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segunda-feira, 16 de março de 2015

"VASCO MORGADO APRESENTA"



Falar da década de 60 sem referir Vasco Manuel Veiga Morgado, aquele “que fazia as coisas acontecer", nas palavras de Joana Stichini Vilela, seria, no mínimo, desonesto; ele foi fundamental na construção cultural de Lisboa.

Como actor e grande empresário teatral do Parque Mayer e do Monumental, "Vasco Morgado Apresenta" enchia os palcos da cidade.

Contemporâneo de uma geração idealista, os alfacinhas sentiam-se a viver numa “capital europeia”. O Saldanha simbolizava a vida nocturna e a boémia jovem.

Segundo registos históricos, produziu mais de 400 espectáculos dos mais variados tipos, desde cinema, operetas, dramas, comédias, revistas e muitos outros.
Passou a dedicar mais atenção ao teatro, como empresário, depois de ter casado com Laura Alves.

Conheci-o desde o início da minha vinda para a capital, através de familiares moradores na Avenida 5 de Outubro, logo por trás do saudoso Monumental.

 Havia um gigantesco foyer no interior com mármore, dourados e lustres

Tive o privilégio de assistir, por convite, a todas as ante-estreias dos filmes e reprises como (Ben-Hur", "My Fair Lady", "Canhões de Navarone", "A Queda do Império Romano" e tantos mais…)  com deliciosos convívios nos intervalos (inicio da sessão com “Assim vai o mundo…”, primeiro intervalo, inicio do filme, segundo intervalo) e de desfrutar de todos os inesquecíveis réveillons.

Galã, optimista, de olhar penetrante e sorriso fácil, era o “ponto de partida” para todos os eventos relacionados com personalidades nacionais e estrangeiras.
Trouxe Johnny Hallyday, que pôs ao rubro a multidão de jovens "insolentes" no Cine-Teatro Monumental, Sandie Shaw, os Animals, Ella Fitzgerald, Gilbert Bécaud, Charles Aznavour, Sylvie Vartan, os Searchers, Rita Pavone. 
Destaque, também, para "Concurso IÉ-IÉ", o Amadeu, V. Morgado's, o Convés, o Café Monumental, o Porão da Nau, Os Tubarões…

O café Monte Carlo (hoje é uma Zara!) era foco das tertúlias literárias, dos surrealistas, neorrealistas, actores e políticos de todos os quadrantes.

Em 1964, empresário do Avenida (destruído por um incêndio em 1967), emprestou o teatro à Companhia Rey Colaço/Robles Monteiro, desalojada do Teatro Nacional D. Maria II.

A ele estão associadas algumas das mais célebres e incomparáveis individualidades e espectáculos do teatro de revista nacional:


- António Maria da Silva, um dos actores portugueses mais importantes do século XX, o cómico que fez uma carreira de seis décadas no teatro, cinema e televisão.
Lisboa à Noite  (1963), Aqui há Fantasmas  (1966), Sarilhos de Fraldas  (1967), a sua última aparição, com António Calvário e Madalena Iglésias.
“Não é fácil fazer graça… fazer graça natural é difícil… fazer graça com gestos e ademanes é mais fácil. Porque é que eu sou engraçado? Não nasci na Graça nem o meu Pai era para graças…”


- Paulo Renato (Renato Ramos Paulino), o galã do momento, é ao serviço de Vasco Morgado que obtém os êxitos mais notáveis, sobretudo no reportório de Laura Alves; criou alguns personagens muito interessantes em filmes como Verdes Anos (1963), rodado numa zona mítica do novo cinema português, em torno do Café-Restaurante Vává, no rés-de-chão do prédio onde vivia o realizador, Paulo Rocha.


- Francisco Carlos Lopes Ribeiro (Ribeirinho), o grande actor popular, cineasta e encenador, irmão mais novo do também cineasta António Lopes Ribeiro, que revelou actores como Ruy de Carvalho, Armando Cortez, Manuela Maria, Francisco Nicholson, Carlos Wallenstein, Nicolau Breyner. 
Com O Impostor Geral, versão particular de «O inspector-geral», de Gogol, abriu o Teatro Villaret de Raul Solnado, em 1965..


