Na minha
aldeia, o "Folar ou Bolo de Azeite", era o presente que os padrinhos ofereciam aos afilhados
no Domingo de Páscoa. Com ou sem manteiga, “desaparecia" num ai! Uma delícia…
Passaram cinco anos sobre a sensacional notícia publicada
pelo DN, 27 de Setembro de 2012:«A Igreja de Santa Maria Madalena, em
Olivença, único lugar de culto espanhol de estilo manuelino, foi eleita "O
Melhor Recanto de Espanha 2012", num passatempo promovido pela petrolífera
Repsol». "Rica em azulejos e em motivos
decorativos marítimos que remetem para a época dos Descobrimentos portugueses,
a Igreja de Santa Maria Madalena (Estremadura) é visitada diariamente por
centenas de turistas".(Expresso). Para o Grupo dos Amigos de Olivença, a escolha representa uma “indecorosa tentativa de legitimação da ocupação do território de Olivença junto da opinião pública portuguesa”. (Público)
Na altura, depois de alguma investigação no
Google, fiz um poste a que também dei o título de “O melhor recanto de Espanha 2012” e,
como não conhecia, projetei uma provável visita para quando oportuno.
Com o céu um pouco nublado, vento fraco e nevoeiro persistente, as
condições meteorológicas predominantes não eram as mais favoráveis para gandear
naquela tarde de sábado, 6 de Janeiro. Mas era Dia de Reis e, em Espanha,
feriado nacional. É costume haver crianças espanholas na rua com os novos presentes “oferecidos” na noite do dia 5 pelos três Reis Magos, Belchior, Baltazar e Gaspar.
Olivença,a 236 Km de Lisboa foi, assim, a opção.
A ligação entre Elvas e Olivença
(Olivenza) faz-se por uma ponte sobre o Guadiana
construída em 2000 ao lado das ruínas da antiga Ponte
da Ajuda.
Parcialmente
destruída pelo exército castelhano com barris de pólvora em 1709, a maior
ponte-fortaleza da Europa foi projectada por Dom Pedro I de Portugal para assegurar a logística da povoação que se encontrava isolada no
interior do território castelhano mas só em 1510 é que Dom
Manuel I ordenou o arranque da grandiosa
obra de engenharia militar com 380?/390? metros de extensão, apoiada sobre
19 arcos, com 5 metros de largura, 15 metros de altura
e defendida por um sólido torreão erguido no centro. A cidade (ainda
chamada vila), está bem conservada, é bonita, repleta de marcas históricas lusas, muito portuguesa/alentejana com casas de alvenaria, cal, cantaria e imponentes
chaminés.
Porém, nada mais do que isso. Não havia crianças na rua e os poucos adultos vagabundeavam, solitários, de
semblante meio desconfiado e tristonho, falando parcamente um português
espanholado ou vice-versa. Um
pequeno arraial na praça principal com música sem qualidade, era a única marca de festa.
Os nomes das ruas, topónimos e referências históricas estão mudados. A maioria dosbrasões foi arrancada e os os símbolos de
Portugal destruídos.
Ruas de Olivença, desertas - 6.1.2018
Por ser feriado, os monumentos estavam fechados. Quanto a exteriores, assinala-se o Castelo, a Igreja de Santa Maria Madalena, a Igreja de Santa Maria do Castelo, a atual sede do ayuntamiento com a sua porta manuelinae outros pormenores
O Castelo, que ficou bastante danificado durante a Guerra
da Independência Espanhola (1808-1814), esteve abandonado durante vários anos.
Recuperado em 1975 passou a ser a sede do Museu Etnográfico da cidade.
As Igrejas de Santa Maria Madalena (antiga Sé da Diocese de Ceuta) e de Santa Maria do Castelo
Torre de Menagem do castelo medieval e Brasão dos Duques de Cadaval
Actual sede do ayuntamiento com
a sua porta manuelina e uma mostra das muitas casas apalaçadas
Portugal ou
Espanha?
Espanha é bulício,
gente divertida, bem-humorada e vistosa, de movimento, de conversas audíveis e altiva.
Portugal
alentejano é gente independente, alegre embora de feições duras, sobranceira no
olhar, um tudo-nada desconfiada, de quadras brejeiras e muito agarrado à terra… Logo, na época actual, os habitantes de Olivença não se "encaixam" em qualquer dos países.
