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terça-feira, 19 de junho de 2012

USANÇAS DO TEMPO - I




Porque a moda é algo dinâmico que muda num breve espaço de tempo, interfere na sociedade separando-a por décadas ou até séculos e é também uma projecção sócio histórica que reflecte um tempo de vida muito curto, falar um pouco do seu universo é tentador, ainda que de forma muito superficial.
A roupa era feita com peles de animais e os humanos começaram a vestir-se para se defenderem do frio e da vegetação quando precisaram de procurar alimentos. Porem, desde muito cedo se enfeitaram com colares de pedras coloridas e adornos de chifre polido. A moda não existia.






ANTIGUIDADE 

IDADE ANTIGA - (4.000 a. C. com a escrita cuneiforme, até 476 d.C. com a tomada do Império Romano do Ocidente pelos Bárbaros e início da Idade Média - Séc. V ou Período Bárbaro) 

Diversos povos se desenvolveram neste período que constituíram as civilizações Egípcia, Mesopotâmica, Hebraica, Fenícia, Persa, Hindu, Chinesa e Cretense (Antiguidade Oriental) e as civilizações Grega e Romana (Antiguidade Clássica)

Os trajes dos povos da Antiguidade em geral eram muito semelhantes entre si embora com algumas variantes.


Enrolavam  também outro quadrado sobre os ombros, atado com um broche (Egipto, Grécia, Roma) e usavam tipo bota de couro com a ponta ligeiramente levantada.
Neste período, surge o tecido feito em tear que passou então a ser utilizado como traje

A vestimenta básica era o Chanti, uma espécie de saia curta ou pano que envolvia o quadril nos homens e cobria todo o corpo nas mulheres.
O traje do faraó e da sua corte era o Kalasyris ornamentado com pedras preciosas. As mulheres usavam a Loriga como traje especial e a Túnica de Isis. Beleza e ostentação foram sempre caraterísticas dos Egípcios. O traje de gala dos homens era complementado por uma peruca frisada ou por um pedaço de tecido amarrado sobre a cabeça descaindo para os ombros, o claft.


                                                       Kalasyris



A maquilhagem moderna deve ter tido origem aqui e a joalharia além de decorativa tinha significado mágico e religioso.

 
Bárbaros - As vestimentas dos Celtas (séc. VI a. C. a I d. C.) eram muito compridas, de material vegetal, couro ou lã e os sapatos de sola grossa atados no pé. Como guerreiros que eram, vestiam trajes militares que foram aperfeiçoando. Eram apaixonados por joias e colares e as mulheres usavam maquilhagem.


Na Grécia Antiga cultivou-se o estilo de beleza baseada na simetria de ombros e em decorações de origem arquitectónica, apresentando a roupa uma linha de forma rectangular (Quiton) presa nos ombros e debaixo dos braços. Nos adultos chegava até aos tornozelos e nos jovens, até aos joelhos. A vestimenta feminina era bastante decotada

Na Roma Antiga, o traje foi influenciado pelo grego. As mulheres vestiam túnicas longas com mangas. A partir da época imperial ambos os sexos começaram a usar novos acessórios e indumentárias. Os símbolos aplicados na joelharia eram o Cupido, as aves e cenas mitológicas.

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Poderia referir-me a outros povos de grande influência na evolução da moda como Creta, a maior ilha do Mar Mediterrâneo e Etrúria na actual Toscana, os antecessores dos romanos que deixaram grandes marcas nos povos da Península Itálica, mas o tema tornar-se-ia cansativo.

IDADE MÉDIA - (séc. V ou Período Bárbaro até séc. XIV) 

O Império Romano conheceu um longo processo de desestruturação devido à grande extensão das suas fronteiras e em 476 o Império do Ocidente não resistiu, dando origem a um novo tipo de sociedade, a sociedade feudal. Este acontecimento assinalou a passagem da Antiguidade para a Idade Média na Europa Ocidental. O Império Oriental ainda sobreviveria por quase mais mil anos, até 1453.
Os feudos
Com as cidades despovoadas, o declínio do comércio e da produção artesanal, os latifúndios perderam importância. As vilas que, entretanto, se formaram e as relações estabelecidas com os senhores, deram lugar ao sistema feudal.

