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quinta-feira, 8 de março de 2012

DIA INTERNACIONAL DA MULHER





Porque sou mulher, quero solidarizar-me com todas as que, ao longo da História, reivindicaram, lutaram e morreram para que eu e muitas mais possamos hoje desfrutar da igualdade entre homens e mulheres, do respeito mútuo e da soma de forças a fim de, em conjunto, podermos continuar a lutar por uma vida mais digna.
Foram elas que forçaram as transformações sociais e económicas de modo a entrarem no mercado do trabalho, usufruindo da consequente possibilidade do seu desenvolvimento cultural e  independência.



Ainda há que lutar muito contra a violência e maus tratos em todas as classes socioeconómicas, culturais e religiosas - violência doméstica, violação, escravatura sexual, mutilação genital, importância das crianças do sexo feminino, casamento de crianças, homicídio por questões de ” honra”, etc.
A igualdade de direitos entre os sexos é um benefício importante para o desenvolvimento harmonioso de todos.



Nomes de mulheres que merecem um dia especial e que, apesar de fazerem sempre parte da nossa memória, devemos recordar:
Helena de Troia, Cleópatra, Catarina de Siena, Joana D’Arc, Catarina- A Grande, Ana Pimentel, Golda Meir, Madame Curie, Helen Keller, Eleanor Roosevelt, Anne Frank, Florence Nightingale, Oprah Winfrey, Meryl  Streep, Angelina Jolie, Susan Brownell, Emily Wilding, Carolina Beatriz Ângelo
Yoani Sanchez, e um sem fim de mulheres inteligentes, corajosas e voluntariosas, merecedoras do nosso aplauso.
Sem elas, eu nunca teria tido a possibilidade de festejar qualquer data com as minhas colegas pois, muito certamente, nem teria existido uma classe com as mesmas companheiras de estudo.


                                                  Cheers!

terça-feira, 6 de março de 2012

EXÉQUIAS






A minha Aldeia tem um Colégio
Que data dos anos trinta.
É tão grande o privilégio
Que a terra torna distinta.

Escola de instrução, particular,
Primeiro pra internos/masculino
Depois com feminino no lugar
Aguardando melhor destino

Sem parâmetros traçados
Esteve até 53
Com música, pintura e bordados
Religião e Moral, Francês.

Com currículos oficiais
O ensino tornou-se real.
Grupos de “costura” normais
E o tal de “estudantes”, legal.

Alunas internas e externas
A turma faziam pequena
Dava pra coesões fraternas
Um pouco mais que a dezena.

Estudava-se Geografia
Num grande Globo terrestre
Que passava a sabedoria
Em cerâmica de mestre.

Abancadas sobre a carteira,
Eu e a porcelana fina,
Nela apontava ligeira,
Os rios da disciplina.

Pum! E no chão desaguam
Os rios em cacos,  enquanto
Os cabelos delas flutuam
Sob os meus olhos em pranto.

E agora? Perguntam em coro.
Os meus Pais não vão saber!
Além de ser desaforo,
Dinheiro não irá haver.

Tenho qu' arranjar solução,
Pois é mesmo necessário.
Porque a lógica conclusão
Leva a acto involuntário.

Vamos com requinte guardar
Esta relíquia doutrora.
Que melhor destino lhe dar
Do que não deitá-la fora?

Iremos o morto enterrar
Em funerário cortejo.
Prà sua memória honrar
É presente de sobejo.

Eu, qu’estou já chorando
Vou fazer de carpideira
E pra padre rezando
Convidamos a irmã Pereira

Lá no jardim, ao fundo
Ficará o ossuário
E um suspiro profundo
Fará parte do cenário

E foi assim, factual.
Com “padre”, enterro, carpideira,
Acompanhamento, ensaio teatral,
Perdão, corolário e brincadeira.


domingo, 4 de março de 2012

PÁSCOA DA MINHA INFÂNCIA




Há muitas décadas que a Páscoa não tem grande significado para mim; aliás, como tantas outras festividades religiosas.
Apetece-me, contudo, recordar o tempo em que a esperava com entusiasmo, até por volta dos meus 10 anos.

