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quinta-feira, 4 de outubro de 2012

SEM IDADE


Conjugação e síntese de todas as expressões 
         
Sou como o estilo na moda:
Ele vem, ele vai, ele volta.
Não corro atrás de ninguém,
Sou criança em viravolta.

Corto rotinas, construo outras,
Vou somando primaveras.
Em tudo, não acredito ainda
E vou inventando quimeras.

Pareço a idade que tenho;
O dobro quando estou triste.
E sem fingir juventude, 
A metade, no dia seguinte.

Sou Estio, estação intermédia
No cósmico em que nasci.
De tudo, não sei nem suspeito
Apesar do que já vivi.

Sou estado de espírito,
Substantivo abstracto,
Parecer ou não melhor,
Com aquele sorriso remato.

Imagem Wikipédia (Mona Lisa - Gioconda)

ENTREVISTA A JOHN PERKINS



 “Portugal está a ser assassinado, como muitos países do terceiro mundo já foram”, disse JOHN PERKINS, antigo consultor na empresa CHAS. T. MAIN e cujo trabalho era convencer países do terceiro mundo a cair no logro de fazerem “projetos megalómanos financiados por empréstimos gigantescos de bancos do primeiro mundo”.

Farto de fazer negócios sujos, mudou de vida e resolveu revelar o jogo nos bastidores financeiros.

Infelizmente, Portugal também já está no patíbulo da pena de morte.
Ou nos iludiram ou nos queremos continuar a iludir porque, afundados em dívidas, caminhamos para a imolação.


Para os menos curiosos, fica transcrito um pequeno excerto:

« ...

Levei algum tempo a compreender tudo isto. Fui um assassino económico durante dez anos e durante esse período achava que estava a agir bem.
Foi o que me ensinaram e o que ainda ensinam nas faculdades de Gestão: planear grandes empréstimos para os países em desenvolvimento para estimular as suas economias.
Mas o que vi, foi que os projectos que estávamos a desenvolver, centrais hidroeléctricas, parques industriais, e outras coisas idênticas, estavam apenas a ajudar um grupo muito restrito de pessoas ricas nesses países, bem como as nossas próprias empresas, que estavam a ser pagas para os coordenar.
Não estávamos a ajudar a maioria das pessoas desses países porque não tinham dinheiro para ter acesso à energia eléctrica, nem podiam trabalhar em parques industriais, porque estes não contratavam muitas pessoas. Ao mesmo tempo, essas pessoas estavam a tornar-se escravos, porque o seu país estava cada mais afundado em dívidas. 
E a economia, em vez de investir na educação, na saúde ou noutras áreas sociais, tinha de pagar a dívida. E a dívida nunca chega a ser paga na totalidade.
No fim, o assassino económico regressa ao país e diz-lhes “Uma vez que não conseguem pagar o que nos devem, os vossos recursos, petróleo, ou o que quer que tenham, vão ser vendidos a um preço muito baixo às nossas empresas, sem quaisquer restrições sociais ou ambientais”. Ou então, “Vamos construir uma base militar na vossa terra”.

E à medida que me fui apercebendo disto a minha consciência começou a mudar.

Assim que tomei a decisão de que tinha de largar este emprego tudo foi mais fácil. E para diminuir o meu sentimento de culpa senti que precisava de me tornar um activista para transformar este mundo num local melhor, mais justo e sustentável através do conhecimento que adquiri. Nessa altura a minha mulher e eu tivemos um bebé.
... »


terça-feira, 2 de outubro de 2012

O MELHOR RECANTO DE ESPANHA 2012






«A Igreja de Santa Maria Madalena, em Olivença (Espanha), único lugar de culto espanhol de estilo manuelino, foi eleita "O Melhor Recanto de Espanha 2012", num passatempo promovido pela companhia petrolífera Repsol
Notícia no Semanário Expresso em 27 de Setembro passado.

E noutro local:
«"O Melhor Recanto de Espanha 2012" é um monumento português. A Igreja de Santa Maria Madalena, em Olivença, arrebatou o 1.º lugar numa votação online, mas a distinção reacende as dúvidas sobre a perda do território.»

