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domingo, 9 de junho de 2013

O MÊS DAS FESTAS POPULARES




(... )
"Quando Lisboa vem cantar prá rua
Para alegrar os nossos corações
Parece que no céu a própria lua
Se debruça a ouvir suas canções
Os bairros da cidade estão em festa
Os santos saem na rua aos seus altares 
E não há noite alegre como esta  
Que é dedicada aos santos populares!"
 Amália 


Após algumas rupturas pelo meio, os festejos dos Santos Populares regressaram a Lisboa a partir de 1925, numa festa em homenagem ao padroeiro da cidade, Santo António.
Em 1932, além das cerimónias litúrgicas, o figurino renova-se no que respeita aos arraiais, ao enfeite de ruas, becos e pátios alfacinhas, «tronos de Santo António» e introdução das Marchas Populares.

1930

E Junho é o mês das Festas.

Concertos, arte de rua, marchas e arraiais populares, desfiles, espectáculos, exposições, oficinas e ateliers, workshops, festivais, artesanato, mostras de cinema, teatro, fado dentro e na rua, sardinhas assadas, manjericos com e sem quadras populares, fogo-de-artifício, bailarico todas as noites, arcos de flores de papel e balões, fogueiras, casamentos, procissões e cerimónias em honra de Santo António, dão cor e alegria à cidade.

As marchas populares, os manjericos, os casamentos de Santo António e as típicas sardinhas assadas são alguns dos símbolos mais queridos dos lisboetas e que também não deixam indiferente quem passa.

paixão por Santo António alcançou verdadeira fama de santidade ainda durante a vida. Embora se tenha mantido sem interrupções desde o século XIII em Portugal, na Diocese de Pádua e dentro das Ordens Franciscanas, só começou a estender-se a todo o mundo a partir do século XV.

Nasceu em Lisboa, Alfama, entre 1191-1192 e morreu em Itália a 13 de Junho de 1231.


Cerca Moura-Torre de Alfama, do tempo do domínio muçulmano


Depois da canonização, em 1232, os habitantes do bairro, ao saberem que um dos seus vizinhos tinha sido canonizado pelo Papa Gregório IX, "rejubilaram e começaram a chamar-lhe o seu Santo", favorecendo o nascimento de um culto espontâneo, original e livre, a um amigo muito querido.

Alfama

Hoje em dia, o povo conhece minimamente a sua vida e a sua história (mestre, professor, advogado) mas continua a dar mais importância aos relatos de milagres e episódios lendários.
Festeja-se desde o século XVI com danças, cortejos e procissões em que os participantes de todos os bairros da cidade se esforçavam por caprichar nos seus enfeites.

A origem parece estar numa adaptação da Marche Aux Flambeaux” que nasceu em França na Idade Média, relacionada com as “danças de entrudo”; cada bairro, mercado ou local que festejasse o Santo António formava pequenos grupos de marchantes que desfilavam pelas ruas, exibindo-se frente às portas e janelas dos Paços Reais, palácios e casas ricas, orientados por um ensaiador soprando um apito.

Na Casa-Igreja de Santo António festeja-se o dia 13 de Junho com enorme solenidade.


Durante o dia celebram-se várias Missas, desde a manhã até à noite, e em todas elas se benze o pão que os devotos compram depois, cá fora, para o produto da venda ser entregue ao Orfanato antoniano de Caneças.
À tarde, faz-se a procissão com o Santo pelas ruas antigas do Bairro de Alfama adornadas com colchas nas janelas e pétalas de flores lançadas no momento em que passa a imagem.
Ao longo do percurso, imagens de outros Santos de capelas do Bairro vão sendo incorporados numa procissão que chega a ter vários quilómetros.


Na Casa-Igreja, destruída no terramoto de 1755 (excepto a imagem e a cripta), conserva-se o lugar que dizem ter sido o quarto de Santo António. A reconstrução que se seguiu deu lugar à Basílica actual, onde se conserva uma passagem para o quarto do Santo, no piso inferior, através da sacristia.

Apesar de já não existirem casas mouriscas, o bairro conserva um pouco do ambiente, do casbá com as suas ruelas, escadarias e roupa a secar nas janelas.