Nessa época, crescia numa aldeia muito povoada, com muitas crianças e rodeada também de muita família. Alias, todas as famílias constituíam, no seu conjunto, a outra nossa família. As portas tinham fechadura mas servia apenas para pendurar a chave porque nunca eram fechadas. Conhecia todas as casas por dentro e sempre que me apetecia, ia ver os seus moradores, fossem adultos ou gente pequena como eu. Havia a “Ti” Virgínia e a irmã, “Ti” Guilhermina; a “Ti” Delfina e o marido, “Ti “Augusto; a Rosalina e o Pai que era barbeiro; a ”Ti” Celestina mais o “Ti” Zeferino com a sua enorme “ninhada”; os Cantigas, o Artur que punha a mulher e os filhos fora de casa quando recebia a jorna, a Judite mais a “Ti” Ana e o “Ti” António, o Saul, as Vicentes que tinham um comércio, as Monteiras, o Sr. Padre e as sobrinhas. E todos os outros que, não estando aqui mencionados, é como se estivessem.
E a minha Avó Emília, os meus tios Zefinha e Joaquim, os meus primos Luís, Margarida, Imelda, Toninho e Zezinho que, connosco, grande família também, viviam todos os momentos casuais, oportunos ou festivos numa perfeita simbiose. Juntos, enchíamos a nossa casa mas na deles, porque era enorme, cabia sempre mais o Bispo ou qualquer outra ilustre personalidade.

Na 5ª e 6ª feira santas a aldeia quase ficava paralisada por respeito à crucificação de Cristo, mas o sábado era já um dia de muita azáfama a fazer ”à vez”, bolos e biscoitos no forno público, a preparar o cabrito para o almoço de domingo e a limpar ruas e casas para que o Compasso fosse recebido com o cheiro fresco do ar campestre.

No Domingo de Páscoa ia-se à missa com a roupa nova; depois almoçávamos numa mesa com toalha branca onde havia arroz doce, aletria e outras iguarias
Logo depois preparava-se a mesa para receber o Compasso pela tarde, ou seja, o Pároco de sobrepeliz e estola brancas precedido pelos membros da paróquia, de opa, levando o crucifixo, a campainha e a caldeirinha com água benta.
Para comunicar o início, as crianças tocavam o sino da Igreja e as famílias, amigos e vizinhos esperavam, reunidos na sala, que o padre chegasse e lhes desse a cruz a beijar.


Antes de entrar em cada casa era tocada a campainha. Ao entrar, o padre benzia-a e dizia:” hoje é o dia em que o SENHOR ressuscitou, aleluia, aleluia”. Depois cumprimentava os donos da casa e família direta dando então a cruz a beijar a cada uma das pessoas que se ajoelhavam em redor da mesa com a toalha branca ou outra, bordada, ao lado do crucifixo, de dois castiçais e de uma taça com o folar do padre - envelope com dinheiro dentro. Numa mesa ao lado estavam as ofertas de carácter alimentar - queijo, pão-de-ló, amêndoas, ovos tingidos, jeropiga, licor beirão e vinho branco adocicado.

Todos os paroquianos gostavam de receber a “Boa Nova e a “ Bênção Pascal “ excepto 2 ou 3 que não abriam a porta.

- Vai um copinho, Sr. Padre?
- Mas só um copinho, porque hoje comecei cedo!
- E uma fatia de bolo ou qualquer outro doce?

Em todas as casas havia que provar qualquer coisa, desde o vinho fino ao bolo, um petisco ou simplesmente uma amêndoa.
Ao finalizar o acto, era servido um licor e biscoitos aos portadores da cruz.

E assim percorriam, a compasso, as casas dos paroquianos.

A última era sempre a da minha tia Zefinha que apresentava uma mesa cheia de iguarias mais para jantar - chouriço, presunto, vários queijos, além de toda a doçaria e bebidas (razão porque o Pároco comia e bebia menos nas casas anteriores). Depois ficava por lá o resto da tarde. E nós também.

Alias, do que mais gostávamos, era andar atras do compasso desde a primeira casa. Mal se ouvia dizer “o compasso já anda na rua”, era um autêntico frenesim correndo de casa em casa



Toda esta atmosfera marcava a diferença.
"A melhor parte da nossa memória está fora de nós"- Marcel Proust


FOLAR

O folar é o bolo da Páscoa em Portugal.
Segundo Maria de Lurdes Modesto e Afonso Praça, “O folar seria uma espécie de contraponto do pão ázimo que tem o peso teologal do sacrifício e da penitência”.
Para outros, o folar era o presente que os padrinhos e madrinhas davam aos afilhados na Páscoa, para quebrar o período de grande jejum e que só deixavam de dar quando eles atingiam a maioridade ou casavam.

Eu fiquei sem madrinha ainda bebé. Logo, sem procedência para receber o meu presente.
Por isso dedico este pedacinho do rabisco à minha saudosa avó Emília que sempre teve a arte de nos encantar com um enorme folar no Domingo de Páscoa. Um folar de azeite, muito doce e de fatias tão amarelas como a gema dos ovos!

