- Gostavas de ser
palhaço? – Perguntou a Maria, de 6 anos.
No Carnaval vou vestir-me de palhaço rico, mas a Carlota diz que o palhaço pobre tem cores mais giras. Achas?
No Carnaval vou vestir-me de palhaço rico, mas a Carlota diz que o palhaço pobre tem cores mais giras. Achas?
- Talvez. E tem,
sobretudo, melhores piadas!
- Se fosses tu, de qual ias?
- De qualquer um, Maria.
Ambos são palhaços. Todos somos palhaços; uns são fingidores ricos, outros, pobres.
- Então, eu vou de
palhaço rico com as cores do palhaço pobre...
É. A Maria ainda não depreendeu que o palhaço é um
farsante, o farsante é um simulador, o simulador é um fingido, o fingido é dissimulado e o dissimulado é um palhaço.
Somos todos palhaços, porque o dia-a-dia da “nossa
vida é uma farsa contínua que toda a gente se vê obrigada a representar". Arthur Rimbaud
Todos os dias somos obrigados a equilibrar a realidade que vivemos com a verdade que gostaríamos de ter.
“A vida é um palco, onde somos palhaços,
trapezistas e malabaristas; fazemos rir, encantamos, e damos exemplos, depois passamos para o outro lado, onde precisamos assistir ao que acontece nos
palcos para rir, encantar e ter exemplos, e podermos seguir em frente no palco do
destino.” Eliane Rosa
Os deuses vão-se como forasteiros. Como
uma feira acaba a tradição. Somos todos palhaços estrangeiros. A nossa vida é
palco e confusão (...). Pessoa, 1965.
Para criar, destruí-me; tanto me
exteriorizei dentro de mim, que dentro de mim não existo senão exteriormente.
Sou a cena viva onde passam vários actores representando várias peças.
Pessoa/Soares, 1989.
Autor -Lélia Parreira
“Por favor - A vida é um palco”. “A
arte de fingir é a arte de todos nós”. “Somos parceiros num grande globo de
actores. Globo da morte ou vida”. “Adoro imitar o que de alguma forma,
sentimos todos. Sou um fingidor? No palco. Trapezista de terceiro sinal e
palhaço que adora um aplauso. ( Levanta a mão aí quem não gosta! ) Curtain call. Fecha o pano rápido e
vai chorar no camarim, como todo bom palhaço”. Mário Filho
Expliquem lá isso (*)
MJ – Ele está a dizer que eu gosto de
quem sou e que queria ser ainda mais eu. Também não temos muita escolha, não é?
Temos de ser nós.
MEC – Eu não era eu. Ela ensinou-me
isso. Ensinou-me muito bem a estar à vontade. Eu estava sempre a fingir que era
outra coisa que não era. Estava sempre muito ansioso. Muito show off. A
tentar disfarçar. Sempre muito mal alaise [pouco à vontade, inadequado]. Sempre a querer fazer graças ou a ser o palhaço da turma. Divertir as pessoas à força.
Uma coisa desesperada para que gostassem de mim. Era um trabalho. Detestava.
O trabalho era...?
MEC – O trabalho de ser simpático, de
divertir as pessoas. Tenho isso desde pequenino. É uma insegurança: não pensar
que as pessoas podem gostar de mim só por eu ser eu. Que posso estar calado.
Ela disse-me. “Podes estar calado. Não precisas de estar sempre a não sei
quantos.”
MJ – Disse-lhe: “Podes descansar”.
Quando falou do percurso da Maria
João, falou do sentido da liberdade. Que nela pareceu fácil. Mas que não é
fácil.
MEC – Pois não.
O Miguel, parecendo ter todas as
condições para ter essa liberdade, não a tinha.
MEC – Era totalmente reprimido. Muito
reprimido. Muito inseguro. E muito falso. É a palavra.
Estava sempre a ser “o MEC”? A ser o
boneco.
MJ – Ele exige muito dele próprio.
[Divertir os outros], fá-lo mais por bondade, até.
MEC – Agora não faço. Agora é muito
melhor. A minha mãe sempre me disse que não me importasse com o que os outros
pensavam. “Who cares?” [Que importa?] Mas nunca aprendi o que a minha mãe
dizia.
O
que é que dizia o seu pai, que era português?
MEC – O meu pai dizia a mesma coisa. Que
não éramos obrigados a gostar uns dos outros. Nem dos irmãos nem dos pais.
Tínhamos o direito de formar uma opinião, ou de gostar, ou de não gostar. (...). O meu pai fugia das pessoas de
quem não gostava. Fugia mesmo, fisicamente. Saía da sala.
(*) Excerto da entrevista a Miguel Esteves Cardoso (MEC) com a Maria João Pinheiro (MJ), por Anabela Mota Ribeiro, publicado originalmente no Público em 2013
l
«No Oceanário o Carnaval dura todo o ano. Os
palhaços são peixes, o Picasso pinta com as barbatanas, o Unicórnio nada em vez
de correr, o Napoleão nunca tira o “chapéu”, os pinguins estarão vestidos de
gala e até o tubarão se mascara de touro. Mergulha no Oceanário, escolhe o teu
animal favorito, cria a tua máscara e desfila nas ondas de um fantástico
jardim. Vem fazer parte desta grande folia que são as “Férias debaixo de água”.»
Oceanário de Lisboa
No oceanário e na vida.
O
mundo é um circo, a vida um espectáculo e o palhaço o personagem.
Imagens Google
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