A Igreja destronou Laguna de la Gitana, em Castilla La Mancha e o Forau de Aiguillaut em Aragão.
  
Apesar de nunca me ter empenhado muito em perceber bem como é que Olivença passou a ser território de Castela, o “mas” foi-me conduzindo a uma progressiva curiosidade.

A vila foi conquistada aos mouros pelos portugueses em 1166 e reconhecida definitivamente em 1297, no Tratado de Alcanises.
É uma cidade fortificada numa planície árida formada pela erosão, na Estremadura espanhola e a que estão anexadas outras povoações. A 12 Km existem as ruínas da também fortificada Ponte da Ajuda, com um torreão no meio, construída no início do séc. XVI para ligar Olivença a Elvas; tem 12 arcos e 380 metros de comprimento. O castelo, muralhas, conventos, igrejas, calçadas e recantos marcam as características das gentes lusas.






Durante mais de 600 anos a população bateu-se heroicamente contra as investidas de castelhanos e de espanhóis.


Em 1709, durante a Guerra da Sucessão Espanhola, a ponte foi dinamitada pelo exército Castelhano, interrompendo assim a única ligação.
A partir desta altura, chegar a Olivença só era possível passando por território espanhol, facto que despoletou a ocupação, à traição, pelo exército espanhol em 1801, numa altura em que Portugal estava fragilizado sob ameaça de uma invasão pelo exército francês.
Em 1808 o território anexado a Espanha foi denunciado por Portugal. Em 1817 a Espanha reconheceu a soberania portuguesa subscrevendo o Congresso de Viena de 1815," comprometendo-se à retrocessão do território o mais depressa possível"
Em 1840 a Língua Portuguesa é proibida no Território de Olivença, incluindo nas igrejas.

"Separados do povo a que pertencem, da sua cultura, da sua língua, alienados da Pátria que é a sua, em austeros e silenciosos duzentos anos, os oliventinos preservam o espírito português"

A votação voltou a trazer à actualidade a questão da anexação, nunca bem aceite por Portugal. E o presidente da Associação Amigos de Olivença considera um “paradoxo a Estremadura espanhola ter como símbolo uma igreja tipicamente portuguesa do séc. XVI, a segunda igreja mais representativa do estilo manuelino a seguir ao Mosteiro dos Jerónimos.”

A construção foi incentivada pelo bispo de Ceuta cujo túmulo se encontra dentro do templo assim como o de Vasco da Gama e família.
Portugal desconfia da escolha sobretudo porque foi feita “em detrimento de Mérida ou Cárceres” e o ”estilo manuelino da Igreja de Santa Maria da Madalena, sendo português e único, nunca pode ser representativo de Espanha”

Põe-se a hipótese de opaís vizinho aproveitar o concurso para projectar o monumento e Olivença como Património de Espanha, ridicularizando a intelectualidade portuguesa

E o facto de Marcelo Rebelo de Sousa e a Net lusa terem dado apoio e incentivo através de vários movimentos, não deixa de ser estranho.
Provocação ou elogio?

Os nossos direitos sobre Olivença estão juridicamente mais protegidos do que os de Espanha sobre Gibraltar, Melilla e Ceuta...

Mas, afinal, o que tem impedido o Ministério dos Negócios Estrangeiros de debater esta questão com Espanha, pergunta-se?
A administração e soberania espanhola de Olivença e territórios adjacentes não é reconhecida por Portugal, mas a fronteira continua por delimitar nessa zona apesar da Conferência de Viena e da Acta Adicional de Paris, bem como outros acordos bilaterais.

Porque continuam por resolver Olivença para Portugal, Gibraltar para Espanha e Ceuta para Marrocos?


