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segunda-feira, 22 de setembro de 2014

AS MAIS NUMEROSAS E ESPANTOSAS CRIATURAS DA TERRA


Quatro horas da tarde.
O sol ainda aquecia bastante e a sombra de uma árvore seria bem-vinda. Olhando em redor, avistei um pinheiro de copa larga com um banco de pedra mesmo ao lado. A relva do jardim estava molhada.
Sentei-me.
Passados alguns minutos, comecei a sentir cócegas nas pernas.
- Pronto, tinham que vir as formigas estragar o meu “oásis”.
E afastei-me um pouco.
Mas passados alguns segundos, lá estavam elas de novo invadindo a minha tranquilidade (ou vice-versa).
E foi o que decidi desvendar.
Sim, os meus pés é que estavam a atrapalhar uma incrível fileira de formigas que, ao serem desviadas da rota, ficavam completamente desorientadas!

- Tantas! Que azáfama! Saem donde para onde? Porque “picam” quando passam pela nossa pele?
Os tamanhos são diferentes…
Há sempre formigas por todo o lado…

E a curiosidade sobre o comportamento destes insectos motivou-me para uma pesquisa...



Anatomia da formiga


Sentem o cheiro das coisas através das antenas
A maioria das formigas tem o corpo liso; outras apresentam projeções espinhosas.
As mandíbulas são fortes, adaptadas para matar, esmagar, mastigar, cortar, de acordo com a espécie e com o que come. 
Algumas espécies têm glândulas que produzem ácido fórmico para lançar contra inimigos, provocando queimadura ou coceira. O ardor da “picada” é causado pela libertação, tipo spray, desse ácido.
Outras dispõem de ferrões que contêm veneno


Ciclo da vida de uma formiga

Para chegar à forma adulta, passa por fases sucessivas: ovo, larva, pupa, adulto
Os ovos são pequenos e geralmente alongados.  
Depois da eclosão dos ovos, desenvolve-se a larva. Nas formigas existem 4 fases de larva. Possuem cabeça e peças bucais que as tornam capazes de se alimentar. Parecidas com vermes brancos, passam três semanas comendo à custa das operárias que as transportam quando chega o momento de elas se fecharem em casulos. Quanto maior elas ficarem, mais probabilidades têm de ser soldado, por exemplo.
Depois de alimentada, a larva passa à fase de pupa durante a qual se inicia a caracterização da forma adulta (com patas, antenas e órgãos) ainda dentro de um casulo. A pupa permanece imóvel e não se alimenta.   
Depois de algumas modificações, o adulto emerge da pupa.    


Na 1ª imagem a evolução vê-se da direita para esquerda - desenvolvimento do ovo e na 2ª, da esquerda para a direita ovo-larva-pupa-formiga


Ninhos de formigas ou formigueiros

As diferentes espécies de formigas formam ninhos  (formigueiros)  em locais diversos e por toda a parte - debaixo da terra ou das rochas, no interior de troncos de madeira envelhecidos ou ocos, no alto de árvores
Algumas constroem os ninhos com papelão, outras com materiais vivos.
As formigas viajantes constroem ninhos temporários, entrelaçados, de operárias vivas.
Num formigueiro, que se estende por vários metros, existe total organização com as tarefas bem divididas entre as formigastem túneis, galerias e câmaras destinadas aos ovos e larvas, às pupas, à rainha e até para o lixo

Portaldoprofessor - blog


Castas de formigas 

- Rainha (5 mm)

Pode viver 18 - 20 anos, faz a reprodução da colónia e controla todo o formigueiro. Quando morre, o formigueiro dissolve-se
O acasalamento da formiga-rainha acontece num voo nupcial. Após a fecundação o macho morre e a rainha perde as asas antes de colocar os ovos na terra. 
Ela continua a por ovos durante uns dez ou quinze anos depois de o macho ter morrido, porque o sémen fica armazenado no organismo sem se estragar.
As operárias transportam os ovos para câmaras-viveiros, onde se transformam em larvas
Nalgumas espécies, as rainhas invadem colónias da mesma espécie, matam as operárias-sentinelas que estão na entrada e provocam tanto medo que as outras operárias correm a esconder as larvas. Mas a invasora consegue sempre roubar algumas que, quando transformadas em operárias, a aceitarão. Pouco a pouco, a invasora assume o comando e mata a rainha adversária

- Bitus (3 mm)
São os únicos machos. Nascem de ovos não fecundados, possuem asas e vivem algumas semanas com o intuito de acasalar. Após o acasalamento (voo nupcial) morrem

- Formigas fêmeas estéreis - São as formigas operárias
As operárias fazem todo o trabalho de abastecimento da colónia, alimentam as larvas e protegem-nas das inundações e outros perigos, embora não demonstrem qualquer tipo de afecto. 