O momento mais importante da festa civil é a noite do dia 12 com as Marchas Populares, que representam diversos bairros lisboetas.
Cada bairro vai em grupo em direcção ao centro da cidade com as pessoas a cantar e a marchar ao som da música que as acompanha. Os pares levam um pequeno arco de flores de papel com um balão, a imagem de Santo António ou outro motivo.
O grande desfile alegórico das Marchas, organizadas e ensaiadas meses antes por uma colectividade local com o patrocínio da Câmara Municipal, desce a Avenida da Liberdade e junta milhares de espectadores.


A festa acaba com os arraiais montados nos mais típicos bairros de Lisboa, em especial Alfama e Madragoa, onde o centro das celebrações é a sardinha assada e a sangria


Desde há muitos anos que se tornaram um concurso entre bairros, ganhando o que apresentar a melhor marcha popular, a melhor música e letra da canção, a melhor coreografia e o melhor vestuário.
Este ano as Marchas que constam na lista de participantes são: Infantil, dos Mercados, de Marvila, do Alto do Pina, de Penha de França, do Bairro Alto, da Ajuda, do Lumiar, de Alfama, de Benfica, de Alcântara, de São Vicente, dos Olivais, de Belém, da Mouraria, da Bica, da Madragoa, da Graça, do Castelo, de Carnide e de Sta. Engrácia.
Todos os grupos têm padrinhos que são pessoas conhecidas do público.

Em 1958 associaram-se aos festejos as «noivas de santo António», por iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa, com mais de uma dezena de casais unidos religiosamente na Sé Patriarcal, numa única cerimónia. A iniciativa foi interrompida em 1973 e retomada em 1997. 
Recebem ofertas do município e de diversas empresas


Tudo começou por uma ideia do jornal "Diário Popular", que ajudava os mais pobres a fazer uma festa de casamento no dia do Santo. O enxoval e os equipamentos domésticos eram oferecidos por vários comerciantes para promoção dos seus produtos. 


1967
manjerico veio da Índia, onde era usado como erva aromática sagrada. Tem folhas muito perfumadas e simbologia diferente.

Na Roma antiga era considerada uma erva dos namorados e os italianos do sul, mantendo a tradição, ofereciam um vaso com manjerico à rapariga que queriam pedir em casamento; na Grécia, significa luto; em Portugal é um negócio rentável pelos Santos Populares.


O presidente da junta de freguesia de Pedrouços (Maia), Joaquim Araújo, tira da terra entre “30 mil a 40 mil manjericos” para venda nacional, no mês de Junho. Começa por semear em viveiros, nos fins de Fevereiro. Diz que é muito” trabalhoso” e “cansativo”, mas que, apesar da crise, acredita na venda, cujo preço pode atingir 10 €, consoante o tamanho.

Algumas quadras já saem espetadas nos vasos de barro dos seus manjericos namoradeiros e assegura que “um manjerico com uma boa quadra é meia conquista feita”.

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quarta-feira, 5 de junho de 2013

BISPO PORTUGUÊS, "VENERÁVEL"




"Papa abre caminho para beatificação de bispo português”

Era um dos temas da actualidade no SAPO Portugal Online de hoje.

Completamente surpreendida pela notícia e mais ainda pela nacionalidade do digno prelado, não hesitei em procurar saber quem seria.
E o “segredo”, aberta a caixa de Pandora, nem por isso me deixou muito admirada quando, mais à frente, li:
“Decreto reconhece `as virtudes heróicas´  de D. João de Oliveira Matos (1879-1962), bispo auxiliar da Guarda, que recebe assim o título de `venerável´”.


Aliás, já me tinha referido a ele, muito superficialmente, em 17 de Maio passado, na altura em que recordei o seu grande amigo Dr. Alberto Dinis da Fonseca.
Embora muito remotamente, tenho presente a figura carismática e o trabalho evangelizador que, durante décadas, num período muito difícil, realizou na Diocese da Guarda através da imprensa, de visitas pastorais e da Liga dos Servos de Jesus



D. António Moiteiro Ramos, bispo auxiliar de Braga e vice-postulador da causa de canonização reconhece:

 "A figura deste homem é a de um verdadeiro pastor, dedicado totalmente ao Povo de Deus", destacando o seu trabalho na "renovação do tecido eclesial" e no “comprometimento, em particular, na formação dos leigos”.