A Igreja era a maior e mais poderosa instituição do período, transformando-se no elo de ligação entre a população e garantindo uniformidade cultural à Europa Ocidental. Influenciou a política e as normas sociais, legitimando o poder dos senhores feudais ao sagrá-los reis. Os membros da sua hierarquia eram recrutados pelos nobres.
Instituiu-se assim uma sociedade feudal que só viria a declinar por volta dos séc. VII e IX e que era constituída por 3 classes:
O Clero - Cuidava da fé cristã
A Nobreza - Responsável pela segurança e guerra
O Povo/ Servos -Trabalhavam para toda a população

Neste mundo feudal, a diferença entre as classes sociais era abismal e, logicamente, também o vestuário. Devido à estratificação da sociedade em ordens e ao poder económico, poucas pessoas se podiam dar ao luxo de vestir com elegância.
Vestuário na Idade Média

O traje adquiriu formas que se mantiveram, mais tarde, como características europeias. Segundo Kohler, entre os séculos XI e XIII os trajes ainda se “baseavam nos tipos que se tinham desenvolvido próximos a meados dos primeiros milénios resultantes da mistura de modas nativas como aquelas do final da Antiguidade”.

Bizantinos 



Séc. XII - Quanto maior o bico do sapato, mais importante hierarquicamente!

A moda não apresenta a história em períodos definidos e com características próprias. Antes da metade do século XIV quase não aparece pois, segundo Lipovetsiky, 1989, “[…] sem estado nem classe e na dependência estrita do passado mítico, a sociedade primitiva é organizada para conter e negar a dinâmica e mudança e da história".

O império Bizantino teve a influência da moda da Europa ocidental.
As bizantinas da classe alta vestiam túnicas de seda e fiapos com muitos acessórios e enfeites e as das classes mais baixas, túnicas simples. Os imperadores e as damas da corte usavam também um manto sobre as túnicas.

Foram as cruzadas que despoletaram as caraterísticas da moda da época medieval. 
No século XII, como consequência imediata das cruzadas, inicia-se a expansão comercial na Europa e com ela o crescimento das cidades e a decadência do trabalho servil, característica feudal. Um grande número de trabalhadores integrou-se nelas e outros fugiam para as actividades urbanas. Contribuíram para aumentar a circulação de pessoas e de riquezas.


Com a criação de ovelhas e o cultivo do linho, as famílias começaram por fazer as roupas em casa. Com o desenvolvimento económico surgiram lojas especializadas dirigidas por tecelões e alfaiates; apareceram feiras e mercados.
As túnicas e os penteados pouco se modificaram em relação à época anterior.
O vestuário era de cores fortes e estampados clássicos ou às riscas e as sobrevestes imitavam os trajes dos cruzados. Os nobres usavam capas compridas de veludo e colarinhos brancos. Os sapatos eram de couro, pontiagudos. Os burgueses enriquecidos pelo comércio imitavam os trajes dos nobres mas estes, para se diferenciarem, logo inventavam outros diferentes e assim por diante



Em todo o século XIV e até meados do século XV, a peste negra, a guerra dos 100 anos e o poderio feudal não permitiram que o vestuário medieval evoluísse

Século XIII

RENASCIMENTO - (1500 a 1550)

Com o advento do Renascimento na Península Itálica no séc. XIV, a queda do império Bizantino, o crescimento das cidades na Europa, o desenvolvimento do artesanato, a Europa Ocidental tomou a liderança na produção de roupas

 

Os homens (jaqueta até às pernas, polainas, um turbante e sapatos pontiagudos) e as mulheres da nobreza, passaram a usar roupas mais pesadas e grande variedade de chapéus, moda que já vinha da idade média. As toucas de linho atadas sob o queixo foram desaparecendo e as roupas tornaram-se mais púdicas. Há também a destacar nas classes dominantes masculinas, as roupas sobrepostas. O Povo, longe das modas e da corte, usava roupas simples, tristes e até remendadas - toucas e coifas, gibões compridos de burel, calças e blusas justas e vestidos simples.

