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quinta-feira, 16 de junho de 2016

RELACIONAMENTOS "DISFUNCIONAIS"


Muitas vezes me tenho interrogado sobre o porquê do disfuncional relacionamento entre irmãos/famílias,  ao longo de gerações.


A rivalidade entre irmãos é um facto. Desde Caim e Abel...
Haver irmãos que não se falam, procurando cumplicidade e intimidade noutras pessoas, não deixa de ser bizarro. Mas há!
Há quem considere os seus defeitos como parte da própria identidade esperando que os demais se adaptem a eles" e "Muitas desavenças são mantidas por comodidade”, foram constatações obtidas através dum inquérito feito por um professor da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).

Os membros familiares, em vez de desenvolverem um bom relacionamento emocional, de crescerem enquanto pessoas, apenas esperam passivamente que os outros atendam às suas expectativas. E o espaço familiar que poderia ser de confiança, afecto e felicidade, é, normalmente, um lugar de hostilidades, competições e violências. Nas relações familiares existem, com frequência, dois sentimentos desagregadores: o ciúme e a inveja. A preferência descarada por alguns coloca nos outros a sensação de excluídos levando-os a defender-se através da violência verbal, por exemplo. A comparação entre os irmãos, entre a família do pai e da mãe, entre os genros e noras, entre todos, pode gerar uma competição excessiva. Rede de conteúdo do grupo Diários Associados"
A minha família é bem grande,tenho irmãos espalhados por todos os lados,tenho um em Pato Branco,outro em Belém,outro em Dioníso Cerqueira,quase divisa com Argentina,uma irmã em Campo Largo,outra em Morretes,uma em Curitiba,e três aqui em Paranaguá. Mas de que adianta ter tantos irmãos, se são todos desunidos?Provavelmente nem farão esforço nenhum para comparecer no velório um do outro.É duro mais é verdade.Dos irmãos que sobraram aqui na minha cidade,só uma vale a pena,só ela é minha amiga,o resto não faz nem diferença,pois fui "julgada e condenada" pelos outros dois. Depoimento em "Momentos"
Amigo, um dia eu propus ao meu pai fazer um testamento, para evitar a guerra por herança. Sabe o que aconteceu? Iniciei uma guerra e eu sou o vilão. Devia ter ficado calado e deixado para o advogado resolver. Ninguém merece. Nascemos e crescemos em relação".Comentário num blog

Continuando a navegar na Net, leva-nos a deduzir que os conflitos podem ter origem num sistema familiar já disfuncional.

Os membros de uma família disfuncional têm características e comportamentos comuns que são o resultado das suas experiências dentro das respectivas estruturas familiares, ao longo dos tempos. Essas características tendem a reforçar o tal comportamento, tanto através da permissividade como da perpetuação delas.

unidade familiar pode ser afectada por uma variedade de factores como extremos em conflito, discussão permanentemente agressiva ou falta de discussão pacífica entre os membros da família, trato desigual ou injusto na aplicação de normas devido à ordem de nascimento, sexo, idade, papel de desempenho, habilidades, raça, posição económica etc., falta de tempo compartilhado especialmente em actividades recreativas e eventos sociais ("Nós nunca fazemos nada como uma família"), níveis anormalmente altos de ciúme ou de outros comportamentos controladores, falta de contacto das crianças com a família de um dos seus progenitores (devido a desarmonia, desacordo, preconceitos, inimizade ), grande desentendimento (além da mera discrepância) no que diz respeito a religião e/ou ideias políticas.

Os Pais que são omissos ou ausentes, tiranos ou opressores, muito exigentes ou nada exigentes; os que nutrem fortes expectativas sobre os filhos ou os que se interessam pouco; os que se separam para não brigarem mais ou os que não se separam mas brigam; os que só pensam em dinheiro e os que não ensinam a valorizar o dinheiro; os muito camaradas e os que não entendem (ou não querem entender) os filhos; os que interferem muito e querem saber de tudo; os que proíbem muito ou permitem tudo; os que nunca estão satisfeitos ou os que acham que está sempre tudo óptimo, causam sofrimento emocional.

Muitos dos adultos que foram criados em famílias disfuncionais
apresentam traços da personalidade diferenciados: Sentem-se diferentes de outras pessoas e alguns acham que, por alguma razão, são punidos pela vida ou por Deus (para quem acredita); são desconfiados; julgam-se a si mesmo e ignoram as suas próprias necessidades; sentem-se sempre muito culpados; buscam afirmação constantemente; têm dificuldade em sentir, identificar e expressar emoções; não gostam de criticas pessoais; tentam controlar circunstâncias e relações e reagem de forma extrema a mudanças sobre as quais não possuem nenhum controle; costumam sentir-se desesperados, presos e vitimizados; farão tudo para evitar dor e abandono; têm dificuldades para terminar projectos; podem ser impulsivos e ter tendência para uso de drogas