Também D. Manuel Felício, actual bispo da Guarda, enaltece algumas virtudes heróicas:

"Este homem era de uma proximidade às pessoas invulgar. Ele gastava o seu tempo por aí, de terra em terra, a falar com todos, a instruir todos, sem ter medo nem do frio, nem da fome, nem do cansaço. Naquela altura não havia carros como hoje, mas ele não estava no paço episcopal - ele andava aí de terra em terra, dormia aqui, comia acolá e quando não havia de comer, não comia."


Foi D. João de Oliveira Matos que criou a Liga dos Servos de Jesus em 1924 e que na passada semana assinalou 50 anos de vida

A ideia de fundar uma obra de Igreja surgiu quando fazia as suas visitas pastorais e conheceu o Dr. José Dinis da Fonseca, desembargador, que vivia na Cerdeira com a casa sempre à disposição dos transeuntes para pernoitarem, a caminho de Coimbra, antes de se dirigirem a Fornos ou a Mangualde a tomar a diligência.
Guarda
Cerdeira

Foi nesta casa com o Desembargador, duas sobrinhas e respectivos bens, que nasceu a obra Liga dos Servos de Jesus e a Escola Regional Dr. José Dinis da Fonseca onde, depois de ter passado por muitas fases, também eu fiz o liceu (ensino secundário).

Irmã Maria Rita Dinis da Fonseca (2ª Directora)

Em 1938, abriu um Colégio masculino no Outeiro de S. Miguel que se tem mantido até hoje.


Ambas as Escolas começaram por ser orientadas por cada uma das sobrinhas, Irmã Maria Cândida e Irmã Palmira, respectivamente.






É, como beneficiária dos valores que me foram transmitidos através de tão relevante iniciativa, que me congratulo com o reconhecimento das virtudes de D. João de Oliveira Matos, pelo Papa Francisco.

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sábado, 1 de junho de 2013

SILÊNCIOS




O silêncio dos mortos é irreversível.  
O dos vivos triunfa ou é vencível.

Há o silêncio que faz recordar
O das festas que não dá pra brindar
O da táctica defesa/agressão
O da angústia/repressão.
O do olhar que grita e clama
Sem as palavras com que chama.
O do espaço sem horizonte
Que deixa ouvir a água da fonte
E as cordas do contrabaixo
Ou a pedra pela serra abaixo.
O que protesta pra entrar
E que uma palavra pode findar.
O que se repete nos ouvidos
Em som plangente como gemidos.
O dos sonhos por realizar
Ou o que acaba por libertar
O de cadências sem música
E o que faz reféns sem súplica.
O das palavras que se vai sem adeus
Como um errante ter com Zeus
O sortudo que o sol aquece
Quando pela janela resplandece

SILÊNCIO. 
Ponto final no lugar da vírgula




”Day is done, gone the sun  
From the lakes, from the hills, from the sky
All is well, safely rest
God is night.
Fading light dims the sight
And a star gems the sky, gleaming bright
From afar, drawing near
Falls the night
Thanks and praise for our days
Neath the sun, neath the stars, neath the sky
As we go, this we know
God is nigh.”




quinta-feira, 30 de maio de 2013

A PROFESSORA DE GEOGRAFIA



Mãe, hoje não houve aula de Geografia. Sempre que a professora falta manda fazer trabalhos.
Ela é piloto de todo-o-terreno numa mota Suzuki! E já ganhou provas!
Um dia também gostava de ter uma assim pra correr pelo mundo…

Colégio Pe. Manuel Bernardes

Uma professora com mota! A fazer ralis!
Parecia que lhe tinha saído a sorte grande…

E os dias foram passando.

Porém, apesar das motos (rodas, velocidade, motores, ruídos…), do fascínio por mapas, da exploração de Países, respectivas bandeiras e capitais (até as menos matraqueadas como Riga, Baku, Minsk, Valeta, Assunção, Cartum, Kigali, Dakar, etc., para falar apenas de algumas) e de uma enorme capacidade de orientação no terreno, as notas na disciplina nunca se pautaram pela excelência.



Já mais tarde, a reacção habitual perante o brilhante currículo desportivo da professora, era a total indiferença.
Concluí, pelos adjectivos com que a descrevia, que se sentia“traído” na escolha do seu “símbolo de identificação”.
Porque… pelo menos com um aluno, penso, não conseguiu transformar o conhecimento em ensino ou seja, numa relação de pessoa para pessoa.

