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sexta-feira, 17 de outubro de 2014

TEM UMA ASA E É FEDORENTO



Após ter visto este video, cujo tema achei muito singular, reportei-me à memória de outros tempos, apesar de ser ainda actual.
Jamais me teria ocorrido que poderia existir um museu só de penicos ou de peças com ele relacionadas, como cadeiras penoqueiras!
E que o mais completo (colecção de 1.230 peças desde o séc. XIII ao séc. XX, provenientes de 27 países), o Museo del Orinol, propriedade do colecionador José María del Arco “Pesetos”,  se encontra na Ciudad Rodrigo, provincia de Salamanca, a 50 km da minha aldeia, localidade onde vou todos os Verões...

“Penico de acordo com os lexicologistas, será um " recipiente em louça, ferro, plástico, etc., usado para urinar e defecar, no qual se depõem urina e fezes" e tem vários significados - bacia de cama, bacio, bispote, calhandro, mictório, pote, senhor doutor, urinol, vaso de comadre, vaso de noite, vasaréu, viasca. 




Fábrica de Faiança das Caldas da Rainha. Rafael Bordalo Pinheiro. Séc. XIX 
Representa John Bull acocorado, com um dos braços formando a asa da peça - adaptação oportuna "dessa figura legendária,
sublinhada por um expressivo modelado e uma coloração cheia de pormenor"




Penico grego para crianças








Lembro-me de a Avó J. estar sentada numa cadeira semelhate a esta (tinha eu 4 anos, segundo a Mãe), e de puxar um pequeno banco para subir e sentar-me no colo dela...


Na Roma Antiga já havia sanitários públicos a céu aberto sem divisórias e sempre próximos de sulcos com correntes de água para que os utilizadores pudessem lavar-se em seguida.



O vaso sanitário (retrete) surge na segunda metade do século XVI, inventado por um poeta e tradutor inglês, 
 Sir John Harringtonque o construiu para a sua casa.



A Rainha Isabel I de Inglaterra, quando teve conhecimento do invento do neto, quiz vê-lo. E considerou-o imoral; mas acabou por encomendar um para o palácio.

Apesar do gesto da Raínha, a Inglaterra, França e Portugal não aprovaram a invenção e durante mais três séculos (até ao século XIX), todos os dias ao amanhecer, os dejectos dos penicos eram lançados pela janela para as ruas, já feitas com com caleiras adequadas ao escoamento e necessário aproveitamento máximo das águas da chuva. 


"Lá vai chuva !"



Hoje em dia, os penicos são usados sobretudo pelas crianças pequenas (e pelos idosos), fabricados em plástico de diversos modelos e cores vistosas.
Alguns são musicais, com depósito removível para facilitar o esvaziamento e a limpeza. Têm um chip musical que se activa pressionando o dedo no botão e podem ser usados a partir dos 18 meses. 


Em localidades onde as casas de banho estão construídas no exterior, os penicos clássicos de plástico ou esmalte, ainda são usados no Inverno durante a noite.
São guardados em mesas de cabeceira ou colocados sob as camas.




Apesar de o penico ter caído em desuso, há alguns adágios que se matêm.

- "Braga é o penico do céu."
- "Não há penico sem tampa."
- "Penico de barro não cria ferrugem."
- "Penico que muitos mexem acaba fedendo."
- "Penico também é branco."
- "Quem não tem cachorro, caça com gato; quem não tem penico, caga no mato."

E lengalengas populares 

“Varre, varre vassourinha
Varre bem esta casinha
Se varreres bem dou-te um vintém
Se varreres mal dou-te um real
Pico pico saltarico
Salta a pulga p'ró penico
Do penico p'rá balança
Disse o rei que fosse à França
Buscar o D. Luís
Que está preso pelo nariz
Os cavalos a correr
As meninas a aprender
Qual será a mais bonita que se irá esconder?”

E adivinhas

“Verde por fora, amarelo por dentro,
Tem uma asa e é fedorento.”

Imagens Google

2 comentários:

  1. Boa Noite.
    Como em muitas outras vezes, considero este texto muito bem elaborado e brilhante, apesar do "odor". Já agora, posso sugerir-lhe uma consulta a um texto que preparei sobre uma terra que é a sua?
    CERDEIRA
    Parabens e obrigado.
    JFernandes (Pailobo)

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  2. Eu é que agradeço a sua gentileza e boa dose de pachorra para ler os meus “escritos”, que mais não são do que um leve meio de entretenimento tendo como base, essencialmente, “memórias” que estou a gostar de recordar, com alguma dose de curiosidade. E é o que irei satisfazer no seu, com certeza, bem elaborado e aprofundado poste.

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