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quarta-feira, 23 de abril de 2014

MIMI



Além do Tigre e da Lolita, a MIMI
Acomodada nuns mocassins azulados
Ainda bebé, de padrões mal tigrados
A passarela desfilou, por aqui.
De cachecol espesso ao pescoço
Como natural manequim exibiu
As características com que seduziu
Algumas dezenas de namorados
Tal como os dois ausentados
Pra sempre… de casa e daqui.


Que tal, um pouco mais crescida?
De origem turca, meio norueguesa
Embora nascida bem portuguesa
Continuar quer a ser pretendida.
Pernas traseiras maiores que dinteiras
Orelhas bicudas, cabeça angular
Pelo cerrado pró frio suportar
Olhos grandes, verdes, beleza!
Amiga, gentil, alguma estranheza
Não muito colo e jardim à medida...


sexta-feira, 18 de abril de 2014

ACTOS COMPULSIVOS


Os comportamentos claramente excessivos aos quais, na maioria das vezes, o indivíduo não consegue resistir, são executados com a finalidade de afastar uma ameaça, eliminar a ansiedade, o medo, o desconforto, a "imperfeição" ou obter, simplesmente, prazer ou satisfação.

Hoje, mais do que sempre, quase todas as pessoas têm algum traço obsessivo-compulsivo. 

A rejeição dos nossos filhos pela sociedade das novas "élites" do poder, faz-nos sentir também a nós, pais, rejeitados. E a ansiedade manifesta-se... 
A crescente desigualdade entre pobres e ricos é desonesta. E o desconforto manifesta-se...
Os velhos são indesejados e explorados. E a ameaça de abandono manifesta-se...
O contínuo esforço dos ricos para obterem uma riqueza cada vez maior, torna-os insatisfeitos. E o medo de não o conseguirem, manifesta-se...

Os actos compulsivos abrangem uma enorme variedade de diversas intensidades:

Comprar imperiosamente coisas (oniomania); ciúmes doentios; distúrbios alimentares; exibicionismo; verificação repetida de portas e janelas antes de deitar; fixação em doenças e dores crónicas; tendência de oposição sistemática; entrar em casa e ligar logo a televisão mesmo sem precisar de ver qualquer programa; cleptomania; lavar as mãos ou tomar banho repetidamente; contar, rezar, repetir palavras e frases em silêncio; determinar coisas circunstanciadamente; insistir em verificar a existência de torneiras abertas ou gás; conferir exageradamente certas contas; acumular ou armazenar objectos sem utilidade por não conseguir descartá-los; macerar as unhas de modo contínuo com os dentes; estalar os dedos ou as articulações; sentar e levantar várias vezes sem  motivo aparente; colecionismo voraz; adesão a drogas, álcool ou jogos; procura constante de riqueza e bens materiais; mentira compulsiva…
Ou restrição exclusiva contra a pele - morder e arrancar a semimucosa dos lábios, coçar até formar feridas lineares ou circulares (escoriações), arrancar incorreta e repetidamente pelos encravados com erupções, remover a acne provocada por células que bloqueiam a abertura do folículo (onde passam a crescer as bactérias da superfície da pele - aí geralmente inofensivas - que, entrando na corrente sanguínea, podem provocar infecções), criar manchas e cicatrizes irreversíveis ao escarafunchar a derme para eliminar imperfeições…

Etc., etc.

Estas atitudes deixam perplexas as pessoas pouco familiarizadas com os tópicos descritos e admiram-se que os causadores, geralmente "inteligentes", sejam dominados por tais comportamentos.
Talvez pensem que é uma espécie de "fraqueza mental” nuns casos ou de “automutilação em busca de visibilidade”, noutros…

Na grande maioria, isso é um equívoco.

Haverá compulsões (a mentira, por ex.) que, depois de terem sido verificados resultados favoráveis pelas pessoas que delas fizeram uso, continuem a ser executadas até com alguma vaidade.
As crianças aprendem, pela experiência, que uma mentira pode evitar castigos (chegam a elaborar histórias fantásticas) antes de entenderem porque funciona.
Porém, já adultas, ao acreditarem que mentir lhes pode trazer benefícios, o problema surge quando, nessa faixa etária se tornam mentirosas compulsivas para o resto da vida. 
Como certos políticos, que insistem em mentir até ficarem convictos de que falam verdade - ultrapassando em muito a retórica política - e são um enorme perigo para milhões de portugueses.



