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"Quando Lisboa vem cantar prá rua
Para alegrar os nossos corações
Parece que no céu a própria lua
Se debruça a ouvir suas canções
Os bairros da cidade estão em festa
Os santos saem na rua aos seus altares
E não há noite alegre como esta
Que é dedicada aos santos populares!"
Após algumas rupturas pelo meio, os festejos dos
Santos Populares regressaram a Lisboa a partir de 1925, numa
festa em homenagem ao padroeiro da cidade, Santo António.
Em 1932, além das cerimónias litúrgicas, o figurino
renova-se no que respeita aos arraiais, ao enfeite de ruas, becos e pátios
alfacinhas, «tronos de Santo António» e introdução das Marchas
Populares.
1930
E Junho é o mês das Festas.
Concertos, arte de rua,
marchas e arraiais populares, desfiles, espectáculos, exposições, oficinas
e ateliers, workshops, festivais, artesanato, mostras de cinema, teatro,
fado dentro e na rua, sardinhas assadas, manjericos com e sem quadras
populares, fogo-de-artifício, bailarico todas as noites, arcos de flores de
papel e balões, fogueiras, casamentos, procissões e cerimónias em honra de
Santo António, dão cor e alegria à cidade.
As marchas populares, os manjericos, os casamentos
de Santo António e as típicas sardinhas assadas são alguns dos
símbolos mais queridos dos lisboetas e que também não deixam indiferente quem
passa.
A paixão por Santo António alcançou verdadeira
fama de santidade ainda durante a vida. Embora se tenha mantido sem
interrupções desde o século XIII em Portugal, na Diocese de Pádua e dentro das
Ordens Franciscanas, só começou a estender-se a todo o mundo a partir do século
XV.
Nasceu em Lisboa, Alfama, entre 1191-1192 e morreu
em Itália a 13 de Junho de 1231.
Depois da canonização, em
1232, os habitantes do bairro, ao saberem que um dos seus vizinhos tinha sido
canonizado pelo Papa Gregório IX, "rejubilaram e começaram a chamar-lhe
o seu Santo", favorecendo o nascimento de um culto espontâneo,
original e livre, a um amigo muito querido.
Hoje em dia, o povo conhece minimamente a sua vida e a sua história (mestre, professor, advogado) mas continua a dar mais importância aos relatos de milagres e episódios lendários.
Festeja-se desde o
século XVI com danças, cortejos e procissões em que os participantes de todos
os bairros da cidade se esforçavam por caprichar nos seus enfeites.
A
origem parece estar numa adaptação da “Marche
Aux Flambeaux” que nasceu em França na Idade Média, relacionada com as
“danças de entrudo”; cada bairro, mercado ou local que festejasse o Santo
António formava pequenos grupos de marchantes que desfilavam pelas ruas,
exibindo-se frente às portas e janelas dos Paços Reais, palácios e casas ricas,
orientados por um ensaiador soprando um apito.
Na Casa-Igreja de Santo António festeja-se
o dia 13 de Junho com enorme solenidade.
Durante o dia celebram-se várias Missas, desde a manhã até à noite, e em todas elas se benze o pão que os
devotos compram depois, cá fora, para o produto da venda ser entregue ao
Orfanato antoniano de Caneças.
À tarde, faz-se a procissão
com o Santo pelas ruas antigas do Bairro de Alfama adornadas com colchas nas
janelas e pétalas de flores lançadas no momento em que passa a imagem.
Ao
longo do percurso, imagens de outros Santos de capelas do Bairro vão sendo
incorporados numa procissão que chega a ter vários quilómetros.
Na Casa-Igreja, destruída no terramoto de 1755 (excepto a
imagem e a cripta), conserva-se o lugar que dizem ter sido o quarto de Santo
António. A reconstrução que se seguiu deu lugar à Basílica actual, onde
se conserva uma passagem para o quarto do Santo, no piso inferior, através da
sacristia.
Apesar de já não existirem casas mouriscas, o bairro
conserva um pouco do ambiente, do casbá com as suas ruelas, escadarias e roupa
a secar nas janelas.
O momento mais importante da festa civil é
a noite do dia 12 com as Marchas Populares, que representam
diversos bairros lisboetas.
Cada bairro vai em grupo em direcção ao centro da cidade
com as pessoas a cantar e a marchar ao som da música que as acompanha. Os pares
levam um pequeno arco de flores de papel com um balão, a imagem de Santo
António ou outro motivo.
O grande desfile alegórico das Marchas, organizadas
e ensaiadas meses antes por uma colectividade local com o patrocínio da Câmara
Municipal, desce a Avenida da Liberdade e junta milhares de
espectadores.
A festa acaba com os arraiais montados nos mais típicos
bairros de Lisboa, em especial Alfama e Madragoa, onde o centro das celebrações
é a sardinha assada e a sangria
Desde há muitos anos que se tornaram um concurso entre bairros, ganhando o que apresentar a melhor marcha popular, a melhor música e letra da canção, a melhor coreografia e o melhor vestuário.
Este ano as Marchas que constam na lista de
participantes são: Infantil, dos Mercados, de Marvila, do Alto do Pina,
de Penha de França, do Bairro Alto, da Ajuda, do Lumiar, de Alfama,
de Benfica, de Alcântara, de São Vicente, dos Olivais, de Belém, da Mouraria, da Bica,
da Madragoa, da Graça, do Castelo, de Carnide e
de Sta. Engrácia.
Todos os grupos têm padrinhos que são pessoas conhecidas
do público.
Recebem ofertas do município e de diversas empresas
Tudo começou por uma ideia do jornal "Diário Popular", que ajudava os mais pobres a fazer uma festa de casamento no dia do Santo. O enxoval e os equipamentos domésticos eram oferecidos por vários comerciantes para promoção dos seus produtos.
1967
O manjerico veio da Índia, onde era usado como
erva aromática sagrada. Tem folhas muito perfumadas e simbologia diferente.
Na Roma antiga era considerada uma erva dos namorados e
os italianos do sul, mantendo a tradição, ofereciam um vaso com manjerico à rapariga que queriam pedir em casamento; na Grécia, significa luto; em Portugal é
um negócio rentável pelos Santos Populares.
O presidente da junta de freguesia de Pedrouços
(Maia), Joaquim Araújo, tira da terra entre “30 mil a 40 mil
manjericos” para venda nacional, no mês de Junho. Começa por semear em
viveiros, nos fins de Fevereiro. Diz que é muito” trabalhoso” e “cansativo”,
mas que, apesar da crise, acredita na venda, cujo preço pode atingir 10 €,
consoante o tamanho.
Algumas quadras já saem espetadas nos
vasos de barro dos seus manjericos namoradeiros e assegura que “um
manjerico com uma boa quadra é meia conquista feita”.