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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O PAÍS DOS REFORMADOS


Testemunho para a posteridade

Portugal, um dos países mais velhos do mundo, é também o 6º país mais envelhecido.

São claros alguns porquês:
Baixa de natalidade
Num relatório divulgado há dias pelas Nações Unidas, calcula-se que nos próximos quatro anos Portugal irá ter a segunda mais baixa fecundidade mundial, com apenas 1,3 filhos por mulher. Um terço do Pais sem crianças! Em 3 anos - 2007, 2009 e 2010 - foram menos os que nasceram do que os que morreram.
Ribeiro e Castro, presidente da Associação das Famílias Numerosas, acredita que o “desastre” da baixa de natalidade se deve essencialmente às “políticas governamentais”, enquanto Maria Filomena Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Demografia, diz que “múltiplas variáveis influenciam de maneira diferente os diferentes casais”.
A maioria das mulheres tem optado por adiar a maternidade dando prioridade à carreira.
Em Portugal não há uma política da família.
Porém, ocupa o 11º lugar na mortalidade até aos cinco anos de vida.


«Não afirmemos de ânimo leve que o nosso declínio de natalidade "se resolve", ou que "se resolve com imigração", ou que "depois já vemos como nos safar". Um forte decréscimo na população autóctone de um país é sempre um problema sério, de consequências vastas e prolongadas no tempoPedro Gonçalves Rodrigues, em Cachimbo de Magritte




Presentemente, o número de idosos já ultrapassa o de criançasAté 2060, se não forem tomadas medidas de profundo impacto, de acordo com estatísticas oficiais, vamos continuar a envelhecer até à provável meta de 271 idosos para 100 jovens, devido ao aumento da Esperança Média de Vida.


Reformados - idosos - esprança de vida (google)

Emigração de jovens e outros desempregados (há cerca de 1.200.000 portugueses no desemprego):
Os melhores são os que saem, na opinião dos países que os acolhem e do país que os exporta, ou seja, o melhor da nossa História, é uma História de exclusão que se vem repetindo sempre que nos temos feito ao mundo desde a era dos descobrimentos ao êxodo dos anos 60, à época atual.
Só (já!) na Austrália o chefe de Estado, durante a visita àquele Pais, estimou a existência de 50.000 portugueses.
Pelo menos 100.000 deixaram o país em 2011, sendo a maioria jovens qualificados com menos de 35 anos. Segundo a empresa gfk, cerca de 170.000, um em cada 10 portugueses, tenciona emigrar ainda este ano - 42% tem formação superior - para Angola, França, Suíça e Brasil, primordialmente.
Além do desemprego, a elevada percentagem da juventude em trabalho precário ou com baixos salários, também é um fator que estimula a saída.



Estrangeiros reformados escolhem Portugal para viver:
Enquanto portugueses saem para procurar trabalho ou uma vida melhor, são estrangeiros escandinavos com os olhos postos no que o Pais tem de bom - as praias, o calor e sobretudo a fiscalidade - que vêm para cá viver ou passar parte do ano, deixando de ir tanto para os tradicionais destinos de França, Tailândia e Espanha.
O Afton Bladet cita um perito em fiscalidade para dizer “que o interesse dos reformados suecos por Portugal aumentou quase 200% em dois anos e quase 50% só no ano passado”. Adianta ainda que um dos grupos demográficos interessados é o das pessoas com cerca de 40 anos e com capacidade financeira.
O regime fiscal especial foi criado em 2009 para não residentes habituais a fim de captar profissionais qualificados e pessoas (nomeadamente reformados) com elevado património líquido.

Noticia  no Afton Bladet

«O destino do país está na mão de aposentados.
O presidente Cavaco Silva, a primeira figura do Estado, é reformado. A segunda personalidade na hierarquia protocolar, Assunção Esteves, é igualmente pensionista. Também nos governos nacional e regionais há ministros que recebem pensão de reforma como Miguel Relvas ou até Alberto João Jardim. No Parlamento, há dezenas de deputados nesta situação. Mas também muitas câmaras são presididas por reformados do Minho ao Algarve.»
Por: Paulo Morais, Professor





A renovação é vista como a maior ameaça! Os princípios políticos ou sociais tendentes a melhorar ou regenerar o obsoleto, jamais existirão porque eles só veem as sombras do mundo real refletidas nas paredes da caverna dourada em que estão fortificados.
"Os agentes movem-se no complicado terreno do poder de modo a tentar afirmar as suas verdades frente às verdades socialmente estabelecidas". Porque só nelas acreditam.

