Número total de visualizações de páginas

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

O CAFÉ NO CAFÉ


O café tornou-se um hábito na vida dos portugueses. Quem, de norte a sul do País, resiste a um café logo pela manhã ou a seguir ao almoço ou mesmo a meio da tarde?

E não é, por acaso, um mau hábito porque, segundo especialistas de diversos países, quando bebido com moderação, tem mais benefícios do que malefícios.

Talvez por isso, também o pequeno almoço, hoje em dia, é tomado  diariamente no café.  Logo nas primeiras horas, ali se “encontram” as pessoas de diferentes profissões, idades e origem social para, apressadamente e ao balcão, tomarem a sua “bica” com uma torrada bem barrada e/ou bolinho.

Fernando Pessoa, poeta e escritor,  usava o café para as tertúlias com os amigos e para escrever. Ao contrário dos que “mal entram, logo saem”, ele,  Almada Negreiros, outros  escritores, poetas, artistas em geral, ficavam “até o sol cair”

Assim acontecia no Martinho da Arcada“café eleito pelas várias gerações de governantes, políticos, militares, artistas e escritores, ao longo de mais de dois séculos, "como ponto de encontro privilegiando com um espaço de convívio singular “. A mesa que Pessoa ocupava (e de mais alguns, posteriormente) ali se  mantem com o seu nome. 


E na Brasileira do Chiado, espaço centenário que preserva o charme e a elegância originais desde 1905, onde se pode “ fazer uma viagem no tempo”


Ou ainda na Brasileira do Rossio que surgiu em 1911, seis anos depois de A Brasileira do Chiado e fechou em 1960. 
Hoje é uma agência do Millennium BCP


Também houve um tempo em que Fernando Pessoa, para tomar um cálice de aguardente, passava peltaberna do Abel Pereira da Fonseca, um importante empresário  do século XX , cujo império ocupava quase um quarteirão inteiro no centro de Marvila com produção, comercialização e distribuição de vinhos e licores. No interior existe uma imagem do escritor ao balcão a beber um copo de vinho legendada por Ofélia que diz: "Flagrante delitro”.




Abel Pereira da Fonseca era natural de Malpartida, freguesia raiana, rica em  construção histórica como a igreja matriz de estilo romântico. Tem também vestígios arqueológicos importantes de diversas épocas - sepulturas cavadas na rocha localizadas na área de Nave de Mouros, e a atalaia que se julga ter sido erguida no tempo da Guerra da Restauração. 

Penso ter alguma ascendência neste lugar, bem perto da aldeia onde nasci e onde também há dois ou três cafés. 

Num deles, todas as manhãs, logo cedo ( não sei precisar bem a hora), reúnem-se  as “amigas,” que ora o são, ora não o são, e  lá vão ficando, com a ajuda de uma cervejinha, no exercício da troca de fofocas, enredos, mexericos e  conspirações secretas (a união faz a força!) no caso serem necessários apoios para a aprovação das suas actividades. A intriga, assunto principal do cavaqueio, tem como finalidade converter o lesado "não amigo" em inimigo malévolo e o prevaricador, em  vítima.



- As janelas estão abertas…

(Desaceleram -se os passos e ciciam-se as vozes até à entrada no café).

Esta não é mais a aldeia de que eu tanto gostava - uma grande família de primos e Tis, agradável e acolhedora - "que venha quem vier por bem"... 
Começo a sentir saudade.


Imagens Google

Sem comentários:

Enviar um comentário