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terça-feira, 7 de março de 2017

EM SALAMANCA


Dezembro, 30, 2016, foi dia de Cerdeira, uma Cerdeira desabrida, agreste, gelada, negativa (-2 graus). 

- Vamos rodar pela estrada para “aquecer”?
- É uma boa proposta; este frio carrancudo não cativa. Que tal ir saber como está o fim de ano em Salamanca? Falta pouco mais do que um nascer ao pôr-do-sol.
- Mas qual sol?
- Apesar de estas nuvens baixas e escuras estarem associadas a períodos de chuva de intensidade fraca e não o deixarem passar, ele está lá. Usar os termos “nascer-do-sol” e  “por-do-sol” é que poderá ser discutível, na medida em que é a terra que gira.
- Pois, mas se a hospitalidade aqui é assim, como será mais para o interior…
- É diferente. Os espanhóis são alegres e as ruas, de tão cheias, até ficam mais acolhedoras. Depois, há sempre bares e pubs abertos desde o meio-dia até à meia-noite onde se pode abancar um pouco para aquecer.
- Vamos, M?
- Preferia ficar à lareira e deitar-me cedo.
- Anda lá. Agasalha-te bem e vem quebrar um pouco essa rotina

O caminho é longo e o dia continua tristonho. Mas não chove.
Ciudad Rodrigo já ficou para trás; a E80, percorrida sem companheiros circulantes (gosto de outros carros por perto…) está a ficar mais curta.



Agora, atentos aos muitos radares (além dos radares fixos identificados com uma antecedência de mais de mil metros também existem brigadas de fiscalização para estradas especificas que, aleatoriamente, colocam radares e simulações identificados), segue-se em direcção à Rotunda Plaza de Espanha para começar o nosso itinerário pela famosa Plaza Mayor.

0h! Um carrossel em grande movimento. "Clic", já está.


A Catedral de Salamanca  é um conjunto de duas catedrais,  a Catedral Velha dos séculos XII e XIII e a Catedral Nova,  uma construção do século XVI, erigida para a população que àquela data, aumentava aceleradamente. A Catedral Velha servia de defesa aos habitantes e o acesso é feito através da Catedral Nova.  A Nova, de estilo gótico, renascentista e barroco, tem origem e cresce a partir da Velha, de estilo românico.  Na fachada principal, com muitos detalhes, destacam-se as principais cenas do Nascimento e da Epifania e numa das naves laterais fica a Capela de San Martín ou do “azeite”, com pintura gótica e figuras que representam anjos, profetas e santos.
Em frente à fachada encontra-se a estátua do Bispo de Salamanca,  Padre Câmara.

A cidade está repleta de igrejas magníficas e quase todos os caminhos levam a pequenas praças e igrejas, algumas tão sumptuosas como a de Santo Estêvão.  


A Plaza, um pouco mais à frente, lá estava, agitada, cheia de esplanadas coloridas, de portais (88 arcos em pórtico!) que dão seguimento a várias ruas, de rostos esculpidos relativos a várias gerações de história (desde Lord Wellington a Miguel de Cervantes) e de ondas sonoras reflectidas em italiano, inglês, português, alemão e outras de babélica origem.
Mas vale a pena ficar algum tempo a admirar tanta opulência.  No Pavilhão Real da Plaza  há um grande arco que tem uma varanda com o busto de Felipe V, onde os Reis assistiam às festas taurinas e outras, que liga à Calle de Toro. O edifício, na fachada norte, tem dois andares de varandas com colunas coríntio  compostas e varandas rematadas por frontões. O conjunto também está rematado por balaustres com esculturas, três sinos e um relógio.  
O número de arcos é diferente em cada uma das fachadas.  
Majestosa!

Há realmente muito frio. A M. parece uma muçulmana a caminhar apenas com os olhos destapados…

Regista-se um primeiro momento com fotografias e seguimos depois para outros lugares do bairro histórico, por ruas de paralelepípedo.