- Operárias - cortadeiras (2 mm)
São responsáveis por recolher a matéria-prima para alimentação. Formam filas enormes carregando pedacinhos de folhas. Cultivam fungos nas folhas que recolhem e levam para os seus ninhos. 
- Operárias - soldados (3 mm)
Estão sempre a postos nas saídas do formigueiro. Se for preciso, defendem a colónia de outros insetos e formigas rivais.
As operárias cavam túneis e buracos que serão as câmaras do formigueiro onde guardam restos de folhas, cadáveres de outras formigas e até lixo
Põem ordem na casa. 
- Operária - generalista (1,5 mm)
Faz o serviço doméstico. Além de cuidar dos ovos e das pupas, limpa os ninhos.

Se uma fonte de alimento acaba, elas organizam-se para procurar outra sem deixar o formigueiro desprotegido.
Os fungos que elas criam nos formigueiros servem de adubo para algumas espécies de árvores


A força das formigas / "A união faz a força"

A formiga, o pequeno insecto considerado frágil, consegue carregar massas muito superiores à sua, uma quantidade 15 vezes mais do que o próprio peso e percorrer 1 km/dia, devido ao facto de eliminar uma grande parte da Força Gravitacional.
Este fenómeno só é possível em animais de tamanho reduzido. A massa do corpo torna-se perto da força muscular, desprezível. Com o elefante é diferente, porque carrega um corpo mais pesado, proporcionalmente, sendo assim incapaz de levar o seu próprio peso. O peso cresce mais que a força muscular, à medida que o corpo aumenta. Além disso, as formigas possuem um corpo bem adaptado ao transporte de cargas - um esqueleto extremamente leve e seis patas sobre as quais o peso é distribuído.

Se todos buscassem na natureza os exemplos das formigas, tanto no tabalho como na organização, seríamos humanos mais sábios! 

Impressionante demonstração de união para arrastar uma minhoca inteira! Dá impressão de que elas entendem de física para realizar um feito destes...

Algumas formigas, para não se afogarem nas áreas inundáveis da Amazónia, juntam forças e formam um pequeno barco improvisado com seus próprios corpos que, ao repelir a água, lhes permite sobreviver em grupos de 7 mil formigas, incluindo a rainha e as larvas.



A inundação atinge uma colónia de formigas na selva amazónica. Imagens de como a espécie se adaptou à água para proteger a sua rainha.
 Da BBC.



Se analisarmos, respeitando as devidas proporções, a formiga é muito mais forte, persistente, trabalhadora e equilibrada do que o homem!



Alimentação das formigas


A alimentação fornecida às larvas determina se ela se transformará em rainha ou operária.
Formiga ordenhando afídeo
Dependendo da espécie, a formiga pode alimentar-se de pequenos animais mortos, frutos, sementes, flores, folhas de plantas ou a secreção açucarada dos afídeos. Mais cerca de duzentas espécies alimentam-se de fungos cultivados em jardins dentro dos ninhos, além de diversos componentes da alimentação humana, ricos em açúcar. Algumas são carnívoras, outras herbívoras, mas a maioria é onívora.
As formigas chamadas de "cortadeiras" alimentam-se de um fungo que criam no interior dos formigueiros com folhas que elas cortam e carregam, às vezes de longas distâncias.


As mandíbulas das operárias são assimétricas e curvas e funcionam como tesouras para cortar as folhas em pedaços capazes de serem transportados. Esses fragmentos, do tamanho das próprias formigas ou maiores, são presos verticalmente nas suas mandíbulas e levados para o ninho.

