
A deslocação, enquanto não houve “metro”, fazia-se em autocarros de cor verde e branco, abafados e ruidosos, com um ou dois andares. Uma viagem no piso superior era um verdadeiro regalo. Tinha menos
passageiros, lugar para sentar, muito mais arejado. Parecia um miradouro donde se podia ir admirando a vastidão da cidade, os ainda elegantes/"robôts" sinaleiros e todo o movimento de
peões e automóveis bem “rasteiros” quando comparados com a altura do tal piso
dois.
Também o eléctrico, até o metropolitano lhe ter fechado as linhas entre os
Restauradores, São Sebastião e o Campo Pequeno e, mais tarde, as linhas para Benfica, Carnide e Lumiar, foi um transporte ecológico de eleição.
Menos confortável, quase sempre superlotado mas muito mais barato era, para mim, que vivia muito perto de Entre-Campos, uma excelente opção.
Porem, tudo mudou muito desde essa época - as rotundas e os semáforos substituíram os polícias
sinaleiros, a expansão do metro e o aumento de carros particulares modificaram a "paisagem" duma Lisboa europeia periférica, colorida e inesquecível.
O Elevador de Santa Justa (ou elevador do Carmo), maravilha da era industrial, cuja parte exterior é feita de ferro fundido enriquecido com trabalhos em filigrana e hoje considerado Monumento Nacional, juntamente com os eléctricos funiculares da Lavra, Glória e Bica, foi ainda, sobretudo pela sua funcionalidade (liga a Baixa/ Rua do Ouro, ao Bairro Alto/ Largo do Carmo), um dos meus locais de remanso.
Ali, no topo da
plataforma, existe um restaurante (ou café?) com esplanada donde, em boa companhia, se desfrutavam belas paisagens sobre Lisboa (Castelo
de São Jorge, Praça do Rossio, Baixa e estuário do Tejo), especialmente à noite.
Ex-líbris da Baixa e da capital era o único elevador vertical entre os
transportes públicos de Lisboa, muito visitado por turistas que o procuram não só para terem acesso ao Miradouro de Santa
Justa e a toda a Lisboa pombalina mas também para evitar subir as colinas íngremes no verão.
Não quero deixar de me referir ainda a outros meios de transporte da década, muito relacionados com a minha vivência dessa época:
O Volkswagen (VW Fusca, patinho feio, sinónimo de robustez), cujo condutor nunca substituía por outras marcas ou cor.
O Sinca 1000, muito característico, na altura, de modernidade (1961) e do poder de compra.
O MG vistoso...
Os taxis (carros de praça portugueses), para os quais a portaria de 1961 estabeleceu as cores preto (parte de baixo) e verde-mar (parte de cima) por serem de "fácil e rápida identificação".
E ainda o taxi preto do sr. Augusto Macedo que, aos 24 anos pediu dinheiro emprestado e comprou o famoso Oldsmobile Cabriolet,
modelo XT 303, fabricado em 1928 pela General Motors, porque se tornou uma personagem histórica da cidade. Os turistas espreitavam uma oportunidade para nele se deslocarem.
O carro de matrícula
AB-61-86, caixa aberta, foi uma das três viaturas desta série que vieram
para a Europa. Nunca quis trocá-lo por qualquer outro recusando, indignado,
nos anos 60, uma proposta da General Motors que lhe oferecia um carro novo em
troca do seu para fazer parte da colecção da companhia. Estacionava muito na zona da estação de Santa Apolónia e no Cais marítimo de Alcântara.
Em
1996 foi a vedeta do filme Taxi Lisboa, do realizador alemão Wolf Gaudlitz, onde Augusto Macedo
conquistou, aos 93 anos, o prémio de melhor actor amador atribuído no Festival de
Pescara. Nunca sofreu um acidente. Faleceu em Janeiro de 1997, no dia em que se estreava o filme que interpretara e no ano, também, em que
caducava a carta de condução. Augusto Macedo era o mais antigo taxista do
mundo ainda no activo.
A Câmara de Lisboa distinguiu-o dando o seu nome a uma
rua de Carnide (Rua Augusto Macedo – taxista, 1904-1997).
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