Renascença e reformas - (1550 a 1700)
No séc. XVI a moda europeia era de influência espanhola, com grandes colarinhos no pescoço mas no séc. XVII já os franceses dominavam a Europa, exceto a Espanha. Também no Reino Unido não se importaram com esta mudança, usando apenas roupas simples


É chamada a “Época das Grandes Navegações”; a América foi descoberta, abandona-se de vez a era medieval e as cortes europeias optam pelo vermelho nas roupas, conseguindo-o muitas vezes através do uso do pau-brasil.

No séc. XV os tecidos em voga eram os linhos, algodão, lãs e sedas italiana e bizantina; para a noite, o cetim. O comércio marítimo com a Companhia das Índias Orientais teve grande influência no modo de vestir e na influência cultural.
Apareceu um novo espírito de vontade de saber, favorecido pela divulgação da imprensa e pelo aumento das universidades, modernizadas pelo Humanismo. A ascensão da burguesia desorganizou o sistema rígido das ordens medievais e deu origem a um estilo de sociedade mais individualista por um lado e de maior sociabilidade por outro. A expansão por via marítima permitiu um maior intercâmbio cultural e Copérnico, ao descobrir o sistema heliocêntrico, tirou poder à Igreja e às teorias dos antigos.


No séc. XVI o traje masculino espanhol não sofreu grandes alterações; influenciado pelo estilo italiano, era composto por ” meias longas e justas, calções até aos joelhos, golpeados, um gibão também golpeado e não justo, vários tipos de sobrevestes, um barrete em forma de capuz e sapatos de salto baixo e bico arredondado”, segundo Kohler. Para o sexo feminino, a partir do séc. XV eram sempre confeccionadas duas peças - saia e corpete justo na cintura, deixando ver uma blusa com mangas franzidas e adornadas com laços.
Já no séc. XVII, quase todos os países europeus começaram a abandonar o estilo espanhol e a usar estilos mais naturais. A guerra dos trinta influenciou os jovens a andar de botas e esporas na Alemanha, dando-lhe uma feição guerreira e o traje feminino também se aproximou mas por pouco tempo
Por volta de 1620, as rendas bordadas com ouro e pérolas, os feltros, as musselines, chamalote e tafetá, veludo frisado, cetim e adamascados eram os tecidos chiques para confecionar vestidos em Espanha, Itália e França. O damasco foi descoberto pelos cavaleiros das Cruzadas na cidade de Damasco, Síria.

Durante centenas de anos vieram para a Europa sedas ornamentadas do Oriente, feitas pelos chineses. No séc. XVII os tecelões italianos associavam motivos culturais da Antiguidade clássica com pinceladas humanistas e naturalistas e em vários estados dos E.U. cultivava-se o algodão.

Os vestidos eram encorpados e brilhantes em tons de amarelo, verde e vermelho, o corpete em bico e a saia abrindo volumosa para os lados. Os homens usam calças curtas até aos joelhos e “enchimentos” para evidenciar virilidade (moda lançada por Henrique VIII).

 Aristocracia e classe trabalhadora (cores, tecidos e adornos, diferentes, de acordo com classe social e ocasião)

Agora também os burgueses se vestem como os aristocratas mas com material inferior e as pessoas do povo, alheias à moda, continuam a usar modelos da época medieval Na 2ª metade do séc. XVIII deu-se uma grande revolução na moda na busca de um estilo simples, confortável e prático. Os trajes masculinos ficaram mais justos mas nas mulheres, só depois de 1780 é que as "anquinhas" começaram a desaparecer dando lugar aos ponches, mantendo-se, no entanto, os corpetes. Os vestidos vestem-se de acordo com as estações do ano, com armações de metal e uma anágua. As roupas interiores das damas são tão caras como as do vestuário dos populares e enchem-se de joias, braceletes, faixas. Os homens usam calças até ao joelho, meias e sapatos feitos pelos melhores sapateiros da Europa. As camisas são vistosas e com rendas e tanto homens como mulheres, põem perucas.


