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sábado, 8 de junho de 2024

MEIAS PESSOAS



Era dia de tratamento muscular e tinha acabado de chegar ao fim da primeira rua do percurso servindo-me de um muro de arrimo, como encosto. 
Sentada no parapeito da janela de uma montra de pinturas, aguardava, como habitualmente, a  sempre boa vontade de L para continuar a curta caminhada, agora um pouco mais íngreme.
O desiquilíbrio é grande e a respiração, devido á pressão que a coluna exerce nas vias aéreas, fica difícil. 
A diferença de altura entre os dois ombros curvados pela cifose disfuncional originada por instrumentação imprópria e a consequente inclinação da cabeça para a frente, não só limitam o espaço do horizonte, como o transformam numa paisagem de Betão,  carros,  plantas, meias pessoas e pequenos animais, ou seja, no chão.

Já preparada para me prender na confortável "ortótese" vejo, do outro lado da rua, umas pernas correndo, quase tropeçando no vestido, a entrar num carro que se esfumava, num ápice, como se as rodas fossem asas…


- Que estranho, aquilo ali. Parecia que tinha assaltado um Banco. Viste?
- Vi. Não sabes quem era?
- Não, só vi umas pernas meio ensarilhadas, muito apressadas, a entrar num carro que se pôs em marcha velozmente.
- Era a C.
- Sim?
- Sim.

"Digeri" a cena durante alguns momentos e, mesmo sem a ter compreendido, tirei as minhas conclusões.

"As coisas que se vão ensinam o
valor das que permanecem…
Os que morrem, o valor da vida.
Os arrependimentos, o tempo perdido.
A dor, o tamanho da nossa fragilidade."
Silmara Nogueira


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