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quarta-feira, 28 de março de 2018

TRADIÇÕES



Quando era criança
Havia a tradição
Lá na região
Ter como lembrança
Um bolo folar
Para pascoar

De corpo franzino
Nossa Avó Emília
Dava prá família
O grande bolo fino
Para o deliciar
E a Páscoa grafar

Já que o passado
É lugar presente
Nunca ausente
Evoco de bom grado
O amarelo folar
Prá Páscoa exaltar





 Na minha aldeia, o "Folar ou Bolo de Azeite", era o presente que os padrinhos ofereciam aos afilhados no Domingo de Páscoa. Com ou sem manteiga, “desaparecia" num ai! Uma delícia…


domingo, 18 de março de 2018

UM OLHAR SOBRE OLIVENÇA

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Passaram cinco anos sobre a sensacional notícia publicada pelo DN, 27 de Setembro de 2012:« A Igreja de Santa Maria Madalena, em Olivença, único lugar de culto espanhol de estilo manuelino, foi eleita "O Melhor Recanto de Espanha 2012", num passatempo promovido pela petrolífera Repsol». "Rica em azulejos e em motivos decorativos marítimos que remetem para a época dos Descobrimentos portugueses, a Igreja de Santa Maria Madalena (Estremadura) é visitada diariamente por centenas de turistas".(Expresso).
Para o Grupo dos Amigos de Olivença, a escolha representa uma “indecorosa tentativa de legitimação da ocupação do território de Olivença junto da opinião pública portuguesa”. (Público)

Na altura, depois de alguma investigação no Google, fiz um poste a que também dei o título de “O melhor recanto de Espanha 2012” e, como não conhecia, projetei uma provável visita para quando oportuno.

Com o céu um pouco nublado, vento fraco e nevoeiro persistente, as condições meteorológicas predominantes não eram as mais favoráveis para gandear naquela tarde de sábado, 6 de Janeiro. Mas era Dia de Reis e, em Espanha, feriado nacional. É costume haver crianças espanholas na rua com os novos presentes “oferecidos” na noite do dia 5 pelos três Reis Magos, Belchior, Baltazar e Gaspar.
Olivença, a 236 Km de Lisboa foi, assim, a opção


A ligação entre Elvas e Olivença (Olivenza) faz-se por uma ponte sobre o Guadiana construída em 2000 ao lado das ruínas da antiga Ponte da Ajuda.


Parcialmente destruída pelo exército castelhano com barris de pólvora em 1709, a maior ponte-fortaleza da Europa foi projectada por Dom Pedro I de Portugal para assegurar a logística da povoação que se encontrava isolada no interior do território castelhano mas só em 1510 é que Dom Manuel I ordenou o arranque da grandiosa obra de engenharia militar com 380?/390? metros de extensão, apoiada sobre 19 arcos, com 5 metros de largura, 15 metros de altura e defendida por um sólido torreão erguido no centro.

A cidade (ainda chamada vila), está bem conservada, é bonita, repleta de marcas históricas lusas,  muito portuguesa/alentejana com casas de alvenaria, cal, cantaria e imponentes chaminés.
 Porém, nada mais do que isso. 
Não havia crianças na rua e os poucos adultos vagabundeavam, solitários, de semblante meio desconfiado e tristonho, falando parcamente um português espanholado ou vice-versa. Um pequeno arraial na praça principal com música sem qualidade, era a única marca de festa. 

Os nomes das ruas, topónimos e referências históricas estão mudados. A maioria dos brasões foi arrancada e os os símbolos de Portugal destruídos.


 Ruas de Olivença, desertas - 6.1.2018

Por ser feriado, os monumentos estavam fechados. Quanto a exteriores, assinala-se o Castelo, a Igreja de Santa Maria Madalena, a Igreja de Santa Maria do Castelo, a atual sede do ayuntamiento com a sua porta manuelina e outros pormenores 

O Castelo, que ficou bastante danificado durante a Guerra da Independência Espanhola (1808-1814), esteve abandonado durante vários anos. Recuperado em 1975 passou a ser a sede do Museu Etnográfico da cidade.