- Henrique Viana, actor. Integrou a Empresa de Teatros Vasco Morgado em 1962,estreando-se na alta comédia em Loucuras de Papá e de Mamã no Teatro Avenida e no teatro de revista em 1967, em Sete Colinas
O actor popularizou a figura do Calinas, o alfacinha chico-esperto. 
- "A vida é uma mochila que vamos enchendo com o bem e o mal que fazemos".


- João Henrique Pereira Villaret, actor e apresentador de TV, declamador, Membro de Os Comediantes de Lisboa – companhias de Vasco Morgado.
Fez de tudo - apesar de ter morrido em 61 aos 47 anos - com subtileza, espiritualidade, perspicácia, inteligência.

“Morreu o maior actor português"; Na noite anterior, "sorridente, tinha recitado de cor um poema de Pessoa”. DN

"Recitei-os como eu os sentia e, no fim, o mestre, que era professor conceituado da casa, olhou-me com severidade e disse:
- O menino tem boa voz, mas os versos não se dizem assim, mas como se fossem prosa.
E eu, muito pespinete, nervoso e irritado, respondi:
- Então porque é que são versos? E o mestre:
- O menino é insolente mas inteligente, está admitido." 
(Nas provas de admissão para o Conservatório, quando recitou dois vilancetes e um soneto de Camões)


-Conjunto Académico João Paulo, um dos mais populares grupos musicais portugueses dos anos 60, cujo êxito os trouxe da Madeira para Lisboa, contratados por Vasco Morgado para espectáculos no Teatro Monumental.

E como não posso enumerar a imensa série de talentos desta década (muitos deles já com sucesso em décadas anteriores), relacionados com Vasco Morgado, vou destacar dois prodígios: Laura Alves e Raúl Solnado


Raul Augusto Almeida Solnado, um dos maiores humoristas portugueses, actor, apresentador de televisão - "Lá Em Casa Tudo Bem” -, productor e roteirista, define-se como “um homem que nasceu no dia da mãe, nove meses depois do dia do pai".
“A morte não me assusta nada, mas tenho pena de morrer. Viver é uma coisa tão boa!" “Façam o favor de ser felizes!“

Um pouco do genuíno Raúl Solnado, na primeira pessoa (extratos da entrevista  Podiochamá-lo?):


- "Bem, começo com o Vasco Morgado, praticamente a fazer figuração. Foi o António Silva que me achou piada. Ele era uma pessoa muito tímida mas gostava de mim. Então, eu tinha que lhe dizer uma frase ou duas, não me recordo, depois vinha-me embora e ele começava a sua rábula. Ele começou a dar-me corda, a atrapalhar-me e eu respondia sempre. Às tantas começou a haver gente nos bastidores, técnicos e actores, a ver o que o puto diz ao António Silva. Isto em duas sessões e eu sempre me ia safando! Quando aquilo terminou, havia um papel qualquer numa comédia que se ia fazer e o Vasco Morgado discutia com encenador quem é que ia fazer aquele papel, disse: “isso faz o miúdo que respondia ao António Silva”. Nem o meu nome sabia. Deu-me um papel razoável e estive com a Laura Alves, o que foi uma grande escola. No fundo, naquele tempo o que era bom é que havia grandes actores de peso com quem a gente aprendia” - Vasco Santana, João Villaret, António Silva, Laura Alves.


 - “Daí a minha carreira começa a crescer e o boom é a 'guerra', em 1961. Mas já em 55 no Teatro Apolo, no Martim Moniz, que foi abaixo com carácter de urgência para fazer ali durante trinta anos um parque de estacionamento. Um teatro velhíssimo, com 100 anos. O empresário contratou-me e recomendou aos autores para me darem o melhor trabalho, apostou em mim. Tive então um trabalho muito bom, é a primeira vez que dou realmente nas vistas. Chamava-se a peça Bota a Baixo, porque o teatro ia a baixo. Fizemos três peças, uma revista e duas operetas. Foi aí que tive a oportunidade de trabalhar com o Alves da Cunha, que era um actor... Tinha termos de representação fabulosos, punha as pessoas na plateia a respirar fundo a criar um suspense com as suas pausas. Fazia pausas que podiam demorar um minuto, talvez, meio minuto, mas pareciam uma eternidade. Os actores marcam sempre os papéis: vai à direita, desce à esquerda, ao centro alto, à direita baixa, senta-se numa cadeira, levanta-se. Nos apontamentos ele escrevia: “pausa, senta, pausa, lágrimas, palmas”.
- É portanto no Bota a Baixo que é a revelação?
-"Sim. Para o sistema interno, no meio teatral fiquei com algum prestígio, pela minha idade e pela minha experiência, ou seja: começaram a contar comigo. Isso foi muito importante para mim, porque quando voltei para o Vasco Morgado já vinha noutras condições.
- Depois da guerra vieram outras rábulas... 
-"Foi, porque o texto fez sucesso. Aquelas histórias, o nonsense, em Portugal nunca se tinha ouvido. Depois, na história da guerra cada pessoa tira o que pode. O humor é uma coisa muito complicada 


