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sexta-feira, 6 de julho de 2012

USANÇAS DO TEMPO - V


DÉCADA DE 60


                                            ANO 63 - MODELO de DIOR
ANO 61 - COLAR E TURBANTE de CARTIER


ANO 66 - BRINCOS de PLÁSTICO de PACO RABBANE / ANO 67 -RELÓGIOS FLUORESCENTES E ANEIS BRILHANTES
Pode dizer-se que a década de 60 passou por duas etapas distintas: a de 60/65, caracterizada por um certo idealismo, luta pelo povo, realização de projectos culturais e ideológicos, literatura beat e a de 65/69 (8), manifestada pela revolução sexual, protestos juvenis contra os governos, experiência de drogas - os Beatles trocaram as doces melodias por letras surreais e letras distorcidas.

A imagem de rebeldia associada aos jovens de blusão de couro,“penacho” e jeans, motos ou lambretas, como James Dean e Marlon Brando passou a ter outros ídolos de influência para o uso de calças cigarette.





Com o sucesso do rock-and-roll, Elvis Presley foi o maior símbolo do início da época



O filme “O Acossado” abriu as portas da Nouvelle Vague. O figurino dos personagens lançou a moda dos anos 60. Jean Seberg é idolatrada pelos jovens críticos, com novas e descontraídas roupas, cabelo curto, ar ora grave ora descomprometido, imagem de elegância feminina liberta e fresca.


Em 61, Bob Dylan, um jovem compositor, encanta Nova Iorque com diversos estilos da música folk e Audrey Hepburny usa o vestido preto-tubo modelo de Givenchy no filme Breakfast at Tiffany´s. Ao preto-básico criado em 1929 e recreado ao longo das décadas, Givenchy deu-lhe nova cara, eternizando-o. Yves Saint Laurent abre atelier em Paris

GIVENCHY





Algumas personalidades de características diferentes como Natalie Wood, Audrey Hepburn, Anouk Aimée, Twiggy, Jean Shrimpton, Veruschka, Joan Baez, Catherine Deneuve, Brigitte Bardot, Françoise Dorléac,  Marianne Faithfull e  Françoise Hardy passaram a ser as novas influências na atitude e, consequentemente, na moda.


CATHERINE DENEUVE e JEAN SHRIMPTON
EM 63, Úrsula Andress faz sucesso com o célebre bikini branco no filme “007 contra o Satânico Dr. No". Vidal Sasson criou um novo corte de cabelo, o geométrico de cinco pontos “cabelo tigelinha”, também conhecido como Pageboy.

Em Milão, uma pequena empresa de malhas que já tinha iniciado a atividade em 1958, ganhou maior visibilidade e começou a experimentar o rayon-viscose; porem, foi um vestido chique tricotado em algodão, tipo hippy no final de 60, que deu fama à empresa.








A camisola canelada e justa esteve muito na moda, assim como os motivos de xadrez e pied-de-poule.
Lançamento da calça Saint-Tropez, de cintura baixa que deixava as mulheres com o umbigo de fora.
Em 64, o designer Rudi Gernreich lança o topless, dispensando a parte de cima do bikini.


O fordismo instalou a era do automóvel; a pesquisa científica traduziu-se em aplicações tecnológicas ao alcance de todos através de estratégias de marketing e economia de escala e Lichtenstein encontrou para isso todas as magias do saber.

Em 65 o estilista francês André Courrèges operou uma verdadeira revolução na moda com a sua colecção de roupas de linhas rectas, minissaias, botas brancas, roupas com materiais sintéticos, plásticos e cores metálicas. Inicialmente, as botas brancas traziam uma referência espacial ao futurismo e à modernidade e a sua colecção entrou para a história da moda com o nome de “space age”.


