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sábado, 15 de outubro de 2022

BÁLSAMO DE ALDEIA


Nos princípios de Outubro passei dois dias na minha Aldeia aonde, por motivo de várias e progressivas complicações, tem sido cada vez mais difícil deslocar-me.

Não, não é hoje uma aldeia das mais belas nem tem, tão pouco, qualquer semelhança com a que foi das vindimas “cantaroladas” / pisa da uva, do fervilhar de movimento da estação ferroviária, do caudaloso rio Noémi quase arrancando as poldras polidas, da azáfama no forno comunitário ou dos infindáveis rebanhos de ovelhas e cabras.

Todavia, encravada num vale, não deixa de parecer, como quase todas, um local meio fora da realidade, uma “paragem” no tempo que faz esquecer os dias cansados e as rotinas demolidoras.

À noite, sobretudo, gosto da ruralidade daquele silêncio revigorante.


Da minha varanda, "Pelo canto da tarde nas tardes do canto o encanto do sol a abalar", não se vê vivalma…
Desta vez, senti mesmo um silêncio quase  mortal. Nem o costumeiro zumzum do Café em frente se ouvia. A porta estava fechada.

Mistério! 

- A G. morreu. Não sabias?
- Pois não.
- Andava doente há algum tempo mas não se queixava. Dizem que tinha o "fígado desfeito". Veio gente de todo o lado ao funeral… Ela dava muita vida à Aldeia. E  o filho, que era chefe de cozinha nas Termas do Cró, foi atropelado por um comboio há uns dois anos. Também era muito alegre. Sempre que o Benfica ganhava, "deitava foguetes"; ele era o único simpatizante. Aqui são todos do Sporting.  

E assim acontece.


2 comentários:

  1. Até as poldras deixaram de ser polidas pelo Noémi, porque desapareceram...

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  2. Pois, quando falo das poldras, é da tal aldeia que já foi. O desenvolvimento deve fazer-se conservando o património. E as poldras são um importante património popular, testemunho do viver de outras épocas. Teriam sido ali colocadas, penso, para ligar uma parte da povoação antiga às “eiras”, que fiavam do outro lado, na chamada “estação,” aquando da construção da linha férrea da Beira Alta.

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