A oniomania está entre as dependências características do século XXI devido a insatisfação, consumismo, materialismo e necessidade de preencher a vida. Os armários ficam cheios de peças ainda não usadas, há dívidas e encobrimento das compras feitas. Durante o processo de consumo, o comprador compulsivo sente-se bem. Porém, mais tarde, experimenta um sentimento de culpa e "jura" que não voltará a repetir.
O problema ocorre quando a pessoa já passa a gastar o dinheiro que estaria destinado ao pagamento das contas de casa ou às propinas da escola dos filhos, entre outros.

A riqueza pode causar uma sensação de “direitos morais adquiridos”.
Um estudo feito por pesquisadores das Universidades de Harvard e de Utah constactou que, só de pensar em dinheiro, algumas pessoas adoptam comportamentos anti princípios da moral. Depois de confrontados com palavras relativas a dinheiro, os participantes mostraram-se mais propensos a mentir e a comportar-se imoralmente.



Tian Dayton, psicóloga, explica que a necessidade compulsiva de obter dinheiro é muitas vezes considerada parte de uma classe de comportamentos conhecida como “vício comportamental” - envolve uma relação compulsiva e/ou fora de controlo em jogo, sexo, comida e dinheiro.




Tim Kasser escreveu em O Alto Preço do materialismo que as culturas de consumo também podem contribuir para o desenvolvimento de personalidades e comportamentos narcisistas, pela concentração na glorificação do consumo. São geralmente arrogantes e profundamente preocupados com questões de adaptação pessoal, procurando poder e prestígio para preencher sentimentos de vazio interior e de baixa auto-estima.



As escoriações patológicas são, muitas vezes, o resultado da transformação de uma acne leve devido a um comportamento compulsivo e irresistível.
Além das unhas podem ser utilizados outros meios que originam infecções secundárias ou cicatrizes profundas.
Na maioria dos casos a intenção é melhorar a aparência da pele, mas como a pessoa fica cada vez mais horrível, tem tendência a remover novamente o pelo que cresce sempre enrolado e com erupção, por ex. 
Começa então o ciclo vicioso da consciência do desconforto físico/propensão para experimentar mais uma vez o tal melhoramento.


Imagens Google

terça-feira, 8 de abril de 2014

PÁSCOA (S)


O Verdadeiro Sentido da Páscoa (Pessach)

Páscoa é a festa que marca o início do calendário bíblico de Israel e, consequentemente, os limites das datas de todas as outras festas na Bíblia.

páscoa judaica remete ao tempo de Moisés, com a libertação do povo judeu do Egito, marcada pela travessia do Mar Vermelho que se abriu à " passagem " (Pessach) dos filhos de Israel para a Terra Prometida de Canaã.


A família judaica ainda hoje se reúne para o "Seder de Pessach", jantar cerimonial em que se recorda a história do Êxodo e a libertação do povo de Israel.
Da composição do PRATO KEARÁ, fazem parte seis símbolos:
As matsot simbolizam as três castas de judeus: sacerdotes, levitas e israelitas.
pt.chabad.org
A celebração do Pessach ganhou mais força após a destruição do Segundo Templo, em 70 d.C. em Jerusalém e trouxe de volta a mesma emoção popular do cativeiro no Egito. A partir de então, foi divulgado no calendário judaico, independentemente da dispersão do povo em exílio.
Em teoria o Pessach dura uma semana. Os restaurantes fecham, todo e qualquer produto que fermente não é usado, as escolas param e é uma época em que muita gente costuma fazer férias.


O arroz e os cereais de milho, por serem produtos cujo consumo depende de opiniões diferentes, ficam em prateleiras  isoladas nesta época do ano, distantes dos produtos que se podem consumir.

A festa cristã da Páscoa tem origem na festa judaica, mas com um significado diferente - representa a “libertação de todos os que estavam separados de Deus pelo pecado, restaurados pela morte e ressurreição de Cristo"
Assimila também diversos elementos alegóricos de morte e renascimento como a transição do inverno-primavera e simboliza ainda no sacrifício de Isaac por Abraão, a entrega de seu filho para Deus, em holocausto e expiação.

