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sexta-feira, 28 de setembro de 2018

VIDA EREMÍTICA


“Um monge vive em solidão nesta rocha de 40 metros de altura com mais de dois mil anos de história”. (Viagens Sapo, 25 Setembro de 2018 por Susana Sousa Ribeiro)



Intrigante, não?

Porque se escolhe viver assim, foi a pergunta que me levou a explorar um pouco sobre a eremitagem.

Neste caso, de acordo com a notícia, Maxime Qavtaradze, monge ortodoxo georgiano, em 1993 mudou-se para o pilar Katskhi, em Imerícia, na parte ocidental da Geórgia, com vista para o vale fluvial de Katskhura depois de receber os votos monásticos.
Antes da chegada do cristianismo acreditava-se que era um local sagrado onde os pagãos, há mais de dois mil anos, realizavam rituais dedicados ao deus da fertilidade. Com o advento do cristianismo, a coluna tornou-se símbolo de desapego do mundo.
No início, o monge teve uma vida muito difícil - dormia num frigorífico antigo.

"E à hora crepuscular
Tudo no cume escurece
Pirilampos do cume saem
Tudo no cume arrefece"
(Compositor?)

Depois, alguns cristãos renovaram a igreja abandonada e construíram uma casa para ele viver. 
Foi - se aproximando de Deus e abandonando o passado.  Desce à base do pilar duas vezes por semana, através de uma escada de ferro, para rezar num pequeno mosteiro e dar conselhos aos jovens problemáticos que o procuram.

Os exemplos são muitos:



Viktor, de 57 anos, decidiu levar vida de eremita há cerca de dez e vive instalado numa cabana de madeira numa região isolada da Sibéria, a 55 quilómetros da cidade Krasnoyarsk. O ex-barqueiro, descoberto pela Reuter, revelou que sobrevivia comendo peixe, frutos, cogumelos e outros alimentos que vai  encontrando. Fez um chapéu para ler a Bíblia diariamente porque tem por ela uma enorme paixão.(DN)


Eremitas bielorrussos vivem há 20 anos sem gás, eletricidade e água canalizada.

(site com 54 fotos)
https://www.mdig.com.br/index.php?itemid=26536&catid=5


Mauro Morandi, ex-professor de educação física, é o único habitante da ilha de Budelli, em Itália, desde 1989. Diz ter encontrado o seu lugar no mundo por mero acaso - quando viajava de barco perdeu o motor perto da pequena ilha, entre a Sardenha e a Córsega. Utiliza o Twitter, Instagram e Facebook  para partilhar imagens do “verdadeiro paraíso natural, onde a única agitação existente é a das ondas do mar”

https://viagens.sapo.pt/viajar/viajar-mundo/artigos/unico-habitante-de-ilha-italiana-da-a-conhecer-o-paraiso-nas-redes-sociais#&gid=1&pid=7


Anta da Candeeira (O buraco da alma)

“A Serra d’Ossa já lá estava plantada no meio da planície, imponente nos seus 653 metros de altitude. Mas foram os monges eremitas que a moldaram ao longo dos séculos e lhe deram a magia que hoje encerra.” (Jorge Montez, em Portugal de Lés a Lés)





A palavra eremita vem do Latim eremus  (deserto) e designa, originalmente, aquele que se retirava para o deserto a fim de lá viver entregue a Deus na oração, no silêncio e na solidão. 
Para efeito de legislação canónica, há dois tipos de eremitas: os que são ligados a uma Associação ou Instituto reconhecido pela autoridade eclesiástica competente, com sua Regra de vida própria e os autónomos, regidos pelo cânon 603 do Código de Direito Canónico, de 1983 (Aleteia), ou seja, eremitismo autónomo, diocesano , monástico e recluso (muito raro) e eremitismo autónomo, independente

CÂN 603§ 1. Além dos institutos de vida consagrada,  a Igreja reconhece a vida eremítica ou anacorética, com a qual os fiéis, por uma separação mais rígida do mundo, pelo silêncio da solidão,  pela assídua oração e penitência, consagram a vida ao louvor de Deus e à salvação do mundo.


Segundo o Dicionário Online de Português, eremita é:
- Pessoa que, através de penitência, habita lugares despovoados e/ou isolados.
- [Figurado] Pessoa que evita o contato social; que tende a viver sozinho(a) e/ou buscar a solidão; ermitão.
- Sujeito que toma conta de um ermida.

A tendência para o isolamento social involuntário  (Transtorno de Ansiedade Social) quando o indivíduo é incapaz de lidar com a ansiedade provocada por contacto com outras pessoas e o trauma psicológico que pode conduzir ao isolamento total, podem confundir-se com a verdadeira vocação para o eremitismo 

A diferença entre os eremitas leigos e diocesanos está no “Status”- uns são consagrados reconhecidos pela Igreja, enquanto outros vivem uma consagração em dimensão oculta e espiritual. Não há nenhuma uniformidade no uso do hábito.

Imagens de eremitas:





Fazendo uma análise a factos passados,  penso poder encaixar aqui um primo de 2º grau, J.S.F., apelidado de "santo". Era solteiro, solitário, singelo, bucólico, assíduo frequentador da Igreja e parecia ficar escandalizado com peles bronzeadas pelo sol da praia, no Verão.
Embora diferente nalgumas das particularidades acima referidas, também julgo poder incluir neste conceito a minha professora de Português/Matemática /Desenho, a religiosa (irmã) M.R.D.F. Evitava falar com as alunas nos recreios, recolhendo-se no quarto a rezar ou a ler. Assídua frequentadora da capela do Colégio, parecia ficar em êxtase, completamente absorta na contemplação de Deus durante tempo sem fim. Movida pela curiosidade de tal atitude, foram várias as vezes que resolvi ficar ao lado para tentar compreender (em vão) aqueles arrebatamentos...

Em suma: como marco final desta ligeira busca, só posso registar que fiquei com a sensação de que o eremitismo é, para mim, um tema sem qualquer espécie de interesse. Direi mesmo que nem o acho salutar e edificante.


Imagens Google

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