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terça-feira, 6 de março de 2012

EXÉQUIAS






A minha Aldeia tem um Colégio
Que data dos anos trinta.
É tão grande o privilégio
Que a terra torna distinta.

Escola de instrução, particular,
Primeiro pra internos/masculino
Depois com feminino no lugar
Aguardando melhor destino

Sem parâmetros traçados
Esteve até 53
Com música, pintura e bordados
Religião e Moral, Francês.

Com currículos oficiais
O ensino tornou-se real.
Grupos de “costura” normais
E o tal de “estudantes”, legal.

Alunas internas e externas
A turma faziam pequena
Dava pra coesões fraternas
Um pouco mais que a dezena.

Estudava-se Geografia
Num grande Globo terrestre
Que passava a sabedoria
Em cerâmica de mestre.

Abancadas sobre a carteira,
Eu e a porcelana fina,
Nela apontava ligeira,
Os rios da disciplina.

Pum! E no chão desaguam
Os rios em cacos,  enquanto
Os cabelos delas flutuam
Sob os meus olhos em pranto.

E agora? Perguntam em coro.
Os meus Pais não vão saber!
Além de ser desaforo,
Dinheiro não irá haver.

Tenho qu' arranjar solução,
Pois é mesmo necessário.
Porque a lógica conclusão
Leva a acto involuntário.

Vamos com requinte guardar
Esta relíquia doutrora.
Que melhor destino lhe dar
Do que não deitá-la fora?

Iremos o morto enterrar
Em funerário cortejo.
Prà sua memória honrar
É presente de sobejo.

Eu, qu’estou já chorando
Vou fazer de carpideira
E pra padre rezando
Convidamos a irmã Pereira

Lá no jardim, ao fundo
Ficará o ossuário
E um suspiro profundo
Fará parte do cenário

E foi assim, factual.
Com “padre”, enterro, carpideira,
Acompanhamento, ensaio teatral,
Perdão, corolário e brincadeira.


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