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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

EM VIAS DE EXTINÇÃO


OPINIÕES... CONVERGENTES:

Portugal desceu abaixo dos cem mil nascimentos, o que acontece pela primeira vez. E morrem muitos mais.
As gerações atuais são cada vez mais pequenas e têm cada vez menos filhos - critica Leston Bandeira, professor do Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa e coordenador do estudo do envelhecimento da população portuguesa desde 1950 (Instituto do Envelhecimento).


Baixa natalidade: Portugal está a desaparecer.
Portugal envelhecido: Um terço do País sem crianças. 
Esta é uma das notícias em destaque no Correio da Manhã

O sociólogo António Barreto admite que Portugal  deixe de existir como estado independente dentro de algumas décadas e esteja  integrado noutro modelo europeu. Depende da nossa liberdade e das nossas decisões de hoje saber o que  vamos construir daqui a um século, considera.



"Tem calma, o teu País está a desaparecer"
Para comemorar o seu 18.º aniversário, a Galeria ZDB reúne numa exposição os artistas plásticos com quem tem mantido uma relação próxima em termos de produção, criação e reflexão


Nas mãos de angolanos, chineses, indianos, paquistaneses – Com Governo Moribundo Portugal envelhecido já bateu no fundo - Desoculto Noturno, por Luís de Raziel

Mais cinco anos de austeridade arruinarão Portugal
O Que É Certo, É Que Com Este Governo, O País Caminha Para Um País Do 3º Mundo, Com Muitas Barracas, Muita Criminalidade E Provavelmente Virá A Ser Governado Por Mafias Criminais - João Palma-Ferreira, jornalista do Expresso, no 'Jornal de Economia' da SIC Notícias.


Para onde caminha este país? Juvenal Rodrigues

Economia portuguesa pode 'desaparecer' durante uma década - por João Silvestre, jornalista do Expresso

Presidente da Caixa Agrícola diz que troika está a fazer desaparecer a produção


Portugal está muito próximo de desaparecer por completo.
"We are in the verge of a global transformation, all we need is the right major crisis and the nations will accept the New World Order" - David Rockefeller

O fraco desempenho da economia portuguesa foi explorado pelo The Economist, que descreveu Portugal como "um novo homem doente da Europa"

Pois é. Seguro, tal como Passos Coelho, gostam de dar a ideia de que Portugal existe como país (pátria ou nação são coisas do passado). Mas estão enganados. Portugal foi, mas já não é - Orlando Castro

A classe média como a conhecemos em Portugal pode desaparecer como consequência da crise económica que o país atravessa, disse à Lusa o sociólogo Elísio Estanque.


A Confederação Portuguesa das micro, pequenas e médias empresas deu o alerta: Micro, pequenas e médias empresas estão a desaparecer

Centralização:
Beja, Bragança e Portalegre correm risco de desaparecer, por Francisco Mangas

O interior está em risco de desaparecer? O Clube dos Amigos e dos Inimigos da Dispersão [CAID]


Destruição
Registos do trauma da perda do Portugal Rural- Revista Punkto - Álvaro Domingues

O antigo reitor da Universidade de Coimbra Fernando Rebelo defendeu hoje que toda a costa portuguesa está sujeita ao risco de tsunami, e não apenas a sul de Peniche, como consta no Mapa Oficial de Riscos - Ciências da Terra


Viana do Castelo, Aveiro, Vila Franca de Xira, linha de Cascais - o mapa de Portugal pode mudar nos próximos anos com a subida do nível médio do mar.

«A arte está a desaparecer em Portugal»
Olga Roriz recebe Prémio Latinidade, mas considera que «tem sabor agridoce» já que pondera sair do país.


Os corvos da cidade de Lisboa estão a desaparecer
Símbolo da cidade de Lisboa, o corvo tem vindo aos poucos a desaparecer  das áreas urbanizadas. Portugal é mesmo um dos poucos países onde as populações  desta ave inteligente estão a diminuir. E nada está a ser feito para as proteger - por Mariana Correia de Barros


A Rola Brava está a desaparecer em Portugal - naturezaselvagem


O burro está a desaparecer em Portugal - facebook


As trutas vão desaparecer no final deste século, na Península Ibérica.

" As sardinhas estão a desaparecer. A costa portuguesa perdeu cerca de 55% da quantidade de sardinha nos últimos 10 anos, o que aumentou o preço desse peixe.