Algumas generalidades:




 1 - A Páscoa Judaica (Pessach) foi instituída na época de Moisés, uma festa comemorativa feita a Deus em agradecimento à libertação do povo de Israel, escravizado por Faraó, o rei do Egipto.
Esta data não é a mesma na Páscoa Gregoriana e Juliana.
O dia da Páscoa cristã, que marca a Ressurreição de Cristo é o primeiro Domingo depois da Lua Cheia, que ocorre após o 21 de Março, data marcada para o equinócio da Primavera, no hemisfério norte. No Calendário Eclesiástico, nunca é antes de 22 de Março nem depois de 25 de Abril.
Da Páscoa cristã, ficaram tradições e símbolos:  
- A Cruz da Ressurreição
- O cordeiro
- Pão e Vinho
- O Cirio
- Ovos de Páscoa
- Coelhinhos de Páscoa


2- Há diferentes espécies de folares em Portugal, consoante a região - doces e salgados; redondos, de forma ovalada, em forma de coração e também de animais.


Alguns “Apanhados”:


De cima para baixo e da esquera para a direita:
1- De qualquer região
2- Folar dos Açores
3- Várias zonas, sbretudo do Douro para baixo
4- Folar de Tras-os-Montes e forno
5- Folar de Coimbra
6- Folar do Algarve



Imagens Google

sexta-feira, 2 de março de 2012

FRAGMENTOS - O "FOTÓGRAFO"


Tínhamos ido à Figueira da Foz a fim de alguns de nós participarem num simpósio e outros apenas beneficiarem da companhia.
Enquanto decorriam os trabalhos dos laboriosos comunicadores, os acompanhantes aproveitaram para se recrearem a conhecer melhor alguns locais da cidade.
Instalados no deslumbrante Hotel Atlântico, virado para a praia a que chamam “Rainha da Costa de Prata” pela luminosidade do seu extenso areal - tanto, que foi preciso iluminar o passeio e por placas de orientação - resolvemos, eu o meu filho, na altura com seis anos, dar um passeio ao longo do paredão.



Havia algum vento - penso que deve haver sempre - porque ainda não estávamos na época balnear. Mas entrámos um pouco na areia e, perante tanta beleza, quis tirar umas fotografias. Fica-se com a ilusão se é a praia na cidade ou a cidade dentro dela, como é já habitual dizer-se.
Que pena não ter trazido a máquina para tirar umas fotos, disse eu.
Não tenhas pena Mãe, eu trouxe a minha! Disseste que era muito velhinha mas ainda tira bem. Vou tirar uma a este caracol que está aqui sozinho, com a cabeça de fora a apanhar sol - disse o Luís.
Ah! Sim, tira - disse eu.
(achei uma subtileza o pormenor de, numa imensidão, ter descoberto um caracol)


O fotógrafo e algumas das fotografias de "treino" na praia da Figuira da Foz

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

BONECAS


Quando eu fazia as minhas bonecas de trapos, pouco sabia sobre outros tipos de bonecas. Todas as minhas pequenas amigas também só tinham bonecas de pano.
E eu até não gostava muito delas porque nunca tive paciência nem perícia para usar tesoura, agulha e linhas, apesar de hoje ser uma apreciadora de lojas, montras e roupas.
Mas com a ida para a escola, arranjei novas amigas e entre elas a Jeta, a quem já me referi neste espaço. Olhou para as minhas monas e disse: “ eu vou cortar os retalhos e tu coses. Tenho uma casinha muito grande onde cabe o meu Pai, eu, tu e as bonecas. Só tens que pedir para te deixarem ir brincar comigo e vamos as duas no comboio; como somos amigas, não pagas bilhete”.
A casinha era mesmo ”casinha grande” porque o Pai, agulheiro num apeadeiro entre a estação da minha aldeia e Vilar Formoso, guardava o material para desviar a rota das máquinas numa espécie de guarita de madeira.