José Bleger                                 Eduardo Kalina

Autores psicanalistas,  como José Bleger e Eduardo Kalina, que se dedicaram bastante à questão das dinâmicas familiares, consideram dois modelos básicos de desestruturação nas relações familiares do ponto de vista do desenvolvimento afectivo, inter-relacional e de organização psíquica: as “famílias cindidas” e as “famílias simbióticas”.
São” famílias cindidas”, aquelas em que os seus membros não conseguem relacionar-se afectivamente entre si; são frias e  encontram-se divididas, dispersas. A doença está na dificuldade de convívio.
São “famílias simbióticas”, aquelas em que os seus membros vivem num estado de fusão. Não há diferenciação entre os papéis familiares; são confusos, não atribuídos. As pessoas sentem dificuldade em não viver dependentes uns dos outros

Numa família disfuncional há,  pelo menos quatro papéis atribuídos a pessoas que dela fazem parte:
O herói,  geralmente líder e bom aluno, caracterizado pela sua super-responsabilidade de ajuda que, quando impulsionado para o sucesso, acaba por se sentir isolado e incapaz de expressar os seus verdadeiros sentimentos;  o bode expiatório, que “não faz nada certo” e  que, ao ser ignorado, se torna agressivo e vitimizado para chamar a atenção;  a criança perdida,  caracterizada pela timidez, solidão e isolamento dentro da sua própria companhia, com dificuldade em encontrar amigos e um parceiro;   a mascote,  que procura ser o centro das atenções com piadas e diversões e que, quando adulto, como não é levado a sério, pode desenvolver défice de aprendizagem e dependência de drogas.

São The Simpsons,  uma família disfuncional?

Homer, Bart, Marge, Lisa e Maggie

família Simpson,  no seu emblemático amarelo, criada por Matt Groening   chegou ao mainstream antes da televisão-choque. Homer já estrangulava Bart meses antes de Laura Palmer ser assassinada por um pai possuído em Twin Peaks. Lisa já tocava o seu saxofone no horário nobre, dois anos e meio antes de Bill Clinton, ainda candidato ao primeiro mandato como Presidente dos EUA, pegar no saxofone para ganhar votos no talk show de Arsenio Hall. A bebé não largou a chucha e mal aprendeu a falar.
Os Simpsons eram “um motim existencial sobre os terrores do lar, do trabalho e da escola”, “entretenimento para adultos,também fixe para os miúdos”

 USA Today em 1990, citado pelo site Vulture.

Após dois anos de popularidade inesperada,  no Tracey Ullman Show,  a família amarela autonomiza-se e ganha o seu próprio programa –  Homer passa a ser a personagem fulcral,  "com mais consequências para o facto de ele ser um idiota”
 Matt Groening 

Os  Simpsons, ao lado da mãe, o seu pilar moral (com um penteado de cabelo azul, esconde a sua inteligência para não condicionar o marido que é um glutão bêbado com responsabilidade e pedagogia zero) e  Bart, (do outro lado da barreira moral), o rebelde sem causa, eram extremamente controversos em alguns quadrantes e durante algum tempo tiveram uma reputação de ser um bocado grosseiros. Nasceram para ser comparados com outros e para simbolizar uma mudança numa década cheia de statements, no ano em que Reagan se despede, quando a selecção portuguesa de futebol vence o Mundial sub-20, um mês depois de cair o Muro de Berlim e no ano em que o Kosovo perde a autonomia e começa o fim da antiga Jugoslávia.  



Os Simpsons são uma família disfuncional da classe média norte americana capaz do melhor e do pior. Se Homer e Bart Simpson representam o total desvario de comportamentos sociais, já Marge e Lisa Simpson revelam mais equilíbrio e sanidade mental. Até porque Lisa Simpson, apesar da tenra idade, toca saxofone e gosta de ler!.
A série pende assumidamente para o centro esquerda, como já disseram vários dos seus responsáveis. Desde o vegetarianismo e budismo de Lisa à aceitação da homossexualidade da irmã por Marge.



Marge foi capa da Playboy, Bart capa da Rolling Stone (e de Nevermind dos Nirvana), a matemática e a ciência têm um papel regular na série e Homer até já foi considerado o pai ideal para 22% dos jovens britânicos.

2 comentários:

  1. Partilho da opinião do Prof Mário Cordeiro .Refere que chegados á idade adulta a pessoa define-se em termos de autonomia, de identidade, e os pontos comuns podem permanecer ou não. Os laços de sangue não são uma união suficientemente forte para, se tudo o resto não existir, se manter esse conceito de família. A morte dos pais é muito simbólica. É a libertação dos filhos, digamos, de uns em relação aos outros. Manter-se-á alguma unidade porque ainda há a mãe ou o pai. Quando ambos desaparecem aí é que se vê em que planeta cada um está.
    Ou há afectos ou tudo de esboroa!
    Bjinhos

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  2. E está tudo dito na tua última frase! Mas os porquês é que davam para muitos postes... Desde o mito da criação, bloqueios na expressão de sentimentos, diferença entre querer e conseguir, o sonho dos pais com o futuro dos filhos (separados cedo demais.)
    “O importante não é o que fizeram de mim, e sim o que eu faço do que fizeram de mim." Sartre, filósofo francês.
    Jinho

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