As Igrejas de Santa Maria Madalena (antiga Sé da Diocese de Ceuta) e de Santa Maria do Castelo

Torre de Menagem do castelo medieval e Brasão dos Duques de Cadaval

Actual sede do ayuntamiento com a sua porta manuelina e uma mostra das muitas  casas apalaçadas

Portugal ou Espanha?
Espanha é bulício, gente divertida, bem-humorada e vistosa, de movimento, de conversas audíveis e altiva.
Portugal alentejano é gente independente, alegre embora de feições duras, sobranceira no olhar, um tudo-nada desconfiada, de quadras brejeiras e muito agarrado à terra…
Logo, na época actual, os habitantes de Olivença não se "encaixam" em qualquer dos países.
Direi que a cidade parece mais um lugar de cativeiro onde se disfarça a nostalgia duma  identidade perdida. 
Os contactos entre as gentes de ambas as margens do Guadiana, são diminutos. A alfabetização (só em espanhol) na época de Franco provocou um sentimento de inferioridade nos luso falantes; tudo  foi espanholizado desde as ruas, às letras da música popular, aos apelidos. Até os termos hipocorísticos (afectivos) portugueses estão sendo  substituídos pelos espanhóis ( Zé por Pepe ou Chico por Paco, por ex.). No entanto,  as alcunhas continuam a denunciar a origem...  A entoação oliventina é  mais exclamativa e de tom mais elevado do que a estremenha em geral. Hoje já se estuda português na escola primária, mas como língua “estrangeira”

Enfim, partindo de todas estas coisas, circunstâncias e factos, acho que os oliventinos  se sentem (e são) tratados como rejeitados na sua própria terra; sofrem o complexo incutido duma história (portuguesa) de ideias e valores  inferiores.

Penso que, depois desta constatação, antes ser oliventino português (talvez com nível de vida menos elevado) do que oliventino espanhol tratado com desdém, achincalhado. Há muitas Espanhas dentro de Espanha. Nós somos um país uno de “patriotas e nacionalistas enraizados a um nível de tal maneira  profundo” (Luís Miguel Rocha) que  os oliventinos não conseguem apagar.

Segundo (PERDIDOS E ACHADOS - Portugueses de Olivença), numa reportagem feita pela SIC no Jornal da Noite de 29 de Maio de 2015, os oliventinos dizem que "os portugueses podem ter esquecido Olivença, mas os oliventinos não esqueceram Portugal. Tanto assim que muitos estão a pedir a nacionalidade portuguesa e a aprender a língua dos avós."
O corolário dessa reportagem é assim apresentado:
- "Nós fomos portugueses antes, e já seguimos falando [=continuámos a falar] o português. (...) É o nosso, aqui, falar o português! (...) Nós seremos portugueses já até que morramos. (...) 
- Então vocês são espanhóis... portanto... espanhóis diferentes? 
- Nós somos espanhóis... espanhóis portugueses, porque falamos à portuguesa! É o único, nada mais

NotaO VÍDEO foi retirado por?


segunda-feira, 12 de março de 2018

FRAGMENTOS DE VIAGEIRO


Diz Mário Quintana que “viajar é mudar a roupa da alma”.
Eu, que por temperamento sou uma curiosa de lugares, de novas vivências, culturas e paisagens, não posso deixar de estar mais de acordo. As viagens reciclam ideias, ampliam conhecimentos, argumentam pressupostos e, sobretudo, têm a habilidade de valorizar e tornar mais agradável o mundo em que se vive no dia-a-dia. Pode dizer-se que viajar é investir em páginas de bem-estar, de resiliência psicológica, de crescimento pessoal, de recordações, de poupança em médicos/medicamentos.
Logo, se “para viajar basta existir” (Fernando Pessoa), então só é preciso, nem que seja “uma vez por ano, ir a algum lugar onde nunca esteve” (Dailai Lama). 

E é isto mesmo que eu faço com frequência a lugares diversos, por motivos  relevantes ou não, em dias inteiros ou partes deles.

- Onde vamos almoçar hoje?
- Reviver Vila Nova de Mil Fontes, é uma ideia, não? Desde há duas décadas que deixou de ser um dos nossos lugares de eleição...


A baía, actualmente.

- Mas não estou a reconhecer a praia! Falta alí em frente uma ilhota de areia para onde se ia de barco. Era tão bucólico...