Desapareceu há muito pouco tempo (2009).  
Como a maioria dos portugueses, penso que fará sempre parte da nossa vida inteira e que será o melhor "cartão-de-visita” de Portugal.

Laura Alves Magno, a grande Laura Alves, brilhante e perspicaz na arte de representar revista, opereta, comédia e drama, em espectáculos despidos de preconceitos.
Casada com Vasco Morgado, lembro-me de a ter visto em Criada Para Todo o Serviço, Meu Amor é Traiçoeiro (1962), O amansar da fera, A idiota (1964), A Rapariga do Apartamento, O Comprador de Horas (1965), A Mulher do Roupão (1966), A Promessa, A Flor do Cacto (1967) sempre cheia de entusiasmo, gentil, de olhos a rir, enérgica a falar, a andar, a gesticular.


Havia filas enormes nas bilheteiras para a ver representar, durante meses, anos a fio.
Apesar de espalhar simpatia, era reservada quanto à sua vida familiar.
Quando Vasco Morgado esteve internado no Hospital de Santa Maria devido a doença prolongada, visitava-o no intervalo das sessões, com o traje que vestia no palco. "Corria" para o quarto e a "correr" saía.
Trabalhou muito, durante muitos anos no Teatro Monumental. Após a demolição, ia sentar-se com frequência junto aos escombros, dizem.

Foi  a minha artista preferida.

- Como era a Laura Alves? – Perguntaram a Solnado.
-“ Era uma pessoa com uma força louca, um puro vaso comunicante. Era uma grande artista, fazia comédia e drama com uma facilidade enorme. O seu talento foi-se desbaratando porque o repertório que lhe foi dando… Bem, ela também não exigia porque era casada com o empresário, por isso nunca teve acesso. Ela tinha que apelar a um público mais popular que lhe esgotasse as sessões”


"Autorretrato"


- Tem recordações da sua infância?
- Cantava na rua. Tinha uma voz muito bonita e toda a gente ficava a olhar para mim.
- Porque trocou a canção pelo teatro?
- Havia um palco na Escola Industrial. O professor Lucena descobriu-me o jeito, levou-me ao Alves da Cunha e agradei.
A aptidão para o teatro não foi uma vocação. Foi uma necessidade. Éramos sete irmãos… mas tenho vivido o teatro com muita seriedade.
Gostava de ter sido química analista ou médica

Um dia, no Verão, conheci o Vasco Morgado num bailarico da Feira Popular e perguntou-me se queria ir para a ilha dele. Eu fui mas ficámos de namoro pegado, casámos e tive o meu filho.



- Porque falhou o seu casamento?
- Ele não me dava assistência. As raparigas metiam-se com ele. Era o trampolim.
- Era o amor da minha vida. Só me divorciei ao fim de 20 anos. Ele nem queria acreditar. Quando o advogado lhe disse que já estava divorciado, teve um ataque de choro; mas, mesmo em casas separadas, cuidei sempre dele.


- A Laura parecia uma espécie de choque para as bilheteiras. Admite que ele tenha explorado o seu talento em termos comerciais?
- Admito e achei bem porque ele era o meu marido e tínhamos um filho
- Entendeu sempre o teatro como um acto de inteligência?
- Sim, as coisas devem ser feitas como deve ser, respeitando os bons encenadores (Alves da Cunha, Amélia Rey Colaço, Palmira Bastos, o Ribeirinho…)

- É uma pessoa dramática.
- Nasci assim. Sou muito triste. Quando ia na rua, a minha mãe ralhava-me porque punha os olhos no chão e pronto…
Sou muito estranha; ou tudo ou nada. Sou igual a mim própria


O meu tetravô era chinês. Tenho os olhos redondinhos e alguns traços do rosto têm alguma marca chinesa.