Direi que a cidade parece mais um lugar de cativeiro onde se disfarça a nostalgia duma identidade perdida. Os contactos entre as gentes de ambas as margens
do Guadiana, são diminutos. A alfabetização (só em espanhol) na época de Franco provocou um sentimento de inferioridade nos luso falantes; tudo foi espanholizado desde as
ruas, às letras da música popular, aos apelidos. Até os termos hipocorísticos (afectivos) portugueses
estão sendo substituídos pelos espanhóis
( Zé por Pepe ou Chico por Paco, por ex.). No entanto, as alcunhas continuam a denunciar a origem... A entoação
oliventina é mais exclamativa e de tom mais elevado do que a estremenha
em geral. Hoje já se estuda português na escola primária, mas como língua “estrangeira”
Enfim, partindo de todas estas coisas, circunstâncias e factos, acho que os oliventinos se sentem (e são) tratados como rejeitados na sua própria terra; sofrem o complexo incutido duma história (portuguesa) de ideias e valores inferiores. Penso que, depois desta constatação, antes ser oliventino português (talvez com nível de vida menos elevado) do que oliventino espanhol tratado com desdém, achincalhado. Há muitas Espanhas dentro de
Espanha. Nós somos um país uno de “patriotas e nacionalistas enraizados a um
nível de tal maneira profundo” (Luís Miguel Rocha) que os oliventinos não conseguem apagar. Segundo (PERDIDOS E ACHADOS - Portugueses de Olivença), numa reportagem feita pela SIC no Jornal da Noite de 29 de Maio de 2015, os oliventinos dizem que "os portugueses podem ter esquecido Olivença, mas os oliventinos
não esqueceram Portugal. Tanto assim que muitos estão a pedir a
nacionalidade portuguesa e a aprender a língua dos avós."
O corolário dessa reportagem é assim apresentado: - "Nós fomos portugueses antes, e já seguimos falando [=continuámos a falar] o
português. (...) É o nosso, aqui, falar o português! (...) Nós seremos
portugueses já até que morramos. (...) - Então vocês são espanhóis...
portanto... espanhóis diferentes? - Nós somos espanhóis... espanhóis
portugueses, porque falamos à portuguesa! É o único, nada mais
Diz Mário Quintana que “viajar é mudar a roupa da alma”.
Eu, que por temperamento sou uma
curiosa de lugares, de novas vivências, culturas e paisagens, não posso deixar de
estar mais de acordo. As viagens reciclam ideias, ampliam conhecimentos, argumentam pressupostos
e, sobretudo, têm a habilidade de valorizar e tornar mais agradável o mundo em que
se vive no dia-a-dia. Pode dizer-se que viajar é investir em páginas de bem-estar,
de resiliência psicológica, de crescimento pessoal, de recordações, de poupança
em médicos/medicamentos.
Logo, se “para
viajar basta existir” (Fernando Pessoa), então só é preciso, nem que seja “uma
vez por ano, ir a algum lugar onde nunca esteve” (Dailai Lama). E é isto mesmo que eu faço com frequência a lugares diversos, por motivos relevantes ou não, em dias inteiros ou partes deles. - Onde vamos almoçar hoje? - Reviver Vila Nova de Mil Fontes, é uma ideia, não? Desde há duas décadas que deixou de ser um dos nossos lugares de eleição...
A baía, actualmente.
- Mas não estou a reconhecer a praia! Falta alí em frente uma ilhota de areia para onde se ia de barco. Era tão bucólico...
A antiga praia
Vila Nova de Milfontes, inserida
no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa
Vicentina foi uma pequena
vila piscatória donde partiram os pilotos que fizeram a primeira
travessia área entre Portugal e Macau, em 1924. O forte de São Clemente (castelo de Milfontes) foi mandado edificar no final do séc. XVI para fazer face aos piratas que devastavam a região, pilhando e assaltando o povo e as embarcações A Vila parece ter ficado suspensa no tempo. Nesta época do ano continua pacata, muito acolhedora e com boa restauração.
Adepta, ou nem por isso, desta relevância (depende
dos diversos significados que lhe atribuo) como representante de uma parte da
humanidade, sinto-me sempre impelida a respingar umas letras no blogue.
