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domingo, 7 de setembro de 2014

ALDEIAS - 1




Não englobando as já diferenciadas 12 “aldeias históricas” (Almeida, Castelo Mendo, Belmonte, Castelo Novo, Castelo Rodrigo, Idanha-a-Velha, Monsanto, Piódão, Marialva, Linhares da Beira, Sortelha e Trancoso), onde a defesa do património é o denominador comum e a singularidade e história individual, são valorizadas em cada pormenor, as aldeias portuguesas conservam, duma maneira geral, as velhas tradições de Portugal e o seu próprio património histórico com realidades diversas, tanto do ponto de vista geográfico como dos povos que as habitaram. 

A mudança nos modos de vida só começou a surgir, muito lentamente, com uma industrialização tardia e consequente fuga para as cidades e com a influência da emigração /regresso e retornados das ex-colónias.
Ocorreu um enorme impacto no consumo, surgiram muitas casas de linhas arquitectónicas diferentes mais confortáveis e perdeu-se tradicionalismo ao nível das relações e comportamentos sociais.

Continua a haver as típicas aldeias alentejanas caiadas de branco puro, perdidas no meio da despreocupada planície, como São Gregório (Borba) e os seus vinhedos, Évoramonte (Estremoz) com o seu imponente castelo medieval e pacatas ruas, Brotas (Mora) e o seu templo quinhentista dedicado a Nossa Senhora das Brotas ou Santa Susana (Alcácer do Sal) com a sua igrejinha e povoado de pequenas casas térreas.



Évoramonte                                              Santa susana

Na praia da Tocha (Cantanhede), ainda se mantem o essencial da técnica de arrasto (arte de xávega) que termina com o puxar das redes até ao areal, ajudada pelos barcos típicos e veraneantes e os antigos palheiros de pescadores que foram recuperados para casas de férias
Na Carrasqueira, aldeia ribeirinha em plena Reserva Natural do Estuário do Tejo, também se conservam os típicos palheiros da beira-Sado - casas de madeira cobertas de caniço (o cais palafítico), que se estendem pelos esteiros lamacentos do rio.


Praia da Tocha                                              Carrasqueira

No Algarve,
aldeias piscatórias que conservam as características tradicionais da arquitectura popular e a gastronomia típica, como Cacela-a-Velha, no cimo de um morro, entre as dunas, situada no sítio onde acaba a ria, no extremo Este do Parque Natural da Ria Formosa, a caminho da praia de Manta Rota.

Cacela Velha mantém toda a sua traça, incluindo a velha nora do poço, diante da fortaleza, com um magnífico miradouro sobre a Ria Formosa e o mar. 

Cacela-a-Velha

No centro do País, entre montes e serras, existem as aldeias-do-xisto que agora fazem parte duma rede turística como Gondramaz (Miranda do Corvo), com as suas figuras trabalhadas pelos escultores locais, Talasnal, escondida no meio da Serra da Lousã e Aldeia da Pena - Penedos de Góis.

Talasnal

Nelas se encontra o mel com origem protegida e o medronho aproveitado para fazer compotas e aguardente, o pão caseiro e o famoso cabrito assado.


Chanfana                                                     Aldeia da Pena

Olho Marinho e Vila Nova de Poiares produzem a olaria (caçoilos de barro) que leva a chanfana, prato típico da região, ao forno a lenha.

No Minho e em Trás-os-Montes subsistem aldeias comunitárias onde os seus habitantes partilham as tarefas, as terras e os espaços, como Rio de Onor e Pitões das Júnias.

 Rio de Onor
 Pitões das Júnias

Também na região de Lisboa existem aldeias saloias típicas como Caneças onde foi rodado o filme “A Aldeia da Roupa Branca” que destaca a vivência das suas gentes ou a Aldeia-miniatura do Sobreiro, construída a partir do nada por José Fonte Franco, um ceramista local.

       Caneças                                                         Aldeia miniatura do Sobreiro


E os exemplos, felizmente, são muitos.

Outras, quase deixaram (ou deixaram mesmo) de ter qualquer identidade - as aldeias menos povoadas de Portugal (eleitas pelo blogue Toprural) - e custa imaginar como o interior do País, com o espirito familiar que o envolve, se aproxima vorazmente da extinção

São exemplos:

Aldeia da Pena - A 20 Km de S. Pedro do Sul, possui 6 habitantes e 10 casas de xisto, para habitação.

Aldeia de Cubas - Localizada em Vila Pouca de Aguiar, tem apenas dois casais de idosos que estão desavindos por causa da limpesa dos terrenos e um ” lindíssimo percurso pedestre de 12 km por entre magnificas paisagens”.