O professor, segundo Rogers, deve ter em conta que os alunos aprendem aquilo que para eles é significativo. 
Os professores (e a Escola) podem ter um papel importante na descoberta dos interesses dos alunos e desenvolvê-los de forma a criar hábitos de pesquisa, que lhes permitam manter a motivação para aprender e encontrar métodos de estudo adequados às suas próprias necessidades.
E, no caso vertente, as muitas ausências substituídas pela marcação de trabalhos talvez classificados de forma menos rigorosa, terão provocado o desinteresse não só pela pessoa, mas também pelo valor da notável desportista a nível nacional.

Estou a falar, como se deduziu já, de Elisabete Jacinto, a então professora de Geografia no Colégio Padre Manuel Bernardes, na década de 90, primeira mulher a vencer uma prova internacional de todo-o-terreno ao volante de um camião e uma das nomeadas para o Prémio Mérito Desportivo Prestígio Atleta Feminina do Ano.

Foi nessa mesma década que trocou o ensino pela velocidade e percursos acidentados de todo-o-terreno, a sua verdadeira paixão profissional.

Desde que iniciou as competições de mota em 1992 que nunca mais deixou de lutar nas mais diversas provas nacionais e internacionais de moto (1992 a 2001), auto (2000 a 2006) e camião (2003 a 2013), acumulando dezenas de vitórias e de participações.





Para além desta sua actividade profissional, dedica-se também ao alpinismo, ao mergulho recreativo e ao para-quedismo.

É co-autora de livros de aventura em BD, “Os Portugas no Dakar”, que contam de uma forma divertida as histórias autênticas dos pilotos portugueses  participantes no rali em mota, autora do livro Irina no Master Rali”, onde relata as suas verdadeiras histórias, também elas cheias de aventuras/ emoções fortes vividas na realidade, e de manuais escolares relacionados com Aprendizagem de Ciências Sociais e Formação Física.



Como Congressista, apresenta temas associados com a actividade desportiva na escola, universidades e empresas.

Digna de louvor, já recebeu:

Ordem do Mérito (Atribuída por Sua Excia. o Presidente da República)
Diploma de Mérito Desportivo (Federação Nacional de Motociclismo)
Diploma de Mérito de Barca da Aldegalega (Junta de Freguesia do Montijo)
Diploma de reconhecimento por serviços prestados (Região de Turismo da Costa Azul)
Prémio “Prestigio” (Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting)

Diploma de Mérito referente a 1998

Algumas das respostas que deu num Teste Americano:

- Imagine que é convidada por Mário Testino para um ensaio fotográfico para a ‘Vogue’. Como gostava mais de posar?
a) Na Ópera de Paris, vestido preto decotado, salto alto, batom vermelho…
b) De biquíni numa praia tropical, bronzeada, luminosa…
c) De sandálias e túnica de linho branca, no deserto africano
 - Diga-nos por que razão Portugal teria a ganhar se houvesse uma mulher no lugar do actual primeiro-ministro...
a) As mulheres são gestoras mais frias e racionais em situações de crise
b) As mulheres não branqueiam buracos orçamentais com números de malabarismo
c) As mulheres não deixam as amigas tontas à solta pelo Estado
 -É uma fã incondicional de África. Diga-nos o que tem este continente de tão especial...
a) O cheiro, as cores, a precariedade de tudo
b) O povo, o clima, a comida
c) A vida selvagem e os horizontes infinitos



Porque é a mulher desportista com melhor imagem mediática, aventureira (mesmo com os já 49 anos), despretensiosa e gosto das respostas  (a vermelho), quero deixar aqui expressa a minha mensagem de admiração (embora com alguns meses de atraso), a propósito da “comemoração dos 10 anos a correr em camião”.  


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domingo, 26 de maio de 2013

A VICIOSA SOCIEDADE PORTUGUESA



O Julgamento das Almas - Pintura quinhentista, no Museu de Arte Antiga

Gil Vicente retrata a sociedade portuguesa nas primeiras décadas do século XVI, privilegiando as peças teatrais (autos) de assunto predominantemente religioso; pouco a pouco foi evoluindo até à crítica social.


