Tinha acabado de fazer o meu post quando, por acaso, encontrei um blog com a imagem que tomo a liberdade de reproduzir, juntamente com uma frase que encaixa exatamente no que eu penso:"Portugal perdeu-se. Perdeu a identidade e o amor por si."
Portugal já não ri. Não me lembro de ter vivido num País tão triste e tão depressivo.
É!
Gostava mesmo de interromper este enorme cansaço duma política dominante que proíbe o fim da crise, que dispara a dívida pública com “austeridades” insanas e que se afunda à medida que a economia encolhe e a receita fiscal baixa, numa recessão cada vez mais profunda!
O ideal, o melhor antídoto, seria ir de férias. Para uma estância
muito … longe!
Seria.
Mas não posso.
O IRS aumentou e as taxas sobre rendimentos também; a
contribuição para ADSE desceu; a sobretaxa de 4% do IRS é aplicada mensalmente;
as pensões sofreram mais cortes; a electricidade vai subir 2,8%; o subsídio de
férias já era; o Assis não quer andar de Clio; os políticos não não prescindem de regalias; e se houver restos, lá estará o
BPN no assalto com o saco sem fundo.
Continuo, todavia, com a faculdade de as fantasiar.
E assim, sem
dinheiro, vou começar por imaginar passar uma semana em Méribel (Savoie), nos Alpes franceses.
É uma estância elegante e aprazível que preserva um selo
único de tradição e tranquilidade, instalada no domínio de 3 Vallées, com clientela internacional,
repleta de confortáveis chalets
construídos com materiais da zona.
De “grande esqui”, contribui para recrear o espírito dos
que sabem esquiar mas também o dos que não sabem, como eu.
Há trens de cães, bons meios mecânicos de acesso aos
vales, cinema, discoteca, casino.
Em paralelo com as pistas preparadas na floresta do
aeroporto, há um percurso pedestre e raquetes de neve para quem quiser
experimentar umas quedas divertidas.
A seguir, e porque já estou nos Alpes franceses, vou instalar-me outra semana na famosa Estância Termal “Uriage-les-Bains”, um lugar lindo com várias estórias de personalidades famosas que por lá passaram e uma fonte termal rica em sais minerais, a 15 km de Grenoble.
Posso usufruir da indicação médica para a reumatologia.
Não deixarei de entrar no Restaurante “lés Terrasses”, o mais chique do Hotel e mesmo da região, onde a ementa consta geralmente de 5 entradas, “amuse-bouche”, 21 bonitos e fantásticos pratos (entre principais e sobremesas) e uns Chateau tinto e branco.
Antes do jantar haverá a sessão de hidroterapia com banho de lama, massagem e hidromassagem com águas d’Uriage.
Que óptimos 15 dias!
Mas ainda faltam duas semanas para prosseguir no meu
devaneio... de "rica" graças
às offshore, aos cargos políticos, aos “amigos”, às PPPs, aos lugares de gestor
ou consultadoria nas grandes empresas, à acumulação das fantásticas várias
reformas, à sui-géneris democracia portuguesa.
Até custa a acreditar como é que tudo aconteceu
assim… tão facilmente...
E se agora optasse por um destino exótico, num cantinho
ao sol, nas águas quentes e transparentes das praias de areia fina nas Ilhas
Baleares?
Ou por zarpar até Machu Picchu, no Peru! Viajar por cima dos
Andes, lagos isolados, vilarejos remotos, Cusco, Lima…
Não, irei sentir-me melhor muito mais longe!
Poderá ser até numa outra fatia (uma das suas ainda 16 colónias!) do modus vivendi francês - sem querer com isto demonstrar que os franceses são
meus predilectos - A Nova Caledónia.
Mas porque é uma ilha perfeita, cabal, de beleza natural fantástica
no coração do Pacífico, rodeada por um mar verde-esmeralda de águas quentes,
cheia de praias de areia branca, tesouros ecológicos, boa cozinha, resorts
de luxo e de charme cosmopolita.
Depois há os desportos náuticos e radicais - surfing,
windsurfing, vela, parapente, mergulho, canoagem - e ciclismo, caminhadas, passeios de
canoa que lhe conferem o exotismo absoluto, a emoção, o
deslumbramento, mesmo para quem não pratica muitos destes desportos.
O colorido dos peixes tropicais, as comidas típicas deliciosas,
a multifacetada, cativante e acolhedora população e as mais de 700 espécies de
corais são ainda outros ingredientes para completar o fantástico e
despreocupado cenário de férias das minhas duas últimas semanas.
No inverno o clima é mais temperado e agora, de Novembro a Abril é mais húmido, mas o que não faz falta mesmo é um terramoto semelhante ao de
14 de Janeiro de 2011…
Ironicamente, neste momento, até à fantasia de "ser rica muito longe" vou ter que renunciar porque, na realidade, apenas posso continuar a falar de uma "estância muito específica" onde ninguém gosta de passar férias.
Por enquanto, nesta categoria, ainda é daquelas onde este deprimente País vai fazendo a diferença quando confrontado com outros.
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