Túmulo de S. Martinho na Basílica de Saint-Martin
Depois da popularidade dos três Santos da época do verão (Santo António,
S. João e S. Pedro), S. Martinho é o mais popular não só em Portugal como na
Europa e outros lugares no mundo.
É isso que faz com que a ilha de S. Martinho, nas Pequenas Antilhas, dez
vezes mais pequena do que a Madeira, tenha duas soberanias - Sint
Maarten, holandesa e Saint-Martin, francesa - haja 67 topónimos
simples (S. Martinho) de lugares e povoações em Portugal, 7.000 famílias
francesas de apelido Martin e 3.700 paróquias com o nome do
santo, St. Martin’s day em Inglaterra, Sankt Martin em
alemão, uma infinidade de provérbios relacionados com diversas atividades (do
vinho, dos frutos, dos animais) e o nome seja invocado em cerimónias religiosas
dos locais de culto, assim como o seu espírito de solidariedade.
Igreja de Saint Martin em Tours e Ilha
S. Martinho do Porto e Mosteiro de S.Martinho de Tibães
Martinho de Tours, filho de um oficial romano pagão, nasceu
na Hungria, antiga Panónia, por volta de 316.
Com 10 anos torna-se aspirante a cristão e assim foi instruído, embora
não tenha sido batizado. Para o afastar da Igreja, já adolescente, o Pai
alistou-o na cavalaria do exército imperial. Continuava, no entanto, a praticar
os ensinamentos cristãos, especialmente a caridade.
Depois foi prestar serviço para França, antiga Gália. Aos 18 anos
abandonou o exército, batizou-se, fez-se monge e discípulo do Bispo de Poitiers,
Santo Hilário, que o ordenou diácono.
São Martinho abandona o exército por Cristo
Em 365 quis regressar à sua terra de nascimento para a evangelizar mas
foi expulso por causa do Arianismo.
Quando o Bispo voltou para Poitiers, doou um terreno a
Martinho onde fundou a primeira comunidade monástica da Gália. Porém, como a
afluência de jovens era grande, construiu o primeiro Mosteiro da Europa
Ocidental e, juntamente com os já monges, converteu o povo de todas as aldeias
que visitava.
Em 371 tornou-se Bispo de Tours por aclamação popular, cargo que ocupou
cerca de 26 anos, até à sua morte em 397.
E em 11 de novembro foi enterrado na cidade de que fora Bispo, dia que
passou a celebrar-se no calendário litúrgico.
Venerado como S. Martinho de Tours, tornou-se o primeiro
Santo não mártir a receber culto oficial da Igreja e um dos mais populares da
época medieval.
Há muitos episódios lendários ligados a S. Martinho relacionados com
milagres em benefício dos pobres e doentes, devido dizem, aos dons místicos que
possuía.
Mas o mais conhecido é o da partilha da sua capa com um mendigo, quando
ainda era soldado na Gália.
Martinho regressava a Amiens montado a cavalo, num dia frio e
tempestuoso. No caminho encontrou um mendigo quase nu que lhe estendeu a mão
gelada. Desceu do cavalo e sem hesitar, pegou na espada, cortou o manto ao meio
e deu-lhe metade. Subitamente a tempestade parou e o sol apareceu, aquecendo a
Terra.
Diz-se que Deus, para que não se apagasse da memória dos homens este ato
de bondade, todos os anos o tempo melhora e o sol aparece.
Por norma, na véspera e no dia de S. Martinho, o acontecimento repete-se
pelo que se chama “verão de S. Martinho”.
Explicado meteorologicamente, parece que é por esta altura que o nosso
anticiclone se desloca, impedindo a entrada de massas de ar, tonando o tempo
mais quente.
O facto de o dia coincidir com a época do ano em que se celebra o culto
dos antepassados e com a altura em que se começam a usufruir as colheitas
agrícolas, é sobretudo a festa do atestar das pipas de vinho novo depois das
vindimas que lhe confere um colorido mais exuberante.
"Pelo S. Matinho vai à adega e prova o vinho"
Para os adeptos das tradições, no dia 11 de novembro fazem-se magustos
mais ou menos alargados com as primeiras castanhas do ano, assadas em fogueiras
ao ar livre ou no forno, acompanhadas de vinho novo, jeropiga, vinho do Porto
ou água-pé.
É uma festa de amizade e confraternização, de cheirinho a castanha
assada, dos saltos sobre a fogueira e da saudade das caras felizes enfarruscadas
da infância.
Pensa-se que a origem do magusto está num antigo sacrifício em honra dos
mortos.
Em Lisboa, junto dos tradicionais carrinhos de vendedores de rua ouve-se
como sempre: “Quem quer quentes e boas, quentinhas ”; fazem -se magustos em
alguns Bairros e na comunidade do Parque das Nações a fim de angariar fundos
para a construção da nova Igreja dos Navegantes este ano há: “Chouriço
assado, Caldo Verde, Arroz de Feijão, Porco no Espeto, Frutas e Bolos, Água-pé,
Vinhos e Sumos, as tradicionais Castanhas Assadas e a Jeropiga”
Por toda a Europa os festejos em honra de S. Martinho estão relacionados
com o cultivo da terra, o vinho novo e a água-pé, sobretudo nos países do sul.
Daí os adágios:
«Pelo São Martinho vai à adega e prova o teu vinho», «Castanhas e vinho
pelo São Martinho», «No dia de S. Martinho,
mata o teu porco, chega-te ao lume, assa castanhas e prova o teu vinho» e muitos outros.
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