A primeira marcha no dia 8 de Março feita
por trabalhadoras que se reuniram para reclamar por
melhores condições de trabalho e pela não entrada da Rússia na
Primeira Guerra Mundial, aconteceu em 1917. A partir dos anos 1960 a data
passou a ser escolhida frequentemente para os protestos a favor da igualdade de
género e em 1975, a ONU declarou-a como o Dia Internacional da Mulher.
A inserção feminina no mercado de trabalho,
resultante da longa história da mulher em busca da liberdade de escolha e
da igualdade de direitos,” provocou alterações significativas e esse
processo social adquiriu uma dimensão estrutural no mundo contemporâneo” (LEONE,
2003)
“Quanto vale o homem?
Menos, mais que o peso?
Hoje mais que ontem?
Vale menos velho?
Vale menos morto?
Menos um que outro
…”
Carlos Drummond de Andrade
Cada ser humano tem um valor único.
Ontologicamente, por derivar da própria existência
de ser humano, todos têm dignidade em grau idêntico. Mas a palavra
“dignidade” tem mais do que um sentido. Assim, a chamada “dignidade moral” será
a bagagem que cada um constrói com o uso da sua liberdade
Prefiro defender o individuo de acordo com a sua
moralidade e não um género como um todo. Os movimentos feministas actuais,
em cujo centro das causas está o comportamento dos homens para com as mulheres,
nada tèm a ver com Carolina Beatriz Ângelo, Zoya
Kosmodemyanskaya (“Tanya”), Marie Gouze, Clara Zetkin, Millicent
Fawcett, Christine de Pisan, Marie de Gournay, Mary Wollstonecraft,
Harriet Tubman, Ayn Rand, Marie Curie, Luísa Alzira Teixeira Soriano, Maria
Lacerda de Moura ou Deirdre McCloskey. Cada uma delas – através dos seus desejos,
carreiras e aptidões - lutou pelo direito de igualdade perante a lei e
pelo direito de ser livre, inspirando outras mulheres a acreditar no valor
das suas individualidades e propósitos. Não se anularam. Não usaram o
corpo para ultrapassar os obstáculos do seu tempo. Foi com o
desenvolvimento intelectual que provaram que nenhum homem é superior a uma mulher.
Negar as diferenças entre homens e mulheres, é negar o papel da
biologia. Elas já aparecem no primeiro dia de vida.
De acordo com experiências de Simon Baron-Cohen e
colegas, ao serem apresentadas, simultaneamente, a fotografia do rosto de uma
mulher e de um móbil mecânico a 102 bebés recém-nascidos, de sexo ainda
não revelado, o filme registou a atenção prestada por cada um em cada objecto e
a análise mostrou que mais meninos preferiram olhar para o móbil mecânico e as
meninas para o rosto (Miller & Kanazawa, 2007).Em todas as
sociedades humanas conhecidas, principalmente entre os mamíferos, os machos
são, em média, mais agressivos, violentos e competitivos e as fêmeas, em média,
mais sociáveis, atenciosas e dedicadas à criação, nutrição e educação (Pinker,2004; Miller & Kanazawa, 2007). O perigo está na aplicação das
generalizações estatísticas a casos individuais, que podem ou não ser excepções (Miller & Kazanawa, 2007).
As mulheres que eu admiro,
incutem a nunca deixar que nenhum homem ou qualquer outra pessoa, nos faça
sentir inferiores ao que somos.
Sozinha ou acompanhada, adoro estar sentada à lareira durante horas a observar a dança das chamas. Inexplicavelmente, transmitem segurança e companhia.
Viver com o Parque Florestal de Monsanto
ao lado, não pode deixar de ser considerado um privilégio,
pois é o maior parque florestal urbano da Europa, chamado “pulmão de Lisboa”.
Situado em pleno coração da cidade, com
900 hectares de superfície, ocupa 1/8 da sua área total e, além de oferecer
grandes potencialidades para o lazer (trilhos para a prática de
BTT, parques infantis, campos de futebol e de basquetebol, um parque
de skate e vários parques de merendas), esta enorme
mancha verde, interessante também pela variedade vegetal e animal,
proporciona uma vista panorâmica muito atractiva sobre a
cidade e o Tejo.
Diz-se que parece uma versão de Hampstead
Heath de Londres, um parque também enorme procurado, igualmente, como área
de lazer, pelos moradores do Norte da cidade, com uma colina donde se pode
ver The City e os vários prédios famosos como o The Gherkin, The
Shard e St. Paul's Cathedral.
