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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

"ATÉ QUE A VOZ LHE DOA"


"Há um combóio descarrilado" (personagem alegórica)...


Há um comboio descarrilado, enferrujado, abandonado numa estação.
As carruagens engatadas, acidentadas, afetadas, rangem e ameaçam deslocação.
A locomotiva (a vapor) impotente desconhece a causa do acidente e balança na linha do horizonte esperando avaliação.
Subsiste o único passageiro que há um ano inteiro, reclama um bombeiro pra identificação.
Impedindo o tráfego, com aquele náfego sem um semáforo, ninguém aparece e não é ficção!

Óleo de Edgar Degas

O comboio descarrilado é uma coluna vertebral com doze dorsais, sete cervicais, cinco lombares, um cóccix e um sacro, bem real.
Faz parte do cenário um corsário, não imaginário, sem sombras de simulacro, um mercenário pouco habitual, dum Hospital.
O passageiro, de vértebras no esteio movendo, o Atlas no crânio rangendo, já como ateu a crença perdendo, aguarda quinta intervenção numa outra estação local.



Há viagens, bilhetes pagos, roteiros desconhecidos, acontecimentos imprevistos, inocentes, culpados irresponsáveis, hipócritas e Hipócrates, poesia imolada nos trilhos da interpretação (símbolos figurativos que fazem parte dos actos de várias cenas dum enredo)






Há uma vítima que sente e causa incómodo não “até que a voz lhe doa”, mas até conservar a faculdade de pensar (personagem real que transforma a alegoria numa história verídica).



Imagens Google

sábado, 1 de setembro de 2012

RECIFE - "RUI COSTA"




Outubro de 2006. O cruzeiro Island Escape, depois de uma deslumbrante travessia do Atlântico, passa ao largo da ilha de Fernando Noronha e aproxima-se do porto do Recife, Brasil, onde vai atracar.



A capital pernambucana surge num cenário de belos edifícios.


A noite aproxima-se, o jantar e os habituais convívios também. 
O dia acorda e com ele, o bulício da saída para visitas pré- marcadas ou a marcar.


Com o início da tarde a cidade espera-nos e a primeira aculturação será a Casa da Cultura.
O edifício foi construído em 1850 para a penitenciária segundo o modelo mais moderno na época, com celas dispostas de maneira a poderem ser todas vigiadas apenas de um único centro de controlo. Tem quatro corpos de 3 pisos dispostos em forma de cruz e a confluir num pátio interior coberto.


Actual                                                        1850

Em 1973, os presos foram transferidos para outras penitenciárias e a casa, restaurada, passou a pertencer à FUNDARP, conservando as características originais.  
Actualmente  é um centro de cultura regional. As 150 celas são lojas de artesanato, xilogravuras e esculturas relacionadas talvez, com antigas ocupações de reintegração social dos presos. Há ainda espetáculos folclóricos e o Museu do Frevo (Danças populares brasileiras?).





Recife, que deriva da palavra arrecife - grande barreira rochosa de arenito - estende-se por toda a costa, formando piscinas naturais.

Apesar dos muitos pontos de interesse como as mais antigas igrejas do País -  S. Pedro dos Clérigos, Nossa Senhora do Livramento, Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, Nossa Senhora do Carmo, Madre de Deus, Nossa Senhora da Conceição dos Militares, Igreja da Sé e outras - todas em óptimo estado de conservação; os casarios coloniais e museus; os Bairros de Stº António, S. José e Boa Vista; os arranha-céus, bares e restaurantes ou as belas praias urbanas ao longo de um ambiente único à beira mar, apenas irei dedicar este cantinho, não aos tubarões para lá da barreira dos recifes, mas aoRUI COSTA da  praia de Boa Viagem...


Praia de Boa Viagem

Passeava eu, juntamente com o meu grupo de digressão por um dos cartões-de-visita da zona, a supra citada praia de Boa Viagem, quando avistei no meio de um aglomerado de banhistas, chapéus, cadeiras e vendedores de produtos/ artigos vários, a camisola nº 10 do jogador de futebol português, Rui Costa.
E, aproximando-me do muro de separação entre o passeio e a praia, chamei: Rui Costa…



Pouco crente no imprevisto ou absorvido pelo trabalho, só olhou para trás,
sorrindo, quando repeti o nome.

A ocorrência sempre me despertou certa curiosidade e, apesar de terem passado todos estes anos, ainda me apeteceu procurar uma explicação aceitável.
Reparei também que no carrinho BRANCO estavam escritas as palavras: TRICOLOR, 2 vezes (uma a preto e outra a vermelho) e SANTA CRUZ.

