Número total de visualizações de páginas

domingo, 31 de julho de 2016

ANCORADOIRO


Tarde de Julho.
No Ginásio do meu bairro, quase vazio, sobra espaço para treinar.
Que tempo quente! Instintivamente consulto a meteorologia no telemóvel.
Pois, a sombra das árvores em rua ascendente não chega para “arrefecer” 34 graus...Mais uns passos, porque onde vai o ferro, vai a ferrugem! 
Inesperadamente, um vento leve começa a  brincar com os cabelos e inclina as ramagens na direcção do pequeno jardim ao lado onde alguns bancos vazios se dispõem para ancoradoiro.

Diria que as árvores parecem “ouvir”/ “falar”com o espaço...
E sento-me, submissa ao meio envolvente.

Cheira a erva recém-cortada; o jardineiro orienta a água como quer, atento aos salpicos sobre os passantes; o cão rafeiro insiste em namorar a Yorkshire, apesar das agressivas dentadas de defesa e os donos, olhos nos olhos primeiro, riem-se depois e trocam umas palavras; uma antiga vizinha reconhece-me e esboça de longe um sorriso largo.

Rafeiro                                              Yorkshire

Ainda não vi formigas...

Mas o chilreio dos pássaros sobrepõe-se sem pausas. São de Monsanto, aqui bem perto, que alberga uma diversidade considerável de aves.
Voam, saltitam, aproximam-se, debicam, cantam e passeiam cores ímpares entre as copas dos cedros, das acácias, dos pinheiros mansos, dos plátanos, do abrunheiro bravo e das madressilva, "companheiras cromáticas, de ciclo de vida" que "purificam o ar e trazem cor e bailado aos jardins e às ruas", (Bagão Félix). 
Distinguem-se alguns como o chapim azul, de cabeça azul escuro, asas azuis brilhantes e parte inferior amarelo limão; o chapim real, bem maior e robusto, com uma mancha preta na cabeça e um colar cervical a contrastar com as bochechas; os pardais, fáceis identificar e bem conhecidos por todos; os papa-moscas, grandes caçadores de insectos; o estorninho, preto brilhante, de cabeça parecida com a do melro mas mais barulhento;o pombo-torcaz com o pescoço de várias cores; a rola-turca, de meio-colar preto na parte superior do pescoço. 
E o pintassilgo, o chamariz, o gaio comum, o periquito, além de outros, andam de certeza também por aqui.


chapim azul                                        chapim real
papa-moscas cinzento                                  casal de pardais
pombo torcaz                                          estorninho preto
rola turca                                                 pintassilgo português

Será que estou a ouvir grilos?

Quando tinha oito-dez anos, no tempo de férias, eu e as irmãs passávamos tardes inteiras estiradas na relva fresca dos lameiros com os olhos nos animais que pastavam e o ouvido junto aos orifícios onde os grilos se escondiam a “cantar” (o grilo do campo cava uma toca subterrânea para hibernar).
E havia umas pequeninas gaiolas de madeira com tiras coloridas e estreitas onde eram colocados para cantar e não fugirem.Mas acho que acabavam todos por morrer porque, além da alimentação vegetal e água, mais nenhum outro cuidado lhes era prestado (limpeza do receptáculo, etc.) por falta de conhecimentos.
Na realidade, os grilos não cantam; esfregam o primeiro par de asas quitinosas, ou seja, a fita fina e dentada da asa direita contra uma aresta da asa esquerda. O som varia, em ritmo e frequência, de um grilo (só machos) para o outro. Cantam com as asas...
O grilo do campo é um insecto geralmente de cor preta e brilhante. Tem antenas longas, costas lisas e duras sobre as asas, desloca-se aos saltos ou em corridas curtas e alimenta-se durante a noite. Os ouvidos estão situados sob um dos pares de pernas e a fêmea é atraída pelo som estridente do macho.


Pronto, acabou-se o devaneio.
Ele, de tranças, franja e bigodinho, fuma, fuma...
Ela, segurando um cão pela trela que ladra, ladra, e também fuma, fuma...
Fica o som do grilo abafado pelos guinchos do cachorro e os vocábulos dum qualquer dicionário de calão. 


Imagens Google

Sem comentários:

Enviar um comentário