Para ler mais:

Dossier sobre Olivença

“A Guerra das Laranjas”
http://www.portugal-tchat.com/forum/restauracao-da-indenpendencia-a-revolucao-liberal-1640-1820/3514-a-guerra-laranjas.htm



«Festejar» a Guerra das Laranjas em Olivença é uma coisa de flagrante mau gosto. Seria um pouco como a Rainha Isabel II ir celebrar a Gibraltar o Jubileu de Diamante no próximo mês de Junho.”-José Ribeiro e Castro

Imagens Google 

sábado, 29 de setembro de 2012

LUNAR

Enquanto o Sol, aparentemente nada esconde, a Lua, ao contrário, persiste em despertar a curiosidade da ciência do oculto.
Quantas tragédias e romances não tiveram a Lua como testemunha?
Quem não fica maravilhado com uma Lua Cheia?
Quantas fantasias, ilusões e ideias extravagantes continua ela a alimentar e a enganar?

Lua sabe a harmonia,
A sentimentos e emoções
A lendas e a poesia.

 
Turma dos Piratas -Nancy Meyers

A Lua é a Lua, planeta secundário que gira à volta do planeta principal Terra e que, como seu satélite natural, é também a “amiga inseparável”. O acoplamento de maré apresenta-a virada para a Terra sempre a com a mesma face, estabilizada pela relação igual entre o período orbital e o período de rotação.
Assim, incansável, regular e fielmente vai circundando a Terra em voltas sucessivas de 29 dias, 12 horas, 44 minutos e 2,9 segundos.


Porém, é uma companheira traquina e divertida pois, enquanto volteia, consegue criar fases lunares conforme o ângulo pelo qual é vista a face iluminada pelo Sol:
Lua Nova
Lua crescente ou côncava
Quarto Crescente
Lua crescente convexa ou côncava gibosa
Lua Cheia
Lua minguante convexa ou minguante gibosa
Quarto Minguante
Lua minguante ou minguante côncava

Caminhada da Lua Crescente - Eliete Tordin
                              Lua Nova - Lu Ramos
Lua Cheia - Quadrinha da Lua Cheia e Quarto Minguante - Matisse

Quando aparece no céu perto do Sol, faz a partida de se mostrar completamente às escuras (Lua Nova); depois vai espreitando até ficar em Quarto Crescente; enquanto o Sol se esconde do outro lado, surge ela no horizonte com “cara” de Lua Cheia, algumas vezes de bochechas afogueadas; e uma semana depois estará a fugir em Quarto Minguante.

1969, Neil Armstrong, Apollo 11

E a Lua nasceu como?
A resposta é incerta mesmo depois de em Julho de 1969, Neil Armstrong a ter pisado pela 1ª vez selando o acontecimento com a frase mítica ”Um pequeno passo para o homem, um grande passo para a humanidade” e de várias sondas espaciais que passaram a substituir o homem desde 1972, permitindo a observação global do satélite.
Há argumentos de defesa para diferentes teorias; tudo indica, no entanto, que a semelhança encontrada entre a geologia da Lua e a da Terra as torne contemporâneas.

"Lua Azul"- Ano Internacional de Astronomia 2009 e Terra - Planeta Azul

Logo, sabendo que a idade do “Planeta Azul” é de 4,54 milhões de anos e que ainda poderá suportar vida mais uns 500 milhões, talvez (opino eu...) a também chamada “Lua Azul” lhe faça companhia. Há, no entanto, uma pequena tendência de divórcio provocada pelo acompanhamento dos oceanos no movimento orbital da Lua que atrasa o movimento de rotação terrestre em cerca de 0,0002 s por século originando, consequentemente, o afastamento entre as duas, em cerca de 4 cm por ano...
Os pesquisadores dizem que quando a Lua se formou estava a 22.000 km da Terra e que agora está a 450.000 km. Daqui a milhões de anos, um dia terrestre poderá durar um mês!

A rotação da Terra diminui a a rotação da Lua aumenta

A “Lua Azul nunca acontece em Fevereiro, todos os meses de 31 dias estão sujeitos a tê-la, corresponde à 2 ª Lua Cheia no mesmo mês, aparece em média entre 2 a 3 anos e nunca foi azul. De origem desconhecida, o termo surgiu recentemente para designar a dita 2 ª Lua Cheia e que alguns chegaram a supor ser mesmo azul.