Santa Cruz Futebol Clube é uma Associação desportiva da cidade do Recife, estado de Pernambuco, fundada a 3 de fevereiro de 1914. Possui o maior estádio do Recife e o 3º maior do Brasil desde 1943 - Estádio José do Rego Maciel (Arruda). Conserva a maior invencibilidade da história do futebol brasileiro, com 45 jogos sem perder em casa entre 2004 e 2006. Foi o 1º clube a contratar uma psicóloga especialista em desporto profissional em 1983, tendo sido tricampeão de Pernambuco nesse mesmo ano. O Clube que se encontrava na 2ª divisão há 11 anos, voltou para a 1ª em 1999. É também o único clube de Pernambuco a participar em todas as edições do Campeonato Pernambucano de Futebol.

Estádio do Arruda

A junção de preto, branco e vermelho representa as três raças que deram existência à nação brasileira - a negra, a branca e a índia - a nação TRICOLOR. Foi a união entre negros, mestiços e brancos que ajudou o Santa Cruz a tornar-se desde muito cedo, o clube mais popular do nordeste.


um jogador e bandeira tricolor

Porquê então, o nome do Rui Costa e não de um do Santa Cruz?

Continuando a juntar peças, descobri um Rivaldo que foi jogador do clube. E que no Milan esteve a perder posição para o Rui Costa, até o Kaká ter acabado por ofuscá-lo. Além do fracasso no Milan, também não teve sucesso no Cruzeiro…


Rui Costa (Selecção de Porugal) e Rivaldo (Santa Cruz)

No entanto, Pelé distinguiu Rivaldo colocando-o na lista dos 125 maiores jogadores vivos do mundo…

Será que em 2006 era este o raciocínio do RUI COSTA” da praia?

Fonte: Wikipédia

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

ERA UMA VEZ, EM ISRAEL



Em 20 de maio de 1972, seis anos após a Guerra-Relâmpago dos Seis Dias que abalaram o Mundo, voei para Israel como participante num Congresso Internacional relacionado com assuntos que eu leccionava, onde fiquei   durante uma semana.


Encerramento do congresso, no Knesset (Parlamento)

Lembro-me de ter ido cheia de entusiasmo juntamente com mais sete espontâneos de mente irrefletida, sem qualquer receio em defrontar os presumíveis problemas que poderiam surgir num País tão complicado, a uma distância de 3.986 km de Portugal.


Junto à Universidade Hebraica, local onde decorreu o Congresso

Na guerra de 1967 Israel renasceu. Declarou a sua independência e restaurou a reivindicação histórica com a conquista da Faixa de Gaza, da Cisjordânia e dos Montes Golã, nó do conflito atual. Jerusalém é reunificada e Israel passa a ter acesso ao Muro das Lamentações, o local mais sagrado da religião judaica.

Muro das Lamentações

A eleição de Golda Meir tinha sido uma surpresa após a folgada margem que o partido trabalhista obtivera na sexta legislatura da Knesset. Entretanto, a Primeira- Ministra preferiu formar um governo de coligação com os partidos da direita.
Golda Meir, 1ª Ministra

Exactamente em princípios do mesmo mês de maio, tropas israelitas tinham recuperado com precisão militar um avião da Sabena (92 passageiros), sequestrado pelo grupo de terroristas palestinianos "Setembro Negro" e ainda em maio dia 30, o Exército Vermelho Japonês (terroristas de inspiração marxista) massacrou 25 cidadãos israelitas no aeroporto de Tóquio.
Logo em setembro, militantes da Fatah assassinaram 11 atletas israelitas durante os Jogos Olímpicos de Munique. A Mossad, por ordem de Golda Meir, fez uma operação de caça e conseguiu eliminar quase todos os responsáveis pelo massacre.

Pode dizer-se, portanto, que Israel vivia um clima de muita instabilidade e que Alguém assinalou no calendário um "espaço" para nós…

Todavia, apesar de tanta “inconsciência”, não me foi dada a sensação de que era assim, excluindo algumas exceções como: ter feito as viagens na companhia aérea British Airways, acabada de criar pela fusão de outras duas, por ser considerada mais segura; haver muitos jovens (sobretudo mulheres falando várias línguas) fardados de militares nas zonas do Congresso; ver taxistas muçulmanos cuspindo para taxistas judeus quando se cruzavam (permaneciam ódios…)

Sempre integrada no grupo, em maior ou menor número, percorri toda a cidade de Jerusalém, capital declarada (mas não legitimada pela comunidade internacional) do Pais e sede do governo, mosaico de diversas comunidades nacionais, religiosas e étnicas, em andamento descontraído.
Cidade antiga e moderna ao mesmo tempo, de santidade reconhecida pelas três grandes religiões monoteístas, embora diferente nas crenças, era (e dizem ser) segura quanto a crimes.