Saindo por um dos portais, entra-se na Plaza del Corrillo, de data anterior à Plaza Mayor, onde se pode ver uma série de pequenas barracas com lembranças.
Alguns capitéis das colunas têm figuras de deuses mitológicos (planetas) que representam os dias da semana. A segunda-feira é uma Lua, a Terça-feira é Marte, a quarta é Mercúrio, a quinta-feira é Júpiter, a sexta-feira é Vénus, o Sábado é Saturno devorando os filhos e domingo é o sol.


Na Praça do Poeta destaca-se a escultura dedicada a Alberto Churriguera e a José del Castillo y Larrazabal, arquitectos que iniciaram as obras  da plaza Mayor e da Catedral Nova de Salamanca. Logo a seguir, está a Igreja de San Marcos em cuja fachada existe um relevo de São Marcos, sentado a escrever.



A igreja das Clerecías, um dos templos católicos mais importantes da cidade, fica em frente à Casa das Conchas (actualmente em restauração), um edifício invulgar decorado com milhares de conchas, símbolo do casamento (diz-se) entre duas famílias nobres.

A Catedral de Salamanca  é um conjunto de duas catedrais,  a Catedral Velha dos séculos XII e XIII e a Catedral Nova,  uma construção do século XVI, erigida para a população que àquela data, aumentava aceleradamente. A Catedral Velha servia de defesa aos habitantes e o acesso é feito através da Catedral Nova.  A Nova, de estilo gótico, renascentista e barroco, tem origem e cresce a partir da Velha, de estilo românico.  Na fachada principal, com muitos detalhes, destacam-se as principais cenas do Nascimento e da Epifania e numa das naves laterais fica a Capela de San Martín ou do “azeite”, com pintura gótica e figuras que representam anjos, profetas e santos.

Em frente à fachada encontra-se a estátua do Bispo de Salamanca,  Padre Câmara.

A cidade está repleta de igrejas magníficas e quase todos os caminhos levam a pequenas praças e igrejas, algumas tão sumptuosas como a de Santo Estêvão.  





O dia começa a escurecer, a M. diz estar cansada e com frio (apesar de bem agasalhada) mas é  imprescindível passar pela Cidade Universitária e ficar com uma imagem da noite iluminada pelas,  ainda, luzes do natal.

Na Universidade de Salamanca,  de estilo arquitectónico exclusivo do renascimento espanhol  (estilo plateresco) estudaram, entre outras figuras ilustres, o fundador da Companhia de Jesus, Ignácio de Loyola e o escritor Miguel de Unamuno. A fachada, rica em detalhes e figuras, tem também, uma rã minúscula que, segundo a tradição, dá sorte aos estudantes que a conseguem descobrir






A cidade tem um comboio turístico que faz o circuito do Bairro Histórico.



Uma chuva miudinha instiga-nos a procurar qualquer lugar ali por perto, de ambiente tranquilo e sossegado onde se pudesse relaxar um pouco os músculos, aquecer e comer qualquer coisa.  

Uma música de fundo suave e um agradável cavaqueio entre os clientes, convence-nos a entrar em La Dolce Vitamina, situado no centro de Salamanca.  


E pronto.  
Foi uma tarde diferente, passada em Salamanca, a “Mãe de Virtudes e Ciências”, o “Berço do pensamento” a “Cidade de arte, conhecimento e touros”, da dança e da música; uma cidade universitária, antiga, “dourada” (mais ainda se houvesse sol), linda e que, em época de aulas deverá ser também alegre, jovem e barulhenta.


De regresso a casa pelo mesmo trilho, agora iluminado e repleto de gente tagarela e sem frio, completamente alheia aos -3 graus, como demonstram algumas vestes de passeantes, até deu para concluir que o nosso "canto" não era tão inóspito como parecia.






quinta-feira, 2 de março de 2017

"NÃO CLIQUES, MARAVILHA-TE"


"Não cliques. Maravilha-te!", era a dica que acompanhava este site que ontem recebi.