O lobo ibérico é considerado neste momento, uma espécie em vias de extinção.
O lobo continua a sofrer uma perseguição que na maioria dos casos é ilegal e infelizmente também é impune - natureza/desaparecer



A crise dos últimos quatro anos tem feito desaparecer o sorriso das caras dos portugueses


A lista de peixes da Greenpeace para Portugal é uma lista de espécies que são vendidas nos supermercados portugueses e que correm sérios riscos de serem provenientes de pescas ou de viveiros insustentáveis - Alimentacaoviva

A quantidade de fitoplâncton presente nas camadas superiores dos oceanos tem vindo a decair de forma consistente.- (o fitoplâncton está na base da cadeia alimentar oceânica) -natureza | news and views


E termino a lista de opiniões sombrias sobre o Ciclo da Vida de um País que pode deixar de existir, tal como a Ilha de Páscoa, no Oceano Pacífico, cujos habitantes desapareceram "pelas decisões tomadas e pela maneira como viviam", deixando também a imagem do arco-íris, símbolo de um recomeço em um qualquer lugar para além dele.

Ocorreu na cidade do PORTO


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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

NO PRINCÍPIO ERA A ESCRITA...




Escrita pictórica Suméria - representação de objectos ou ideias, 3400 a. C.
Tábuas de Ugarit - Alfabeto cuneiforme Fenício, 1.º alfabeto da História Humana

LETRA - Cada um dos caracteres impressos, escritos ou gravados, puramente fonéticos do ABECEDÁRIO / Conjunto de letras do ALFABETO / Palavra que vem de alfa + beta, totalmente abstracto, possui grafemas que representam fonemas (unidade básica de um som), adaptado e utilizado para quaisquer línguas, sem ligação entre os significados e a representação gráfica do texto - latino, grego, cirílico ou caracteres NÃO ALFABÉTICOS/ Sistemas de escrita que não representam os fonemas das palavras - árabe, hebraico, siríaco, escrita etíope, chinesa, hieroglíficos chineses, pictogramas modernos, cuja finalidade é a COMUNICAÇÃO ESCRITA / Registo visual dos símbolos de uma LÍNGUA FALADA / Comunicação humana na qual palavras derivadas de um grande vocabulário, associadas a nomes, são pronunciadas pela boca, embora existam línguas humanas que tenham o seu próprio vocabulário mas que não são faladas, as LÍNGUAS GESTUAIS / Têm a mesma origem natural que as línguas faladas mas só parte da boca é utilizada, juntamente com as mãos, braços e rosto para COMUNICAR / Troca de informações, ideias, experiências e sentimentos entre duas ou mais pessoas que implica existir uma mensagem, um emissor que a transmite, um receptor que a recebe, o MEIO e o CÓDIGO / Variam de acordo com as características da mensagem escrita, oral ou gestual através do corpo ou de MEIOS TECNOLÓGICOS /Faxe, rede Telex, rádio, televisão, Internet  telemóvel e computador (SMS, e-mail, MSN, MMS ); GPS, sem os quais hoje seria impensável viver a nível profissional e social e ainda a ESCRITA / Primeira grande tecnologia inventada pelo homem que iniciou o que a impressão e os computadores apenas continuam, a propagação das ideias e do conhecimento, especialmente a ALFABÉTICA, cujo principio permanece constante, ao ser a ortografia a defender o valor funcional das LETRAS

E não há invenção que não derive de outras descobertas. (Como a "Pescadinha de rabo na boca")




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sexta-feira, 16 de novembro de 2012

FAZER ANOS


Benjamin Palencia - Las idades de la vida

É somar 365 dias ao primeiro de viventes
Em ritmos, comportamentos e cores diferentes
Dum dia para o outro, pimba, sem influentes.
É acender velas à manifesta chama da vida
E apagar as do tempo que passa, em despedida
Pra contar mais um ano de idade, outro de partida.



É não sermos ultrapassados pelo tempo
Mas fazer em sintonia com ele, passatempo
Interagindo o comportamento.
É enriquecer o passado em constante corda bamba
Completar ciclos velhos e abrir outros sem descamba
Com novas experiencias sempre em camba.
É passar pelas despreocupadas gargalhadas da infância


E pela adolescência do idealismo, angustias, discordância
Rebeldia, frustrações e petulância.
É viver os sonhos, o risco, a energia,
E lutar por realizações actuais, na alegria
Duma juventude não alienada, em cada dia.


                         Primavera -Sónia Madruga

É crescer depressa demais com esperança,
Trabalho, construção, perseverança
Desafios, encruzilhadas, desconfiança.