Imagens Google
http://www.egyptologyonline.com/chronology.htm
http://www.egyptologyonline.com/dress.htm
KÖHLER, Carl. História do vestuário. São Paulo, Martins Fontes, 1993.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

FESTAS DOS SANTOS POPULARES


do blog leiturasliteracias.blogspot.com
BE/CRE de Silgueiros - Viseu

Ao interrogar-me sobre quando começaram as festas em homenagem aos santos populares, o porquê destes três santos e no mesmo mês, resolvi procurar algumas dicas na Net sobre o assunto.
Depois de várias buscas, apenas o padremario.site se refere a isso em forma de lengalenga um pouco extensa (introduzindo até o  tema “Fátima" que, quanto a mim, acho despropositado) e do qual passo a transcrever alguns extractos:









«Dizem as pessoas que hoje é o dia de Santo António, o primeiro dos três santos populares, cujas festas caem todas no mês de Junho. A maior de todas é a festa de São João, o Baptista. A de Santo António é como que a preparação da de São João. E a de São Pedro, em 29 de Junho, tem já sabor a despedida.
A Igreja católica está com as três festas. Ao contrário das outras Igrejas (...)a Igreja católica gosta muito de imagens de santos e de santas, sobretudo populares…
O que as pessoas hoje não sabem (…) é que na origem de cada festa popular, também destas três do mês de Junho, não está nenhum santo, nenhuma santa.
As festas populares existem muito antes dos santos e das santas, que hoje lhes andam associados, terem nascido. Muito antes do próprio Cristianismo ter surgido, como via alternativa ao judaísmo e a todas as religiões monoteístas e politeístas (...)
Os próprios santos católicos que, oficialmente, ainda as patrocinam, não são mais os santos que os eclesiásticos e os clérigos fabricaram. São santos humanos, em tudo iguais aos demais humanos. Folgazões, namoradeiros, casamenteiros, que gostam de tudo o que os humanos sem, repressões, gostam. São santos sem templos e sem altares. Sem cultos rígidos e estéreis. Sem sacrifícios. Sem cilício. Sem penitências. Sem jejuns forçados. São santos com corpo. E sexo. Que comem bem e bebem melhor. Como de Jesus se diz, no Evangelho, que comia e bebia(...)
As festas populares são todas de origem pagã. Remontam ao tempo em que os povos, no Ocidente, viviam sob o jugo das religiões politeístas e prestavam cultos públicos às imagens das deusas e aos deuses, em redor dos seus santuários mais ou menos sumptuosos ou luxuosos.
O mês de Junho é o mês do Sol. Tal como o mês de Dezembro. Mas em pólos opostos. Em Dezembro, os povos antigos pensavam que o Sol morria e voltava a nascer. A festa de Natal, em 25 de Dezembro é, originalmente, a festa de natal do Deus Sol. No mês de Junho, o Sol alcança o seu ponto de maior pujança, o seu clímax. Os povos experimentam-no mais perto deles e, na sua satisfação colectiva  saltam para as ruas a festejar a idade adulta do Deus Sol, a sua maturidade, o seu vigor, a sua força de calor. A sua invencibilidade. Fazem-no no ao nascer do dia 24 (os dias, para os antigos, começavam logo após o pôr-do-sol, e não à meia-noite), três dias depois – ao terceiro dia! – do começo do Verão, o dia 21, o maior do ano.
As coisas já eram assim, antes do Cristianismo. Já eram assim, quando Jesus de Nazaré nasceu. Já eram assim, quando as comunidades cristãs primitivas surgiram, anos depois da morte/ressurreição de Jesus. E as comunidades cristãs não se preocupavam demasiado com isso.
É certo que, no início do Cristianismo, há uma luta contra a idolatria. Mas não contra as festas populares propriamente ditas (...)
...
Tudo, porém, se alterou, quando, no início do século IV, o Cristianismo passou da condição de comunidade de comunidades cristãs perseguidas a religião oficial do Império romano. E, sobretudo, quando, alguns anos depois, com a proibição e a repressão dos cultos politeístas…
As populações viram-se, então, privadas das suas festas (…)
Estas festas são momentos de liberdade, de comunhão, de fraternidade/solidariedade, de dignidade, de protagonismo das populações…»




As festas dos Santos Populares têm, nas sardinhas, o seu maior símbolo. Nestes dias a fumaça dos braseiros espalha o cheiro por toda a Lisboa. 
Lê-se por toda a parte - restaurantes, cartazes de propaganda turística - “ HÁ SARDINHAS ASSADAS!”