Nas formigas, a trofalaxia é induzida pela libertação de feromonas. Podem regurgitar comida de umas para outras.

Se viverem em colónias com cerca de 600 mil formigas, as formigas-legionárias procuram comida o tempo todo - comem qualquer animal pequeno.
As formigas-tecelãs deixam pistas perfumadas quando procuram comida. Marcam o caminho esfregando secreções de uma glândula intestinal no terreno, com dois pêlos endurecidos.
São assim chamadas por fazerem os ninhos com folhas enroladas e coladas com cola de seda de larvas espremidas
As formigas-legionárias em busca de comida seguem as pistas químicas deixadas pelas outras. Assim, arrastando o abdómen no chão, evitam passar duas vezes pelo mesmo lugar.

Cada etapa do processo de cultivo é feita por um grupo específico de formigas operárias




Tipos de formigas

Quando a formiga é atacada, envia sinais de alarme arrastando o abdómen no chão. Também o levanta para emanar um sinal químico para o ar e atrair formigas a uma certa distância. Antes de virem em socorro da formiga que pediu ajuda, outras soltam um aroma de alarme que as deixa bastante agressivas.

O salto da formiga







Os mirmecologistas (cientistas que se dedicam ao estudo específico das formigas) descobriram que elas surgiram na Terra há mais de 100 milhões de anos, resultantes da evolução das vespas durante o período Jurássico (199.6 – 145.5 milhões de anos atrás) e que o peso de todas as formigas do planeta é superior ao peso de toda a humanidade

Fóssil de formiga gigante encontrado nos EUA
 ” A “Titanomyma lubei” deve ter atravessado o Ártico durante picos de calor, há 50 milhões de anos

Constituem uma única família - Formicídea - com 12.585 de espécies distribuídas por todas as regiões do planeta, exceto nas regiões polares.
Pode dizer-se que as formigas rivalizam com os humanos na escala do domínio do mundo.
Através da acção humana, uma única megacolónia de formigas argentinas - a Linepithema humile - colonizou a Europa, os Estados Unidos e o Japão.
Apenas numa semana, as formigas-rainhas, responsáveis pela fecundação que ocorre durante o voo nupcial, podem gerar uma “peste” de 300 mil novos insectos. 
Ignorando as rivalidades de outras espécies, as formigas das megacolónias, apesar de viverem em continentes diferentes separadas por oceanos, quando em contacto, agem como velhas conhecidas esfregando as antenas de umas com as de outras. São realmente uma família, geneticamente relacionadas, que se reconhecem pela sua composição química muito similar.

Para os biólogos, a capacidade de evoluir em grupo é um dos factores que tem garantido a sobrevivência das formigas ao longo de 100 milhões de anos


Formigas professoras

Investigadores da Universidade de Bristol, na Inglaterra, observaram como algumas formigas, depois de terem descoberto comida, voltavam ao formigueiro e ensinavam pacientemente a outras formigas o caminho para lá chegar. Estas outras formigas, por sua vez, ensinavam outras formigas - uma capacidade que ainda não se tinha encontrado em criaturas não-humanas.

Formigas domésticas

As formigas são úteis porque ajudam a exterminar outros insetos daninhos e a arejar o solo. Por outro lado, podem tornar-se uma praga quando invadem as casas, jardins e campos de cultivo.

Acrobáticas - chamam-se assim por terem o hábito de levantar o abdómen acima da cabeça quando ficam alarmadas ou são perturbadas.
Aninham-se geralmente em madeira húmida e são frequentemente encontradas em varandas, janelas, etc.. Raramente causam danos estruturais e não se alimentam de madeira, mas sim de outros insectos (alimentos humanos diversos e artrópodes pequenos)

Formigas do faraó - são difíceis de controlar. Geralmente infestam a casa toda e parecem alimentar-se a todas as horas. Comem todo o tipo de alimentos humanos e antrópodes
Fantasma - são caracterizadas pela coloração enegrecida do tórax, cabeça, pernas e abdómen. Aparecem em pias de cozinha, casas de banho, tanques de lavar roupa
Comem alimentos humanos, doces e salgados e outros artrópodes


Loucas - Gostam de pias de cozinha, casas de banho, contadores de registos de água, jardins, calçadas, pessoas. Comem todo o tipo de alimentos humanos e antrópodes