- Pensa que o Vasco Morgado foi um bom gestor?
- Penso que não; o meu filho é que é um bom administrador.
- Quanto ganha actualmente?
- Trinta contos (150 euros).

- Está muito presa às recordações da sua casa?
- Sou muito sentimental. Há anos, um violinista ia tocar para a minha rua e as lágrimas caiam-me.
Um segundo casamento como refúgio… Mas de repente fiquei sozinha outra vez.

- O projecto de demolição do Monumental, abateu-a psicologicamente?
- Fui eu quem estreou o palco. Criam-se raízes. Há interesses económicos que dominam tudo e todos.



- Mas a vida não para…
- Há muitos rapazes e raparigas que estão a angariar fundos para que me seja feita uma festa de homenagem nas minhas bodas de ouro no teatro.

- É uma pessoa um bocadinho complicada. Verdade ou mentira?
- Sou. Gostava de saber de tudo. Tenho uma ânsia enorme de aprender
- Porque está parada há meses?
- Os dramaturgos nunca pensam em escrever para mim.

- A Laura é um pouco avessa a transformações. Por ex., o cabelo
- Sou conservadora. Em toda a minha filosofia de vida.
As rugas não me assustam. Não me importo de dizer adeus ao teatro. Quem eu adoro na minha vida é o meu filho mas gostaria de morrer a sorrir no palco ou no camarim.


- Que reforma vai ter à sua espera?
- Vai ser coisa pouca. Entreter-me-ei a ler. Gostava de ir à Lua.
- Desencanto e arrependimento?
- É isso… desencanto. Nunca me arrependi de amar tanto.

Notas

1 - A jornalista, Maria Augusta Silva, ficou impressionada com a imensa solidão e tristeza em que Laura Alves, outrora “Rainha do palco”, vivia.
Morreu 3 anos depois (1986) só, esquecida, sem trabalho, sem glória

2 – E que fez a geração na qual “se depositaram grandes esperanças” , como Jorge Sampaio e outros?


Imagens Google

quinta-feira, 12 de março de 2015

ONDE ESTÁ O SOL?


O sol estimula
A serotonina,
O bom humor,
A dopamina,
A memória,
A melatonina,
O ciclo do sono,
A adrenalina

O sol é amarelo
Cor da alegria.
Activa a mente,
Dá energia,
Alimenta o ego,
Interage e cria.
Com luz ilumina
E aquece o dia

O sol é laranja,
A cor vibrante.
Eleva o espírito,
O ar radiante,
A expressividade,
O semblante,
Novas ideias,
O tom confiante.

O sol é vermelho,
 A cor atractiva.
Estimula afectos
E laços cativa.
Mas em excesso,
Às vezes deriva.
De tão magestoso,
Ousado, convida.

O sol é roxo
Em gradação
Do lado artístico,
À intuição,
Espiritualidade,
Vibração,
Sensibilidade,
Sofisticação.

O sol é verde
Cor da saúde
Da ecologia.
É juventude,
Crescimento,
Magnitude,
Trânsito livre
Em plenitude.

O sol é azul,
Cor relaxante
É terapêutico,
Tranquilizante.
Embora leal,
Subitamente,
Em noite cerrada
Fica ausente

Onde está o sol?



domingo, 8 de março de 2015

DEVE HAVER DIA INTERNACIONAL DA MULHER?

Retrato
MANUEL RIBEIRO DE PAVIA,  Pintor Português Alentejano.

" Rosa de Guadalupe " A mulher e os artistas portugueses - Colecção particular

O homem pensa.
A mulher sonha.
Pensar é ter cérebro
Sonhar é ter na fronte uma auréola.
O homem é um oceano.
A mulher é um lago.
O oceano tem a pérola que embeleza. 
O lago tem a poesia que deslumbra. 
O homem é a águia que voa.
A mulher, o rouxinol que canta.
Voar é dominar o espaço. 
Cantar é conquistar a alma.
O homem tem um farol: a consciência. 
A mulher tem uma estrela: a esperança. 
O farol guia. 
A esperança salva. 
Enfim, o homem está colocado onde termina a terra. 
A mulher, onde começa o céu!
Victor Hugo