Coloquei o cursor no site e accionei o botão do mouse ; pelo menos uma vez, para ter acesso ao site, tinha que clicar…  (gracinha!)

E cá está o imponente Convento de Nossa Sra. da Conceição com o espólio do Museu Regional de Beja, uma beleza fascinante! 
Para mim, particularmente, porque o desconhecia mesmo, foi uma surpresa!

Beja é uma cidade que tem falhado na trajectória das minhas viagens. 
É. Vou já fazer uma visita virtual seguindo a reportagem da jornalista Teresa Peres, no video abaixo, onde irá aparecer também, para quem se interessar por História, o entusiasta (e saudoso) José Hermano Saraiva



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Agora, pesquisando na Internet, encontro várias referências a enquadrar o tema.

O Convento guarda não só o acervo do museu desde 1927 (núcleo de pintura, composto por obras de mestres portugueses, espanhóis e holandeses, a secção lapidar, a colecção de Ourivesaria, e a secção de Arqueologia, centrada essencialmente no período romano), mas também colecções provenientes de outros conventos e palácios da região. Na pintura destaca-se o conjunto de quadros da escola primitiva portuguesa como o Ecce Homo (séc. XV), o São Vicente (séc. XVI) da escola do Mestre do Sardoal, a Virgem da Rosa (séc. XVI), do pintor português Francisco de Campos, e um grupo de quatro painéis (séc. XVI), do pintor português António Nogueira - a Visitação de Santa Isabel, a Descida da Cruz, a Ressurreição e a Ascensão.

A igreja tem três altares lindos do século XVII, em talha dourada, painéis de azulejos do mesmo século e dois andores de procissão em prata dedicados a São João Evangelista e São João Baptista. O Claustro é ornamentado com azulejaria portuguesa dos séculos XVII/XVIII e azulejaria de xadrez quinhentista, vinda de Sevilha.

A Sala do Capítulo tem as paredes revestidas por painéis de azulejos Hispano-mourisco quinhentistas e a abóbada, de 1727, é pintada a têmpera ( mistura constituída por gema e clara de ovo, água e pigmentos em pó ou por ingredientes oleosos com uma solução de água e cola).
Parte da colecção arqueológica de Fernando Nunes Ribeiro está exposta no 2.º piso.

Acho que esta “visita” valeu mesmo.

Algumas complementaridades

A partir de 1991 o Museu passou a integrar a Igreja de Santo Amaro, antigo templo paleocristão, onde se instalou o Núcleo Visigótico, um dos mais importantes da Península Ibérica

Frontão Visigótico
Estela da Abóbada - Idade do Ferro

O museu tem as paredes revestidas de azulejos lindíssimos do século XVII, com padrões maioritariamente de padrão e axadrezados. 


Editadas pela primeira vez em 1669, em Paris, por Claude Barbin, as cinco cartas expostas teriam sido escritas em 1667 e 1668 por uma freira portuguesa, mais tarde identificada como Soror Mariana Alcoforado, a um oficial francês, o Marquês de Chamilly, que nunca é nomeado nas cartas.
A obra, dada a conhecer em França como reproduzindo cartas de amor autênticas de uma religiosa portuguesa a um tal Cavaleiro de C., portanto testemunhos de um amor ilícito, conheceu uma popularidade tal que as edições se sucederam ainda durante o século XVII. A de 1672 é já a 3ª edição de Claude Barbin e outros editores se lhe juntaram, em França e noutros países europeus
Maria Andrade, bloguista.




- Terá sido a partir da janela do seu convento de clarissas em Beja que ela se apaixonou pelo  oficial francês, ao vê-lo  passar na rua durante a sua permanência em Portugal.
- Mariana Alcoforado - Milo Manara 
(Da exposição de Ilustração com Matisse, Milo Manara, Modigliani e outros autores que se debruçaram sobre as famosas Cartas Portuguesas, da freira de Beja)
- As últimas quatro freiras do convento.


