Era dia de tratamento muscular e tinha acabado de chegar ao fim da primeira rua do percurso servindo-me de um muro de arrimo, como encosto.
Sentada no parapeito da janela de uma montra de pinturas, aguardava, como habitualmente, a sempre boa vontade de L para continuar a curta caminhada, agora um pouco mais íngreme.
O desiquilíbrio é grande e a respiração, devido á pressão que a coluna exerce nas vias aéreas, fica difícil.
A diferença de altura entre os dois ombros curvados pela cifose disfuncional originada por instrumentação imprópria e a consequente inclinação da cabeça para a frente, não só limitam o espaço do horizonte, como o transformam numa paisagem de Betão, carros, plantas, meias pessoas e pequenos animais, ou seja, no chão.
- Que estranho, aquilo ali. Parecia que tinha assaltado um Banco. Viste?
- Vi. Não sabes quem era?
- Não, só vi umas pernas meio ensarilhadas, muito apressadas, a entrar num carro que se pôs em marcha velozmente.
- Era a C.
- Sim?
- Sim.
"Digeri" a cena durante alguns momentos e, mesmo sem a ter compreendido, tirei as minhas conclusões.
"As coisas que se vão ensinam o
valor das que permanecem…
Os que morrem, o valor da vida.
Os arrependimentos, o tempo perdido.
A dor, o tamanho da nossa fragilidade."
Silmara Nogueira
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