Verdade? Não conheço.
Imagens deHampstead Heath
A
Serra de Monsanto é habitada desde tempos pré-históricos e a floresta original
terá começado a ser destruída quando a cidade de Lisboa iniciou o
seu desenvolvimento.
O Parque mantém em vigor um Plano de Gestão
Florestal, elaborado em 2010 e aprovado pela Autoridade Florestal Nacional em
2012, onde estão caracterizados todos os aspectos
geográficos assim como os programas e critérios de intervenção.
Fonte:
Câmara Municipal de Lisboa
Porém, não foi a proximidade nem o lazer que agora me despertaram o interesse para falar de Monsanto.
Fica, todavia, um documentário excelente sobre, apenas, a biodiversidade
que ocorre no Parque Florestal de Monsanto com o "intuito pedagógico e de
sensibilização ambiental"
Enquanto esperava pela minha vez no dentista, deparei-me com a história contada na primeira pessoa por Rui Miguel Abreu, numa crónica publicada na revista “Blitz” em 2013, sobre o Restaurante Panorâmico de Monsanto, edifício abandonado que, durante muitos anos, foi a “jóia da cidade”, um dos mais luxuosos da capital. E, rapidamente, a memória foi preenchendo as já várias lacunas da não mais vivida experiência nos anos 60, quando o restaurante foi importante em Lisboa.
Com um formato circular, situado no Alto
da Serafina, a 205 metros de altitude, tinha sete mil metros quadrados de
superfície, acesso subterrâneo para o que outrora foi uma óptima garagem e
uma vista singular de Lisboa. O espaço, que abriu em 1968, recebeu figuras famosas
(David Bowie) e de estado,
durante décadas.
Sem terraços nem
esplanadas, ostentava murais, azulejos e painéis construídos
por Luís Dourdil, Manuela
Madureira e tinha uma das laterais coberta por
largas janelas donde se podia desfrutar um extenso e deslumbrante panorama.
Muitas vezes, frequentamos os lugares de acordo com as preferências do grupo de pessoas que faz parte da nossa convivência.
Até que de repente tudo mudou.
Eu parti para outros convívios e o restaurante,
por sua vez, também foi “obrigado” a transformar-se (jamais me teria ocorrido) em discoteca, bingo, escritório de uma
empresa de filmagens e armazém de materiais de construção civil, até fechar
definitivamente em 2001.
A partir daí, a degradação foi demasiado
rápida - vidros partidos, grafites, entulho, lixo e alguns painéis que ainda restam.(?)
Em entrevista ao canal de televisão,
Manuel Salgado, vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, disse que “Todos
os ensaios que se fizeram de utilização deste edifício até hoje não resultaram.
E não resultaram porque o edifício está isolado, está longe, é difícil chegar
aqui.”
Por aqui andaram também Helena Roseta e José
Sá Fernandes…
Ter conhecido o antigo Restaurante Panorâmico de Monsanto, em Lisboa e vê-lo agora destruído e entregue a actos de vandalismo,é como viajar há muito no tempo! No último piso do edifício abarca-se uma
Lisboa a 360 º, inesquecível (a beleza e o caos).
Com a chegada de
um novo ano há sempre uma grande diversidade de frases e mensagens de
felicitações, de encorajamento e de outras do género que são ditas pela
maioria das pessoas. Faz parte da tradição. Porém, como o pensamento
continua a não poder medir-se com a linguagem, apenas poderá ser
compreensível sob o ponto de vista emocional e de fé mas não numa perspectiva
racional, empírica e até mesmo cristã.
Aos
que tiveram um bom ano, o optimismo ajuda a entrar com confiança, na
expectativa de que o próximo continue a ter a mesma orientação. Já para os que
conheceram muitas dificuldades, recebem uma nova chance de deixar os problemas
no passado e de renovar a esperança para um futuro melhor, embora não seja uma tarefa fácil acreditar numa
provável positividade.
Apesar de todo o
homem ter talentos, “uns governam o mundo, outros são o mundo”.
O primeiro postal de Natal foi ilustrado com desenhos feitos à mão, representando imagens de adultos e crianças a levantar os seus copos de vinho num brinde. Tinha alguns símbolos religiosos como ramos de azevinho que representavam a castidade e a hera que simbolizava locais por onde Jesus terá passado. A mensagem escrita dizia "Um Feliz Natal e um Feliz Ano Novo para si".