Tinha-me saído a sorte grande! Nunca mais nos separámos. Depois de fazermos as cópias e as contas num ápice, espalhávamos os nossos trapos pelo chão, sentávamos as bonecas encostadas à parede de tábuas e íamos costurando os fatinhos “por medida” a todas as nossas filhotas, batizadas com nomes inventados.
Quando estava quase a ficar perita, uma outra colega recebeu como prenda de Natal uma boneca de “papelão” pintado da cor da pele e com traços bem definidos; articulava os braços e as pernas mas desfazia-se com o banho. Depois, outras foram aparecendo e então passámos a fazer as fatiotas para elas.


bonecas de massa

Mais tarde, penso, surgiram as de composição mais resistente - talvez plástico duro. Ainda em idade de brincar com bonecas, a minha tia Glória ofereceu-me uma dama tipo época medieval, de celuloide, em tamanho pequeno, vestida de organza verde com chapéu a condizer. Era a coqueluche das rivais!
Gostava tanto dela! Mas alguém lhe deu sumiço porque nunca mais vi a preciosidade da altura ou a relíquia que seria agora.

Olhando para trás, chego a ficar pasmada com tanto desconhecimento, pois não foi a boneca um dos brinquedos mais antigos e populares em todo o mundo?
As primeiras representações de forma humana em miniatura de barro, podiam ter sido feitas pelo Homo sapiens há 40.000 anos, em África e na Ásia.
No Museu de História Natural de Viena, encontra-se uma réplica da Vénus de Willendorf, uma estatueta de forma arredondada, similar a uma boneca, provavelmente não usada como brinquedo e que data de há 25.000 a 20.000 a.C.

 No Egito Antigo, foram encontradas bonecas feitas em madeira banhadas em argila, em túmulos de crianças, no período entre 3.000 e 2.000 a.C.

Na Grécia (e Roma?) Antigas, as noivas que iam casar entregavam as bonecas à Deusa Artemisa, simbolizando o fim da infância.


A Casa da Boneca surgiu na Alemanha por volta de 1558 (embora os seus 4 andares levassem 2 anos a construir!) - há uma casa análoga no Museu de Nuremberg, na Alemanha.
E foi também na Alemanha que, em 1413, surgiu a primeira fábrica de bonecas.
As bonecas europeias saíram da rústica idade da madeira para a delicadeza da loiça, por segredo roubado à China.


A partir do séc. XVIII, relojoeiros alemães e suíços, deram-lhes vida fazendo-as andar, falar e movimentar-se sozinhas, através de cordas, passando a ser símbolo de status para as classes mais altas.
Em 1796, Antoine Favre, relojoeiro suíço inventa a caixinha de música e rapidamente os pequenos bonecos mecânicos que se moviam conforme a melodia, se espalharam pela Europa.



De 1830 a 1930, a evolução das bonecas europeias seguiu uma ordem inversa à natural - 1º foram fabricadas as madamas, depois as meninas e por fim os bebés.


Na atualidade, as bonecas podem ser confecionadas em diferentes materiais acompanhando a evolução dos mesmos e as novas tecnologias. Em muitas culturas continua a ser um brinquedo associado às meninas.

Mas olhando para trás novamente, não terá sido a definição de oposições bem determinadas entre as diferentes áreas territoriais da sociedade portuguesa que contribuiu para que o mundo rural português evidenciasse roturas e desnivelamentos inter-regionais, além de muitos outros fatores?

Só por curiosidade, a minha amiga Jeta tinha tanta habilidade para a costura, que nem hesitou em escolher ser costureira profissional de fatos de homem.

Bonecas de várias épocas e materiais: 



-Boneca de plástico duro, 1950´s
-Poupeés de Mode, início do séc. XIX (vestidas por grandes costureiros parisienses e eram usadas principalmente para divulgar a moda da época)


 -Pupi, 1ª boneca de poliester, década de 50, que dormia e chorava. Antes disso as bonecas eram feitas com uma massa inquebrável.
-Boneca de biscuit, 1886-1932

Boneca de madeira, 1700's (onde o corpo e  cabeça se soltavam)

-Boneca articulada 1855  (a primeira boneca a ter membros articulados, apesar de usar ainda a porcelana da china na cabeça e de ter o corpo moldado em couro).
-Boneca de cera, 1800's (Eram relativamente baratas, muito populares na Bretanha e depois em todo do continente; duraram pouco tempo)

 -Boneca de metal,1800's (interamente de metal , prata, estanho e bronze ou só com cabeça de metal)
 -Boneca de clulóide,1869 (Tornou-se possível o fabrico de bonecas em grande escala, graças ao aparecimento do celuloide, o primeiro material termoplástico). 

-Boneca que canta...,1878 ( As gravações (wax-like) eram colocadas debaixo de um instrumento muito parecido com um fonógrafo, na boca das meninas que falavam as palavras que eram repetidas pela boneca)
-Boneca de papel maché,1840 a 1874; 


Imagens Google