AS MULHERES têm sido, ao longo do tempo, as” deusas”, "musas" inspiradoras de poetas, pintores, escritores de textos literários e músicos.
Os poemas de Petrarca giravam em torno da figura de uma mulher - Laura é o tema central da obra; os trovadores cantavam para a senhora feudal ; Dante elevou até o céu a sua angelical dama Beatriz em" A Vida Nova"; nas canções de ícones da música como Bob Dylan, Tom Jobim, David Bowie, Elton John e Serge Gainsbourg, entre outros, elas foram as musas imortalizadas;
Jorge Ben Jor fez “Domingas” e provavelmente “Domingaz” e “Maria Domingas” para a mulher homónima, sua mulher; Gilberto Gil compôs duas das suas mais importantes canções para as duas mulheres mais importantes da sua vida - Flora e Drão; Caetano Veloso, dedicou “Irene” a uma irmã; Helena e Nelita inspiraram Vinicius de Moraes em “Garota de Ipanema” e “Minha Namorada”, respectivamente.
Como alguém disse, “Atrás de um grande cantor-poeta-compositor há sempre o nome de uma musa? Ou na frente de um a imagem de uma?”
Mulheres
Com fortuna                                          Ccom poder
 Sexy                                            No mundo corporativo

Deve haver O Dia da Mulher ?

SIM e NÃO

SIM, não só para nos lembrarmos do caminho percorrido já conquistado mas, sobretudo, porque ainda há muito para fazer em cada país, na dimensão da igualdade entre homens e mulheres.
Foi a partir dos movimentos feministas de 1970 que se tornaram possíveis várias mudanças relativas à sua posição social.
O homem passou a ter uma participação activa na criação dos filhos e o trabalho feminino, além de continuar com a maior parte das funções domésticas, ajuda a garantir, muitas vezes, a subsistência das famílias, sobretudo nos países menos desenvolvidos.
As mulheres participam cada vez mais no mundo da política, do desporto, da saúde, da engenharia … mas em Portugal ainda não há igualdade de oportunidades nas vagas para emprego; como profissional no mundo corporativo, a sua ascensão ainda se dá de forma gradual porque há pouco reconhecimento pelos resultados obtidos; os programas de ensino precisam de uma maior análise, de modo a eliminar os estereótipos e preconceitos da discriminação.
A África subsariana é uma zona sem progressos.
A lista de horrores na maioria dos regimes islâmicos como a Arábia Saudita, faz parte dum fundamentalismo que interpreta os ensinamentos do Corão a ferro e fogo. No Egipto, o islamismo é mais flexível e no deserto do Saara as mulheres são árabes emancipadas (cobrem-se porque têm as orelhas muito grandes). 
Omã é um país árabe e islâmico, mas quer fazer parte do mapa! 

O Dia Internacional da Mulher, a existir, deve servir para nos tornarmos mais conscientes da necessidade da solidariedade internacional, para refectir, fazer um balanço e anunciar medidas destinadas a corrigir muitas injustiças.
Mulheres
mulheres muçulmanas                                       Tuaregue- Mali
 Chador - Saara                                                     Somália

NÃOse o rosto da pobreza feminina na União Europeia continuar a sê-lo, se a violência doméstica não for controlada e combatida, se o dia, como em tantas outras datas comemorativas, for transformado em dia de marketing e comercialização de produtos.
Gostaria muito que já não precisasse de haver " dia internacinal da mulher" ... Talvez fosse sinal de que tinham sido adquiridos todos os direitos reivindicados desde há séculos (dede 1792- Mary Wollstonecraft)
Mulheres
A mais tatuada             A mais alta          A mais magra
Pobre e sofrida                            A mais velha
 Raínha                            Vítima de tráfico

E se no futuro só passasse a haver "O Dia Internacional do Homem"?
Sim, porque ele já existe - celebra-se a 19 de Novembro, desde 1999 - embora a maioria dos homens o desconheça, penso.