Foi John Calcott Horsley que, a pedido de Sir Henry Col sem tempo para escrever mensagens pessoais na quadra natalícia no ano de 1843, projectou um cartão para "poder ser enviado imediatamente". Antes disso, as pessoas
costumavam enviar um apontamento pessoal a desejar um Feliz Natal, assim como para felicitar nascimentos e bom ano novo.
O primeiro postal de Natal
Além
das tradicionais mensagens, há outras bem optimistas (Portugal) que se mantêm como a de se comerem 12 passas na passagem da meia-noite, com o
objectivo de obter sorte para os 12 meses do novo
ano... Ou o ritual de
bater tampas de panelas à janela (mais comum no sul do país)
para afugentar tudo o que de mau se passou no ano anterior. Atirar coisas velhas pela janela, foi, durante anos, um
acto simbólico de renovação.
Segundo
os antigos rituais pagãos, quanto maior for o barulho, mais eficaz será
a forma de afastar o mal - daí os apitos/ buzinas e o fogo-de-artifício
que, além do espectáculo visual, produz uma mistura de sons que ecoam ao
longo de quilómetros de distância.
Os fogos de
artifício existem desde há alguns milhares de anos antes de Cristo, quando se
descobriu que pedaços de bambus, ainda verdes, explodiam ao serem colocados na
fogueira. O fenómeno acontece porque o bambu ao crescer muito depressa forma,
dentro dele, bolsas de ar e de seiva que, quando aquecidas, incham e explodem.
Mais de 2000 anos
depois, os bambus ocos passaram a ser recheados com o conhecido "fogo
químico" donde resultou um ruído muito maior.
O conhecimento da
pirotecnia, difundido na China e na Índia durante séculos, foi trazido para a Europa pelos árabes e gregos.
Wikipédia
Foguete chinês
“Porque todos os dias valem a pena”, é a minha mensagem para sublinhar este primeiro dia de Ano Novo. Acrescento também uma das "66 mais belas mensagens da internet".[1]que, embora eu não a partilhe, admiro quem assim queria ser.
Aqui por casa, alguns
de nós, decidiram partilhar a tarde de Natal com o Atlântico. Nada como o mar para
experimentar simultaneamente uma sensação de libertação, de tranquilidade, de
harmonia, de Renovação.
As nuvens, induzidas pelos movimentos verticais do ar, mantinham suspensas
as partículas de água que mais tarde acabariam por se transformar em chuva e o
Sol, assim mascarado, fingia não se importar com os muito ou menos curiosos que visitavam o Cabo Espichel.
O cenário natural é único, deslumbrante,
quase místico. Toda a envolvente com a natureza e a impressionante edificação arquitectónica
transmitem
uma força de afastamento no
tempo que nos leva a apreciar acontecimentos seculares.
De antigo lugar de peregrinação passou ao hoje chamado "miradouro
dos deuses" – ponto em que os deuses se ligam aos homens, o “fim
da terra e o princípio do mistério do mar”.
Para muitos
dos actuais romeiros, com o Mosteiro de janelas emparedadas a tijolo e cimento nos antigos
albergues para peregrinos, roulottes e tendas tipo feira, à entrada, para venda de uma mescla de objectos vários,
bifanas e farturas (função da ASAE ?), pouco mais significará do que um curto
e agradável passeio “domingueiro” registado com lindíssimas fotos.
Porém,
no belo promontório poderá desfrutar-se, além da paisagem/ mar e céu infinitos, a
vista espectacular da Vila de Sesimbra, a Baía dos
lagosteiros e da serra de Sintra até Lisboa, a presença do Farol ( donde se vê, dizem, um por-do-sol magnifico), aCasa da Água recentemente reabilitada,um Santuário, uma Igreja, uma
Capela (antigo lugar de peregrinação) e, na escarpa (Pedra Mua), as pouco referidas pegadas de Dinossauros que por ali passaram há cerca de 145 milhões de anos, final do período Jurássico,que o
povo atribui à mula de Nossa Senhora. A lenda aparece
contada nos azulejos da Ermida da Memória, em banda desenhada setecentista, numa
versão composta das duas tradições e lendas - a da subida da Virgem e das
pegadas da mula, narrada por Frei Agostinho de Santa Maria e a dos dois
anciãos que descobriram a imagem, narrada por Cláudio da Conceição. Desta lenda
surgiu o verso popular:
O velho de Alcabideche
E a velha da Caparica
Foram à Rocha do Cabo,
Acharam prenda tão rica!