Carpinteiras - Os ninhos principais, com a(s) rainha(s) são geralmente feitos no exterior das residências, em árvores e no jardim e os ninhos satélites, também dentro das casas, associados a estruturas de madeira como armários, forros, batentes de portas, janelas e rodapés. 
Comem alimentos humanos diversos e artrópodes pequenos

Lava-pés - são frequentes nos jardins, calçadas e até mesmo dentro de casa. Os ninhos tornam-se visíveis após períodos de chuva.
A maioria das pessoas, quando picadas por formigas lava-pés, queixa-se de ardor local e aparecimento de pequenas flictenas. Num reduzido número de pessoas, a picada poderá provocar um choque anafilático com taquicardia e respiração difícil por edema de glote que morrerão se não forem assistidas. Aninham-se geralmente ao ar livre, mas frequentemente estabelecem colónias em vãos da parede e alimentam-se de uma variedade de alimentos


Argentinas - As colónias têm muitas rainhas e podem ter milhares de operárias. Os ninhos encontram-se dentro e fora de casa; são vistas durante o dia, mas também são activas à noite. Têm preferência por alimentos doces (omnívoras) 



Cabeçudas - Abrigam-se nas paredes exteriores das residências, frestas de calçadas e jardins. Comem alimentos humanos diversos e artrópodes pequenos



Atacando o lanche


Imagens Google
Pesquisa web

terça-feira, 9 de setembro de 2014

"QUE ENTRE(M) O(S) PALHAÇO(S)"




Não será o palhaço mais importante, Mr. Merryman, que actuava a cavalo no circo, mas é o "meu palhaço" - aquela figura lírica, ingénua, frágil, campónia, intemporal, vestida de uma maneira engraçada, com fatos desproporcionados e multicoloridos, maquiagens especiais e acessórios característicos, o paradoxo da alegria e da tristeza - dois extremos da mesma coisa - uma alegoria sem igual da beleza da vida, que me acompanha desde há algumas décadas.

A recordação - oferecida pela minha irmã T. para mim ou para o meu filho L. - de um tempo, cuja distância fez apagar as pegadas do verdadeiro destinatário… tem tido "assento" em todos os compartimentos da casa - e o acordeão nunca desafina!

Neste vídeo de Judy Collins  percebe-se o paralelo dos paradoxos entre a melancolia da canção com a alegria dos palhaços que brincam durante a execução.


Em muitas referências, o palhaço entra em cena quando alguma coisa não está a correr bem num espectáculo, a fim de ludibriar e entreter a plateia, desviando-a do inesperado que acabou de acontecer ou, muito simplesmente, para mudar o centro da atenção de um lugar para outro

Send in the Clowns, tem como tema, justamente, esta ideia do palhaço. 
- Depressa, que entrem os palhaços!


Fonte video -Internet

domingo, 7 de setembro de 2014

ALDEIAS - 1




Não englobando as já diferenciadas 12 “aldeias históricas” (Almeida, Castelo Mendo, Belmonte, Castelo Novo, Castelo Rodrigo, Idanha-a-Velha, Monsanto, Piódão, Marialva, Linhares da Beira, Sortelha e Trancoso), onde a defesa do património é o denominador comum e a singularidade e história individual, são valorizadas em cada pormenor, as aldeias portuguesas conservam, duma maneira geral, as velhas tradições de Portugal e o seu próprio património histórico com realidades diversas, tanto do ponto de vista geográfico como dos povos que as habitaram. 

A mudança nos modos de vida só começou a surgir, muito lentamente, com uma industrialização tardia e consequente fuga para as cidades e com a influência da emigração /regresso e retornados das ex-colónias.
Ocorreu um enorme impacto no consumo, surgiram muitas casas de linhas arquitectónicas diferentes mais confortáveis e perdeu-se tradicionalismo ao nível das relações e comportamentos sociais.

Continua a haver as típicas aldeias alentejanas caiadas de branco puro, perdidas no meio da despreocupada planície, como São Gregório (Borba) e os seus vinhedos, Évoramonte (Estremoz) com o seu imponente castelo medieval e pacatas ruas, Brotas (Mora) e o seu templo quinhentista dedicado a Nossa Senhora das Brotas ou Santa Susana (Alcácer do Sal) com a sua igrejinha e povoado de pequenas casas térreas.