"If they say the moon is blue, we must believe that it is true."
(Se dizem que a Lua é azul, devemos acreditar que é verdade)

«Blue moon
You saw me standing alone
Without a dream in my heart,
Without a love of my own.
Blue moon,
You knew just what I was there for,
You heard me saying a pray for,
Someone I really could care for.
Blue moon,
You saw me standing alone,
Without a dream in my heart,
Without a love of my own.
Blue moon...
Without a love of my own.»

Talvez por não entender os fenómenos da natureza, a Lua sempre fascinou a espécie humana ao longo dos tempos, desde as primeiras civilizações.

Lua com crateras - Clube de Ciências

E atualmente, apesar de a ciência demonstrar que é tão-somente uma esfera cinzenta com crateras visíveis a olho nu, continua a ser considerada mágica e com poderes sobre a humanidade.

É o astro que reina na noite, que representa a beleza, que evoca a luz na escuridão, que tem sempre as “mesmas caras” e que, cantada em verso ou em prosa, é musa de apaixonados, símbolo de melancolia, tristeza e sorte.

 «O luar através dos altos ramos, 
Dizem os poetas todos que ele é mais
Que o luar através dos altos ramos.
Mas para mim, que não sei o que penso,
O que o luar através dos altos ramos
É, além de ser
O luar através dos altos ramos,
É não ser mais
Que o luar através dos altos ramos.»

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXXV" 

Para os astrólogos, simboliza o princípio passivo, o subconsciente, a imaginação, o sonho, o psiquismo, a mulher.
Por ser um astro que cresce, decresce, morre e renasce, é símbolo de transformação e crescimento, gestora dos ritmos da vida associados à chuva, vegetação, água, fertilidade.

Os gregos tinham três deusas lunares, os romanos criaram a deusa Diana, os chineses chamavam-lhe KwanYin e os babilónicos, Ishtar. No Corão dos árabes ela é Qatar e para os judeus representa os judeus nómadas. Para os alquimistas da Idade Média significava o mercúrio e até a Igreja católica aconselhava os fiéis a esperar pela Lua Crescente para se casarem.

Têm também sido atribuídos à Lua certos desastres e catástrofes mundiais como terramotos, vulcões, tsumanis, etc.

Por outro lado, o homem tomou-a como primeira referência para a medição do tempo através dos calendários lunares.

A Lua influencia as marés ao “puxar” os oceanos com a sua força gravitacional e a base alimentar dos ecossistemas da vida marinha.



A ciência e as crenças continuam lado a lado, embora com territórios delimitados.

Imagens Google

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

"HOSTIA" E HÓSTIA


Pintura antiga


Quando eu andava na Escola Secundária - Colégio das Servas de Jesus, da minha Aldeia - o sacerdote ali residente ou outro, celebrava Missa todas as manhãs pelas 7 horas.
E comungar a Hóstia consagrada fazia parte da renovação sacramental do sacrifício da cruz ou seja, Santa Missa.
Quem não o fizesse era “rotulado” de não se encontrar em estado de graça.
Havia que recorrer ao sacramento da Penitência para não cometer um sacrilégio, caso comungasse fazendo apenas o acto de contrição.
Todas as semanas havia uma tarde com dispensa de aulas ou de horas de estudo para as confissões, feitas por ordem de chegada à Capela.
Mas a minha maior preocupação não era confessar os pecados (veniais? pequenas faltas?). Era, sim, procurar a maneira de a “vez” não anteceder alguém que por hábito ficava sempre um tempo infinito frente àquela janelinha tipo tela de burkaa dizer o quê?”- pensava eu.

Burka

Vem isto a propósito de haver também um dia por semana em que a Irmã Rosalina fazia e cortava as hóstias
Estou a vê-la a olhar deliciada (era uma pessoa de extraordinária bondade) para as "minhas meninas" tão contentes saboreando as aparas que sempre sobejavam depois de todas as hóstias terem sido arredondadas primorosamente.


E hoje pergunto-me porque é que nunca senti a curiosidade de saber como seriam feitas aquelas partículas. 
Penso que o local da confecção não era acessível a qualquer pessoa.