Nos países de língua anglo-saxônica a páscoa cristã é conhecida como  “Easter”, mas nos países de língua latina foi mantida a  palavra “Páscoa” (“Pessach”, em hebraico)
O nome “Easter” é proveniente de uma festividade de primavera celebrada por Assírios, Babilónios e Celtas, em adoração à deusa Ishtar (Oestre, nos países nórdicos), deusa da fertilidade. Daí o uso (pagão) de ovos e coelhos como simbolismos.

As Testemunhas de Jeová não celebram a Páscoa porque acreditam que a decisão de não a comemorar se baseia firmemente na Bíblia, que incentiva a usar “a sabedoria prática e o raciocínio” em vez de simplesmente seguir tradições humanas. (Provérbios 3:21; Mateus 15:3)

Os evangélicos estão divididos em várias categorias. A maioria não celebra a pascoa porque acredita que é uma celebração do segundo testamento para os antigos judeus e que não tem cabimento no novo testamento. Quanto à cruz, não aceitam um símbolo maldito pela sua essência.

Para os cristãos a Páscoa é, pois, a passagem de Jesus Cristo da morte para a vida, a Ressurreição.

Como se pode depreender, os símbolos da Páscoa, festa das festas, são muitos. 
Destaco:

O CORDEIRO

O cordeiro é o símbolo mais antigo da Páscoa, a  aliança feita entre Deus e o povo judeu . 
No Novo Testamento simboliza Cristo  que é o" Cordeiro de Deus sacrificado em prol da salvação de toda a humanidade, seu rebanho".

A festa da Páscoa e A última ceia por Dirk Bouts, c.1460

Esta Última Ceia é uma pintura "notável pela sua pureza estilística e sobriedade. Os rostos dos discípulos  não variam muito. Os gestos parecem ter sido congelados num determinado ponto no tempo. É um momento importante, e os presentes parecem estar meditando sobre o seu significado. 
A verdadeira novidade desta pintura extraordinária reside na sua aplicação sistemática das leis da perspectiva. O trapézio da toalha de mesa branca (símbolo de pureza), a distribuição das figuras em torno dela e sua convergência sobre a figura central de Cristo, assim como o ritmo subtil das cores diferentes, tudo contribui para dotar este complexo de composição com uma unidade pictórica profunda e de grande significado.
É uma das principais obras da história da arte flamenga.
Aqui, Bouts rompe com a tradição segundo a qual Cristo é sempre representado no acto de anunciar a traição de Judas. Em vez disso, mostra o momento em que institui a Eucaristia " que é a partilha do pão e vinho entre seus discípulos.
JESUS ​​sendo ele próprio o Cordeiro de Deus, põe fim ao sacrifício de cordeiros pascais, um aviso da sua vinda como filho do homem para ser punido pelos pecados dos homens.” 
ATB - Across The Bible - Portugal

A Última Ceia foi a última festa da Páscoa ritual porque o Cordeiro de Deus estava prestes a ser sacrificado.  


Cordeiro Assado é uma tradição do povo judeu, herdada pelos cristãos. Era sacrificado, assado e comido, juntamente com pão e ervas amargas. 
Hoje, pode levar temperos diferentes mas ainda é presença marcada nas mesas do mundo inteiro.

Borrego assado no forno é o prato por excelência para o domingo de Páscoa.
A receita requer pré-preparação (de preferência do dia anterior).
Fica esta versão que procura ir à raiz do tradicional e é baseada numa receita que foi passando de geração em geração familiar

Borrego Assado no Forno
receitascomprovadas.com

Tempo de preparação: 2 h 30 min
Ingredientes
Borrego para assar (A perna é a parte recomendada mas também se pode usar a parte da mão, com óptimos resultados)
1 Cebola grande
1, 5 dl de vinho branco
1 Cenoura
5 Dentes de alho
Sal
Azeite
Para a marinada
Massa de pimentão
Vinho branco
Alho
Louro
Sal marinho
Azeite virgem extra(opção)
Preparação
- Tirar a pele do borrego e a gordura em excesso.
- Untar o borrego muito bem com a marinada três horas antes da confecção (de preferência, 1 dia antes). Reservar no frigorífico.
- Numa travessa de ir ao forno distribuir a cenoura e metade de uma cebola cortadas às rodelas para servire de base ao borrego. 
- Colocar o borrego e a marinada em cima da cebola e das cenouras. Juntar metade do vinho branco.
- Esmagar os alhos e colocá-los em cima do borrego assim como o resto da cebola cortada às rodelas.
- Cortar batatas aos bocados em forma de cubos de tamanho uniforme ou usar batatas pequenas, se preferir.
- Juntar as batatas na travessa em redor do borrego. Temperar tudo com sal e regar com bastante azeite.
O borrego está pronto a ir ao forno.
Pré-aquecer o forno a 180º e colocar então o borrego a assar, mantendo os 180º durante 
1 h 30 m.
De vinte em vinte minutos ir regando o borrego com os sucos do assado e juntar um pouco de vinho branco para não ficar seco.
Sirvir acompanhado de salada de tomate e alface.