"Precisamos de inteligência, moderação, temperança, tolerância, capacidade de diálogo e de negociação. E aí as mulheres estão em vantagem. Por isso lhes faço este elogio.
Não é por acaso que a mulher está, lentamente, a tomar conta de todos os lugares que antes pertenciam aos homens
Estou convencido de que a evolução do ser humano se fará na direcção de uma diminuição dos níveis de agressividade e de força física característicos dos homens. Ou seja, antevejo uma humanidade mais feminina, embora sempre com diferenças entre homens e mulheres."
Gabriel Leite Mota 

E vinte retratos (serão cem ou mais), vão estar expostos a partir de domingo, no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, numa homenagem às cientistas portuguesas, no dia em que se comemora o Dia Internacional da Mulher.
Por Jornal i com Agência Lusa
publicado em 7 Mar 2015

terça-feira, 3 de março de 2015

"AND THE WALTZ GOES ON"



o
Anthony Hopkins escuta pela primeira vez uma valsa que ele compôs há 50 anos


Há 50 anos, o famoso e premiado actor Anthony Hopkins (hoje guionista, compositor e pintor), fez uma peça musical intitulada "And the waltz goes on" (E a Valsa Continua) depois de ter ouvido o jovem violinista holandês André Rieu, um dos melhores músicos que diz ter visto e de quem  ficou fã. Tinha apenas 19 anos.
Tanto Hopkins como a colombiana Stella Arroyave, sua 3ª mulher, queriam muito conhecê-lo pessoalmente.
Para o conseguirem, Hopkins enviou-lhe a valsa com a indicação de que nunca ninguém a tinha interpretado antes. Rieu, apesar de estar habituado a receber e-mails e cartas frequentemente, ficou tão surpreendido que convidou o actor a deslocar-se a Viena onde foi recebido por uma orquestra interpretando a sua peça.
Surpreza... Emoção... 
O inconfundível e brilhante violino "Stradivarius" de Rieu (um dos 600 originais…), o romântico cenário feminino dedilhando as cordas na execução dos sons, dos timbres…, o talento de Hopkins que vai além da arte de interpretar, são ingredientes únicos que tornam deslumbrante este espectáculo.

Sublime!



Pesquisa em Metamorfose Digital

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

O OMNIPRESENTE



"Narrativa" na primeira pessoa

A ALDEIA

- Nasci na Soalheira, uma terra pobre da Beira Baixa, na encosta sul da serra da Gardunha, há 73 anos. Como filho ilustre, foi atribuído o meu nome à rua da escola Primária onde a minha mãe Maria Irene ensinou o ABC.
No dia 13 de Maio a minha tia abria as portas da casa a todas as beatas que a quisessem acompanhar na missa, pela rádio, directamente de Fátima.
Quando jogava o Sporting - Benfica, eu colocava o meu rádio Telefunken na varanda para deliciar os muitos adeptos que se juntavam no Largo a ouvir o relato.
O meu avô tinha uma quinta donde provinham todos os bens essenciais, durante o racionamento alimentar, no pós II Guerra Mundial. E, como também era caçador, havia ainda as perdizes e as lebres. O gosto pela caça, um dos meus hobbies favoritos, vem dessa época.
Na Soalheira só havia dois ou três carros que funcionavam a gasogénio porque a gasolina era escassa. O meu pai, um pequeno comerciante, sempre teve carro - um Citröen velho - que nos dava uma situação de privilégio.

Quem sou?

A VILA (cidade desde 1971)

Após a primária na aldeia, fui para um liceu de Castelo Branco e fiquei na casa de uma tia que era telefonista.

Terá sido neste?

A LICENCIATURA

Os meus pais gostavam que eu tirasse uma licenciatura
A minha mãe tinha uma imagem negativa dos advogados.
O meu tio, que “no fundo era um funcionário público, achava que o sobrinho, em quem depositava esperança, devia ir para direito”.

DIREITO

Foi a opção.
O meu tio seduzia-me pela cultura e pelo conhecimento; era amigo de António José Saraiva, Óscar Lopes e Ferreira de Castro, entre outros.
Tinha uma actividade clandestina - militava no Partido Comunista. Eu só soube quando já estava na Universidade e todos, só depois do 25 de Abril; no funeral, a bandeira do P.C. cobria a urna.
Toda a minha família, que era profundamente católica, ficou chocada.
“Salazar era uma pessoa respeitada, fiável, quer pelo meu avô paterno quer pelo meu pai.
”Fui sempre muito crítico com eles."
“Quando deixar de trabalhar volto para o campo”.  