No século XXI, muito provavelmente o início do Auto da Barca do Inferno já não seria no mesmo porto de um rio imaginário onde duas barcas (do Inferno e da Glória) ancoradas com os respectivos barqueiros (Anjo e Diabo) esperam as almas para conduzir ao seu destino. A Igreja e o Estado estavam unidos por interesses medievais comuns e a aliança da aristocracia da espada com o clero era quem controlava o poder.

Porém, presumo que as características da sociedade portuguesa descritas naquela época continuam ajustáveis às da actualidade.

Talvez, em presença das mesmas crenças católicas, perante a existência da vida futura e dos lugares onde o homem viverá eternamente em estado de felicidade ou de condenação perpétua, o ambiente de degradação ética da política e de degenerescência moral da democracia, fosse menor…

Não, não terá sido porque, apesar de existir o medo dum Juíz
o Final, considerando o número de almas que entraram na barca divina e as que entraram na barca pecaminosa, são poucas as que se glorificam, já que a maioria vai para o inferno, o que não deixa de ser trágico-cómico!



Gil Vicente faz desfilar os representantes da nobreza, do clero, da magistratura, da burguesia e do povo com os seus vícios (e virtudes, alguns), perante o juízo do Anjo e do Diabo, que os vão condenando ou absolvendo, de acordo com o padrão oficial de conduta moral da época.


Galeria de personagens com estereótipos da época.


Na barca do Anjo (barqueiro da glória) entram:

Representantes da moral cristã exemplar:
- Quatro cavaleiros da Ordem de Cristo - morreram em lutas nas costas africanas para ajudarem a alargar a fé e o império.

Representante da candura dos ”pobres de espírito”, (ideologia vicentina):
- O Parvo (?) - na sua agressividade instintiva, o único que é capaz de dizer o que outros não ousam, até contra o Diabo, em linguagem desbragada.

Na barca do Diabo (barqueiro do inferno) entram:

Representante da nobreza
- Fidalgo – em quem se satiriza a ostentação de grandeza e poder, a soberba,  a vaidade, a presunção e o desprezo pelos humildes, tal como o pai.

Representantes da burguesia comercial
- Onzeneiro (agiota) – ouviu muitas missas e morre confessado, mas foi muito ambicioso, emprestando dinheiro com juros excessivos, arrancados aos necessitados
- Alcoviteira - uma mulher ambiciosa, informadora e traficante de moças para os clérigos ajuizando ser uma virtude (pretensa inocência) .
- Sapateiro – explorador dos fregueses, no seu comércio.

Representante do clero
- Frade – cortesão galante e sensual, criticado por dissolução de costumes e venda de bens sagrados.

Representante do povo
- Enforcado -  convencido de que os que morriam na forca estariam livres do Diabo, revela a ignorância e a credulidade, quando manejável pelo Judeu que ninguém quer, pelo criado do Fidalgo, pela moça do Frade e moças da Alcoviteira, meros apêndices dos poderosos, sem voz e sem vontade, mais objectos do que pessoas.


Representantes da Magistratura, acusados de corrupção, venalidade e rapacidade, tanto mais graves por serem cultos e responsáveis.
- Corregedorjuiz presunçoso, irónico, embusteiro, bajulador, corrompido pelas dádivas recebidas em troca de favores.
- Procurador - representante do poder central junto dos tribunais, arrogante, subserviente, presunçoso, cúmplice do corregedor.

Símbolo da Páscoa Judia?
- O Judeu - pecou comendo carne em dia de jejum e urinando nos mortos da Igreja. Renegado até mesmo pelo Diabo, é carregado de reboque, ao inferno, em barca separada.



E hoje, quem entraria nas respectivas barcas do Anjo e do Demónio?


A História, infelizmente, vai continuando a repetir-se mas com mais desfaçatez e perspicácia.


BURGUESIA

Podemos dizer que a burguesia, hoje, abrange todos aqueles que possuem propriedades privadas e que, ao contrário do que tentam convencer-nos, é uma classe-parasita, que não realiza nenhuma actividade produtiva, que não contribui em nada para o aumento da riqueza social.
Quem são os verdadeiros donos das empresas?