A antiga praia

Vila Nova de Milfontes, inserida no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina foi uma pequena vila piscatória donde partiram os pilotos que fizeram a primeira travessia área entre Portugal e Macau, em 1924.  
O forte de São Clemente (castelo de Milfontes) foi mandado edificar no final do séc. XVI para fazer face aos piratas que devastavam a região, pilhando e assaltando o povo e as embarcações
A Vila parece ter ficado suspensa no tempo. Nesta época do ano continua pacata,  muito acolhedora e com boa restauração.

sexta-feira, 9 de março de 2018

IGUAIS OU DIFERENTES?



Oito de Março, dia Internacional da Mulher... 
Adepta, ou nem por isso, desta relevância (depende dos diversos significados que lhe atribuo) como representante de uma parte da humanidade, sinto-me sempre impelida a respingar umas letras no blogue.


A primeira marcha no dia 8 de Março feita por trabalhadoras que se reuniram para reclamar por melhores condições de trabalho e pela não entrada da Rússia na Primeira Guerra Mundial, aconteceu em 1917. A partir dos anos 1960 a data passou a ser escolhida frequentemente para os protestos a favor da igualdade de género e em 1975, a ONU declarou-a como o Dia Internacional da Mulher.

A inserção feminina no mercado de trabalho, resultante da longa história da mulher em busca da liberdade de escolha e da  igualdade de direitos,” provocou alterações significativas e esse processo social adquiriu uma dimensão estrutural no mundo contemporâneo” (LEONE, 2003)

“Quanto vale o homem?
Menos, mais que o peso?
Hoje mais que ontem?
Vale menos velho?
Vale menos morto?
Menos um que outro
…”
Carlos Drummond de Andrade

Cada ser humano tem um valor único.
Ontologicamente, por derivar da própria existência de ser humano, todos têm dignidade em grau idêntico. Mas a palavra “dignidade” tem mais do que um sentido. Assim, a chamada “dignidade moral” será a bagagem que cada um constrói com o uso da sua liberdade
Prefiro defender o individuo de acordo com a sua moralidade e não um género como um todo. Os movimentos feministas actuais, em cujo centro das causas está o comportamento dos homens para com as mulheres, nada tèm a ver com Carolina Beatriz Ângelo, Zoya Kosmodemyanskaya (“Tanya”), Marie Gouze, Clara Zetkin, Millicent Fawcett, Christine de Pisan, Marie de Gournay, Mary Wollstonecraft, Harriet Tubman, Ayn Rand, Marie Curie, Luísa Alzira Teixeira Soriano, Maria Lacerda de Moura ou Deirdre McCloskey. Cada uma delas – através dos seus desejos, carreiras e aptidões - lutou pelo direito de igualdade perante a lei e pelo direito de ser livre, inspirando outras mulheres a acreditar no valor das suas individualidades e propósitos. Não se anularam. Não usaram o corpo para ultrapassar os obstáculos do seu tempo. Foi com o desenvolvimento intelectual que provaram que nenhum homem é superior a uma mulher.  




Negar as diferenças entre homens e mulheres, é negar o papel da  biologia. Elas já aparecem no primeiro dia de vida.  

De acordo com experiências de Simon Baron-Cohen e colegas, ao serem apresentadas, simultaneamente, a fotografia do rosto de uma mulher e de um móbil mecânico a 102 bebés recém-nascidos, de sexo ainda não revelado, o filme registou a atenção prestada por cada um em cada objecto e a análise mostrou que mais meninos preferiram olhar para o móbil mecânico e as meninas para o rosto (Miller & Kanazawa, 2007).  Em todas as sociedades humanas conhecidas, principalmente entre os mamíferos, os machos são, em média, mais agressivos, violentos e competitivos e as fêmeas, em média, mais sociáveis, atenciosas e dedicadas à criação, nutrição e educação (Pinker, 2004; Miller & Kanazawa, 2007). O perigo está na aplicação das generalizações estatísticas a casos individuais, que podem ou não ser excepções  (Miller & Kazanawa, 2007).
As mulheres que eu admiro, incutem a nunca deixar que nenhum homem ou qualquer outra pessoa, nos faça sentir inferiores ao que somos.