Ao centro da nave, pode ver-se dois andores de procissão, em prata, com as imagens e respectivas peanhas. Um, representa o baptismo e o outro, representa o suplício de São João Evangelista, ambos do século XVIII.




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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

VEM AÍ MAIS CARNAVAL


- Gostavas de ser palhaço? – Perguntou a Maria, de 6 anos. 
No Carnaval vou vestir-me de palhaço rico, mas a Carlota diz que o palhaço pobre tem cores mais giras. Achas?
- Talvez. E tem, sobretudo, melhores piadas!
- Se fosses tu, de qual ias?
- De qualquer um, Maria. Ambos são palhaços. Todos somos palhaços; uns são fingidores ricos, outros, pobres.
- Então, eu vou de palhaço rico com as cores do palhaço pobre...



É. A Maria ainda não depreendeu que o palhaço é um farsante, o farsante é um simulador, o simulador é um fingido, o fingido é dissimulado e o dissimulado é um palhaço.

Somos todos palhaços, porque o dia-a-dia da “nossa vida é uma farsa contínua que toda a gente se vê obrigada a representar". Arthur Rimbaud

Todos os dias somos obrigados a equilibrar a realidade que vivemos com a verdade que gostaríamos de ter.

“A vida é um palco, onde somos palhaços, trapezistas e malabaristas; fazemos rir, encantamos, e damos exemplos, depois passamos para o outro lado, onde precisamos assistir ao que acontece nos palcos para rir, encantar e ter exemplos, e podermos seguir em frente no palco do destino.” Eliane Rosa


Os deuses vão-se como forasteiros. Como uma feira acaba a tradição. Somos todos palhaços estrangeiros. A nossa vida é palco e confusão (...). Pessoa, 1965.
Para criar, destruí-me; tanto me exteriorizei dentro de mim, que dentro de mim não existo senão exteriormente. Sou a cena viva onde passam vários actores representando várias peças. Pessoa/Soares, 1989.

Autor -Lélia Parreira

“Por favor - A vida é um palco”. “A arte de fingir é a arte de todos nós”. “Somos parceiros num grande globo de actores. Globo da morte ou vida”. “Adoro imitar o que de alguma forma, sentimos todos. Sou um fingidor? No palco. Trapezista de terceiro sinal e palhaço que adora um aplauso. ( Levanta a mão aí quem não gosta! ) Curtain call. Fecha o pano rápido e vai chorar no camarim, como todo bom palhaço”. Mário Filho





Expliquem lá isso (*)

MJ – Ele está a dizer que eu gosto de quem sou e que queria ser ainda mais eu. Também não temos muita escolha, não é? Temos de ser nós.
MEC – Eu não era eu. Ela ensinou-me isso. Ensinou-me muito bem a estar à vontade. Eu estava sempre a fingir que era outra coisa que não era. Estava sempre muito ansioso. Muito show off. A tentar disfarçar. Sempre muito mal alaise [pouco à vontade, inadequado].  Sempre a querer fazer graças ou  a ser o palhaço da turma. Divertir as pessoas à força. Uma coisa desesperada para que gostassem de mim. Era um trabalho. Detestava.

O trabalho era...?

MEC – O trabalho de ser simpático, de divertir as pessoas. Tenho isso desde pequenino. É uma insegurança: não pensar que as pessoas podem gostar de mim só por eu ser eu. Que posso estar calado. Ela disse-me. “Podes estar calado. Não precisas de estar sempre a não sei quantos.”
MJ – Disse-lhe: “Podes descansar”.
MEC – Descansei muito. Descansei. E as pessoas não deixaram de gostar de mim. Grande lição.



Quando falou do percurso da Maria João, falou do sentido da liberdade. Que nela pareceu fácil. Mas que não é fácil.

