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sábado, 27 de junho de 2020

SEM FUNERAL


Quando eu deixar de ser
O sol continuará a aquecer
O alvor do dia a aparecer
As lareiras a acender
As marés a subir/ descer
Os campos a florescer
Os pacientes a sofrer
O triunfador a vencer

Quando eu já não existir
Não há tristeza a carpir
Palavras pra exprimir
Afectos a sobressair
Saudades pra sentir
Objectivos a aplaudir
Decepções a repartir
Ou corações a demolir

Eu dei o melhor de mim
Mas ninguém viu assim.
Sobre o exalar a alecrim
Passou o sabão ”clarim”
As flores do “meu jardim”
Secaram como  o capim
E o meu vestido em cetim
Se sumiu no mundo, enfim

Após a sentença fatal
Não haverá qualquer ritual
Nem velório, nem funeral
Só a incineração banal
E uma viagem fluvial
Feita de saudade especial
Do meu querido filho, tão leal
Companhia única, afinal.

Isto é o que quero para mim quando, como todas as pessoas, tiver que ser. 
Sempre pensei assim – sem velório nem funeral.
Não me é nada fácil olhar para familiares ou outras pessoas conhecidas, deitadas, sem vida , dentro de um caixão. Nem ver cair as primeiras pás de terra na sepultura…


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