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sábado, 10 de agosto de 2019

POMBAIS TRADICIONAIS PORTUGUESES





Há mais ou menos três anos, por volta do mês de Agosto e a caminho de Peso da Régua, reparei que, em plena encosta / terreno de subida acentuada a partir de terras planas  (onde se situa a grande zona urbana da cidade da Régua),  se avistavam minúsculas casas brancas e dispersas entre vinhas e oliveiras.

O tamanho, a localização e a multiplicidade despertaram-me  o interesse da pesquisa .

Na região do Douro, a plantação da vinha em patamares transforma a paisagem num cenário digno de pintura, resultado do esforço simultâneo dos grandes mestres da Natureza e do Homem, sempre com possibilidade de novas perspectivas de exploração. E as pequenas construções dão-lhe um bucolismo singular

Como se caracterizam, então, essas  casas invulgares avistadas durante o percurso na A222 (classificada, como a mais bela estrada do mundo), entre o Pocinho e  o Peso  da Régua, que se estendem desde a  faixa norte da Beira mais interior até às serranias transmontanas?

Pois são ou foram pombais, construídos de diversas formas e dimensões por quase toda a Península Ibérica, para criação de pombos da variedade doméstica, o Pombo-das-rochas.
A instalação deste tipo de pombal processou-se de forma generalizada nas décadas 50/60  acompanhando, nuns casos, a campanha do trigo e noutros,  a plantação de vinhas e olivais a fim de abrigar pombas e, consequentemente, aproveitar o fertilizante agrícola denominado localmente “pombinho”, de elevada qualidade (segundo os vinhateiros) para os terrenos.
Quando jovens, os “borrachos” são também um prato muito apreciado sobretudo em Espanha. 
Alguns pombos eram ainda vendidos para provas desportivas de tiro.

Pombo-das-rochas num jardim

A partir da década de 60, os pombais foram progressivamente votados ao abandono, deixando de ter importância na economia rural, quer devido à emigração de grande parte da população, quer devido à mecanização e utilização de adubos químicos na agricultura
As pombas domésticas, por sua vez, tal como as pessoas, fugiram para as cidades em procura de alimento.
E assim, as "caixas fortes" de pombos passaram, deterioradas, a abrigar espécies que se encontram em perigo de extinção como a Coruja-das-torres, o Falcão peregrino, a Águia-de-bonelli que se alimenta de pombos e os estorninhos, mochos e poupas, para a nidação.

Coruja-das-torres                             Mocho
Falcão peregrino                                    Águia-de-bonelli

No entanto, ainda há Pombais Tradicionais bem conservados que são usados para os fins originais, em espaços mais dispersos. Outros estão ou vão ser recuperados para promover o ecossistema do nordeste. 
O seu aproveitamento e valorização pode contribuir para um desenvolvimento sustentável de aldeias que correm o risco de desaparecer, como a aldeia de Uva, Vimioso.


Quanto à arquitectura, apresentam uma planta circular ou semicircular ancestral única, do tempo da Época Feudal, em que ter um pombal era um privilégio.
Têm corta-ventos para proteger as aves da nortada, pináculos de pedra trabalhada ou outro material e pequenos buracos como porta de entrada /saída dos pombos de modo a que não caibam as aves de rapina. 
Do lado de dentro, existem ninhos em saliências para produção. Obstruindo o caminho a possíveis predadores de pombas, há placas metalizadas nas paredes exteriores. 
A entrada humana é mínima e feita a mais ou menos meio metro acima do nível do chão para impedir a entrada de roedores e evitar que a porta fique presa no estrume que se acumula por trás.
As paredes são caiadas, de xisto ou de granito e o telhado é tapado com telha de barro ou de ardósia.


                                                                                                                           Pináculo
                                                                                                 
Tratando-se de arquitectura popular, poderá haver relação com as históricas casas próprias da Cultura Castreja, bem visível no norte português. Talvez sejam ainda romanos ou pré-romanos.



Na minha Aldeia havia um criador de pombos sem pombal tradicional, penso, porque nunca o vi. Imagino que seria do género dos exemplares inseridos em baixo. 
Diria que aqueles  pombos eram uma praga de invasores voadores que iam conquistando e conspurcando terreno nos telhados das casas, fontanários, torres, imóveis abandonados. 
E como os pombos acasalam umas cinco vezes por ano, não paravam de aumentar transmitindo, muito possivelmente, a doença do pombo (criptococose) através da inalação dos esporos de fungos presentes nas fezes. Ao atingirem o sistema respiratório e o sistema nervoso central, a pessoa fica infectada e predisposta a ter uma meningite, pneumonia ou disfunções cerebrais.


Mas houve um dia em que todos desapareceram...




Autores consultados:

Almeida ( 1993).
Amaro ( 2010).
Fernandes, E., & Monteiro, A. (2004).
Flores (1973)
Martins (2012)
Teixeira (2013)

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