O SINO

O sino é também um símbolo da Páscoa. 
No domingo de páscoa, tocando festivamente, os sinos anunciam com alegria a celebração da ressurreição de Cristo.

E, com ele, a agradável recordação declamada pelo Grande artista do saber-dizer, João Villaret, que rende a sua homenagem à voz dos sinos, ao teatro vivo das procissões, à decoração das ruas e à participação respeitosa dos cidadãos nas demonstrações religiosas, recitando o poema de António Lopes Ribeiro, “O homem de cinema”:

                       


«Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão
Na nossa aldeia,
Que Deus a proteja,
Vai passando a procissão”.

OS OVOS

Joia que pertenceu à imperatriz da Rússia traz um relógio com diamantes no interior (Foto: Olivia Harris/Reuters)

Desde a Antiguidade que o ovo simboliza o nascimento, a origem do mundo.
Os chineses tinham o costume de presentear os amigos com ovos enfeitados durante a Festa da Primavera, entre Março e Abril.
Para os Persas, os ovos eram sagrados porque acreditavam que a terra teria caído de um ovo gigante.
Os cristãos primitivos do oriente ofereciam ovos coloridos na Páscoa porque simbolizavam a ressurreição, o nascimento para uma nova vida.

E os ovos de galinha foram sendo trocados pelos de madeira, prata, ouro, até chegarem aos de chocolate.


Os ovos de Páscoa representam também o final da quaresma.

Corar ovos e decorá-los é, portanto, uma tradição de Páscoa muito antiga.

Vamos mudar a cor dos ovos...

Para colorir ovos de cores diferentes e de forma natural basta, depois de cozidos:   
- Escolher a cor
Amarelo – Cascas de cebola, açafrão, cascas de limão;
Vermelho – beterraba, paprika, framboesa;
Laranja – Cenoura;
Roxo – Vinho tinto, couve roxa;
Verde – Espinafres;
Azul – Amoras azuis
Castanho – Café, chá.
- Ferver o ingrediente escolhido, misturado com água e um pouco de vinagre, durante cerca de 15 minutos.
- Retirar os ingredientes
- Mergulhar os ovos na água de cor para tingirem (5 Minutos deverão ser suficientes mas quanto mais tempo estiverem, mais acentuada ficará a cor)
- Usar a criatividade para os tornar mais bonitos



Na natureza há seres vivos com as mais variadas cores. Isto acontece porque têm certas substâncias que lhes dão cor.
Até há cerca de 150 anos as pessoas dependiam das substâncias coradas que obtinham de animais, plantas e minerais para corar tecidos e outras coisas e também para pintar.
Algumas cores eram muito difíceis de obter, como por exemplo o púrpura e o azul, só usadas pela realeza. 
Ciência Viva, Paulina Mata, FCT-UNL 
Mãos à obra


sábado, 5 de abril de 2014

O RIO NOÉMI (NO’AMI)


Noémi (do hebraico antigo no’ami) é uma figura do Antigo Testamento, da tribo de Benjamim, sogra de Rute, da linhagem de David e significa doçura, suavidade, graça, alegria, formosura.
A sua história é narrada no Livro de Rute.

Noémi é o nome do rio que, ao atravessar a minha aldeia, a caracteriza em duas partes distintas - o povo secular de um lado e a estação da idade do caminho-de-ferro, do outro.

Nasce na colina de Vale de Estrela (à cota 1010), uma freguesia  do concelho da Guarda, anteriormente chamada S. Silvestre de Porcas por ter sido local onde havia muitos porcos bravos e que, na carta de Dom Sancho I já data como fazendo parte dos Montes Hermínios.


