"Todo
o poder é triste."
Será,
no mínimo, uma declaração enigmática.
Pois se o
poder não possui alegria, se é desagradável ou infeliz, porque há tanta gente atraída
pelo compulsivo fascínio de qualquer pedacinho dele?
Mas quem
o define assim, é Émile-Auguste Chartier (1868 - 1951), filósofo francês,
jornalista e ensaísta, em “Considerações II”, utilizando um dos vários pseudónimos
literários, Alain.
Como
defensor acirrado da liberdade de pensamento e do indivíduo, as suas crónicas,
consideradas de alta qualidade literária, abordavam a política,
a economia, a religião, a educação e a estética, sempre
com a mesma finalidade - a luta pacifista. Em 1934 foi, até, um dos
fundadores do Comitê de Vigilância dos Intelectuais Antifascistas (CVIA).
Apesar
de pacifista, alistou-se no exército francês e, no plano político, dedicou-se ao movimento radical em favor de uma república liberal, estritamente controlada pelo povo.
Logo,
tem fundamentos para sustentar a veracidade de tal constatação…
É triste porque, segundo vários filósofos, antes de tudo, é uma negação.
O que
fascina no poder é o prazer sadomasoquista de permitir e consentir o que antes
era proibido e já estava negado.
“A
tristeza do poder nasce pelo facto de que todo o poder (Kratos) é uma forma de
negar a potência (Dynamis) vital do ser. Todo o poder se manifesta no não”.
Alimenta-se
da impotência.
O impotente, não encontrando meios de crescer
sozinho, investe no poder porque não suporta a potência do outro. Captura apostando numa sedução de falsas promessas. Ele cria a tristeza e depois oferece a
salvação. Coloca-se assim a aceitação na mão do outro.
Se eu preciso de pedir autorização a alguém para fazer, ou obter, ou querer ou sonhar alguma coisa, é porque antes eu não podia fazer, obter, querer ou sonhar por mim mesmo. O poder bloqueia a minha vida.
Porque deixamos que o poder se exerça sobre nós?
Porque sem nós, o poder não tem sentido.
Porque sem nós, o poder não tem sentido.
A miséria, a desqualificação e a
hipocrisia são muito importantes para o poder. E é muito importante para o
poder incluir-nos na miséria - com a ajuda da justiça e da lei.
O sacerdote precisa da tristeza dos seus fiéis, precisa que eles se sintam culpados.
Hegel (1770-1831), filósofo alemão, diz: “O senhor é aquele que é reconhecido pelo escravo e o escravo é aquele que prefere a sobrevivência à vida (…). Aí o senhor empina o pescoço”
Nietzsche (1844-1900), filólogo, filósofo, crítico cultural, poeta e compositor alemão, interroga: “Que senhor é esse, que precisa do olhar do escravo para ser senhor?”
A grande contradição é que tanto o senhor como o escravo são
vítimas do poder porque a perversão faz parte de todos nós, embora em proporções diferentes.
Não há reconciliação entre poder e potência porque o poder faz do corpo uma função e a potência faz da vida uma criação.
“Só somos efetivamente livres quando nós criamos – não
apenas objectos no mundo, mas quando nós criamos as condições da produção dos
objectos, as condições dos movimentos, dos afectos, das acções e das paixões, das
experimentações sensíveis do corpo, as condições da produção e da invenção do
pensamento, porque pensar antes de tudo é inventar. Não basta imaginar para
pensar. Pensar é inventar realidade. (…) “
Fuganti
Foucault (1926-1984), historiador e filósofo francês, também diz que "o poder não age tanto por repressão, ele age muito mais por sedução. Power está em toda parte "e" vem de todos os lugares " e, nesse sentido, é uma espécie de "metapower" ou "regime de verdade" que permeia a sociedade e que está em constante fluxo e negociação.
Fuganti
Foucault (1926-1984), historiador e filósofo francês, também diz que "o poder não age tanto por repressão, ele age muito mais por sedução. Power está em toda parte "e" vem de todos os lugares " e, nesse sentido, é uma espécie de "metapower" ou "regime de verdade" que permeia a sociedade e que está em constante fluxo e negociação.
Muitas vezes o homem deseja ser ofendido para se poder
vingar.
Fernando Pessoa (1888 – 1935), filósofo
e escritor - o mais universal poeta português:
As pessoas sentem prazer em guardar
raiva, rancor e ressentimentos porque, embora lhes provoquem sofrimento, também
lhes dão a sensação de poder, de um “ego certo” perante o “errado do outro”.
Acontece a mesma condição de superioridade quando julgamos e criticamos, ainda que só mentalmente.
Acontece a mesma condição de superioridade quando julgamos e criticamos, ainda que só mentalmente.
“Querer não é poder. Quem pôde, quis antes de poder só
depois de poder. Quem quer nunca há-de poder, porque se perde em querer”.
Livro do Desassossego
Diz-se que a consciência é a voz da razão.
Que útil seria se chegasse antes de se tomarem tantas decisões importantes!
Imagens Google