Nas diversas freguesias os arrais são percorridos por uma massa de gente em busca das boas sardinhas acompanhadas de pão rústico ou saloio, salada de pimentos, cebola e tomate, bem regadas com azeite e acompanhadas por sangria ou vinho tinto (recentemente os jovens preferem cerveja). Há música variada bem difundida pelo bairro e arredores
Os festivais da sardinha fazem-se um pouco por todas as cidades e localidades e em muitos deles é comida gratuitamente.



O Bairro de Alfama, mais antigo e tradicional, de ruas estreitas pejadas de gente e assadeiras, ao som do fado (agora já não só!) é o mais procurado.
E era também o preferido pelos grupos de jovens do meu tempo onde, de mãos dadas se faziam rodas bailando e cantando (apenas) ao som do fado. No Largo havia algumas mesas com toalhas aos quadrados de cores vivas para os sortudos. Uns amigos outros amigos traziam e a festa prolongava-se percorrendo os vários Bairros até de madrugada, de manjerico na mão, com quadra alusiva aos santos e ao sentimento de quem o oferecia.

Destaco Lisboa porque foi aqui que passei essa fase da minha juventude.

Fiz escala no Porto numa noite de São João mas não me agradou muito a "batalha" do alho-porro. E também não sou adepta da actual martelada.


Algumas quadras populares nos manjericos:

Em Junho todos bailam
É assim a tradição
Nas ruas enfeitadas
Lá de cima até ao chão

Se fosse o cravo vermelho
Que trazes sobre o peito
Por muito que fosses velho
Não te guardava respeito

Ó meu rico Santo António
Ao colo tens o Menino
Põe-me a mim no outro braço
Que ainda sou pequenino.

Cravo, manjerico e vaso
E uma quadrinha singela
Tudo lhe dei… Não fez caso!...
Pronto! Não caso com ela.

Ao saltar duma fogueira
Na noite de São João
Não sei bem de que maneira
Chamusquei o coração.

No dia de São Pedro
Vamos todos à sardinha
Este ano vou escolher
A que for mais pequenina.

Imagens Google

domingo, 10 de junho de 2012

A AMOREIRA


Quando a minha família era imensa (primos e tios), nós, os miúdos, e  nas primeiras classes escolares, passávamos os dias "em constante movimento" - o que vamos fazer hoje…, agora…, etc.


Comer amoras, além de ser um divertimento era, também,+ uma delícia (qual a criança que não gosta ainda?).

E assim, quando nos apeteciam as silvestres, corríamos para o Espadanal onde havia uma parede de encosta, a dividir a horta da vinha, pejada delas. As silvas (amoreiras silvestres) com longos caules curvos e muitos espinhos curtos e aguçados, prolongavam-se por todo o muro, através de raízes laterais que iam brotando quando os caules tocavam o chão. As flores eram brancas ou rosadas e as amoras, fruto agregado, era de cor vermelha primeiro, ficando preto e doce depois.

Silvas

Aí também se “aproveitava” para subir à enorme cerejeira ou às várias macieiras, muitas vezes de fruto ainda verde.

Mas o melhor dia era aquele em que decidíamos comer as grandes amoras pretas, da também grande amoreira que crescia em frente da casa da tia Zefinha. Devia ter uns 4 m de altura, tronco rugoso, copa redonda e folhas com uma ligeira pilosidade; não me lembro de lhe ter visto as flores.

Local onde cresceu a amoreira 



O primeiro desafio era trepar; e, lá em cima, depois de saciados, era só pular para o  chão.
Só?
Seria, se os vestidos não ficassem da cor das amoras; se as mãos e os lábios roxos não nos fizessem parecer palhaços; se as manchas saíssem facilmente; se as nossas mães não se zangassem tanto conosco, fazendo-nos prometer que não aconteceria mais, quando havia a certeza de que a promessa não seria cumprida…

Passaram muitos anos!  Mas continuo a gostar de amoras: como fruto, em sumo, tarte, gelados… 

E hoje, ao saboreá-las, o presente tornou-se memória.


Gratinado de amoras 
 

Batido de amoras

A amoreira teve provável origem na China ou Índia. Todas as partes da planta são utilizadas na medicina popular. As folhas da amoreira branca são o único alimento do bicho-da-seda da amoreira. São ricas em vitamina C e A. 
Dieta de chá de amora emagrece?


As amoras




















O meu país sabe às amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.
Eugénio de Andrade "O Outro Nome da Terra"



Imagens Google