MEC – Pois não.
O Miguel, parecendo ter todas as condições para ter essa liberdade, não a tinha.
MEC – Era totalmente reprimido. Muito reprimido. Muito inseguro. E muito falso. É a palavra.

Estava sempre a ser “o MEC”? A ser o boneco.

MJ – Ele exige muito dele próprio. [Divertir os outros], fá-lo mais por bondade, até.
MEC – Agora não faço. Agora é muito melhor. A minha mãe sempre me disse que não me importasse com o que os outros pensavam. “Who cares?” [Que importa?] Mas nunca aprendi o que a minha mãe dizia.

O que é que dizia o seu pai, que era português?

MEC – O meu pai dizia a mesma coisa. Que não éramos obrigados a gostar uns dos outros. Nem dos irmãos nem dos pais. Tínhamos o direito de formar uma opinião, ou de gostar, ou de não gostar. (...). O meu pai fugia das pessoas de quem não gostava. Fugia mesmo, fisicamente. Saía da sala.


(*) Excerto da entrevista a Miguel Esteves Cardoso (MEC) com a Maria João Pinheiro (MJ), por Anabela Mota Ribeiro, publicado originalmente no Público em 2013



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«No Oceanário o Carnaval dura todo o ano. Os palhaços são peixes, o Picasso pinta com as barbatanas, o Unicórnio nada em vez de correr, o Napoleão nunca tira o “chapéu”, os pinguins estarão vestidos de gala e até o tubarão se mascara de touro. Mergulha no Oceanário, escolhe o teu animal favorito, cria a tua máscara e desfila nas ondas de um fantástico jardim. Vem fazer parte desta grande folia que são as “Férias debaixo de água”.»

Oceanário de Lisboa

No oceanário e na vida.
O mundo é um circo, a vida um espectáculo e o palhaço o personagem.

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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

O PINHEIRINHO - 2


No dia 21 de Maço de 1983, porque era o dia da árvore, distribuíam-se pinheirinhos (e outras pequenas plantas) por vários locais de trabalho. É também o dia de nascimento do meu filho L.

Sobre isso, escrevi eu, então, no poste de 20 de Fevereiro de 2012:
(…)
Ao associar as datas, escolhi um pinheirinho para, juntos, se acompanharem nos aniversários e crescimento.
Era um pinheiro de viveiro, enraizado num pequeno torrão envolto num saco de plástico, pronto para plantar.
E assim, colocando a pequena árvore num vaso de terracota (para melhor respirar) e perfurado (para não acumular água) a que juntei mais terra, dei as boas vindas às duas primaveras. Com regas e alguns fertilizantes, foi crescendo rapidamente nos primeiros anos. 
Depois, um pouco menos, até deixar mesmo de aumentar.
Por fim, dava sinais de que estaria a secar ou a ficar doente; perdia folhas em grande número, mesmo antes de ficarem secas. Devia ser a lagarta do pinheiro que, agrupada em grande quantidade se alimentava delas.
O vaso, com o tempo, começava também a ficar com um visual verde - esbranquiçado.
(…)
Como estávamos decididos a não abdicar do nosso objectivo, estudámos então uma área que abrangesse o horizonte visual a partir da varanda.
- Ali do outro lado da rua, há um cantinho que pertence ao Centro de Dia da Paróquia e que se vê daqui; vou lá falar com o zelador…
(…)
Tornou-se num lindo pinheiro manso de copa densa e arredondada, pernadas grossas viradas para cima, raminhos curvos e folhas persistentes. 
Tem resina, pinhas, flores e parece feliz.

E assim, ao longo dos anos o L., quando passava junto dele, fazia sempre uma pequena pausa como que para “conversar”.
Por vezes também fazia comentários:
-  O meu pinheiro está mesmo grande!
- É pena o sr. H. não estar cá; precisava que lhe cortassem os ramos laterais. Ele sabia fazer o corte rente ao tronco e nunca ficavam tocas.
- Parece que a terra está muito seca. Vou lá deitar-lhe uns baldes de água.
- As pinhas que caíram são boas para a lareira.