COIMBRA

Os repúblicos abrantinos!
Muitos dos políticos e famosos até noutras profissões estiveram em Repúblicas de Estudantes.
A “Real República Palácio da Loucura” teve papel relevante nos movimentos académicos na década de 60 - no que se refere às questões académicas da época. Só lá vivi um ano, entre 1959 e 1960, mas nem por isso tenho menos recordações. O próprio ambiente de uma casa gerida só por estudantes era muito aliciante.



Fiz parte da Orquestra Ligeira do Orfeão Académico de Coimbra, fundada pelo Zé Nisa, em 61, como contrabaixista. 
Era um quinteto (Zé Niza, eu, Rui Ressurreição, Zé Cid e Joaquim Caixeirocom o instrumental e o repertório típico da transição da década de 50 para a de 60. Interpretávamos música brasileira, italiana, francesa, americana…

O ADVOGADO


"Na minha profissão há mais esforço e disciplina do que talento. Nada está adquirido." 
Tenho um lema: "Os fins justificam os meios" 

A “relação com a minha mãe era cúmplice, muito próxima”; compreendeu o meu divórcio e a minha intervenção política. “Dizia muitas vezes que tinha sido uma surpresa ver que eu tinha atingido lugares de destaque na vida pública. Sentia-se orgulhosa. Mas era uma coisa inesperada. Nunca pensou que pudesse acontecer.”
Se não tivesse seguido os conselhos do meu tio, talvez agora fosse apenas mais um professor reformado…

Acabei o meu curso e como não tinha nenhuns recursos e já tinha uma família para sustentar… Casei aos 20 anos… 
Fui para o primeiro emprego possível - Delegado do Procurador da República interino, colocado em Santiago do Cacém. 
Publicado originalmente no Jornal de Negócios em 2011

Dúvidas?
Sim, é ele, já designado como "O novo dono disto tudo".


DANIEL PROENÇA DE CARVALHO, ADVOGADO


Passando da narrativa na primeira pessoa para os muitos factos que comprovam ser "um dos conhecedores por dentro de tudo o que se passou à vista de todos e ainda conhece o que ocorreu nos bastidores, à vista de poucos"...

Atravessou os regimes de ditadura (como polícia e agente do MP) e passou para este regime democrático sempre em lugar de relevo social e político.

É o início da trama de acontecimentos que, de tantos e tão complexos, eu classifico de exponenciação  an

E vou citar apenas a excelente descrição (os sublinhados são meus) feita em:

"Em 1974, com 33 anos,  era um modesto advogado, depois de ter sido delegado de procurador da República e inspector de polícia, no Estado Novo de Salazar. Segundo um biógrafo improvável (Afonso Praça de O Jornal) Proença tinha um lema: "os fins justificam os meios". Maquiavel no seu melhor, portanto. Proença vinha da Soalheira, no Fundão, pobre como se era na época. 


Em 1968 passou a funcionário de Champallimaud, no contencioso da empresa Cimentos de Leiria.
Foi nesse tempo que começou o julgamento da herança Sommer de que Champallimaud era interessado. Proença, segundo Praça, teria participado, enquanto inspector da Judiciária na instrução de um processo-crime relacionado mas tal não o impediu de tomar a defesa da causa do patrão. Eticamente, estava bem preparado...e quando aparece o 25 de Abril, sendo amigo de José Niza, inscreve-se no...PS, pois claro. Partido que abandonou logo que os ventos começaram a mudar, ou seja por altura da primeira bancarrota (1976-77) Proença já era de "direita", no Jornal Novo que então dirigia. Uma direita sui generis, entenda-se.

A história conta-se melhor no “O Jornal” de 7-2-1986:

Proença foi então ministro da propaganda (Sá Carneiro dixit) do VI governo de bloco central, de Mota Pinto, em 1978, quando se preparava já a segunda bancarrota, dali a uns anos. Sá Carneiro no entanto, nomeou-o presidente da propaganda na RTP, em 1980. Em 1983, Vítor Cunha Rego terá mesmo escrito no jornal A Tarde, que " há muito que o sistema político deste País teria desabado se Proença de Carvalho não estivesse onde estava." Em 1983 estávamos noutra bancarrota...
Dali em diante foi sempre somar e encher o bolso, para Proença. Vejam-se os recortes que nos contam tudo ou quase...a partir de 1981 e depois da AD de Sá Carneiro.