Naquela época, grande parte do trabalho devia ser feito manualmente, pois a haver máquinas, seriam muito antigas. Em geral a massa era prensada com ferro quente e cortada à mão, uma a uma, com uma tesoura. Acredito que hoje, num Colégio em que o número de alunos aumentou extraordinariamente e com bons resultados escolares a nível nacional, também exista estufa, forno e maquinaria moderna para confeccionar com certeza, maior quantidade de hóstias.

 Máquina antiga de fazer hóstias     Um exemplo de máquina actual

A hóstia é um pão ázimo sem fermento e sem sal; apenas farinha de trigo ( ou outras) e água.
A confecção, pelo que pesquisei, é um processo muito simples, fácil e barato:
Ingredientes - Farinha de trigo e água na proporção de 1 kg para 1,5 l 
Misturar e bater sem que a preparação da massa exceda 18 minutos para garantir que não fermente
Deixar a massa no ponto papa, nem muito grosso nem muito fino, sem bolinhas
Espalhá-la em prensas circulares
Levar ao forno - deve ficar fina, resistente e quase tranparente, da espessura de uma folha de papel
Colocar na estufa para humedecer e ficar mais firme sem quebrar
Cortar com máquina própria em vários tamanhos: 3/3,2 cm para os fiéis, 7,5/7,8 cm para os sacerdotes e 12 cm para a que é elevada durante a missa, a fim de poder ser vista por todos os fiéis.

                                   Em Fátima

No Mosteiro da Senhora das Mercês, na Ilha Terceira, Açores, as Irmãs Clarissas (Ordem contemplativa) têm máquinas industriais onde fazem à volta de 60 mil partículas por semana.
E na fábrica das hóstias da Casa de Santa Clara, em Bragança, saem mais de 70.000 por mês para serem distribuídas pelas várias paróquias do Nordeste Transmontano.


Irmãs na fábrica                Casa Geral

A origem da “hóstia” é o pão ázimo. A palavra vem do latim “hostia” que quer dizer “vítima” (vítima oferecida em sacrifício a uma divindade) / (partícula de pão ázimo que se consagra durante a comunhão).
A Igreja Católica aplicou o termo “hóstia” a Jesus porque a palavra está também ligada a “hostis” (inimigo, hostil, agressivo);a vítima fatal de uma agressão é uma “hóstia” e Jesus deixou-se imolar pelos homens.

 
Deus Sol                        Deméter, Deusa Ceres 

Corpus Christi

Pode até constatar-se uma flagrante analogia com as religiões pagãs da Antiguidade quando o Santíssimo Sacramento, transformado num pedaço de pão de trigo de formato arredondado, é levado em procissão dentro de uma patena dourada com o desenho dos raios solares  / a deusa Ceres, adorada como a distribuidora do trigo, representada com uma espiga de trigo e o filho, encarnado no trigo da espiga, o deus Sol.

Imagens Google

sábado, 22 de setembro de 2012

CHEGOU O OUTONO



Hoje, 22 de Setembro às 14.49 horas, o equinócio marca o início do Outono.
As datas dos equinócios variam de um ano para o outro devido aos anos trópicos que, não tendo exatamente 365 dias, fazem com que a hora exata varie ao longo de um período de 18 horas, orientados pela órbita da Terra.
De ontem para hoje o sol, ao passar pelo Equador, igualou o dia à noite. Ontem o dia foi maior do que será hoje.
E assim, em cada cada ano, o FILME DAS ESTÇÕES repete-se.

O nosso VERÃO boreal deu lugar ao Outono boreal.
Para trás ficaram as temperaturas elevadas, os dias longos, as mangas curtas, os vestidos frescos, a praia, as viagens, as férias escolares e as outras, os festivais, as romarias, as festas dos Santos Populares, tantos desportos e a alegria de muitos reencontros.