É no Vale de Estrela que existe o célebre Padrão das Três Bacias, símbolo que representa caso único em termos hidrográficos - de lá flui água para os 3 maiores rios e cidades de Portugal. Na vertente Oeste nasce a ribeira do Coval que vai engrossar a ribeira da Corujeira, afluente do Mondego (Coimbra). Pelo lado Sul sai a ribeira da Vela que desagua no Zêzere, o grande afluente do Tejo (Lisboa). 
E da vertente Noroeste sai a ribeira das Cabras que entra no rio Noémi, afluente do Côa e que desagua no Douro (Porto).

PERCURSO (Localidades por onde passa e percurso Total)
Colaboração de Luís C. Castro

Tem aproximadamente 40 km (E-W) e no seu percurso passa pelas localidades de BarracãoGataVila GarciaVila FernandoAlbardo, Rochoso, CerdeiraMiuzela, PailoboMonte PerobolsoPorto de Ovelha (Jardo - rio Côa à cota 610).

Pontão, Monte e Jardo - foto Ilhardo /Rio Côa, foz do rio Noémi - foto J.M.D.M.Cardoso

Nasce com pouco caudal mas vai aumentando pela afluência de diversos ribeiros (Ordonho é o principal, na margem direita) e do Rio Diz na margem esquerda, zona da Gata.

Considerando as duas áreas geográficas distintas que atravessa - Serrana e Planalto - o rio apresenta fauna e flora com características diferentes à medida que avança. 
Predominam freixos, salgueiros, amieiros, patos, guarda-rios, galinhas-de-Água e peixes diversos.



Entre a Guarda e a estação do Noémi é acompanhado pela Linha de Caminho de Ferro da Beira Alta, proporcionando aos viajantes uma paisagem bucólica, sui-géneris, verde, repousante.

Desde os anos 80 que, segundo Márcio Fonseca, um jovem natural do Rochoso (www.cronicas-do-noeme.blogspot.com), o rio está poluído.
“Está a transformar-se num pântano , um  verdadeiro problema ambiental, devido à descarga de efluentes da fábrica COFICAB – Companhia de Fios e Cabos SA, localizada em Vale de Estrela, a poluentes do afluente rio Diz, à falta de cuidados da população na generalidade, à contaminação das margens pelo uso de pesticidas e não tratamento dos terrenos e á demissão das entidades competentes no cumprimento das suas responsabilidades.
Por outro lado, a areia tem sido desviada para construções dando origem, em certos lugares, a um rio que corre desordenadamente…

Rio Noémi poluído

Por iniciativa do mesmo Márcio Fonseca, foi feita uma petição exigindo que as entidades competentes - Câmara Municipal da Guarda e Administração da Região Hidrográfica do Norte - promovessem a suspensão imediata de todas as descargas poluentes e tomassem medidas de requalificação do ecossistema.
Entretanto, a Câmara, depois de ter anunciado que a resolução poderia passar pela construção de um colector ligando a estação de pré-tratamento de uma fábrica de lavagens de lãs localizada na zona da Gata, à Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de S. Miguel, já aprovou o projecto da estação elevatória e decidiu abrir concurso para execução da obra, avaliada em cerca de 148 mil euros.
O equipamento, que vai ser construído na Quinta da Granja, nos arredores da cidade, encaminhará os efluentes da unidade de lavagem de lãs para a ETAR de S. Miguel, retirando-os do rio Noémi.

O rio Noémi fazia parte, nos meus anos de criança e de adolescente, da convivência, da familiaridade, da sustentação alimentar, da razão de ser da própria aldeia. 
Aliás, deve ter sido sempre assim desde que os povos celtas, romanos, árabes ou outros, se instalaram junto ao rio para partilhar, em comunidade, terrenos agrícolas, fornos e pastoreio, até às décadas do abandono do Portugal rural.

Na minha aldeia a “ribeira” era larga e na margem direita havia muita areia branca e limpa. 
Sobre ela poderia Sophia de Mello Breyner Andresen escrever também:

 “ Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
…,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade."