Mary Quant divide com ele a sua criação, afirmado mesmo que a “ideia da minissaia não é minha nem de Courrèges. Foi a rua que a inventou”. A partir de meados da década a moda dos estilistas passou a ser tendência nas ruas de Londres e Paris
A moda jovem masculina teve a influência dos Beatles - colarinhos à Pierre Cardin, cabelos com franja, gravata, casaco, silhueta ajustada.
Modernismo. Jaquetão curto de pescador. Casaco de Mao



"Se a década de 60 foi a década de transição do séc. 20, 1965 foi o ano de transição da década de 60"- Eric Hobsbaun
Em 66, a minissaia agita a moda e muda os hábitos, difundida pela estilista Mary Quant através de Twiggy, magra, olhos grandes, cabelos curtos, cílios pintados com rímel e delineador e meias coloridas. Foi o primeiro modelo a tornar-se um ídolo de massas.
Moda jovem, alegre, andrógena, de óculos grandes, em movimento, desenhos psicadélicos inspirados em elementos da Art Nouveau do Oriente e do Egipto Antigo, romântico ou geométrico.



MARY QUANT e TWIGGY

E assim, por influência da arte, os desenhos de bolinhas, riscas, flores e frutos, foram substituídos.  
Yves Saint Laurent apresenta pela primeira vez o smoking feminino, com uma blusa transparente e uma calça masculina passando o traje a desfilar desde então, em todas as coleções do estilista.



O unissex ganhou força com os jeans, as camisas sem gola e os tecidos floridos para homens. A mulher vestia roupa tradicionalmente masculina pela primeira vez.
Inspirado pela amizade com Andy Warhol, criou a coleção Pop Art Look
Saint Laurent cria o jaquetão curto e a coleção sahariennes (safari) atualizações de tendências de rua e o vestido- tubo inspirado nos quadros neoplasticistas de Mondrian.

Roupas inspiradas na Arte:


YVES SAINT LAURENT/MONET e BONARD - SANIT LAURENTe BRAQUE




SAINT-LAURENT - MONDRIAN/POLIAKOFF/UNGARO

Em 67, cerca de 10.000 hippies, na sua maioria com menos de 30 anos, juntam-se pacificamente no Central Park em Nova Yorque. Na Califórnia, 50.000 de cabelos compridos e flores reúnem-se à volta de atrações como The Birds e The Mamas and the Papas, num Festival Pop Internacional. S. Francisco era agora o reduto jovem mundial, berço do movimento hippie que pregava a paz e o amor através do women’s lib, flower, black and gay power. Ao conjunto destas manifestações pelo mundo, chamou-se contracultura - um outro tipo de vida underground, de cabelos compridos, roupas coloridas, descalços, drogas, música, misticismo oriental. As mulheres usavam saias compridas e fitas no cabelo.

Paco Rabanne experimentou alumínio como matéria- prima em botões e bijuteria e Pucci desenhou lindos estampados psicadélicos.
A linha trapézio foi usada ao longo da década por Courrèges, Yves Saint Laurent, Pucci, Paco Rabanne e Mary Quant.
A alta-costura perdia terreno e as boutiques prêt-à-porter de luxo multiplicavam-se pelo mundo…
Em 69, cerca de 500.000 pessoas vivem três dias de prazer à chuva e à fome no Festival de Música e Arte de Woodstock e mais tarde acontece a grande manifestação pacífica em Washington, exigindo o fim da guerra do Vietname.

FOTOS CAPTADAS EM GOOGLE

domingo, 1 de julho de 2012

ALPONDRAS/PONDRAS/POLDRAS



Diz no Dicionário online de Português que alpondra é uma palavra de origem obscura (por alpoldras de al+ poldra?) que significa cada uma das pedras colocadas num regato ou rio, de margem a margem, para deixarem as pessoas atravessar correntes de água a pé enxuto.
E na minha ingénua (de criança) memória, não havia vaga para mais significados. Porem, de repente a “origem obscura” aguçou a curiosidade e comecei a esquadrinhar:

ALPONDRAS - KAUSOS ANIMAÇÂO MARCOS DIAMANTINO STUDIO

 “…Que seria o meu amor pelo super-homem se falasse de outro modo? Através de mil pontes e alpondras, terão de abrir caminho para o futuro…” Friedrich Nietzsche, Assim Falou Zaratustra, das Tarântulas.