Expresso de 3 Janeiro de 1981:

O Jornal de 5 de Junho de 1981:

O Jornal de 11 de Abril de 1986 em que Fernando Dacosta escrevia sobre a "direita" portuguesa a propósito de Freitas do Amaral (!) e de Proença de Carvalho (!!!) supostos representantes da dita cuja...
Em 1986 Proença, foi, naturalmente, mandatário de Freitas do Amaral na corrida presidencial que este perdeu para Mário Soares. Como o Expresso escreveu na época...ficou às portas da terra prometida...
Em 1991, o governador de Macau, Carlos Melancia, indicado pelo vencedor das presidenciais, teve problemas com a Justiça. Corrupção. Quem foi o advogado? O representante da "direita", voilà!
Em 1995 a antiga ministra do PSD, Leonor Beleza, designada futura líder sabe-se lá de quê, foi pronunciada por um juiz de instrução da prática de crimes de homicídio doloso. Quem foi o advogado de defesa da dita? O nosso homem do trio de los dos, voilà!  

Expresso revista de 1 de Novembro de 1996:
Aproveitou entretanto todas as entrevistas generosamente concedidas pelos média do sistema da bancarrota, para destilar o ódio particular às instituições judiciárias, particularmente ao MP. Proença, nunca o escondeu que preferia um MP à maneira do Estado Novo. Era bem mais seguro para os interesses que representa, como se vê agora no caso de Angola...

E por isso mesmo, em 1999 já destilava as habituais catilinárias, desta vez contra o então
PGR Cunha Rodrigues (houve apenas um PGR que agradou a Proença: o seu amigo Pinto Monteiro...).

Expresso de 27 Março 1999:
E actualmente, por onde anda Proença? Ora, ora. Depois de defender José Sócrates dos ataques soezes que lhe fizeram, a esse paladino da transparência pessoal e governativa, anda agora a acompanhar o presidente do BES, Salgado de sua graça, nas deambulações angolanas por causa da maldita Escom que ainda os vai desgraçar...


Como já se escreveu por aqui, citando o abruti:
Proença de Carvalho é um exemplo típico: advogado de José Sócrates, presidente do Conselho de Curadores da Fundação Champalimaud, presidente do Conselho de Administração da Zon Multimédia, membro da Comissão de Vencimentos do BES – um interessante cargo -, “chairman” da Cimpor, ao todo, só no mundo empresarial, 27 cargos. Proença de Carvalho, como muitos outros neste universo de “sempre os mesmos”, não é “dono”, mas amigo dos “donos”. 






















Competência? Nalguns casos sim, noutros não. Mas não é a competência o critério fundamental. É a confiança. Estes são confiáveis, são dos “nossos”, são dos “mesmos”. Já foram testados mil e uma vezes, no governo, na banca, na advocacia de negócios, no comentário político nos media, e mostraram que estão lá para defender sem hesitações, os “nossos” interesses. Confiança é a palavra-chave nos “sempre os mesmos”.

Proença de Carvalho pode dizer-se que será um dos indivíduos mais qualificados em Portugal para explicar como é que sofremos três bancarrota em menos de 40 anos. Por uma razão simples: esteve em todas elas, como figura proeminente, parda por vezes, mas sempre presente. E aproveitou bem o regime que as produziu. 

Seria interessante que alguém revelasse o seu património... 

CODA: Este indivíduo mai-lo seu apoderado da época, candidato a presidente da República,  seriam os putativos representantes da "direita". Havia outro, ainda. Um certo José Miguel Júdice que até teria sido de extrema-direita, cultor de um tal Primo de Rivera.  Veja-se bem a pinderiquice intelectual desta gente. Bastou que os ventos de mudança de regime passassem a soprar um pouco mais a levante, para se postarem a jeito de aproveitarem a maré.
Cedo mudaram para o centro e daí para a esquerda e até se aproximaram do PS, o tal que se diz de esquerda e que teve um esquerdista notório como Sócrates, que todos aqueles louvaram como um grande estadista português.
Lembrar isto é tão deprimente quanto lembrar as bancarrota que nos provocaram. 
Até quando esta gente mandará em Portugal?"


01/05/2009 - Dias Loureiro e Proença de Carvalho cantam "Pomba Branca, Alma Negra"

Jesus, fitando neles o olhar, disse-lhes: Isto é impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível. (Mt 19. 26).

Será?


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