Aldeia Nova - Situada no concelho de Almeida, com sede em Mido, tem actualmente 33 habitantes. Mas possui internet wireless desde 2009…




Goujoim - Com apenas 58 habitantes, fica localizada no município de Armamar. É considerada uma “aldeia museu” por ser uma das mais antigas






Asnela - Há 50 anos atrás contava uma população de 250 pessoas; hoje não existem mais do que 10. As casas de granito são o seu maior atractivo. Não tem nem nos arredores, qualquer café ou padaria





Montes Altos - A aldeia, em 1993 tinha apenas 11 habitantes porem, apesar de continuar pequena (70 habitantes), cresceu devido ao centro social de Montes Altos, que também oferece apoio domiciliário às freguesias vizinhas.


Cortecega - Com apenas 11 habitantes, a Aldeia “possui uma dinâmica activa do mundo rural”. Mantem as tradições de muitos outros locais do norte de Portugal e surpreende o espirito familiar que a envolve.





Adagoi (nome de origem germânica que significa “veiga ou pequeno vale") - está desabitada, porque o seu único habitante foi viver para uma aldeia vizinha. Sem vida  humana mas com  muitos alojamentos rurais nas redondezas.


A esta lista, acrescento dois lugares abandonados em meados do século XX, anexos da minha freguesia, Cerdeira

Azilheira - Em 1890 tinha, pelo menos, 3 fogos.  
Santo Amaro do Cortelho - Aqui, depois de ter estado sem habitantes, fixou-se um casal estrangeiro durante algum tempo. Agora, penso, voltou ao silêncio interrompido, apenas, pela festa do padroeiro no dia 15 de Janeiro, com missa e procissão.
santuário de Santo Amaro, situado  no limite da  freguesia e paróquia da Cerdeira, junto ao Porto Mourisco e Ribeira das Cabras, foi muito visitado nos séculos XVII, XVIII e XIX. Gente devota do santo protector dos doentes dos ossos, ainda alí acorre para lhe oferecer, em madeira, a parte do corpo curada.


O forno comunitário existente, testemunha o modo de vida de outrora.

Santo Amaro do Cortelho
Fiz esta pequena resenha sobre as tradições e património de carácter único, que vale a pena descobrir, sem pressas, para me referir também, nesse aspecto, à minha Aldeia (sempre ela).


CERDEIRA

É uma povoação muito antiga, com carta de foral dada por Afonso III em 1253.

«O vigario era da apresentação do abbade dos Bernardos de Sancta Maria d’Aguiar…»
«Fora da povoação existe um pequeno reduto, semelhante aos que existiam noutras freguesias, como Ruivós e Casteleiro e que, apesar de singelo e de simples construção, tem merecido o respeito de todos, sendo o mais completo de quantos tínhamos visto até 1889. Era nestes redutos que se recolhiam todos os moradores em tempos de guerra. Onde não havia redutos recolhiam-se nas igrejas paroquiais.
Afirma-se que a pequena distância da povoação existia também uma atalaia donde vigiavam o inimigo e davam sinais a outros povos.
A igreja paroquial está fora da povoação e é regularmente ornada. O orago da freguesia é Nossa Senhora da Visitação.
Pertencem à Cerdeira as Quintas da Redondinha que tem 13 fogos, a da Azilheira que tem 3 e o Cortelho que tem igualmente 3 fogos.»
Augusto de Pinho Leal (1816-1884), militar, escritor, historiador


Sendo uma povoação tão antiga teve, com certeza, muitas pedras com história para contar.
É certo que foi vandalizada várias vezes - invasões castelhanas quando entraram em Portugal por Almeida, invasões francesas (Marmont), guerra dos sete anos (?)
Mas lembro-me - e vou referir-me apenas à igreja paroquial - de ver ícones de santos espalhados pelo chão do sótão (os que estavam antes dos actuais e que, entretanto, desapareceram - as crianças são tão curiosas!) muito semelhantes aos que abaixo apresento (século XVII / XVIII?).



Uns tantos anos mais tarde, reparei que a linda via-sacra, talvez da mesma época, estava bastante deteriorada e tomei a iniciativa de doar uma determinada quantia para a restaurar.
Mas, no ano seguinte, em vez da preciosidade restaurada estava outra mais moderna. Tinha sido vendida.




E assim, ao contrário do património conservado pelas aldeias acima citadas, a minha, desde há algumas décadas que se tem preocupado mais em descaracterizà-lo (ultimamente com boas intenções, penso) - a lindíssima talha dourada dos altares, que passou a prateada (basta fazer uma simples comparação com a do altar de Santo Amaro, em cima), murais atrás do altar-mor (?) e substituição do sino da torre sineira de timbre grave, por um mecanizado, de timbre estridente e agudo.
Para o crítico Fernando Gabrielli, a destruição dos sinos icónicos é um crime. “Eles são a música do mundo”.
Eu e a minha aldeia estamos, em muitos aspectos, cada vez mais separadas, razão porque não consigo envolver-me mais na dinâmica dum espírito construtivo diferente, como muito gostaria.


Imagens Google

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