É na Beira Alta, onde se encontra a
maior parte das «Aldeias Históricas de Portugal» com fundação anterior à nação
portuguesa, quase todas erguidas em terras elevadas que, num vale, nas margens do Rio Noémi, fica o local da
minha origem – CERDEIRA, uma aldeia bem interior, na contiguidade da montanha, fazendo parte “desse como que
embrionário coração da pátria" (Torga, 1950).
O comboio, acompanhando a suavidade das águas, trilha alegre, veloz e ruidoso na
que já foi uma das linhas mais importantes da rede ferroviária portuguesa
para passageiros e mercadorias, a caminho de Espanha. Perpendicular a ambos, ligando
a Guarda (Pinhel) ao Sabugal, passa a Estrada Nacional nº 324, privilegiada
pela passagem na nobre ponte românica. Como atalaia e miradoiro, tem a Senhora do Monte.
Poderá dizer-se que é uma aldeia airosa,
sem ventos sibilantes, aconchegada, antiga mas não “histórica” (se
considerarmos o início da sua fundação).
Porém,
tal como a maioria dos adolescentes/jovens da minha idade, tive que deixá-la
há várias décadas. "Exonerei-me". Não, ela não me demitiu; autorizou até que trouxesse
comigo, retidas na memória, todas as
sensações e impressões adquiridas durante
os anos que lá vivi.
Sou uma sentimental. Sem receio.
Ao receber um e-mail com o VIDEO que insiro aqui em baixo, achei que viria a propósito falar dela mais uma vez para
sublinhar, apenas, o que disse já em 7 de Setembro de 2014, quando abordei o
tema “ALDEIAS” - não as diferenciadas 12
“ históricas”, mas muitas outras que, apesar de pequenas ou mesmo muito
pequenas sabem ou podem conservar, sem descaracterizar, o seu património/costumes:
Alentejo – São Gregório(Borba), Évoramonte (Estremoz), Brotas (Mora),
Santa Susana (Alcácer do Sal), Praia da Tocha (Cantanhede), Carrasqueira
Algarve - Cacela-a-Velha
Centro do País
- Gondramaz (Miranda do Corvo), Talasnal (Serra da Lousã) Aldeia
da Pena ( Penedos de Góis), Olho Marinho, Vila Nova de Poiares
Minho e Trás-os-Montes - Rio de
Onor e Pitões das Júnias
Região
de Lisboa- aldeias saloias típicas como Caneças.
“ Nem tudo está perdido se os
homens decidem ser donos do tempo em vez de escravos da monotonia (…) sintam o
cheiro de uma pedra e o deslumbramento de uma imagem. Oiçam cantos nas maneiras
de falar e nos costumes antigos de receber (…)
(…) E repousem em Castelo Rodrigo:
saberão então que o mundo está bem feito.
O viajante não tornará a falar da hora,
da luz, da atmosfera húmida. Pede apenas que nada disto seja esquecido enquanto
pelas íngremes ruas sobe, entre as rústicas casas, e outras que são palácios,
como este, seiscentista, com o seu alpendre, a sua varanda de canto, o arco
profundo de acesso aos baixos, é difícil encontrar construção mais harmoniosa.
Fiquem pois a luz e a hora, aí paradas no tempo e no céu, que o viajante vai
ver Castelo Novo” “Caminho de Salomão”, Saramago
Lindo, não é?
Tomara que os políticos/ governantes/gananciosos/corruptos/coniventes,
não ignorassem tanta beleza e a convertessem em riqueza.
Seríamos um povo feliz,
sim.
Das aldeias belas não sairiam clamores
de revolta (alguma esperança, também) como o desabafo de Manuel Muralhas (um dos que ainda por lá estão,
presumo) e que pode ler-se entre os muitos comentários ao vídeo.
São cidadãos que pagam
impostos e não têm segurança, nem transportes, nem saúde, nem crianças
nas ruas. Há portas fechadas para sempre; outras abrem pela vontade de reviver
experiências ou, outras ainda, apenas para calar a nostalgia da distância na Alemanha, Suíça,
Luxemburgo, França, Norte de África, África do Sul, Angola, no mundo. Há pessoas activas desiludidas, tristes,
revoltadas, conformadas, embrutecidas.
Sim, são lindas, as nossas aldeias. Mas só para fazer videos. Ou para os turistas.
Ou para vender.
"Vendem-se duas aldeias em Trás-os-Montes" 7 Junho 2013
- Aldeia de Picões, na freguesia de
Bouçoães (Valpaços)
Na margem direita da ribeira com o mesmo
nome, um afluente do rio Rabaçal, que desagua junto à ponte de Rebordelo, na
estrada nacional nº 103
A aldeia tem um núcleo urbano constituído
por várias casas de pedra tipicamente transmontanas e, mais afastada,
encontra-se a capela de Santo António, “ ainda em bom estado de conservação”
Existem três nascentes de água, um moinho de água em “plenas
condições de reabilitação” e usufruto exclusivo da albufeira de uma
mini-hídrica, “com grande potencial de exploração"
- Aldeia dos "lameiros" (nome dado
pela imobiliária) situada num vale profundo de Trás-os-Montes
Trata-se de um verdadeiro santuário,
isolado de tudo e de todos.
A aldeia é constituída por 16 casas,
anexos e uma capela. Encontra-se integrada no vale profundo da montanha e
reúne um conjunto de propriedades interligadas entre si. É formada por
lameiros, terrenos de pastagem e de cultivo hortícola, castanheiros, nascentes
e linhas de água em abundância, casas “antiquíssimas”, construídas em pedra de
granito, eiras, cabanas, palheiros, espigueiros e uma capela, tudo a necessitar
de uma recuperação profunda. Extraido de: www. idealista.pt
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