Faculdade -Tecnologia

É apreciar detalhes, o valor dos gestos, o dia-a-dia,  
Sorrir com luz ou a preto e branco prá fotografia,
Incluindo mais um no tempo, com sabedoria.
É cultivar autoestima pra aceitar os esquecidos
Anos parados, individuais ou coletivos
Os que mandam em nós ou os divertidos.
É conservar os menos mas verdadeiros amigos
Que podem ou não ser os mais antigos
Eles serão sempre aliados, nunca inimigos.
É não envelhecer de experiencias correntes,
Usando e abusando de momentos diferentes
Ou procurando atividades recentes.



É dar um passo e outro ainda
Guardando a mente da berlinda
E a estrela cadente, também, linda.
É partilhar sob o signo da renovação
O bolo do culto de Artemisa e então,
Esquivar-se ao ritmo da alienação



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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

SÃO MARTINHO


Túmulo de S. Martinho na Basílica de Saint-Martin


Depois da popularidade dos três Santos da época do verão (Santo António, S. João e S. Pedro), S. Martinho é o mais popular não só em Portugal como na Europa e outros lugares no mundo.

É isso que faz com que a ilha de S. Martinho, nas Pequenas Antilhas, dez vezes mais pequena do que a Madeira, tenha duas soberanias - Sint Maarten, holandesa e Saint-Martin, francesa - haja 67 topónimos simples (S. Martinho) de lugares e povoações em Portugal, 7.000 famílias francesas de apelido Martin e 3.700 paróquias com o nome do santo, St. Martin’s day em Inglaterra, Sankt Martin em alemão, uma infinidade de provérbios relacionados com diversas atividades (do vinho, dos frutos, dos animais) e o nome seja invocado em cerimónias religiosas dos locais de culto, assim como o seu espírito de solidariedade.

Igreja de Saint Martin em Tours  e Ilha                                             
S. Martinho do Porto e Mosteiro de S.Martinho de Tibães

Martinho de Tours, filho de um oficial romano pagão, nasceu na Hungria, antiga Panónia, por volta de 316.
Com 10 anos torna-se aspirante a cristão e assim foi instruído, embora não tenha sido batizado. Para o afastar da Igreja, já adolescente, o Pai alistou-o na cavalaria do exército imperial. Continuava, no entanto, a praticar os ensinamentos cristãos, especialmente a caridade.
Depois foi prestar serviço para França, antiga Gália. Aos 18 anos abandonou o exército, batizou-se, fez-se monge e discípulo do Bispo de Poitiers, Santo Hilário, que o ordenou diácono.

São Martinho abandona o exército por Cristo

Em 365 quis regressar à sua terra de nascimento para a evangelizar mas foi expulso por causa do Arianismo.
Quando o Bispo voltou para Poitiers, doou um terreno a Martinho onde fundou a primeira comunidade monástica da Gália. Porém, como a afluência de jovens era grande, construiu o primeiro Mosteiro da Europa Ocidental e, juntamente com os já monges, converteu o povo de todas as aldeias que visitava.
Em 371 tornou-se Bispo de Tours por aclamação popular, cargo que ocupou cerca de 26 anos, até à sua morte em 397.



E em 11 de novembro foi enterrado na cidade de que fora Bispo, dia que passou a celebrar-se no calendário litúrgico.
Venerado como S. Martinho de Tours, tornou-se o primeiro Santo não mártir a receber culto oficial da Igreja e um dos mais populares da época medieval.

Há muitos episódios lendários ligados a S. Martinho relacionados com milagres em benefício dos pobres e doentes, devido dizem, aos dons místicos que possuía. 
Mas o mais conhecido é o da partilha da sua capa com um mendigo, quando ainda era soldado na Gália.
Martinho regressava a Amiens montado a cavalo, num dia frio e tempestuoso. No caminho encontrou um mendigo quase nu que lhe estendeu a mão gelada. Desceu do cavalo e sem hesitar, pegou na espada, cortou o manto ao meio e deu-lhe metade. Subitamente a tempestade parou e o sol apareceu, aquecendo a Terra.


Diz-se que Deus, para que não se apagasse da memória dos homens este ato de bondade, todos os anos o tempo melhora e o sol aparece.
Por norma, na véspera e no dia de S. Martinho, o acontecimento repete-se pelo que se chama “verão de S. Martinho”.
Explicado meteorologicamente, parece que é por esta altura que o nosso anticiclone se desloca, impedindo a entrada de massas de ar, tonando o tempo mais quente.