Évoramonte                                              Santa susana

Na praia da Tocha (Cantanhede), ainda se mantem o essencial da técnica de arrasto (arte de xávega) que termina com o puxar das redes até ao areal, ajudada pelos barcos típicos e veraneantes e os antigos palheiros de pescadores que foram recuperados para casas de férias
Na Carrasqueira, aldeia ribeirinha em plena Reserva Natural do Estuário do Tejo, também se conservam os típicos palheiros da beira-Sado - casas de madeira cobertas de caniço (o cais palafítico), que se estendem pelos esteiros lamacentos do rio.


Praia da Tocha                                              Carrasqueira

No Algarve,
aldeias piscatórias que conservam as características tradicionais da arquitectura popular e a gastronomia típica, como Cacela-a-Velha, no cimo de um morro, entre as dunas, situada no sítio onde acaba a ria, no extremo Este do Parque Natural da Ria Formosa, a caminho da praia de Manta Rota.

Cacela Velha mantém toda a sua traça, incluindo a velha nora do poço, diante da fortaleza, com um magnífico miradouro sobre a Ria Formosa e o mar. 

Cacela-a-Velha

No centro do País, entre montes e serras, existem as aldeias-do-xisto que agora fazem parte duma rede turística como Gondramaz (Miranda do Corvo), com as suas figuras trabalhadas pelos escultores locais, Talasnal, escondida no meio da Serra da Lousã e Aldeia da Pena - Penedos de Góis.

Talasnal

Nelas se encontra o mel com origem protegida e o medronho aproveitado para fazer compotas e aguardente, o pão caseiro e o famoso cabrito assado.


Chanfana                                                     Aldeia da Pena

Olho Marinho e Vila Nova de Poiares produzem a olaria (caçoilos de barro) que leva a chanfana, prato típico da região, ao forno a lenha.

No Minho e em Trás-os-Montes subsistem aldeias comunitárias onde os seus habitantes partilham as tarefas, as terras e os espaços, como Rio de Onor e Pitões das Júnias.

 Rio de Onor
 Pitões das Júnias

Também na região de Lisboa existem aldeias saloias típicas como Caneças onde foi rodado o filme “A Aldeia da Roupa Branca” que destaca a vivência das suas gentes ou a Aldeia-miniatura do Sobreiro, construída a partir do nada por José Fonte Franco, um ceramista local.

       Caneças                                                         Aldeia miniatura do Sobreiro


E os exemplos, felizmente, são muitos.

Outras, quase deixaram (ou deixaram mesmo) de ter qualquer identidade - as aldeias menos povoadas de Portugal (eleitas pelo blogue Toprural) - e custa imaginar como o interior do País, com o espirito familiar que o envolve, se aproxima vorazmente da extinção

São exemplos:

Aldeia da Pena - A 20 Km de S. Pedro do Sul, possui 6 habitantes e 10 casas de xisto, para habitação.

Aldeia de Cubas - Localizada em Vila Pouca de Aguiar, tem apenas dois casais de idosos que estão desavindos por causa da limpesa dos terrenos e um ” lindíssimo percurso pedestre de 12 km por entre magnificas paisagens”.




Aldeia Nova - Situada no concelho de Almeida, com sede em Mido, tem actualmente 33 habitantes. Mas possui internet wireless desde 2009…




Goujoim - Com apenas 58 habitantes, fica localizada no município de Armamar. É considerada uma “aldeia museu” por ser uma das mais antigas






Asnela - Há 50 anos atrás contava uma população de 250 pessoas; hoje não existem mais do que 10. As casas de granito são o seu maior atractivo. Não tem nem nos arredores, qualquer café ou padaria





Montes Altos - A aldeia, em 1993 tinha apenas 11 habitantes porem, apesar de continuar pequena (70 habitantes), cresceu devido ao centro social de Montes Altos, que também oferece apoio domiciliário às freguesias vizinhas.


Cortecega - Com apenas 11 habitantes, a Aldeia “possui uma dinâmica activa do mundo rural”. Mantem as tradições de muitos outros locais do norte de Portugal e surpreende o espirito familiar que a envolve.





