SILVA PORTO - A volta do mercado SILVA PORTO - Guardando o rebanho
O Sol marcava o ritmo; a força braçal e dos animais
cultivavam a terra; os agricultores e famílias faziam a maioria dos produtos; o
azeite e o petróleo eram os combustíveis usados na iluminação; o forno
comunitário não tinha tempo para arrefecer; predominavam os rebanhos de ovelhas
e cabras, as vacas leiteiras e as aves de capoeira; praticava-se a troca de
mão-de-obra em tarefas como ceifas, sementeiras, debulhadas, vindimas, matanças,
recolha dos fenos, desenterrar batatas; as pessoas deslocavam-se a pé, a
cavalo, de bicicletas “pasteleiras”, de carroça ou de carro de bois; a roupa
era lavada nas ribeiras ou lavadoiros públicos; a água para os banhos em
grandes bacias tinha que ser aquecida em caldeiros ou em panelas; o ferro de
engomar enchia-se com brasas; a braseira aquecia alguns compartimentos e os pés
debaixo das mesas; só havia fogões a lenha e a lareira onde se acendia o fogo,
era o local principal e indispensável para cozinhar, fazer o borralho, secar os
enchidos, aquecer a água e as casas.
Para além da agricultura e da pastorícia havia também as
necessárias ocupações (complementares ou principais) muitas vezes em parte-time: ferreiro, carpinteiro de instrumentos agrícolas/obras diversas, barbeiro,
costureira, negociantes de gado/ produtos da terra, moleiro, tosquiador,
taberneiro e lojistas além de outras como farmacêutico/a, médico "João Semana", relojoeiro, vendedor
de peixe conservado em sal, carteiro, calceteiro, professor/a, pedreiro, empregado/a dos
CTT, chefe de estação dos caminhos-de-ferro/agulheiro, etc.
Vista do Sabugal em finais do século XIX
A década de 60 deve ter sido a que representou o marco de
viragem para a melhoria das condições de vida das populações da grande parte das
aldeias com a instalação da electricidade e do gás canalizado.
Apareceram os aparelhos eletrodomésticos - frigoríficos,
esquentadores, fogões aquecidos a gás ou electricidade - televisão, mais
automóveis e motoretas, maiores facilidades para a higiene e esgotos, motores
de rega, tractores, máquinas debulhadoras e segadeiras.
A emigração teve também um papel preponderante na
evolução da estrutura socioeconómica com eventos, transferência de dinheiro e
novos hábitos de vida.
Para Manuel Villaverde Cabral, a emigração “subverteu profunda e irreversivelmente os
valores, as aspirações, as atitudes e os comportamentos dos campos”.
Como contemporânea que fui dos muitos momentos dessa época, individualizo alguns:
Ferro de engomar
É chamado ferro
porque começou por ser apenas uma barra pequena e achatada de forma triangular, com as
extremidades arredondadas; e de engomar,
porque na época era de etiqueta passar
goma com água em saias plissadas, colarinhos, camisas masculinas, aventais e
cristas das empregadas internas, por ex.
Mais tarde apareceu outro modelo que se tornou mais tradicional.
Tinha um orifício largo na frente por onde entrava o ar/vento que mantinha
aquecidas as brasas no interior. Para as avivar, havia vários processos - agitando um
abano de palhinha, colocando o ferro no chão junto de uma
porta bem ventilada, balançando-o em arco ou, simplesmente, soprá-las.
Só se começava a passar a roupa quando o metal ficava bem
quente.
A lareira era o “coração” da casa, na minha Aldeia. Toda
a família se sentava em redor.
Em tempos recuados, na casa dos meus avós, havia um escabelo - banco comprido e largo, de madeira, constituído por uma caixa onde se
colocava a lenha e por uma tábua de encosto a todo o comprimento, junto a uma
das paredes da cozinha.
Presentemente, além de cadeiras vulgares, ainda há pequenos bancos toscos com um orificio na parte superior que serve de pega.
As paredes laterais da chaminé estão unidas por uma pedra
horizontal atrás da qual se encontra a pilheira onde se depositam as cinzas ou o
borralho que resta.
Presentemente, além de cadeiras vulgares, ainda há pequenos bancos toscos com um orificio na parte superior que serve de pega.
(Semelhante, mas com arca por baixo); pequenos bancos
Havia panelas de ferro fundido com três pés, de vários
tamanhos, estrategicamente colocadas à volta da fogueira, onde eram cozinhados todos os alimentos
com aromas e sabores jamais comparáveis.
Na parte da frente da chaminé permanecia uma argola onde se fixava uma corrente regulável que prendia os recipientes para aquecer água.
Na parte da frente da chaminé permanecia uma argola onde se fixava uma corrente regulável que prendia os recipientes para aquecer água.
Penso que este tipo de lareira é mesmo de raiz beiroa e que a origem teve a ver com a arte de fumeiro.
As de Trás-os-Montes são parecidas mas maiores.
Hoje as panelas e os ferros de engomar a carvão são usados como vasos para cultivar plantas e flores decorando varandas, interiores, balcões e jardins.
As de Trás-os-Montes são parecidas mas maiores.
Hoje as panelas e os ferros de engomar a carvão são usados como vasos para cultivar plantas e flores decorando varandas, interiores, balcões e jardins.
Braseira
A braseira é um utensílio (bacia) de cobre, latão ou lata com duas pegas, onde se colocam brasas para aquecer um aposento no inverno ou os pés debaixo de uma mesa.
Era encaixada no orifício de uma base (estrado) de madeira ligeiramente elevada, em forma de hexágano, onde se apoiavam também os pés. As brasas (borralho) mantinham-se acesas com um abano.
Produziam pouco calor e causavam ligeira dor de cabeça.
Produziam pouco calor e causavam ligeira dor de cabeça.
Também no meu Colégio havia braseira
Para aquecer, na sala, a turma inteira
E um saco de água quente, azulinho
Envolto num cobertor bem fofinho
Para os distintos pés da professora
“Chocarem” na melhor "incubadora".
Ao tocar da sineta pró intervalo
Deixava sair todas de embalo
E corria atrás da secretária
Rodando prá esquerda, solidária,
A rolha do saco aconchegado
Pró senhorio manter agasalhado
Lá se abriu o saco outra vez!
Dizia agastada com placidez
A Dona Elizinha, também “Menina.”
Vou já chamar a Irmã Bernardina…
- Que bom ter mais um tempinho
Ainda que sem burburinho!
E em ritmia,
O borralho virava cinza
A aula degenerava em cinza
O Inverno continuava cinza
O segredo não saia da cinza.
Quase magia!
O borralho virava cinza
A aula degenerava em cinza
O Inverno continuava cinza
O segredo não saia da cinza.
Quase magia!
Fogão de ferro a lenha
Os primeiros fogões de ferro ou de cobre devem ter sido
introduzidos em Portugal pelos residentes ingleses no final do século XVIII.
Na casa dos meus pais também havia um fogão de ferro fundido, não muito grande, a lenha de cepa de pinheiro, penso. Tinha uma chaminé que comunicava com a chaminé principal. Era uma espécie de móvel com um compartimento para o fogo e um forno central; no topo ficavam as panelas. Não me recordo se também possuía alguma caldeira para água quente.
Era usado em simultâneo com a lareira.
A compra de um fogão a gás engarrafado ditou o abandono
do velho fogão-a- lenha por não haver espaço para ambos - A cozinha, assim como
toda a casa, tinha sido reduzida em consequência de desentendimentos, na altura, numa partilha hereditária.
E com ele se foi também um pouco da minha meninice porque
era lá que apareciam as prendas de Natal
Imagens Google