Apercebi-me, entretanto, que o serviço militar obrigatório dos jovens israelitas era feito a controlar a segurança das ruas da cidade, patrulhando os bairros de metralhadora às costas, falando ao telemóvel, mastigando pastilha elástica...

Recruta do exército israelita

Visitei sítios históricos únicos desde a mais bela construção de Jerusalém - Mesquita do Domo da Rocha de cúpula dourada- a Mesquita El-Aqse de cúpula prateada, A Igreja do Santo Sepulcro, o Muro das Lamentações, o Cenáculo, a Torre de David, a Igreja da Assunção, a Porta de Damasco (das 12 portas do período bíblico, restam 8), os restos do Templo de Jerusalém, algumas velhas ruas de comércio árabe e outras da Via Sacra.
A via Dolorosa começa no pátio onde hoje se encontra a Porta de Leão e termina no Monte Calvário, a Igreja do Santo Sepulcro.

 Golgotha- Igreja do Santo Sepúlcro           Mesquita da Rocha de cúpula dourada

                                                Porta de Damasco

Ruas de comercio na zona muçulmana

No Muro das Lamentações, além dos homens judeus que as agências de turismo mostram, de vestes sombrias e pitorescas, havia peregrinações de pessoas de todas as idades e sexo e também muitos turistas que, como eu, gostam de ficar com uma foto tirada naquele lugar - só que o meu fotógrafo, um jovem voluntário muçulmano, não soube captar-me a imagem…

Trajeto dos locais da Via Dolorosa                   Uma das ruas ainda sem o habitual mercado

Devo dizer que, apesar de tanta beleza e significado fiquei decepcionada por um lado, com a quantidade de máquinas e câmaras de filmar chinesas devassando "Intimidade" e por outro, com tanta riqueza em locais que eu imaginava modestos. Também o “aperto “ em que o braço do Cristianismo está metido e o aspecto pouco higiénico de muitos dos vendedores às portas da rua, me deixaram um pouco desapontada. Tinha que comer o pão ázimo!


A cidade nova, onde fica o Knesset, é muito moderna.

Knesset - vista aérea

Por razões óbvias, tive pouco tempo para conhecer esta parte. O Parlamento é um edifício interessante e o Hospital Hadassah, devido aos 12 vitrais Chagall das janelas da Sinagoga que representam os filhos de Jacob e que deram origem às 12  tribos de Israel, também.

Hospital Hadassah
Vitrinas de Chagall

À noite entrámos num dos vários Clubes de que já não sei o nome sem qualquer problema. Junto à entrada havia uma pequena multidão de rapazes árabes (?) só para ver as pessoas a entrar e dizer com ar sorridente, umas larachas incompreensíveis...

Num dos dias livres, eu mais outra resolvemos fazer uma excursão de táxi pelos Lugares Santos.
Depois de pequena disputa entre dois motoristas (vais tu/ vou eu?), lá avançou um para a nossa viagem em romaria, paga antes de começarmos. 
Do itinerário, já sem muita precisão, constou:
Monte das Oliveiras, Jardim de Getsemani onde Jesus foi preso e Igreja da Agonia; Jericó; Wadi Kahrar nas margens do Jordão, onde se pensa que João Batista batizou Jesus; Mar Morto, o ponto mais baixo do mundo;  Basílica da Anunciação em Nazaré, a maior Igreja do Médio Oriente; Cafarnaum; Caná; o Mar da Galileia, grande lago de água doce na fronteira entre a Jordânia e a Cisjordânia, com temperaturas à volta dos 48 graus; Tiberíades; Fonte da Samaritana;Túmulo onde nasceu Jesus.

Túmulo onde nasceu Jesus                        Nas margens do rio Jordão


Local onde ficaram as cruzes                      Paragem junto da fonte de Sicó

Fazia também parte da "peregrinação" ir a Belém mas o motorista disse que "já não" e quase esteve para nos deixar em pleno deserto a caminho de Jerusalém. 
Ainda hoje sinto arrepios provocados pelo susto do momento e pela ousadia de tamanha aventura - duas raparigas e um taxista a atravessar um tão longo e solitário percurso!
A Igreja da Natividade e um Kibutz (forma de coletividade comunitária rural e voluntária, em Israel, aberta a jovens de todo o mundo para troca de experiência), foram opção noutra tarde.


Vários tipos de kibutz e actividades


להתראות - "adeus", em hebraico
وداعا - "adeus", em árabe


 Algumas das fotos captadas em Google.