O facto de o dia coincidir com a época do ano em que se celebra o culto dos antepassados e com a altura em que se começam a usufruir as colheitas agrícolas, é sobretudo a festa do atestar das pipas de vinho novo depois das vindimas que lhe confere um colorido mais exuberante.

 "Pelo S. Matinho vai à adega e prova o vinho"

Para os adeptos das tradições, no dia 11 de novembro fazem-se magustos mais ou menos alargados com as primeiras castanhas do ano, assadas em fogueiras ao ar livre ou no forno, acompanhadas de vinho novo, jeropiga, vinho do Porto ou água-pé.
É uma festa de amizade e confraternização, de cheirinho a castanha assada, dos saltos sobre a fogueira e da saudade das caras felizes enfarruscadas da infância.
Pensa-se que a origem do magusto está num antigo sacrifício em honra dos mortos.

Em Lisboa, junto dos tradicionais carrinhos de vendedores de rua ouve-se como sempre: “Quem quer quentes e boas, quentinhas ”; fazem -se magustos em alguns Bairros e na comunidade do Parque das Nações a fim de angariar fundos para a construção da nova Igreja dos Navegantes este ano há: “Chouriço assado, Caldo Verde, Arroz de Feijão, Porco no Espeto, Frutas e Bolos, Água-pé, Vinhos e Sumos, as tradicionais Castanhas Assadas e a Jeropiga”

Por toda a Europa os festejos em honra de S. Martinho estão relacionados com o cultivo da terra, o vinho novo e a água-pé, sobretudo nos países do sul.
Daí os adágios:
«Pelo São Martinho vai à adega e prova o teu vinho», «Castanhas e vinho pelo São Martinho», «No dia de S. Martinho, mata o teu porco, chega-te ao lume, assa castanhas e prova o teu vinho» e muitos outros. 

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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

A MATANÇA DO PORCO


Já viajei em muitos meios de transporte mas de ambulância foi a a primeira vez.


- Vai ter companhia, disse o jovem e simpático bombeiro. É só esperar uns 10 minutos.
- Costumam levar mais do que uma pessoa?
- Aqui dentro já chegaram a ir quatro, entre sentados e deitados.

A função do tipo de ambulância em questão devia ser, penso, apenas para situações não-urgentes porque não vi luzes rotativas nem ouvi sirenes.

- Senhor AA, vai ficar ao lado da senhora TT, que já entrou - explicou o mesmo bombeiro à medida que fazia avançar a maca para dentro, deslizando sobre uma rampa móvel.
- Boa noite, interpelei eu, para dar mote ao silencioso ancião. Qual é a sua rua?
- É onde vive a minha neta. Então vai à matança do porco? Precisamos das chouriças e das morcelas!
- Há muitos anos que não vou, desde o tempo em que os meus Pais a faziam.
- Então não vai ter as buxanas, os chouriços…
- Pois... 


MATANÇA!

E comecei a recordar...

Nos primeiros meses comprava-se o porco na feira para ser cevado durante o ano e morto pelo Natal.



De quem não fizesse matança dizia-se: ”Coitados, são tão pobres que nem mataram!”
O porco ocupava um lugar muito importante na alimentação familiar porque se come quase todo, desde as orelhas, sangue, rabo e tripas, tendo sido desde sempre um dos animais domésticos cuja criação e consumo maior relevo teve em todo o País.
A festa da matança, muito trabalhosa, era sobretudo de alegria entre participantes, familiares e amigos. Agora é quase um ato mecânico que dura algumas horas, é pago e feito para clientes mais idosos que não passam sem as suas chouriças, como o meu companheiro da ambulância.

Na casa dos meus Pais também havia a tradição/herança desse momento de convívio.
Logo bem cedo, pela manhã, começava o burburinho.
O porco mantinha-se em jejum desde o dia anterior para que os intestinos ficassem limpos.
Havia os homens (matador experiente e mais quatro ajudantes possantes) que faziam acompanhar o pão com enchidos do ano anterior, queijo e azeitonas de um copo de aguardente feita no alambique para “aquecer”; as mulheres que picavam cebolas e salsa para um alguidar vidrado com vinho, colorau, cominhos e pimentão a que iriam juntar o sangue do porco, gorduras e algumas carnes para fazer as morcelas; e nós, as crianças, ansiosas, sentadas à lareira, junto de uma enorme fogueira.

Depois, munidos de alguns feixes de lenha, os homens dirigiam-se à pocilga e atraiam o animal com qualquer alimento para o local de abate - um banco de madeira comprido e grosso, na rua da Carreira.