 “… rio que atravessei em umas alpoldras sobre uma pequena catarata”, em Como eu atravessei a África, de Serpa Pinto - Vol. 1.


“Através das eras a Igreja tem sido como alpondras em um rio. A obra do Espírito Santo em nós é tornar-nos alpondras por meio das quais Ele possa mudar de lugar…” Jonab Gama
Foto do Blog

Alpondras é um mergulho dentro dentro da alma humana e dos conflitos que nos enlaçam uns aos outros”
Carlos Alberto da Silva, escritor anónimo


A propósito de alpoldra, poldra, pondra (traduzibilidade): “O texto que se segue insere-se numa campanha que eu ando a fazer há muito contra os mitos das palavras intraduzíveis…” 
TRAVESSA DO FALA-SÓ, de Vitor Santos Lindegaard. Foto Rodrigo Cruz.


“… largou a estrada, passou em baixo, no vale, sobre as alpondras, o riacho que fugia entre os aloendros em flor...”
Eça de Queiroz, Frei Genebro


«“De repente, deu um tapa no rosto e, depois de um grito de dor, exclamou como se tivesse descoberto um tesouro enterrado por algum pirata dos antigos nas praias do Caribe: "alpondras, Alberto, o nome daquelas pedras é alpondras". 
Mais engraçada, porém, parecia-me a palavra que eles tanto procuravam: alpondras. O nome sugere um delicioso prato da cozinha internacional: alpondras à moda do Porto ou à Valenciana, alpondres aux fines herbs, alpondri al vongole (em português, essa palavra é proparoxítona). » 
100 anos, de Mário Lago


Coudelaria Ricardo Guimães. Poldra Classe P. S. Lusitano


E cheguei assim à conclusão que o único vocábulo que me era familiar (poldra) podia escrever-se usando três palavras diferentes com significados nem sempre iguais.

Sobre o rio Noemi que passa na minha Aldeia, além da belíssima ponte românica de seis arcos perfeitos em granito (mais provável ser da 2ª metade do séc. XIII, apesar de lhe chamarem romana) e dum “pontão”, também havia poldras a ligar uma parte da povoação antiga, na margem esquerda, às “eiras” que ficavam do outro lado, na chamada “estação,” por se ter alongado para aí depois da construção da linha férrea da Beira Alta.

Ponte

Pontão que existia (ponte estreita e pequena), hoje substituido por outro

Hoje, esse testemunho do viver de outras épocas nem como memória foi preservado - as pedras foram simplesmente arrancadas para dar lugar a outro tipo de passagem, penso.
O mundo rural mudou mas o caudal do rio também. Talvez nalguns invernos se possa agora designar por ribeira porque no verão é um desolador areal.
As poldras da minha meninice estavam muito escorregadias devido ao uso, à idade e à força da água.
Mas porquê fazer desaparecer um importante património popular, se já se podia passar de uma margem para a outra sem molhar os pés?

Para uma criança como eu, era uma grande aventura, quase um feito heroico, saltar de umas pedras para outras até alcançar a margem oposta quando, no inverno, ficavam meio submersas e no estado em que as descrevi. Porem, apesar de ser “proibido” ir sem companhia, lá estava eu. Até um dia...

Recordo com enorme lucidez o prazer de as saltitar e o pânico que tive quando um pé ficou em falso ao tentar “aterrar” numa daquelas “pistas” cobertas pela torrente de água acabada de engrossar após uma trovoada.
Diz o ditado que “ao menino e ao borracho, poe Deus a mão por baixo”. Quando  escorreguei, fiquei presa entre duas poldras durante algum tempo; o frio já começava a tirar-me a força das mãos. Mas apareceu o “Ti” Augusto que me poupou aos possíveis efeitos da corrente. Só não consegui salvar os meus “Lusíadas”, ou seja, a minha sacola de serapilheira

Imagens Google e Facebook