Fertagus / Mundo dos mercados financeiros e a estrutura accionista dos media


 Talvez se consiga conhecer, no máximo, o presidente ou o accionista maioritário porque as empresas são sociedades anónimas em que as acções estão constantemente a mudar de mãos cujos verdadeiros donos, os accionistas, nem sabem onde ficam nem o que produzem - o que lhes interessa é a especulação da bolsa de valores e o rendimento que garanta ou não a sua viabilização.




                                 Isabel dos Santos

A burguesia é política e economicamente dominante ou seja, a pseudo-elite do mundo financeiro, a quem falta o senso do dever e do serviço em defesa do bem comum.
Em Portugal a banca privada tem administradores e gestores dos seus bancos a trabalhar no conselho consultivo do Banco de Portugal. Como pode representar a isenção e exercer a fiscalização a favor dos interesses do país, se está nas mãos deles?




Blog Revoltatotalglobal - Este grupo de 115 pessoas é muito limitado face à dimensão total do trânsito entre cargos governativos e órgãos sociais de grandes empresas ou grupos económicos. De facto, esta pesquisa incide apenas sobre ministros e secretários de Estado dos sectores estratégicos (finanças, economia, obras públicas), incluindo também alguns casos interessantes de outras áreas governativas.


JUSTIÇA


 A justiça vendeu-se, tal como o serviço de saúde e da educação, a justiça está a transformar-se num negócio privado muito rentável”.
"Qualquer grande contribuinte em Portugal só paga impostos se quiser, de impugnação em impugnação, as leis têm todas as insuficiências para impedir que pague impostos"
"A arbitragem fiscal é um negócio magnífico em torno da Justiça, em que as partes escolhem e pagam ao juiz, o árbitro, e o resultado é só um: deve cem, paga 30 - dirá o Estado que é melhor do que nada - o resto divide-se pelos árbitros, pelos juízes, pelas partes".
"O que temos é uma classe empresarial parasitária, que vive sistematicamente à sombra do Estado, que não é capaz de se lançar na competitividade da economia global"




O advogado José Luis Arnaut, membro influente do PSD e antigo secretário geral «laranja», nomeado para administrador da empresa cliente do seu escritório de advogados



"A promiscuidade entre política e direito, é tão óbvia que ofende.Os advogados ganham milhões pelas leis que fazem - intercalam a sua actividade entre a politica, a advocacia e a economia, que representam bancos e, ao mesmo tempo, sindicatos bancários."
"Nos primeiros cinco meses de 2011, os contratos por ajuste directo renderam às sociedades de advogados cerca de 3,7 milhões de euros." 
Bastonário da Ordem dos Advogados





"Em Portugal, os escritórios de advogados são activos propulsores da corrupção. Têm contribuído para a subordinação do poder político ao poder económico.
Por exemplo, o código da contratação pública foi feito pelo escritório do Dr. Sérvulo Correia e, só em pareceres para explicar o código que ele próprio fez, já facturou 7 milhões e meio de euros. Mas mais corrupto ainda é que estes escritórios intervêm de forma inconstitucional no processo legislativo, executivo e judicial o que viola a lei da separação de poderes, o que requer intervenção do presidente da república”
Paulo Morais, professor universitário e ex-vice-presidente da Câmara do Porto

Nos últimos dois anos, terão sido investigados quase 500 falsos advogados, mas o número pode estar aquém do número real de pessoas que exercem a procuradoria ilícita. A cultura existente nas profissões jurídicas facilita a fraude. 
A situação é muito grave. Ninguém pede a identificação a ninguém.
Guilherme Figueiredo, presidente da distrital do Porto da Ordem dos Advogados 


IGREJA

Dom Manuel Clemente, novo Cardeal Patriarca de Lisboa


"Em nome de Cristo, a Igreja nunca pode calar-se quando a liberdade está em risco.
O silêncio, como é óbvio, pode ser interpretado como conivência com os opressores.
A liberdade está ameaçada quando os direitos não são respeitados e quando as injustiças são promovidas
Em nome de Cristo, a Igreja não se pode limitar a dar o pão aos famintos. Tem de ser também a voz dos espezinhados. 
A Igreja não pode ter medo das reacções. Só há reacção perante uma acção. Antes a crítica por causa da intervenção corajosa do que a censura por causa do silêncio cúmplice.
Em nome de Cristo, a Igreja não pode pairar sobre a vida. Tem de aterrar na vida. Na vida das pessoas, especialmente das pessoas pobres.
Na hora que passa, a Igreja tem o dever de ajudar a reconduzir a liberdade ao seu ambiente natural.
“oinaniloquente