Público
Acredita-se que o culto de Nossa Senhora do Cabo vem de tempos longínquos e que o Cabo Espichel foi centro de peregrinações.
Com a Costa do Estoril em frente...
O conjunto arquitectónico
do Santuário de Nossa Senhora da Pedra Mua, implantado no extremo do Cabo
Espichel (apresentando estilos diversos) foi edificado a partir do culto de Nossa
Senhora do Cabo e da quatrocentista Ermida da Memória, no século XVIII por
ordem de Dom Pedro II e de Dom José.
Dele fazem também parte a Igreja
Seiscentista de Nossa Senhora do Cabo, em estilo chão ( 1701-1707) duas alas rústicas de
"hospedarias" (construídas após 1715 e ampliadas entre 1745-1760 devido à utilização de grande quantidade de círios ), um
aqueduto que termina na "Casa da Água" (1770) e a Casa da ópera ( finais de
oitocentos) em ruínas.
A Casa da Água - Antes e depois (quanto a mim, descaracterizada)
Casa da ópera em ruínas.
A Ermida da
Memória, sobranceira às escarpas, situa-se a poente da igreja e das hospedarias, local onde a tradição diz ter aparecido a
Virgem.
O conjunto arquitectónico foi classificado como Imóvel de Interesse Público pelo
decreto nº 37.728 de 5 de Janeiro de 1950 e Zona Especial de Protecção, pela portaria de 29 de Novembro de 1963. Saborear uns petiscos na Vila de Sesimbra, seria a etapa seguinte. Sesimbratem boas estruturas
turísticas, sobretudo
na área da restauração. Há bares, cafés, pastelarias e
restaurantes ao longo
de toda a sua linha de praias que oferecem grande variedade
e qualidade de pratos de peixe, desde saborosas caldeiradas a fresquíssimos
mariscos.
Mas no dia de Natal as portas não se abriram aos forasteiros. Assim, as praias da
Vila, de acessofácil, puderam exibir a sua limpíssima
areia, permanentemente lavada pela água fria e transparente do mar, rejeitando
ser latrina dos excrementos de cães passantes. E
a tarde, não muito acolhedora, iria terminar com o
Sol a deixar de aparecer no horizonte, visto da praia.
O post, porém, vou terminá-lo com "Cabo
Espichel – Em Terras de um Mundo Perdido", de Carlos Sargedas, com o qual obteve a
distinção de melhor documentário estrangeiro no festival Hollywood
International Independent Documentary, um certame que premeia mensal e
trimestralmente produções documentais.
O documentário mostra todo o património histórico e
edificado, passando pela História e mergulhando até profundidades de cerca de
50 metros, assim como a fauna e flora endémica ou a geologia com o
foco nos dinossauros, cujas pegadas são únicas em Sesimbra.
Bruno Simões Castanheira
Uma viagem no tempo e na história.
“O documentário custou uma pequena
fortuna”, apesar de "espeleólogos, especialistas de dinossauros,
directores de museus - Coches, História Natural, Arte Antiga, Geológico -
amigos e profissionais da sétima arte terem trabalhado graciosamente, pois filmar debaixo de água a grande
profundidade envolve grandes dificuldades e uma equipa especializada. Além
de barcos, equipamentos para filmar em altas pressões, iluminação, aluguer de
helicópteros, drones ou uma equipa de imagem dos Estados Unidos e da BBC - para
tratar as imagens dos dinossauros"
A este prémio têm-se juntado outros pelo mundo fora (20 prémios internacionais).
O Cabo Espichel – Em Terras de um Mundo
Perdido venceu a Melhor Realização na 7ª edição do SilaFest na Sérvia, Melhor Documentário no
49º Festival Internacional de Cine-Tourism de Karlovy
Vary(na República Checa), a Palma de Prata no Festival Internacional de Cinema do México e
Melhor Documentário Estrangeiro no Near Nazareth
Festival em Israel.
Em relação a Portugal o realizador manifesta-se frustrado: “enviei para alguns dos
principais festivais de documentário em Portugal e nem sequer passou na
admissão, senti frustração”.
O Documentário em DVD vem incluído num livro com o mesmo nome, com mais de 200
páginas e já em 2 ª edição.