O Mito da Caverna -Platão ( óleo de Gerd Bornheim)

Como curiosidade e que nada (ou tudo) tem a ver com idosos, cerca de 200 jovens voluntários belgas, franceses e holandeses escolheram várias aldeias do Parque de Montesinho para passar férias a trabalhar em contacto com a natureza, para as comunidades locais; escalam andaimes, limpam caminhos e margens dos rios em troca de simpatia e hospitalidade dos habitantes (idosos).



Escuteiros estrangeiros (cientistas, alguns) ajudam a manter aldeias do Parque de Montesinho (ONG)

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

FALAR DO PAI






Talvez porque o verbo dizer sempre tenha sido substituído pela expressão demonstrar simplesmente, sinto alguma dificuldade em falar do PAI.

Antes dos quatro anos de idade, para além das fotos, não conservo uma recordação consciente muito nítida sobre a sua imagem. Devo ter destacado a atenção para as minhas duas irmãs que, entretanto, comigo passaram a ocupar esse espaço de tempo, num esquema de acontecimentos familiares.
Mas, ultrapassada essa lacuna pela ausência de pistas na ajuda da capacidade de recuperação de alguma memória, os detalhes particulares, fragmentados, de evocação e reconhecimento, são imensos a partir daí.

A saudade - palavra inerente apenas ao conhecimento forjado de galegos e portugueses - causada pela ausência, tem-se mantido sempre ao longo dos anos com mais ou menos intensidade.

O Pai não foi doutor, nem engenheiro, nem advogado, nem andou em nenhuma Faculdade porque o meu Avô impôs-lhe a obrigação da responsabilidade em continuar a manter a “trave” da casa de lavoura existente. Muito contrariado mas sensível ao respeito devido (naquele tempo…), por lá ficou, sem qualquer alternativa.

Depois de ter feito a Primária, frequentou a escola nocturna para adultos na Escola Regional Dr. José Dinis da Fonseca, até ser transferida para o Outeiro de S. Miguel.



Década de 30 - grupo de alunos

Ficou sem título académico mas não foi essa omissão que o impediu de lhe terem sido sempre concedidas as atribuições mais destacadas na Freguesia, entre as quais a nomeação para representante do Presidente da Câmara Municipal (Regedor), com competências claras e definidas na Regulamentação dos Regedores de 1940, sem qualquer remuneração:

«Cumprir e fazer cumprir as leis, deliberações, decretos municipais e os regulamentos da polícia; levantar autos de transgressões e auxiliar as autoridades polícias e judiciais; agir de modo a garantir a ordem, segurança e tranquilidades públicas; auxiliar as autoridades sanitárias e garantir o cumprimento dos regulamentos funerários; mobilizar as populações para casos de incêndio e cumprir as ordens e instruções emitidas pelo Presidente da República.»

A “Prisão” para os desordeiros em festas, feiras e outros ajuntamentos, ciganos burlões, etc., era no interior da Torre do Relógio… com a criançada como plateia.
Naqueles anos não me lembro de ter visto qualquer incêndio por perto, apesar do calor abrasador de todos os Verões!
Recolhia os dados para o censo da população, afixava decretos governamentais (editais?), notificava os rapazes para o serviço militar e era chamado com frequência ao tribunal do Concelho, considerando isso um grande incómodo e uma grande complicação, quer pela dificuldade das viagens, quer pela morosidade dos Processos (penso que não havia táxis; apenas a “carreira” que fazia a viagem de ida e volta uma vez por dia ou alguma boleia casual de amigos).
O dia de votar era outro divertimento, apesar de rápido e só para homens e viúvas, no edifício da minha Escola Primária.
Recordo também a presença da Guarda-Republicana que patrulhava periodicamente a Freguesia e o sururu que se levantava entre nós crianças, e não só.

Fez 147 anos o jornal Diário de Notícias e de que o Pai era o correspondente oficial, sob a direcção de Augusto de Castro, àquela data. Apesar da censura, era um jornal de muita tiragem; a redacção incluía não só os colaboradores mas também a generalidade dos cidadãos, como neste caso. Era lido por todas as inteligências - elites, pessoas comuns, novos e velhos - devido à variedade de conteúdos sobre assuntos de Portugal e do estrangeiro, e aos anúncios.
O preço manteve-se uma eternidade a 80 centavos; foi nele que aos cinco anos aprendi a ler; após ter sido lido pelas pessoas interessadas, transformava-se no forro de muitas paredes interiores de pedras sem liga, ou na acendalha de várias lareiras.