The Summer Night por Nhung Duc Gallary 

Foi um Verão colorido, de influências dos anos 50 a flores e cores pastel, cor de rebuçado ou branco em look total; os ondulados em tecidos de padrões inspirados no mar e nas sereias, em animais como os cavalos, os pássaros e as cobras, definiram a silhueta; brincos gigantes, rendas e bordado inglês completaram a passerelle veranil.

moda verão- Jachson Pollock

A natureza, generosa e aprazível, contribuiu para uma óptima hidratação nos dias quentes colocando à disposição uma grande variedade de lindos frutos e hortícolas portugueses próprios da época - ameixas, morangos, amoras, cerejas, framboesas, pêssegos, limões, melancias, kiwis, uvas, melões e maracujás; alho francês, beringelas, brócolos, aipos, alhos, pimentos, tomates, cenouras, courgettes e couve roxa.


“As árvores, imóveis em todas as suas folhas”, convidavam ao descanso, ao relaxamento, ao sentimento de estar bem.

A adolescência, como o Verão - quente, libidinosa, musical, fotogénica, curiosa, pouca roupa - mergulhava no mar cheia de amor e de festas, de alegria e do gosto de estar rodeada de muita gente, esperando que dure sempre…com a certeza de que passa.

Nina PandolfoGoogle chrome

«O Verão é a época de êxtase e entrega ao calor que aumenta e ao apogeu da luz. Celebração pelo fogo que nos eleva e aproxima do cosmos – a Terra está mais próxima do Sol. Festejo da abundância e dos frutos que a terra amadureceu, preparando-se para um novo recolhimento.»
(Rítmo anual - Harpa)

E o OUTONO, mais estação da alma do que da natureza, símbolo da decadência e próprio da velhice, aí está.

Higambana spider lily, símbolo do Outono

A maturidade é como o Outono que alterna dias quentes e frios. É o Outono que tentamos conservar.

Sendo uma estação de transição entre o Verão e o Inverno, verificam-se características de ambas ou seja, mudanças rápidas nas condições de tempo, maior frequência de nevoeiros, geadas nas terras altas. Haverá queda de temperatura, as noites serão mais longas que os dias e o ar mais seco.
As flores morrem, a erva começa a murchar e os pinheiros viçam. Os corvos, desagregando o ar, passam e grasnam. Com a descida de temperatura, os insectos escasseiam e as andorinhas preparam o seu voo migratório diurno (para se alimentarem em pleno voo), rumo norte-sul.

                         Mural egipcio- 4.000 anos

O fenómeno da migração das aves, hoje ainda pouco compreendido, já aparece registado desde há 4.000 anos, em murais egípcios. No sistema sensorial de orientação e navegação utilizam o sol, as estrelas, o campo magnético, os acidentes de terreno, as manchas de água, a direção dos ventos dominantes, as massas de ar com diferentes graus de humidade e temperatura, além de outros.

                                  Árvore de Outono- Quim Alcântara

As árvores perdem as folhas que, amarelecidas, cobrem o chão. Como a energia de que precisam para viver vem da luz solar, sendo os dias mais curtos fica reduzida;  concentram então os nutrientes no caule, retirando-os às folhas que secam e caem, produzindo simultaneamente menos clorofila. É uma estratégia natural para se protegerem do frio. A energia armazenada será depois usada para formar novas folhas, flores e frutos na Primavera.

A mudança de estação significa também mudança de guarda-roupa. A tendência de moda retro vai ser mantida passando pelas décadas de 40, 50, 60 e 70 com mescla futurista de riscas e desenhos geométricos. Os estampados com animais mantêm-se e haverá destaque para reproduções de peles. Peças de toque burlesco, tons terrosos até aos metálicos, calças sociais, criam looks de individualidade e liberdade.

                                                              Moda Milão 1912

«O Outono  é a época que apela à coragem para enfrentar a escuridão das longas noites e da aparente morte que se vai manifestando na natureza. Tudo nela inspira recolhimento, para que o cultivo da luz interior permita o encontro consigo próprio, num processo de interiorização consciente dos processos de vida.»
(Rítmo anual - Harpa)

Tal como a natureza, a vida humana tem as suas estações e a nossa existência poderá ser compreendida a partir dos seus contrastes.