Pois hoje, alguém pensou que o pinheiro estava a mais. E mandou abatê-lo. Trucidados cruelmente, alvos de escárnio, os ramos iam caindo desamparados no solo e aconchegavam-se, inaptos, ao som do ruído da torturadora.

Parecia um cenário de crime.  Não consegui ver mais.

Mas sei que até esventraram a terra para arrancar a raiz.

O L., quando soube, depois de uns momentos de tristeza/revolta, apanhou algumas pinhas, procurou sementes e colocou-as em terra para germinarem.


Será? 





O pinheirinho foi crescendo, crescendo... até ser abatido e expirar, desmantelado, no chão.


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

SER NINGUÉM



Ser ninguém”. Proscrito. Banido. Excluído.

Deixa a inveja sem dor de cotovelo; afasta os ruídos do silêncio invejoso.

Fica-se mais só. De facto. E sem história.






"Il Mio Nome È Nessuno"

Jack Beauregard (Henry Fonda), que já foi o maior pistoleiro do Velho Oeste, quer mudar-se para a Europa para se aposentar em paz, mas um jovem pistoleiro, conhecido apenas como "Ninguém", idolatra-o e quer que ele saia em glória. Então organiza uma gang de 150 homens (The Wild Bunch) para que Jack os enfrente e conquiste assim o seu lugar na história.



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terça-feira, 10 de janeiro de 2017

MORREU UM MITO



Sete de Janeiro de 2017.  
Com quase um século (92 anos), Mário Alberto Nobre Lopes Soares, morreu. Um homem que “ganhou” a liberdade de dizer e fazer o que queria. Com sensatez ou sem ela; ninguém ofuscava a sua razão. A morte, porém, não se deixou hipnotizar...  
Mário Soares, um protagonista mágico sobre o qual existirá sempre muita mitologia.


Mário Soares com dez anos, quando morava e estudava no Monte de Estoril.
DR


domingo, 1 de janeiro de 2017

A MINHA PÁGINA VIRTUAL


Tudo tem um ponto de partida (uma base) porque ninguém inventa a partir do nada e um ponto de chegada (ou vários pontos de chegada) porque a vida é uma viagem...

"Tudo", neste caso, é a minha página virtual de experiências pessoais e temas diversos – um blog.

Um blog que começou no dia 5 de Fevereiro de 2012.

Assim:
Tenho consciência de que não é fácil ser blogueiro. Ousadia, persistência, disponibilidade, coerência, motivação, empenhamento, dizem ser requisitos indispensáveis.
Porem, porque sou pessoa de acção, decidi experimentar. E assim, neste meu cantinho da rede, afixarei o que penso sobre o que me apetecer, muito especialmente sobre detalhes do meu perfil que, embora discreto, penso não conseguir melhor do que o borrão de um simples esboço, apesar da longevidade.
Mas, nem que seja para me ler a mim própria ou clarificar as minhas ideias ou para mero entretenimento, aqui estou.
Nesta minha iniciativa quero também destacar a particular influência que teve o acompanhamento do blog “O DOLICOCÉFALO”, desde o seu início".

 

Não faço ideia do impacto que cada um dos 355 postes teve nos leitores - os comentários são escassos (talvez porque não estou registada em nenhuma rede social nem existem campanhas ou ganhos).
Sei apenas quais os países de origem das visualizações diárias e o sistema operativo e navegador utilizados.

Porem, hoje, dia 31 de Dezembro de 2016, o histórico total de visualizações de página, ultrapassou 100.000... um excelente e lisonjeiro ponto de chegada para a curta existência de um blog feito de poucos e modestos postes.

Contrariando as expectativas, um entretenimento pessoal parece ter-se tornado um entretenimento mais amplo...