Número total de visualizações de páginas

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

ALDEIAS - 2





É na Beira Alta, onde se encontra a maior parte das «Aldeias Históricas de Portugal» com fundação anterior à nação portuguesa, quase todas erguidas em terras elevadas que, num vale, nas margens do Rio Noémi, fica o local da minha origem – CERDEIRA, uma aldeia bem interior, na contiguidade da montanha, fazendo parte “desse como que embrionário coração da pátria" (Torga, 1950).

O comboio, acompanhando a suavidade das águas, trilha alegre, veloz e ruidoso na que já foi uma das linhas mais importantes da rede ferroviária portuguesa para passageiros e mercadorias, a caminho de Espanha. Perpendicular a ambos, ligando a Guarda (Pinhel) ao Sabugal, passa a Estrada Nacional nº 324, privilegiada pela passagem na nobre ponte românicaComo atalaia e miradoiro, tem a Senhora do Monte.
Poderá dizer-se que é uma aldeia airosa, sem ventos sibilantes, aconchegada, antiga mas não “histórica” (se considerarmos o início da sua fundação).

Porém, tal como a maioria dos adolescentes/jovens da minha idade, tive que deixá-la há várias décadas. "Exonerei-me". Não, ela não me demitiu; autorizou até que trouxesse comigo, retidas na memória, todas as sensações e impressões adquiridas durante os anos que lá vivi.

O miserável receio de ser sentimental é o mais vil de todos os receios modernos. Gilbert Chesterton

Sou uma sentimental. Sem receio.

Ao receber um e-mail com o VIDEO que insiro aqui em baixo, achei que viria a propósito falar dela mais uma vez para sublinhar, apenas, o que disse já em 7 de Setembro de 2014, quando abordei o tema “ALDEIAS” - não as diferenciadas 12 “ históricas”, mas muitas outras que, apesar de pequenas ou mesmo muito pequenas sabem ou podem conservar, sem descaracterizar, o seu património/costumes:

Alentejo – São Gregório(Borba), Évoramonte (Estremoz), Brotas (Mora), Santa Susana (Alcácer do Sal), Praia da Tocha (Cantanhede), Carrasqueira
Algarve - Cacela-a-Velha 
Centro do País - Gondramaz (Miranda do Corvo), Talasnal (Serra da Lousã) Aldeia da Pena ( Penedos de Góis), Olho Marinho, Vila Nova de Poiares
Minho e Trás-os-Montes - Rio de Onor e Pitões das Júnias
Região de Lisboa- aldeias saloias típicas como Caneças.


“ Nem tudo está perdido se os homens decidem ser donos do tempo em vez de escravos da monotonia (…) sintam o cheiro de uma pedra e o deslumbramento de uma imagem. Oiçam cantos nas maneiras de falar e nos costumes antigos de receber (…)
(…) E repousem em Castelo Rodrigo: saberão então que o mundo está bem feito.
O viajante não tornará a falar da hora, da luz, da atmosfera húmida. Pede apenas que nada disto seja esquecido enquanto pelas íngremes ruas sobe, entre as rústicas casas, e outras que são palácios, como este, seiscentista, com o seu alpendre, a sua varanda de canto, o arco profundo de acesso aos baixos, é difícil encontrar construção mais harmoniosa. Fiquem pois a luz e a hora, aí paradas no tempo e no céu, que o viajante vai ver Castelo Novo” “Caminho de Salomão”, Saramago

Lindo, não é?

Tomara que os políticos/ governantes/gananciosos/corruptos/coniventes, não ignorassem tanta beleza e a convertessem em riqueza. 
Seríamos um povo feliz, sim.

Das aldeias belas não sairiam clamores de revolta (alguma esperança, também) como o desabafo de Manuel Muralhas (um dos que ainda por lá estão, presumo) e que pode ler-se entre os muitos comentários ao vídeo.
São cidadãos que  pagam  impostos e não têm segurança, nem transportes, nem saúde, nem crianças nas ruas. Há portas fechadas para sempre; outras abrem pela vontade de reviver experiências ou, outras ainda, apenas para calar a nostalgia da distância na Alemanha, Suíça, Luxemburgo, França, Norte de África, África do Sul, Angola, no mundo. Há pessoas activas desiludidas, tristes, revoltadas, conformadas, embrutecidas.

Sim, são lindas, as nossas  aldeias. Mas só para fazer videos. Ou para os turistas.
Ou para vender.

"Vendem-se duas aldeias em Trás-os-Montes" 7 Junho 2013


- Aldeia de Picões, na freguesia de Bouçoães (Valpaços)
Na margem direita da ribeira com o mesmo nome, um afluente do rio Rabaçal, que desagua junto à ponte de Rebordelo, na estrada nacional nº 103
A aldeia tem um núcleo urbano constituído por várias casas de pedra tipicamente transmontanas e, mais afastada, encontra-se a capela de Santo António, “ ainda em bom estado de conservação”
Existem três nascentes de água, um moinho de água em “plenas condições de reabilitação” e usufruto exclusivo da albufeira de uma mini-hídrica, “com grande potencial de exploração"


- Aldeia dos "lameiros" (nome dado pela imobiliária) situada num vale profundo de Trás-os-Montes 
Trata-se de um verdadeiro santuário, isolado de tudo e de todos.  
A aldeia é constituída por 16 casas, anexos e uma capela. Encontra-se integrada no vale profundo da montanha e reúne um conjunto de propriedades interligadas entre si. É formada por lameiros, terrenos de pastagem e de cultivo hortícola, castanheiros, nascentes e linhas de água em abundância, casas “antiquíssimas”, construídas em pedra de granito, eiras, cabanas, palheiros, espigueiros e uma capela, tudo a necessitar de uma recuperação profunda. Extraido de: www. idealista.pt


site do vídeo e comentários


Sem comentários:

Enviar um comentário