E. sem ser antes nem depois mas sempre, há o Pai e as ceifas, a malha, a matança, as colheitas, os regadios, os cães de guarda, as vindimas, os mercados, o Dia do Senhor, os amigos e os inimigos, a Páscoa e o Natal, as viagens à Guarda para comprar uns sapatos melhores ou uma roupa diferente ou um chapéu de feltro sempre na mesma chapelaria, os bovinos, suínos e asininos, os dias de chuva ou a falta dela, os Verões de escaldar, a conversa.

Alonguei-me propositadamente sobre as duas primeiras ocupações por achar que  elas tiveram grande influência no empirismo de deduções lógicas das experiências práticas num discurso logicamente perfeito (em locais como os tribunais), sem querer contudo cometer a injustiça de lhe tirar o mérito (que também o tinha) em obter o conhecimento da verdade através da razão.


Salvador Dali - Representative rose

Quando mais novo (morreu aos 90 anos) era um homem brilhante, sábio, espontâneo, orvalho campestre, poeta natural, trabalhador, honesto, singular, inconfundível, inteligente, magnânimo nos gestos mais simples, cheio de luz própria, crente, sonhador/saudosista, "um mãos-largas".
Nos defeitos, não se lhe ajusta a imagem de santo, difícil em admitir ideias diferentes, procurando andar por caminhos correctos nem sempre conseguidos, pouco rigoroso nas obrigações familiares diárias, a mesma facilidade em fazer amigos/inimigos, demasiado decidido em correr riscos baseado na sua enorme boa-fé.

Tinha olhos esverdeados, levantava-se pela madrugada, sentia prazer em contar histórias, era um mestre por excelência em tudo o que transmitia (com ele aprendi a fazer descrições, outros adquiriram conhecimentos sobre as artes do quotidiano), adorava ver a família reunida, procurava estar à frente do seu tempo ajudando e deixando explorar todas as oportunidades de futuro para os filhos.

 “Chorou” quando saí de casa mas eu voltava sempre para o abraçar; e ele, quando saiu, nunca mais voltou.

  

Um ano antes de partir, escreveu ao correr da pena numa pequena mesa que lhe servia de apoio, para o neto Luís (e para todos, em nome dele):


"Este que foi vosso Avô
Vosso Avô já não é.
Fui alguém e já não sou
Mais que ambulante em pé.

A vós queridos netos,
Tudo o que tenho dou
Com carinho, mil afectos
É o que tem vosso Avô"

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

"ATÉ QUE A VOZ LHE DOA"


"Há um combóio descarrilado" (personagem alegórica)...


Há um comboio descarrilado, enferrujado, abandonado numa estação.
As carruagens engatadas, acidentadas, afetadas, rangem e ameaçam deslocação.
A locomotiva (a vapor) impotente desconhece a causa do acidente e balança na linha do horizonte esperando avaliação.
Subsiste o único passageiro que há um ano inteiro, reclama um bombeiro pra identificação.
Impedindo o tráfego, com aquele náfego sem um semáforo, ninguém aparece e não é ficção!

Óleo de Edgar Degas

O comboio descarrilado é uma coluna vertebral com doze dorsais, sete cervicais, cinco lombares, um cóccix e um sacro, bem real.
Faz parte do cenário um corsário, não imaginário, sem sombras de simulacro, um mercenário pouco habitual, dum Hospital.
O passageiro, de vértebras no esteio movendo, o Atlas no crânio rangendo, já como ateu a crença perdendo, aguarda quinta intervenção numa outra estação local.



Há viagens, bilhetes pagos, roteiros desconhecidos, acontecimentos imprevistos, inocentes, culpados irresponsáveis, hipócritas e Hipócrates, poesia imolada nos trilhos da interpretação (símbolos figurativos que fazem parte dos actos de várias cenas dum enredo)






Há uma vítima que sente e causa incómodo não “até que a voz lhe doa”, mas até conservar a faculdade de pensar (personagem real que transforma a alegoria numa história verídica).



Imagens Google

sábado, 1 de setembro de 2012

RECIFE - "RUI COSTA"




Outubro de 2006. O cruzeiro Island Escape, depois de uma deslumbrante travessia do Atlântico, passa ao largo da ilha de Fernando Noronha e aproxima-se do porto do Recife, Brasil, onde vai atracar.



A capital pernambucana surge num cenário de belos edifícios.