Do outro lado abundavam picotas/cegonhas, represas, noras lamuriantes a chiar, motores de rega, terras regadas e verdes ou o ferro gasto das charruas abrindo sulcos, o chilrear dos guarda-rios, as melancias, peras, amoras, sacos com batatas, palhaços espanta-pardais, amieiros, salgueiros, morugens, merendas à sombra densa das nogueiras e caminhos de terra batida com pessoas conversando ou simplesmente andando em ritmos diferentes…

Nas orlas de pisos irregulares, havia lajes inclinadas onde as mulheres, ajoelhadas em bancos de madeira, ensaboavam e esfregavam a roupa com sabão azul em barra e de punhos fechados. Ainda molhada e ensaboada, ficava estendida nas ervas a corar (branquear) ao sol. Depois secava ao ar livre, presa em cordas delgadas.
Algumas lavadeiras mais novas, em verso, cantavam ao desafio:


Daniel Ridgway Knight
“Fui lavar prà ribeira
Cheguei lá sem o sabão
Lavei a roupa com rosas
Ficou-me o cheiro na mão”

Na época da matança (Inverno!) lavavam-se as tripas na água corrente quase gelada e viravam-se com um pau de vime fino, o “pau de virar tripas”.

Tomar banho nas águas límpidas e cristalinas, era hábito dos rapazes que, ao verem aproximar-se pessoas, enrolavam a roupa debaixo do braço e corriam a esconder-se.

Poldras, pontão e ponte, serviam de ligação entre os dois lados da aldeia, o Povo e a Estação.
Ao contrário de muitas outras povoações que fazem a recuperação de moinhos e noras para perseverar as tradições e guardá-las na memória, as poldras que tantas vezes me afoitei a passar quase cobertas pela água das cheias de Inverno, foram substituídas por(?) e a velha e linda ponte românica passou a estar "adornada" com armações de barras metálicas paralelas. 

Que eu saiba, nunca fizeram falta em tantos séculos anteriores...  
«Os cursos de água eram normalmente atravessados por pontes flutuantes, constituídas por barcos amarrados entre si e ancorados em ambas as margens do rio. As pontes fixas em madeira eram suportadas por estacas onde assentava o tabuleiro igualmente de madeira.  As pontes em pedra eram um luxo só digno de estradas principais e a sua construção era feita em locais estreitos e rochosos» -José António Rebocho Esperança Pina

Dois aspectos da Ponte 

Com águas límpidas e oxigenadas mantidas pela corrente de ribeiros mais pequenos, abundavam bordalos e barbos durante quase todo o ano.
Para pescar, havia técnicas conforme a época e o caudal do rio. Nas zonas menos profundas do leito usava-se o galricho, uma pequena rede para peixe miúdo que permite a entrada e dificulta a saída. Por vezes as cobras de água também entravam e ficavam lá dentro, de barriga cheia.
Em Junho e Julho, quem tinha uma licença podia pescar à linha com canas de pesca. 
Era necessário encontrar o isco, quase sempre minhocas pequenas que existiam por baixo das pedras, à beira da água do rio.
Depois, procurava-se um lugar à sombra, permanecia-se imóvel, sem fazer qualquer barulho para não afugentar os peixes e esperava-se que mordessem...
Feita a pesca e já em casa, retiravam-se-lhes as vísceras, temperavam-se com sal e fritavam-se.
Era um dos mais gulosos pitéus!

                                                           Barbo - Bordalo                                                                

Lembro-me de pescas feitas pelos Nave (M., A. e H.) e, já muitos anos depois, em Agosto, quando a ribeira se reduzia a pequenos charcos junto dos muros das veigas, ainda se passavam alguns momentos de lazer a encontrar uns poucos…


Cerdeira - pescando

Hoje, dizem que não há qualquer forma de vida animal em grandes extensões do rio, embora se tenha verificado alguma capacidade regeneradora.

Noutros locais houve moinhos de água (Rochoso), passeios em barcos de borracha, fontanários e talvez outras poldras.

Além da ponte romana na Cerdeira sobre o rio Noémi, há muitos pontões em estado de grande abandono.



Antiga ponte - Vale de Estrela
Pontão entre Monteperobolso e Porto de Ovelha
Pontão Monteperobolso - Estação Noémi /António Monteiro.

Brincar, passear, lanchar, estudar, namorar, ouvir rãs a coxear, ver o comboio a passar e animais a pastar são, no conjunto, memórias de um modo de vida - partilha - minha aldeia - rio Noémi