Aí, o bicho, ao abrir a boca para finalmente comer (maçaroca?) era enlaçado por uma corda que lhe apertava o focinho para não morder e, agarrado pelo rabo e orelhas, arrastado simultaneamente para cima do banco de madeira. Entretanto, as patas de trás passavam a cruzadas e eram amarradas à pata da frente que estava virada para baixo, para não espernear, momento em que, num instante, lhe era espetado com golpe certeiro, um grande facalhão no pescoço em direção ao coração (acto que nunca fui capaz de ver, encolhendo-me toda atras da janela da sala, balcão do bárbaro espectáculo).


O suíno, que antes já fazia um grande chinfrim, nessa altura guinchava ainda mais, acompanhando com espasmos violentos a sua luta final, agonia e morte rápidas, devido à enorme perda de sangue.
O sangue era recolhido por uma mulher para um alguidar de barro que tinha sido colocado antes, onde havia um preparado à base de sal e vinagre para evitar a coagulação e a ajuda de uma colher de pau.
A seguir, com um feixe de palha ou giestas a arder, desobstruíam os intestinos e com outro chamuscavam os pêlos do courato. 



Depois era esfregado, rapado e lavado com vários baldes de água morna.
E como esta operação se tornava minuciosa e demorada, a garrafa de aguardente e/ou geropiga ia circulando entre os homens, juntamente com algum sangue já cozido...


O matador cortava então uma parte junto aos tendões das patas de trás para, por meio de um chambaril, ser pendurado na loja, numa trave mestra da casa, onde ficava a escorrer.
Só depois é que o couro era aberto cuidadosamente, no sentido longitudinal, do rabo para a cabeça, evitando perfurar alguma tripa.
Sempre com cautela, ia cortando em profundidade até chegar às vísceras; tirava então o osso do peito, a língua, a fressura (pulmões), o coração e o fígado colocando tudo num alguidar de barro para, juntamente com sangue, se fazer a cacholada ou sarrabulho ou para outros fins culinários.
Seguiam-se as tripas, o buxo e a bexiga aos quais se tirava o véu, grande membrana rendilhada para, juntamente com uma das banhas ser frito para torresmos. Colocados num tabuleiro de madeira (o de levedar o pão) ou outro, as mulheres iam lavá-los na água corrente do rio Noémi.


E nós, sempre atrás delas para vermos o rio arrastar toda aquela sujidade.

O interior da carcaça era depois lavado com água para tirar as partes ensanguentadas e ficava a arrefecer, tapada com um pano, para o dia seguinte, dia do desmancho.

Enquanto o porco enxugava, os homens sentavam-se à mesa da sala com braseira por baixo, fumando provisórios e definitivos sem filtro, bebendo vinho e jogando às cartas até à hora da ceia (e depois dela) - um cozido com enchidos e carnes do ano anterior, batatas cozidas, uvas que tinham sido conservadas em pregos pendurados nas traves do tecto, maçãs bravo-de-esmolfe e castanhas assadas.

Nós as crianças, brincávamos na rua em grande algazarra, contando pelos dedos quantas matanças faltavam para terminar a romaria e comíamos pão com febras assadas nas brasas.



No dia seguinte, o animal era então cortado em presuntos, mãos, orelheiras, queixo, carne entremeada, lombos, focinheira, gorduras, febras, ossos, etc.

Da pele do lombo e da camada de gordura subjacente saía o toucinho para salgar. O resto da gordura era para a banha, tradicional na Beira Alta que depois de sofrer um processo de preservação, era vazada para uns grandes potes.

Toda a carne que não podia ser consumida nos primeiros dias, depois de convenientemente tratada, era conservada em sal numa arca de madeira (salgadeira) que se guardava na adega por ser o local mais fresco e que depois se ia comendo ao longo do ano, visto não haver aparelhos eletrodomésticos que conservassem os alimentos pelo frio.




As carnes para os enchidos ficavam uns dias temperadas em grandes alguidares donde iamos tirando algumas fêveras à socapa para comer, assadas, nas brasas da lareira.

As tripas enchiam-se com o auxilio de um pequeno funil de boca larga e chouriços, farinheiras, morcelas, bexiga, buxo e paios ficavam a curar pelo fumo.





A matança contribuía para o reforço dos laços de solidariedade entre familiares, vizinhos e amigos.


Por alegadas razões sanitárias e em nome de uma normalização imposta pela UE, a matança tradicional do porco foi ilegalizada e passou a punir-se quem a praticar, embora continue a fazer-se em vários lugares, ignorando a ASAE.


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