Dom José Policarpo, ex-Cardeal Patriarcade Lisboa


"Há liberdades constitucionais e jurídicas que a Igreja respeita, tais como o direito a manifestar-se e a fazer greve mas o exercício dessas liberdades deve ser motivado pela preocupação do bem-comum.
Podemos cair, facilmente de mais, na atitude de condenação da sociedade actual, mas é possível amar o mundo sem concordar com o mundo”.
Dom José Policarpo, Ex-Patriarca de Lisboa

Apela ainda a um “olhar construtivo sobre a sociedade, por parte da Igreja”.
Destaca a “busca de sentido” na sociedade actual, mas deixa como alerta a constatação de que “muitos já não procuram, espontaneamente, a resposta da Igreja, na sua acção institucional”.
Fala em particular do “universo juvenil”, convidando a “aceitar o desafio de rever profundamente a nossa pastoral juvenil”.
E após recordar os apelos do Papa para que a acção social da Igreja portuguesa fosse repensada, deixa uma nota crítica: “Trabalhamos mais do que amamos, criamos estruturas mas quando as pessoas precisam do pastor, nós estamos ocupados”.



Papa Francisco


A Igreja Católica atravessa a mais profunda crise do último século e atinge um catolicismo universal, ao contrário do de há um século, que era uma realidade pouco mais que europeia.
Será que o Papa é capaz de afrontar o problema com a coragem necessária?



POVO

As novas elites acham que o povo deve apenas obedecer porque mandar é tão difícil que só homens superiores estão aptos a fazê-lo. 
"As liberdades conduzem à anarquia social e, por isso, o povo não deve ser chamado a decidir o seu próprio destino, mas sim, ser conduzido pelas suas elites". 




Para eles, o conjunto dos cidadãos constitui "uma massa ignorante" que serve apenas para aplaudir e aclamar as decisões dos seus dirigentes e não para as questionar ou pôr em causa quem está nas "ingratas" funções do mando. Garantem sempre que as suas medidas são as melhores ou as únicas viáveis, mas como o povo quase nunca percebe isso "elas têm de ser impostas".


O Povo saiu à rua, contra a austeridade


De acordo com alguns inquéritos, as pessoas de classe média dizem estar a viver tempos muito difíceis porque não têm acesso nem às recompensas dos ricos nem aos apoios recebidos pelos mais pobres; as pessoas mais pobres, por sua vez, dizem que não têm acesso às recompensas dos ricos e são pouco apoiadas socialmente. 
A austeridade é a constante de que o "Estado se serve tirando o dinheiro para pagar as suas contas até deixar de ter dinheiro para pagar as nossas".



Paul De Grauwe (economista conselheiro do Banco Central Europeu (BCE) e professor da London School Of Economics, antigo deputado no parlamento da Bélgica):

 “A dívida continuará a aumentar de forma insustentável: "A austeridade excessiva levará Portugal para a insolvência."


«Pode dizer-se que o princípio da meritocracia” que as sociedades ocidentais tanto invocam, ainda não funciona ou funciona escassamente em Portugal. Em vez disso, funcionam e parecem cada vez mais fortes as influências das redes de “capital social”, as cumplicidades e trocas de “favores”, o que, no caso português em particular, dá lugar a uma mentalidade algo anacrónica, marcada pela dependência servil dos indivíduos, pelo medo do poder e a bajulação de quem o personifica em cada contexto. Daí deriva também a falta de autonomia e de sentido de risco dos portugueses, o que se prende com a sua fraca participação no activismo cívico e político»
E «a estabilização do regime, à medida que se consolidou, conduziu a uma crescente indiferença dos cidadãos perante o sistema político, reduzindo o exercício da cidadania ao nível mínimo do direito de voto, e mesmo esse acompanhado de um crescente abstencionismo».
Elísio Estanque, Centro de Estudos Sociais
Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra 



Talvez os chineses, que dizem adorar o nosso clima, estejam a preparar-nos para fazerem de Portugal a sua futura colónia de férias…


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