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domingo, 7 de junho de 2015

CEREJAS - DE ONTEM E DE HOJE


O freixo, o pinheiro bravo, o carvalho-negral, a carrasqueira, o amieiro, a giesta, a macieira, a pereira e a cerejeira, faziam parte da flora predominante da minha região, a Beira Alta. 
E da minha aldeia, Cerdeira (sinónimo regional e arcaico de cerejeira)
Talvez façam, ainda.

Talvez tenham sucumbido apenas as da minha infância… rendidas à falta de carinho do dono que não voltou mais.
“ Mortas por dentro, mas de pé, de pé…como as árvores

Havia três cerejeiras de tronco liso e ramos grossos – uma no Espadanal, outra no Frei Miguel e outra no Caminho do Moinho.
Agora estariam grandes, vigorosas, com folhas dentadas, pontiagudas e pendentes, oferecendo os pequenos frutos arredondados, as cerejas - de cor vermelho escuro, quase negras, apenas vermelhas e brancas - a gulosos melros, rolas, pardais, gaios, poupas, piscos e verdilhões ou a quem tivesse a ousadia de nelas se instalar para lhe servirem de manjar.




Quem não se lembra de ter enfeitado as orelhas com “brincos de cerejas”?


Embora não muito exigentes com o clima, gostam de locais arejados, de boa drenagem e bem expostos ao sol, motivo porque cresceram em terrenos um pouco inclinados, dificultando o trepar.
Havia também ginjeiras (muito poucas), árvores da cereja ácida ou ginja, mais pequenas, tanto em altura como nas folhas e flores.

A cereja-doce de polpa macia e suculenta era, sobretudo, consumida fresca como sobremesa, embora com ela se fizessem também tortas, mousses, sorvetes, geleias, marmeladas, compotas ou bebidas.
A ginja, de polpa muito mais firme, além de servir para o fabrico de conservas e compotas, também era - e é - usada para bebidas licorosas como o kirsch, a ginjinha e o marasquino.


Era em compoteiras como esta que a Mãe fazia o "doce de ginja" donde, misteriosa e sorrateiramente, ia desaparecendo...

Desconheço qual seria o tipo de variedade de cerejeira, pois o leque é enorme.

Dentro das variedades com tradição de cultivo em Portugal, as mais importantes são Saco da Cova da Beira, Saco do Douro, Lisboeta, São Julião (de origem nacional), Big Burlat, Maring, Napoleão Pé Comprido e Big Windsor (Roxa). Recentemente foram introduzidas algumas mais atractivas do ponto de vista comercial (Brooks, Hedelfingen, Summit, Sunburst, Arcina, Sweetheart, Van, Bing e Earlise) - o fruto atinge um calibre mais elevado e o poder de conservação é melhor.

No país, a época das cerejas, vai de meados de Maio a meados de Julho mas no mercado estão disponíveis durante todo o ano, devido à ampla rede comercial e às tecnologias de conservação.
A Europa é responsável por quase metade da produção mundial e a Espanha, o nosso principal fornecedor; em período de contra estação, destacam-se a Argentina e o Chile.


A cultura nacional apresenta uma certa concentração geográfica em determinadas zonas das regiões de Trás-os-Montes, Beira Interior e Entre Douro e Minho.
No município de Resende, um dos maiores produtores nacionais, priorizaram-se projectos.
Nas regiões da Beira Interior e do Alentejo, existem produções diferenciadas - Denominação de Origem Protegida (DOP) e Indicação Geográfica Protegida (IGP)
A cidade do Fundão destaca-se pela enorme qualidade deste producto único, ingrediente central do Festival da Cereja, que decorre todos os anos, em Junho.


A paisagem, dominada pelas diferentes texturas de cada variedade regional, confere-lhe várias tonalidades.

A cereja do Fundão é, quanto a mim, a de melhor qualidade - tem um excelente teor de açúcar devido ao extraordinário microclima da Cova da Beira e uma boa consistência da polpa.

E a projecção nacional e internacional é já enorme.

Segundo o empresário Paulo Ribeiro, foi plantado na Covilhã um dos maiores cerejais de Portugal, com “40 mil árvores ao longo de 50 hectares para, seguindo as regras de produção intensiva, gerar 500 toneladas de fruto a partir de 2015 - cerca de 10 por cento de toda a produção da Cova da Beira, um dos principais berços de cereja do país - enquanto num cerejal tradicional aquele valor ronda as duas a três toneladas por hectare”,
Diz ainda que a empresa decidiu “apostar na produção do fruto e não depender de ninguém, porque há muitos pedidos e falta de resposta” contribuindo, ao mesmo tempo, para criar raízes na região onde reside.
Presidente da Câmara do Fundão, por outro lado, disse à Agência Lusa que o concelho tem apostado na divulgação e promoção da “Cereja do Fundão” enquanto marca, contribuindo para a afirmação do fruto no mercado nacional e internacional.
Dentro desta orientação já surgiram vários subprodutos, como os licores, um novo sabor de gelado, a sangria, o  Pão e o Pastel de Cereja do Fundão assim como uma parceria com as lojas da cadeia de gelataria nacional Santini.

A Festa da Cereja do Fundão realiza-se na aldeia de Alcongosta, designada por muitos como a "capital da cereja", por ser uma das freguesias que tem mais área plantada de cerejal e maior produção do fruto.

Em 2014, o certame teve 100 expositores, com a particularidade de ter sido dinamizado pelos habitantes da localidade, que todos os anos decoram as ruas das aldeias e transformam os pisos térreos das casas em tascas de venda de cereja, gastronomia, licores e artesanato, entre outros.
Estiveram em destaque os live-cookings com os chefes Benoit Sinthon, Miguel Laffan, Henrique Sá Pessoa, Vincent Farges, António Melgão e a Escola Profissional do Fundão; os ateliers Chefes de Palmo e Meio; os concertos de Anafaia, The Soaked Lamb e da Tuna da Academia Sénior do Fundão; animação; tasquinhas e artesanato, num evento de acordo com programa.

Este ano, como em anos anteriores, “Irá realizar-se, entre os dias 12 e 14 de Junho, onde poderá encontrar a Cereja do Fundão e degustar diversos productos à base de cereja, como o Pastel de Cereja e os Bombons de Cereja do Fundão".

Revolvido o sótão da memória com um óleo de Malema, virei escrevendo - beirã gulosa de tudo o que sabe a cereja - sobre a rubente cereja do Fundão.

Imagens Google

2 comentários:

  1. Não me lembro da cerejeira que existiu no Caminho do Moinho. Mas sim das tardes quentes,debaixo da que havia no Frei Miguel. Eram de cor de vinho,com uma risca ao alto, gordas e doces! Que maravilha!
    Depois de termos colhido as dos ramos que os nossos braços alcançavam,a Paulina,ágil como um gato,trepava e colhia ramos carregados de frutos,para desfrutarmos, sentadas, á sombra.
    E só depois enchíamos a cesta para levar para casa....

    Bjinhos

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  2. O Caminho do Moinho foi vendido logo nos primeiros anos (os efeitos da guerra ainda mantinham as muitas carências económicas…). Lembro-me de a Mãe ter ficado muito pesarosa porque era um enorme vinhedo com uvas de deleitar os olhos!
    Eu subia prà do Espadanal e sentava-me num dos ramos, acompanhada por um bando de pardais, a petiscar aquele “mel”. Ainda não eras “gente”! Tempos simultaneamente difíceis e bons …
    Jinho

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