Adagoi (nome de origem germânica que significa “veiga ou pequeno vale") - está desabitada, porque o seu único habitante foi viver para uma aldeia vizinha. Sem vida  humana mas com  muitos alojamentos rurais nas redondezas.


A esta lista, acrescento dois lugares abandonados em meados do século XX, anexos da minha freguesia, Cerdeira

Azilheira - Em 1890 tinha, pelo menos, 3 fogos.  
Santo Amaro do Cortelho - Aqui, depois de ter estado sem habitantes, fixou-se um casal estrangeiro durante algum tempo. Agora, penso, voltou ao silêncio interrompido, apenas, pela festa do padroeiro no dia 15 de Janeiro, com missa e procissão.
santuário de Santo Amaro, situado  no limite da  freguesia e paróquia da Cerdeira, junto ao Porto Mourisco e Ribeira das Cabras, foi muito visitado nos séculos XVII, XVIII e XIX. Gente devota do santo protector dos doentes dos ossos, ainda alí acorre para lhe oferecer, em madeira, a parte do corpo curada.


O forno comunitário existente, testemunha o modo de vida de outrora.

Santo Amaro do Cortelho
Fiz esta pequena resenha sobre as tradições e património de carácter único, que vale a pena descobrir, sem pressas, para me referir também, nesse aspecto, à minha Aldeia (sempre ela).


CERDEIRA

É uma povoação muito antiga, com carta de foral dada por Afonso III em 1253.

«O vigario era da apresentação do abbade dos Bernardos de Sancta Maria d’Aguiar…»
«Fora da povoação existe um pequeno reduto, semelhante aos que existiam noutras freguesias, como Ruivós e Casteleiro e que, apesar de singelo e de simples construção, tem merecido o respeito de todos, sendo o mais completo de quantos tínhamos visto até 1889. Era nestes redutos que se recolhiam todos os moradores em tempos de guerra. Onde não havia redutos recolhiam-se nas igrejas paroquiais.
Afirma-se que a pequena distância da povoação existia também uma atalaia donde vigiavam o inimigo e davam sinais a outros povos.
A igreja paroquial está fora da povoação e é regularmente ornada. O orago da freguesia é Nossa Senhora da Visitação.
Pertencem à Cerdeira as Quintas da Redondinha que tem 13 fogos, a da Azilheira que tem 3 e o Cortelho que tem igualmente 3 fogos.»
Augusto de Pinho Leal (1816-1884), militar, escritor, historiador


Sendo uma povoação tão antiga teve, com certeza, muitas pedras com história para contar.
É certo que foi vandalizada várias vezes - invasões castelhanas quando entraram em Portugal por Almeida, invasões francesas (Marmont), guerra dos sete anos (?)
Mas lembro-me - e vou referir-me apenas à igreja paroquial - de ver ícones de santos espalhados pelo chão do sótão (os que estavam antes dos actuais e que, entretanto, desapareceram - as crianças são tão curiosas!) muito semelhantes aos que abaixo apresento (século XVII / XVIII?).



Uns tantos anos mais tarde, reparei que a linda via-sacra, talvez da mesma época, estava bastante deteriorada e tomei a iniciativa de doar uma determinada quantia para a restaurar.
Mas, no ano seguinte, em vez da preciosidade restaurada estava outra mais moderna. Tinha sido vendida.




E assim, ao contrário do património conservado pelas aldeias acima citadas, a minha, desde há algumas décadas que se tem preocupado mais em descaracterizà-lo (ultimamente com boas intenções, penso) - a lindíssima talha dourada dos altares, que passou a prateada (basta fazer uma simples comparação com a do altar de Santo Amaro, em cima), murais atrás do altar-mor (?) e substituição do sino da torre sineira de timbre grave, por um mecanizado, de timbre estridente e agudo.
Para o crítico Fernando Gabrielli, a destruição dos sinos icónicos é um crime. “Eles são a música do mundo”.
Eu e a minha aldeia estamos, em muitos aspectos, cada vez mais separadas, razão porque não consigo envolver-me mais na dinâmica dum espírito construtivo diferente, como muito gostaria.


Imagens Google