A noite aproxima-se, o jantar e os habituais convívios também. 
O dia acorda e com ele, o bulício da saída para visitas pré- marcadas ou a marcar.


Com o início da tarde a cidade espera-nos e a primeira aculturação será a Casa da Cultura.
O edifício foi construído em 1850 para a penitenciária segundo o modelo mais moderno na época, com celas dispostas de maneira a poderem ser todas vigiadas apenas de um único centro de controlo. Tem quatro corpos de 3 pisos dispostos em forma de cruz e a confluir num pátio interior coberto.


Actual                                                        1850

Em 1973, os presos foram transferidos para outras penitenciárias e a casa, restaurada, passou a pertencer à FUNDARP, conservando as características originais.  
Actualmente  é um centro de cultura regional. As 150 celas são lojas de artesanato, xilogravuras e esculturas relacionadas talvez, com antigas ocupações de reintegração social dos presos. Há ainda espetáculos folclóricos e o Museu do Frevo (Danças populares brasileiras?).





Recife, que deriva da palavra arrecife - grande barreira rochosa de arenito - estende-se por toda a costa, formando piscinas naturais.

Apesar dos muitos pontos de interesse como as mais antigas igrejas do País -  S. Pedro dos Clérigos, Nossa Senhora do Livramento, Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, Nossa Senhora do Carmo, Madre de Deus, Nossa Senhora da Conceição dos Militares, Igreja da Sé e outras - todas em óptimo estado de conservação; os casarios coloniais e museus; os Bairros de Stº António, S. José e Boa Vista; os arranha-céus, bares e restaurantes ou as belas praias urbanas ao longo de um ambiente único à beira mar, apenas irei dedicar este cantinho, não aos tubarões para lá da barreira dos recifes, mas aoRUI COSTA da  praia de Boa Viagem...


Praia de Boa Viagem

Passeava eu, juntamente com o meu grupo de digressão por um dos cartões-de-visita da zona, a supra citada praia de Boa Viagem, quando avistei no meio de um aglomerado de banhistas, chapéus, cadeiras e vendedores de produtos/ artigos vários, a camisola nº 10 do jogador de futebol português, Rui Costa.
E, aproximando-me do muro de separação entre o passeio e a praia, chamei: Rui Costa…



Pouco crente no imprevisto ou absorvido pelo trabalho, só olhou para trás,
sorrindo, quando repeti o nome.

A ocorrência sempre me despertou certa curiosidade e, apesar de terem passado todos estes anos, ainda me apeteceu procurar uma explicação aceitável.
Reparei também que no carrinho BRANCO estavam escritas as palavras: TRICOLOR, 2 vezes (uma a preto e outra a vermelho) e SANTA CRUZ.

Santa Cruz Futebol Clube é uma Associação desportiva da cidade do Recife, estado de Pernambuco, fundada a 3 de fevereiro de 1914. Possui o maior estádio do Recife e o 3º maior do Brasil desde 1943 - Estádio José do Rego Maciel (Arruda). Conserva a maior invencibilidade da história do futebol brasileiro, com 45 jogos sem perder em casa entre 2004 e 2006. Foi o 1º clube a contratar uma psicóloga especialista em desporto profissional em 1983, tendo sido tricampeão de Pernambuco nesse mesmo ano. O Clube que se encontrava na 2ª divisão há 11 anos, voltou para a 1ª em 1999. É também o único clube de Pernambuco a participar em todas as edições do Campeonato Pernambucano de Futebol.

Estádio do Arruda

A junção de preto, branco e vermelho representa as três raças que deram existência à nação brasileira - a negra, a branca e a índia - a nação TRICOLOR. Foi a união entre negros, mestiços e brancos que ajudou o Santa Cruz a tornar-se desde muito cedo, o clube mais popular do nordeste.


um jogador e bandeira tricolor

Porquê então, o nome do Rui Costa e não de um do Santa Cruz?

Continuando a juntar peças, descobri um Rivaldo que foi jogador do clube. E que no Milan esteve a perder posição para o Rui Costa, até o Kaká ter acabado por ofuscá-lo. Além do fracasso no Milan, também não teve sucesso no Cruzeiro…


Rui Costa (Selecção de Porugal) e Rivaldo (Santa Cruz)

No entanto, Pelé distinguiu Rivaldo colocando-o na lista dos 125 maiores jogadores vivos do mundo…

Será que em 2006 era este o raciocínio do RUI COSTA” da praia?

Fonte: Wikipédia